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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Resenha Cinema: Conan - O Bárbaro


Me lembro, desde moleque, de ganhar os quadrinhos de Conan, o bárbaro, de meu pai. Seu irmão mais velho, meu tio, lera desde cedo as aventuras d'A Espada Selvagem de Conan passando-lhe o hábito.
As histórias escritas por Roy Thomas e desenhadas com maestria por John Buscema enchiam minhas tardes de lugares exóticos, feiticeiros cruéis, mulheres sensuais em trajes sumários e criaturas bizarras. Aos nove anos de idade era capaz de citar de cor a introdução das histórias, as "Crônicas da Nemédia", e seu poderoso texto que dizia "Saiba, ó, Príncipe, que entre os anos em que os oceanos sorveram Atlântida e aqueles em que se ergueram os filhos de Aryas houve uma era inimaginada, repleta de reinos esplendorosos que se espalharam sobre a terra como miríades de estrelas sobre o manto negro dos céus. Nemédia, Ophir, Brithúnia, Hiperbórea. Zamora, com suas mulheres de cabelos escuros e torres assombradas por aranhas misteriosas; Zíngara e a nobreza; Koth, fronteiriça com as terras pastoris de Shem; Stygia, com suas tumbas vigiadas por fantasmas; Hirkânia, e os cavaleiros vestidos de aço e seda e ouro. Porém, o reino mais orgulhoso do mundo era a Aquilônia, soberana do Ocidente sonhador. Nesta época surgiu Conan da Ciméria, cabelos negros, olhar feroz e mãos sempre crispadas sobre o cabo da espada, ladrão sagaz, saqueador, assassino frio, dono de gigantesca melancolia e gigantesca jovialidade, para pisotear os adornados tronos da Terra sob as sandálias que calçavam-lhe os pés...", era fenomenal.
Muito do que eu sabia de Conan provinha desses gibis, apenas mais tarde foi que tomei conhecimento das histórias de Robert E. Howard, criador do personagem, para as revistas Pulp americanas da década de 30, e dos romances a respeito do personagem.
E, apenas bem mais tarde, foi que assisti aos filmes de Conan estrelados por Arnold Schwarzenegger (Será que escrevi certo?).
As adaptações Conan - O Bárbaro e Conan - O Destruidor ganharam uma legião de fãs, especialmente o primeiro longa, de 1982, dirigido por John Millius e roteirizado pelo próprio em parceria com ninguém menos que Oliver Stone, era co-estrelado pelo Darth Vader James Earl Jones, como Thulsa Doom, e contava a origem do personagem em uma história sólida e violenta. Tinha uma trilha sonora poderosa composta por Basil Poledouris, e agradou fazendo grande sucesso nas bilheterias. O filme de 84 não foi tão bem, apostava em uma história com pegada mais semelhante à dos quadrinhos da Marvel(Não por acaso, já que os escritores eram Gerry Conway e Roy Thomas, dois mestres na matéria), e não recebeu os mesmos louros do antecessor embora fosse, também, uma saudável aventura de espada e magia.
Por muito tempo a criação máxima de Howard vagou em todas as mídias. Virou uma esquecível série de TV, teve sua licença de publicação abandonada pela Marvel após algumas escolhas ruins da Casa das Ideias que acarretaram em baixas vendas da série, e adquirida pela Dark Horse, dando origem à ótima Conan - O Cimério, que infelizmente não manteve a qualidade após a saída do roteirista Kurt Busiek e do artista Cary Nord, que ao lado de Thomas Yaetes produzia ilustrações belíssimas nas páginas do gibi.
Entretanto, nesse tempo de baixa qualidade em Hollywood, repleto de remakes e adaptações, era óbvio que um personagem como Conan não poderia ficar muito tempo longe dos holofotes, e, como a criatividade dos executivos do cinema anda bastante combalida, era previsível que o destino do cimério fosse, mesmo, voltar à telona.
Sábado fui ao cinema assistir Cao filme de Marcus Nispel com baixas expectativas, afinal, quem pode esperar grande coisa de um sujeito que tem no currículo porcarias como os remakes de O Massacre da Serra Elétrica e Sexta-Feira 13, além do bem-intencionado mas descartável Desbravadores? O que eu queria era, ao menos ver uma aventura decente, que me distraísse por um par de horas de uma noite. E surpresa: Nesse sentido Conan - O Bárbaro, não chega a decepcionar.
O longa metragem estrelado por Jason Momoa (O Khal Drogo de Game of Thrones) mostra a vida de Conan desde o momento em que nasce no campo de batalha, com seu pai (o Hellboy Ron Pearlman) ajudando no parto à maneira dos bárbaros. O crescimento do jovem na inóspita vila ciméria onde é preparado pra ser um guerreiro até o momento em que, ainda menino, seu caminho se cruza com o do cruel Khalar Zym (Stephen Lang, de Avatar), que almeja reconstruir uma relíquia para ressucitar sua esposa, uma feiticeira capaz de torná-lo um Deus e lançar o mundo nas trevas, direcionando o jovem cimério à uma jornada de vingança que atravessa os anos.
Não é um roteiro dos mais inovadores, e, quando assistimos ao filme percebemos que ele tem mais buracos que as estradas do Brasil da Copa do Mundo. A direção meia-boca de Nispel não ajuda, e a edição, especialmente no terceiro ato durante o combate na caverna, é confusa. Entretanto, há pontos positivos, o grandalhão Momoa convence como Conan. Ele consegue equilibrar ferocidade e uma certa dose de escárnio, com um roteiro melhor construído e uma direção mais segura, talvez conseguisse um Conan mais do que apenas satisfatório, as locações na Bulgária são lindas, e há uma narração em off de Morgan Freeman que é muito legal. Os demais membros do elenco não chegam a fazer grande diferença, a bonitinha embarangada Rose McGowan como a feiticeira Marique, assim como Stephen Lang parecem estar no piloto automático, e Rachel Nichols não tem muito a oferecer além do rostinho bonito (E do corpinho gostoso). Em termos de atuação o destaque fica mesmo com Ron Pearlman e seu Corin. O pai de Conan é o personagem mais crível e carismático do filme.
Conan - O Bárbaro, porém, ganhou pontos comigo por ser um filme que é ruim por que é ruim, e não por se pasteurizar e suavizar na tentativa de abarcar uma audiência mais ampla. Nispel e companhia não suavizaram a violência do longa, que tem membros e cabeças decepados aos borbotões, sangue (cenográfico e digital) aos litros e peitos de fora pra todos os gostos (Por mais que apareçam seios, ninguém usa um tamanho de sutiã maior que Schwarza).
Pode-se acusar Conan - O Bárbaro de qualquer coisa, menos de não ter convicção. É um bom filme ruim, que deve ficar melhor em DVD ou na TV a cabo.

"Fuja de mim... E eu vou partir montanhas para encontrá-lo. Eu o seguirei até o inferno."

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