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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Resenha Game - The Last Of Us


Não restou muita coisa do mundo que nós conhecíamos, após a infecção. A civilização foi reduzida a algumas cidades aqui e ali, que são pouco mais do que assentamentos e zonas de quarentena mantidas pelo que restou das forças armadas. Áreas urbanas arruinadas regidas por uma estrita lei-marcial onde, apesar da ostensiva presença militar, ainda há espaço para o crime. Joel vive desse tipo de atividade criminosa. É um contrabandista que, pelo preço certo, pode colocar dentro da área de quarentena qualquer coisa ilegal, como armas de fogo, pílulas ou bebidas alcoólicas.
Joel está satisfeito vivendo assim. Em vinte anos de epidemia que dizimaram a humanidade e transformaram o mundo em uma caricatura de si mesmo restaram poucas linhas morais para esse sobrevivente nato cruzar.
Joel perdeu tudo o que um homem podia perder, e agora apenas sobrevive da maneira que for necessária.
Quando o destino, e a milícia para-militar dos Vaga-lumes, colocam a adolescente Ellie nas mãos de Joel, e pedem a ele que a leve para fora da Zona de Quarentena cruzando um caminho repleto de vítimas da infecção transformados em fungos-zumbi, seu primeiro instinto é negar. Mas a insistência de sua parceira Tess o convence a ignorar seus instintos e aceitar a missão, e assim começa a parceria entre o sujeito calejado e a menina que nasceu depois do fim do mundo e sua luta para chegarem juntos ao final da jornada.
Em poucas palavras, essa é a premissa básica de The Last Of Us, mais uma empreitada da Naughty Dog esticando os limites da capacidade gráfica do PS3, e mostrando que não falta potencial ao console que, mesmo em vias de se aposentar, ainda surpreende quando é bem utilizado.
O game, uma mistura eficiente de ação com furtividade e survival horror encanta desde a primeira cut-scene, uma tensa inserção mostrando o início da epidemia que dizimou cerca de sessenta por cento da população da Terra. Todos os personagens são visualmente bonitos, ricamente construídos com cabelos, barbas e expressões faciais caprichados. Isso, somado ao competente trabalho de dublagem (Há a possibilidade de jogar o game com som em português, mas embora a dublagem no nosso idioma seja melhor do que outras versões brasileiras pra games, segue incapaz de rivalizar com a original) e ao roteiro do game, repleto de diálogos inspirados e enriquecedores dos protagonistas, ajuda o player a se conectar aos personagens.
Os cenários, aquele padrão translumbrante de paisagens cheias de luz e sombras, vegetação e prédios ricos em detalhes da Naughty Dog é um espetáculo à parte, especialmente porque são desenhados para ser mais do que apenas enfeite.
Parte essencial de jogar The Last Os Us é experimentar a necessidade. Há poucos recursos, de modo que tu pode esquecer a ideia de passar fogo nas vítimas da infecção cerebral cordyceps como se estivesse jogando Resident Evil. Achar munição é até frequente, mas de duas, três balas por vez... Esqueça caixas de munição com 32 cartuchos, ou um pente de metralhadora reluzindo com 56 balas de grosso calibre. Na maior parte das vezes o jogador terá que suar vasculhando o cenário procurando por trapos, álcool e fita adesiva para fazer curativos, ou então uma tesoura e uns pregos pra fazer um up-grade num bastão de madeira de modo a torná-lo mais letal por algum tempo. E acredite, em várias ocasiões, isso será tudo o que separa Joel e Ellie de se tornarem as mais novas vítimas do cordyceps, um fungo que se espalha através de esporos e transforma as pessoas em veículos de propagação da doença (Um detalhe legal, o cordyceps existe de verdade, e causa mais ou menos esse efeito em diversas colônias de insetos. Que medo, hein?).
As vítimas do cordyceps, divididas entre corredores, perseguidores, clicadores e vermes (Com aparências e habilidades que diferem de acordo com o tempo de exposição à infecção) são agressivas, mas burras. A maior parte deles pode ser evitada com um pouco de paciência, mas os perigos desse mundo pós-apocalíptico não se restringe aos infectados, há os militares, evitando, através do cerceamento do direito de ir e vir, uma expansão ainda maior da doença, e, talvez o maior perigo do game, os demais sobreviventes. Pessoas que não se submetem à tutela das forças armadas e vivem uma existência baseada em contrabando, roubo, assassinato, e coisas ainda piores...
A jogabilidade, irmã de Uncharted, mas sem as proezas acrobáticas, é muito boa, e funciona bem tanto no combate à distância (feito pro jogador se sentir um retardado sem mira), quanto no combate armado (com porretes, facas e tijolos), ou no mano-a-mano. A ação furtiva também funciona, gerando momentos bastante tensos embora, de vez em quando, a inteligência artificial dos inimigos, mesmo os não-infectados, não seja das mais desafiadoras, nada que tire o brilho do jogo, porém.
Galgado no roteiro bem escrito, e contando uma história que bebe de fontes como A Estrada e O Livro de Eli, The Last Of Us é um belo exemplar de jogo linear que prende a atenção, e de como uma produtora competente de verdade sempre pode conseguir tirar um pouco mais de um console semi-aposentado.

"Deixe uma pessoa desesperada o suficiente e ela vai fazer qualquer coisa..."

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