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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Rapidinhas do Capita


A Paula e o Matheus se implicavam mutuamente o tempo inteiro. A Paula era uma moça muito inteligente, cursava medicina, assistia filmes do Godard e do Terrence Malyck, ouvia Jorge Drexler e sabia, por alto, do que se tratava a teoria das super cordas. O Matheus não era o mais brilhante dos homens, até pelo contrário, era meio tacanho pra algumas coisas. Tinha concluído o ensino médio e ainda estava pensando se ia cursar faculdade, só de pensar em estudar pra fazer as provas já sentia sono. Ele gostava dos filmes dos irmãos Wayans e do Eli Roth, ouvia funk, e achava que super cordas eram aquelas do porto que prendem navios de grande calado às docas.
Se conheciam por que moravam no mesmo prédio, a Paula no apartamento que ela alugava, bem em cima do apartamento onde o Matheus morava com a mãe e a irmã mais nova. Tinham mais ou menos a mesma idade, e faziam pequenas grosserias um pro outro.
A Paula sabia que o Matheus dormia até tarde, então, acordava cedo, ia pra sua bicicleta ergométrica e ouvia música em volume bem alto enquanto se exercitava.
O Matheus sabia que a Paula não fumava e abominava o cheiro do cigarro, então fumava na janela, assoprando a sua fumaça cancerígena pras roupas de Paula no varal.
Ás vezes ela deixava a porta bater no nariz dele soltando-a nop último segundo quando, casualmente, entravam juntos no prédio.
Em outras ele bloqueava a passagem dela no corredor fingindo não tê-la visto, epecialmente se ele notasse que ela estava com pressa.
Mas, por trás de toda essa animosidade infantil que ficava visível na superfície, Matheus achava Paula muito bonita. Também achava fascinante a dedicação dela aos estudos e a independência que ela ostentava.
Paula, por vezes, achava Matheus engraçado. Achava bacana ele não ter medo de dizer o que pensava e não querer parecer alguém que não era. E, olhando ele chegar todo suado, de calção e sem camisa do futebol, até que ele não era de se jogar fora.
Mas jamais foram além das pequenas implicâncias mútuas. Paula jamais desceu do salto. Matheus jamais deu o braço a torcer, e eles continuaram apenas assim. Implicando-se mutuamente.
Ás vezes o destino não veste uma camiseta pró-amor, e as pessoas são orgulhosas demais pra dizer o que pensam e sentem, são incapazes de abandonarem de suas conchas. E voilá. Está instaurada uma história de amor sem amor...

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O Robson estava nervoso. Sentado ao lado da Vandirene mal conseguia respirar. E ela ali, tranquilona, mascando chiclete e lixando as unhas:
-Vandirene?
-Quié?
-Olha, Vandirene... Eu andei pensando, sabe? Sobre nós. Sobre como eu me sinto quando a gente tá junto, e, tipo... Eu... Olha. Eu te amo, Vandirene. É isso. Eu te amo.
-Arram.
-...? Vandirene, tu ouviu o que eu te disse? Eu disse que te amo.
-Valeu.
-Como... Como "valeu", Vandirene? Tu sabe... Tu faz ideia... Tu tem noção de o quanto eu ensaiei pra dizer isso, Vandirene? Tu sabe o pavor que eu tava de te dizer isso e, sei lá, parecer ridículo? Tu sabe? E tu reage assim? Eu... Eu nunca disse isso pra ninguém, Vandirene. Nunca. E eu já tive lá a minha cota de namoradas, viu? Mas nunca disse isso pra nenhuma delas. Nunca soube se, o que eu sentia por elas, era amor, mesmo, ou apenas carinho, ou, sei lá, só tesão, mesmo, no final das contas. Eu era muito novo, de repente nem sequer sabia distinguir. Mas contigo, Vandirene. Contigo eu sei que é amor, Vandirene. Eu sinto isso, essa dor, essa falta que tu me faz quando estamos longe. Essa... Essa sensação de estar amputado da minha melhor parte quando estamos apartados. E aí, quando eu verbalizo o que eu sinto, quando eu finalmente ponho pra fora, suando frio, com medo da tua reação, a tua reação é pior do que a pior que eu podia ter imaginado... O pior cenário que eu visualizei era tu me olhar surpresa sem dizer nada. Mas aí tu consegue... Tu consegue o que parecia impossível. Piorar o meu pior cenário. E isso que eu sou um pessimista nato. E aí, tu, com esse balde, balde, não, que balde é pouco. Tu com essa caixa d'água, com essa represa Hoover de desdém, vai lá e acaba comigo. Acaba com tudo. Acaba com a gente...
-Hã?
-Porra, Vandirene... Eu tava dizendo que-
-Quer dar uns malhos ali em casa?
-Bora.
Pois é. Homens são fáceis de agradar.

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TRADUÇÃO:

Ele disse:
-Penélope, não é tu, sou eu. Não tá dando mais eu me sinto vigiado, algemado, tolhido nessa relação, e, puxa, o amor tem que ser baseado em confiança acima de tudo, e eu não sinto que tu confia em mim enquanto eu respeito a tua individualidade, respeito teu espaço e confio cegamente em ti... Puxa.
Mas, na verdade ele quis dizer:
-Penélope, é tu, mesmo. Não dá mais. Eu ando louco pra dar uma variada, pegar essas minas porra-louca na noite e tu parece um guarda de presídio, tentei até te dar corda, te soltar com as tuas amigas, por que, afinal de contas, não me interessa o que tu faz ou deixa de fazer, e nem assim... Credo.

Ele disse:
-Não, não, Luciana, eu tô te dizendo, passei o final de semana inteiro pescando com os guris. Não, capaz, a gente tava em Rainha do Mar, Não chegamos nem perto de Atlântida, só radinho, cervejinha e conversa de homem. Quem te disse isso te mentiu, garanto que foi a fofoqueira da Giovana, é. Olha, longe de mim fazer intriga, mas ela tá sempre elogiando as minhas pernas quando tu não tá perto, muy amiga...
Mas, na verdade ele quis dizer:
-Não. Não, Luciana, eu vou morrer negando, e jurando de pés juntos que eu não cheguei nem perto de Atlântida nesse feriadão. Mesmo que a gente não tenha nem visto os caniços eu jamais vou admitir que a gente usou a pescaria como pretexto pra fugir das namoradas. Aquela gorda mal amada da Giovanna me paga, por que não ficou em Porto Alegre ou foi pro interior que nem uma pessoa normal? Seguinte, eu afundo, mas não vou sozinho, aquela gorda me paga...

2 comentários:

  1. Aaah que saco né ? É difícil largar a concha, é quentinho, confortável e muito mais fácil ficar nela. Só que isso é uma droga, isso empaca nossa vida. Enfim, deixa uma história de amor sem amor como você falou.

    A segunda história é ótima, a começar pelo nome, VANDIRENE ?? hahaha.
    Ah, só não entendi, o que que é ''dar uns malhos ali em casa '' ? Nunca ouvi isso, malho de malhar, tipo fazer exercicío ?

    E agora eu sei, essas traduções que você coloca, é tudo da pessoa que você conhece que vai no cabaré no feriado não é ? haha e o que é que tem nessa Atlântida de tão perigoso assim ?

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  2. Então, malhos é "amassos", "pegas", nem se usa muito aqui em Porto, aqui a gente fala "dar uns beijos", mesmo.
    E Atlântida, nem é tão grave, mas é uma praia do Litoral norte onde a vida noturna é um pouquinho mais movimentada, e, pôxa, as traduções são de várias pessoas que eu conheço, algumas até são minhas.

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