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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Resenha Cinema: Perdido em Marte


Eu não sei de vocês, mas eu acho maneiro ver alguém se reinventar. Independente do resultado, eu sempre curto ver alguém fazer alguma coisa totalmente diferente do que costuma fazer, arriscar novos rumos, dar uma arejada... Em Perdido em Marte, nós temos a oportunidade de ver um pouco disso no diretor Ridley Scott. O sujeito que ajudou a edificar o mundo nerd ao contribuir com as ficções científicas Alien: O Oitavo Passageiro e Blade Runner: O Caçador de Androides, que meio que criou uma assinatura de sci-fis sombrios e claustrofóbicos (que de tão multiplamente imitada ao longo dos anos chegou desgastada ao apenas OK Prometeus) com os filmes do início de sua carreira, jogou esse tabuleiro todo pra cima, e foi na completa contramão ao adaptar o livro O Marciano, de Andy Weir.
No longa, tomamos conhecimento das missões Ares, uma empreitada de longo prazo da NASA, consistindo em cinco missões tripuladas com astronautas viajando a Marte. Já de início, sabemos que a terceira missão, Ares III, consiste de seis astronautas sob o comando da comandante Melissa Lewis (a ruivíssima Jessica Chastain). Os desbravadores espaciais Rick Martinez (Michael Peña), Beth Johansson (Kate Mara), Chris Beck (Sebastian Stan), Alex Vogel (Aksel Hennie) e Mark Whatney (Matt Damon) estão no planeta vermelho recolhendo amostras de solo e realizando pequenos experimentos quando são avisados pelo controle da missão de que serão atingidos por uma grande tempestade. Em vista da magnitude do evento, cabe à comandante Lewis decidir se espera que a tormenta se disperse, correndo o risco de inutilizar o veículo de retirada orbital, ou fazer uma evacuação imediata abandonando Marte e a missão inconclusa.
Pesando prós e contras, Lewis e a equipe decidem partir de imediato para garantir a sobrevivência de todos, mas, durante a retirada, Mark é atingido por um destroço, seus sinais vitais somem do scanner, e ele é declarado morto.
Enquanto a equipe da Ares III inicia a longa viagem de volta, na Terra o diretor da NASA Teddy Sanders (Jeff Daniels) e o idealizador do projeto Ares Vincent Kapoor (Chiwetel Ejiofor) começam a discutir o envio da missão Ares IV após a morte de um astronauta, Mark desperta na superfície de Marte.
Com o scanner de sinais vitais de seu traje destruído por um fragmento de antena que o empalou, ele percebe que seus colegas o presumiram morto, e que está sozinho em um planeta desabitado, confinado a um habitat sintético preparado para durar por mais trinta dias, e ciente de quê uma missão de resgate só será capaz de alcançá-lo em quatro anos.
Enquanto Mark rebola para esticar suas rações e ampliar o máximo possível sua expectativa de vida, na Terra, Sanders, Kapoor e a equipe da NASA lutam contra o relógio, em um esforço combinado das maiores mentes do mundo, para trazer "o marciano" de volta pra casa são e salvo.
Genial.
Ainda que repleto de momentos de tensão, Perdido em Marte é um filme divertido e leve, tão otimista e cheio de espírito e engenhosidade quanto seu protagonista.
O nerdão Mark Whatney de Matt Damon é um dos personagens mais carismáticos do cinema de ficção científica recente, e é impossível não torcer por ele, ou não entender porque céus e terra são movidos para trazê-lo de volta à Terra. O sujeito que está numa das situações mais fodas da exploração espacial se recusa a desistir, e mantém o otimismo não importa o quê, muitas vezes com resultados hilariantes.
Com um roteiro divertidíssimo de Drew Goddard (o showrunner da primeira temporada de Demolidor), repleto de referências nerds (uma das mais geniais envolve O Senhor dos Anéis e Sean Bean), trilha sonora discreta mas eficaz de Harry Gregson-Williams, fotografia esperta de Darius Wolski (apesar do 3D ser absolutamente dispensável) e um trabalho maneiro de um elencão que inclui ainda Sean Bean, Donald Glover, Kirsten Wiig, Benedict Wong e a gatinha Mackenzi Davis, Perdido em Marte é a melhor ficção científica do ano, e uma muito bem vinda volta por cima de um dos meus diretores preferidos após uma série de tropeços.
É bom voltar a vê-lo, Ridley.

"-Eu posso furar a minha luva e usar a dispersão de ar do traje como um propulsor para alcançá-la.
-Isso é loucura, além de perder o oxigênio do seu traje você não terá controle sobre a velocidade e estará praticamente voando às cegas com um vetor feito a olho nu sem nenhum cálculo para embasá-lo.
-Sim, sim, são todos argumentos válidos, mas ao mesmo tempo eu estaria voando como o Homem de Ferro. Vamos de Homem de Ferro. "

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