Pesquisar este blog

sábado, 24 de setembro de 2011

Banheiros


O pai de Sandoval conhecia todos os banheiros de acesso público da região. Ás vezes, quando Sandoval era mais jovem e saia com seu pai, os dois passavam em frente a algum estabelecimento comercial, e seu pai apontava com o queixo e dizia:
-Tremendo banheiro, aqui. Muito bom. Arejado, limpinho. Bem bom pra largar um barro.
O pai do Sandoval se referia à atividade de ir aos pés assim, "largar um barro". Sandoval achava engraçado. Raramente usava essa expressão, raramente usava "ir aos pés", também. Geralmente ele não dizia o que estava indo fazer no banheiro. De qualquer forma, Sandoval achava impressionante a dificuldade que seu pai tinha pra conter as próprias necessidades fisiológicas.
Claro, não era apenas por curiosidade acadêmica que o genitor de Sandoval conhecia todos os banheiros de acesso público da região. Não. Teobaldo, o pai de Sandoval, conhecia todos os banheiros públicos da região porque entrara em efetivamente todos. Era um sujeito de intestinos excitáveis, o Teobaldo. Isso provavelmente era uma ação do intestino pra copiar as características pessoais de Teobaldo. Que era assim, explosivo, emotivo, chorão em todos os sentidos da palavra.
Sandoval lembrava-se dos incômodos quando estava tomando banho e sua mãe batia à porta do banheiro avisando:
-Sandoval, apura o teu banho que o teu pai tá apertado.
Sim, a mãe de Sandoval precisava avisá-lo, pois o seu Teobaldo já estava perambulando com passos miúdos por dentro de casa enquanto retorcia o tronco como se estivesse sentindo cãibras no abdôme.
Sandoval odiava aquilo. Era uma das coisas que o Sandoval detestava em seu pai, e em que ele lutava pra não se parecer com ele. Sandoval tinha horários pra tudo. Pra ir ao banheiro, tomar banho, dormir, acordar. Achava que era importante saber se controlar. Supunha que controlando seu ambiente, poderia controlar sua vida. Ou ao menos os âmbitos dela que dependessem unicamente de si.
Passaria a vida controlando sua merda, pra que merda alguma controlasse sua vida.

Um comentário: