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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Papéis


Desde pequenos, nos vemos em inúmeros papéis ao longo da vida. Eu, por exemplo, já fui um jedi que brandia sabres de luz em lutas contra as forças imperiais e o lado negro da Força em uma galáxia bem, bem distante. Já fui um playboy milionário que combate o crime vestido de morcego, um jovem tímido que de vez em quando se balança entre os arranha-céus de Nova York enfrentando o perigo. Também fui um intrépido arqueólogo explorando catacumbas milenares. Eu já fui um policial transformado em ciborgue, já fui um cientista no limiar de uma descoberta que iria mudar a história da humanidade, já fui o capitão de uma navio e persegui obstinadamente uma baleia assassina, já fui o general de exércitos justos e honrados que enfrentou hordas assassinas de inimigos cruéis, já fui um astro do rock, fui um peixe e um leopardo albino.
Tudo isso na infância, após fechar um gibi, após sair do cinema, no parque, jogando futebol com outros moleques, enquanto brincava com um kit "Jovem Cientista" que me foi sonegado após perceberem que eu estava experimentando sem seguir as instruções, na pracinha, na praia, embalado por nada exceto a imaginação e aquele estranho senso de inadequação que rege a vida de piás tímidos.
Todos interpretamos esses papéis, ou outros semelhantes. As meninas foram princesas, super-heroínas, modelos de passarela, Marion Ravenwood, Ana Moser, Magic Paula... Outros guris foram Falcão, Romário, Stoychkov, Ronaldinho, Figo, Zidane cada vez que entravam em uma quadra ou campinho pra jogar bola...
Depois, mais velhos, na adolescência, nossos papéis seguem, variam bastante, se tornam mais sutis, mas ainda estão ali. Mau aluno, boa aluna, rebelde sem causa, rebelde com causa, CDF, esportista, patricinha, playboyzinho, roqueira, funkeiro, pagodeira, namorado fiel, namorada infiel (e vice e versa), até chegarmos na idade adulta, quando, geralmente já sabemos quem somos, quando já nos tornamos o produto final de nosso ambiente e de nossas escolhas e oportunidades. Nessa fase da vida, já não interpretamos os papéis do dia a dia com a teatralidade que fazemos quando somos mais jovens, mas ainda o fazemos.
Mesmo aqueles de nós que sabem exatamente em são, o que fazem e por que fazem, aquelas pessoas que escolheram ser o que são, estão desempenhando um papel, a diferença é que é o papel que escolheram fazer, e ainda assim, não há garantia de que poderemos escolher sempre.
Nos colocamos no papel de alguém no comando, de alguém insensível, de um mártir, de uma testemunha, de vítima... Nós sempre temos papéis a desempenhar, alguns de que gostamos, outros que iríamos preferir jamais ter que interpretar, mas isso é a vida, então, já que estamos aqui, melhor fazer com que ela seja digna de um Oscar.

2 comentários:

  1. E quando é que somos nós mesmos ? Quando podemos deixar de lado esses papéis, poses e representações ? Costumo dizer que isso, só é possível em dois lugares nesse mundo; em nossa cama, e nos braços da pessoa amada.

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  2. No banho, acho que, quando tomamos banho, estamos lires de todas as amarras sociais.

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