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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Amor-próprio


O Walter estava acabado. Os últimos três dias haviam sido os piores da vida dele, ele não comeu, nem dormiu, nem fez nada desde aquela quinta-feira fatídica em que a Fabiane pediu pra conversar, e, olhando dentro de seus olhos disse a ele que estava tudo acabado entre os dois.
Assim. A seco. Na maior. Sem nem sequer dar detalhes de por que estava fazendo aquilo.
-Por qweáhhh, Fabi???? - Se perguntava chorando copiosamente Walter na solidão e na penumbra de seu apartamento. -Puór qwééééáaaaargh?
O síndico até foi bater à porta de Walter pra saber se estava tudo bem. Alguns vizinhos haviam ouvido choro, estavam preocupados.
-Tudo bem aí, seu Walter?
O Walter nem abriu a porta, respondeu lá de dentro, com os olhos inchados, vermelhos e o rosto molhado:
-Tá... Tá tudo bem...
Para imediatamente se por a prantear novamente, chorar muito, de soluçar. De ficar com os lábios inchados e tudo.
Por três dias Walter se entregou a dor e ao desespero. Ao luto por um amor assassinado pela faca fria da desfaçatez e falta de coração de uma mulher. Sim... Walter jamais amaria novamente. Dedicar-se-ia ao celibato. Usaria roupas de gola rulê pretas, calças desbotadas e coturnos. Quem sabe passasse a escrever poemas? Sim, lindos versos e sonetos celebrando a dor de um coração partido. As mulheres iriam se apaixonar por seus sonetos. Ofereceriam-lhe mundos e fundos em troca de seus versos, em troca de uma oportunidade de tentar sanar seu coração dilacerado pelo abandono. Mas ele jamais aceitaria. Permaneceria sozinho, distante de todos., Deixaria crescer uma barba hirsuta, usaria os cabelos desgrenhados, comeria apenas alimentos brancos, pois branca é a cor da paz que seu coração esmigalhado pelo malho do vil abando... Bateram à porta.
Seria o síndico de novo?
Olhou pelo olho-mágico, era Fabiane.
Ele ajeitou a roupa amarrotada. A mesma da quinta-feira. Abriu a porta hesitante.
A Fabiane olhou pra ele:
-Walter...
Tinha os olhos marejados, parecia se esforçar pra não chorar.
-Olha... Me desculpa, Walter eu... Eu tô tão arrependida. Olha, me desculpa, eu não sei onde tava com a cabeça quando falei contigo na semana passada. Eu... Eu não quero viver sem você ao meu lado. Eu não quero. Por favor, me desculpa, me aceita de volta. Eu tava... Sei lá. Frustrada, brava. Não pensei. E, nesse final de semana, saí com as minhas amigas, e não aproveitei nada. Elas lá falando, se divertindo, e eu só conseguia chorar e lembrar de ti, que tu nunca mais ia me abraçar forte, beijar o meu pescoço, ou fazer amor comigo. E começou a me dar um desespero. As gurias me mandavam parar de chorar, mas eu não conseguia, eu tentava parar e só soluçava... Foi horrível. Tu pode me desculpar? Me dar outra chance? Será que tu pode?
Walter olhou no fundo dos olhos da Fabiane, abriu um meio sorriso, respirou fundo, e respondeu.
-Nem fodendo. Vaza.
E bateu a porta. Enquanto apanhava a toalha para tomar banho, ainda pensou:
Credo. Que falta de amor próprio, viu?

2 comentários:

  1. OK!!!
    Essa foi boa!!!
    Vamos ver se com essa eu aprendo!!!

    Amor próprio, foi o faltou na minha conversa psicanalítica!!!

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  2. Ahahahahaha, não diga isso, lady Bast. O Walter é que é um pulha.

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