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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Top 10 - Cinema 2014

Não faltaram filmes bacanas nos cinemas nesse ano de Nosso Senhor de 2014. E isso não se deve unicamente ao fato de muito filme da temporada das premiações de 2013 ter desembarcado aqui apenas em fins de janeiro e fevereiro, provavelmente a época do ano em que tivemos mais filmes bons em cartaz simultaneamente.
Não.
O ano de 2014 pode não ter sido tão generoso em termos de bons filmes quanto foi 2012, por exemplo, mas ainda assim, não faltaram filmes para preencher mais um infame top-10 Casa do Capita, dedicado àqueles que, na preferência pessoal deste humilde escriba, foram os melhores filmes de 2014.
Vamos à lista.

10 - O Espetacular Homem-Aranha 2


Digam o que quiserem, eu sei que o melhor filme de super-herói do ano foi Capitão América - O Soldado Invernal, seguido de perto por X-Men - Dias de um Futuro Esquecido, e que o mais hypado foi o divertidíssimo Guardiões da Galáxia, mas que se foda:
Meu preferido no ano foi O Espetacular Homem-Aranha 2 porque, ainda que, enquanto filme, ele seja certamente o que tem mais defeitos, onde me interessa, no personagem central, ele é o melhor, disparado.
Não existiu jamais um Homem-Aranha mais crível do que o interpretado por Andrew Garfield nesse filme. Ele retrata tudo o que me parece essencial no personagem, todas as características que me fizeram amar os gibis do cabeça de teia desde antes de eu aprender a ler.
O conflito humano de desejar uma boa vida mas saber que os poderes trouxeram responsabilidades, o brilhantismo, as piadas, a agilidade física e mental, e, claro, o melhor romance de super-herói jamais retratado no cinema, tudo isso eclipsa, em meu coração, as coisas que não funcionaram (e eu sei que várias não funcionaram).
Por ter me mostrado a alma do meu super-herói preferido num filme colorido, movimentado e divertido, o Homem-Aranha está na lista.


9 - Amantes Eternos


O romance secular de Eve (Uma impressionante Tilda Swinton) e Adam (Tom Hiddleston, excelente) é mais uma bem sucedida experiência de Jim Jarmusch.
O diretor usa os vampiros enfarados da mundaneidade humana para lançar um olhar crítico, melancólico e irônico sobre a sociedade moderna num saboroso prato de atmosfera gótica.
Adam, cansado do mundo, planeja o suicídio, sua amada Eve, viaja de Tânger a Detroit para lembrá-lo que vale a pena viver. Juntos, eles contemplam a transitoriedade da obra humana, fazem troça do progresso, amaldiçoam a estupidez de nossa espécie, e relembram os bons tempos em que bastava jogar os cadáveres drenados no rio.
Com atuações simplesmente soberbas do casal protagonista e participações inspiradas de Mia Wasikowska e John Hurt, Amantes Eternos é o melhor romance de vampiro desde Drácula de Bram Stoker, só que muito, muito mais cool...

8 - Ela


O longa metragem romântico/futurista de Spike Jonze consegue a proeza de deixar bem claro o quanto é estranho que um sujeito se apaixone por um aplicativo, mas é hábil suficiente para que a audiência nem ligue pra isso enquanto torce para Theodore, um homem alquebrado por um divórcio da mulher que julgava ser seu grande amor, e Samantha, um sistema operacional baseado em inteligência artificial, ficarem juntos.
Ajuda o fato de Theodore ser Joaquin Phoenix, um ator de grosso calibre no auge da sua habilidade, e Samantha ter a voz rouca de Scarlett Johansson sussurrando no ouvido da audiência o tempo inteiro, e ajuda Spike Jonze ser um tremendo contador de histórias estranhas que sabem ser cativantes, e não estar contando a história de um maluco que se apaixonou por seu laptop, mas sim a de um sujeito aprendendo a se reconectar à humanidade.

7 - O Abutre


Louis Bloom é um óbvio vilão. Desde o primeiro momento em que o vemos roubando arame de cerca para vender por trocados nós já sabemos que ele é um psicopata.
Talvez a grande piada do ótimo filme de Dan Gilroy seja o fato de este sujeito amoral e pérfido de discurso corporativo na ponta da língua se encaixar tão bem no mundo das notícias, que nós nos pegamos, eventualmente, torcendo para ele se dar bem.
Repleto de pontos em comum com filmes como Rede de Intrigas e O Rei da Comédia, ambientado em uma Los Angeles noturna caótica que parece ter sido arrancada de Colateral e aperfeiçoada, O Abutre alude a vários outros filmes, e ainda assim sucede em criar seu próprio monstro.
Ponto para Jake Gyllenhaal, que tornou um sociopata demente e desprovido de emoções um personagem que a audiência não é capaz de odiar totalmente, e que ao final do filme diz, com um sorriso no rosto "Seu lunático filho da puta..." balançando a cabeça em sinal de aprovação.


6 - Interestelar


Barbada na lista, a melhor ficção científica do ano é outra obra do acima da média Christopher Nolan. O diretor pode ter irritado astrofísicos e chatos de carteirinha, mas aqueles que estavam interessados em um filmaço, todo emoção e imaginação, não tiveram queixas, e aproveitaram uma das melhores sessões de cinema do ano.
A história do astronauta Cooper (um maduro Matthew McConaughey) e de sua missão para deixar um planeta Terra fadado a morrer para explorar os confins do universo passando através de um buraco de minhoca em busca de uma nova casa para a humanidade é um longa sobre família na melhor tradição de Contatos Imediatos do Terceiro Grau.
Com show de McConaughey (três grandes trabalhos no mesmo ano... Três! Dá pra acreditar?) e de Jessica Chastain, repleto de grandes sacadas, os melhores robôs do cinema em anos, roteiro amarradinho de Christopher e Jonathan Nolan, e o brilhante trabalho de design de produção que se tornaram marca registrada do diretor, Interestelar é uma tremenda viagem intergaláctica.

5 - O Lobo de Wall Street


Ora, vamos... Quem é que não deu risada com o ambíguo conto (a)moral de Jordan Belfort, um Leonardo diCaprio no auge da sua forma, contado pelas mãos sempre competentíssimas de Martin Scorsese, o diretor que se recusa a ser alcançado pelo tempo, e segue lançando, a cada ano, um novo filmaço?
Tudo bem que, baseado em toda a diversão auto-indulgente ao extremo dos investidores liderados pelo alcoólatra, cocainômano, ladrão e traíra Belfort fica até difícil aprender alguma lição com o filme, mas ainda assim, o final melancólico do ex-bilionário que perde toda a sua fortuna para o FBI e a própria ganância não deixa de ver uma versão anabolizada e sem medo da farra de Wall Street, por exemplo...
E pra quem acha que isso não é o suficiente, ainda temos Margot Robbie peladinha, Matthew McConaughey fazendo uma hilária ponta como o primeiro chefe de Jordan Belfort, um executivo com gosto pela invocação de espíritos da floresta, e Jonah Hill, arrebentando como o surtado sócio de Jordan, Donnie Azof, e, claro, a cena em que Jordan, turbinado por "ludes", tenta entrar em sua Lamborghini sem nenhum controle motor sobre o próprio corpo.
Brilhante.

4 - O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos


O pior dos seis filmes baseados na obra de J. R. R. Tolkien a chegarem aos cinemas.
O que isso significa?
Que ainda é muito acima da média, e um divertidíssimo exemplar de cinemão pipoca da melhor qualidade. O fim da saga de Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) e sua aventura junto a Gandalf o Cinzento (Ian McKellen) e a companhia de anões de Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard Armitage) não sucumbiu ao gosto de Peter Jackson pelo espetáculo.
Foi anabolizada por ele.
Nas mãos do diretor kiwi, O Hobbit deixou de ser uma pequena aventura infantil de conto de fadas ambientada na Terra-Média e se tornou um grave ensaio à Guerra do Anel, saíram os animais falantes e a comédia ingênua do primeiro livro de Tolkien e entraram a gravidade e a aventura ininterrupta da trilogia que o consagrou.
E daí que Legolas não estava lá? Orlando Bloom tem cenas de ação de fazer neguinho trancar a respiração e aplaudir.
E daí que Azog o Profano mal e mal é mencionado nos apêndices? O orc pálido é assustador e um vilão de mão cheia.
OK, Taüriel e sua relação com Killi talvez incomodem um pouco, mas que se dane, o resto do pacote compensa, e O Hobbit é uma grande despedida para a Terra-Média que todos nós aprendemos a amar.

3 - Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum


O perfeitamente executado filme dos Cohen começa pelo personagem título.
O brilhante Llewyn Davis é um típico looser Coheniano, tão irritante quanto magnético, seu próprio pior inimigo, auto-indulgente e desprovido de auto-crítica minimamente profunda que vaga pelo Village de Nova York dos anos sessenta durante um inverno congelante (que parece ainda mais gélido graças à ótima fotografia de Bruno Delbonnel) procurando um canto pra dormir enquanto tenta emplacar na música folk após o suicídio de seu parceiro.
Nós acompanhamos Llewyn durante uma semana particularmente desgraçada de sua vida quando tudo parece dar errado ao mesmo tempo, com uma gravidez inesperada, passeios com um gato cor de laranja, uma viagem com dois parceiros excêntricos, e "nãos" sucessivos jogados em sua cara de todos os lados.
Essa história de fracassos múltiplos é embalada pela genial trilha sonora de T-Bone Burnett, construída na medida para ter músicas excelentes como a deliciosamente mórbida The Death of Queen Jane e melodias absolutamente cretinas como a quase retardada Please Mr. Kennedy, todas, no entanto, capazes de grudar no ouvido, e ajudar Inside Llwewyn Davis a permanecer na cabeça da audiência como um dos melhores filmes de 2014 quase um ano após termos assistido.

2 - Garota Exemplar


David Fincher deve ter enchido os escritórios de advogados de divórcio ao redor do mundo, e ter cancelado ao menos dois ou três casamentos que já estavam marcados há algum tempo.
A adaptação do livro best seller de Gillian Flynn é um suspense elaborado e conduzido à perfeição sob a lente de um Fincher que mostra que é capaz de lançar sua visão distorcida e divertida sobre qualquer tema.
A história de amor de Nick e Amy Dunne, e de como essa história se transforma numa tremenda conspiração criminosa regada a despeito e mágoa talvez seja o melhor trabalho de Fincher desde o brilhante Clube da Luta. Edificado sobre uma ótima performance de Affleck e uma assustadora atuação de Rosamund Pike, por quem Fincher teve que bater o pé junto ao estúdio, Garota Exemplar é um thriller tão competente que pode se dar ao luxo de entregar sua grande reviravolta ainda na metade sem fazer com que a audiência pare de roer as unhas e antecipe, de fôlego preso, o que virá a seguir.

1 - O Grande Hotel Budapeste


Não teve pra ninguém.
Wes Anderson conseguiu arrancar gargalhadas e marejar os olhos de toda uma audiência que ficou interessadíssima em conhecer a Zubrowka, fictícia nação da Europa oriental onde situa-se o Grande Hotel Budapeste.
Nem fãs moderados de Anderson podem negar a delícia da história de monsieur Gustave H. (Ralph Fiennes), orgulhoso concierge do hotel título, sempre ansioso por agradar abastadas viúvas cheias de amor para dar, pinturas renascentistas de valor inestimável, fascistas tenebrosos com suas camisas pretas, capangas de soco inglês em punho, romances juvenis cobertos de açúcar e merengue, arrojadas fugas da prisão e perseguições de esqui em altíssima velocidade.
A trama que começa em um livro antigo, parte para dentro de um documentário caseiro, e então para as lembranças d'O Autor (Tom Wilkinson/Jude Law) e da semana que passou junto ao senhor Moustafa (F. Murray Abraham) no então dilapidado Hotel, lhe contando a adorável história de amizade entre monsieur Gustave e o jovem mensageiro Zero (Tony Revolori) é tudo o que a obra de Anderson tem de melhor.
Do numeroso elenco aos enquadramentos assinatura do diretor, tudo amparado sobre os ombros de Monsieur Gustave, o nosso prestativo herói banhado em Eau de Panache em sua impecável casaca púrpura, papel no qual Ralph Fiennes dá show, brincando de atuar em uma interpretação digna de prêmio, ingredientes misturados na medida certinha para o nosso melhor do ano.

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