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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Se Explodam!


Meia noite e vinte e sete. Ele tinha acabado de escovar os dentes, desligou o videogame, colocou a TV na Globonews e se deitou pra dormir.
Toca o telefone.
-Pronto? - Ele atende.
Silêncio do outro lado da linha por alguns segundos. A ligação cai com o tu-tu-tu característico.
"Engano", pensou. Voltou pra cama. Deitou, se cobriu com o lençol, apagou a luz e virou pro lado. Estava começando a respirar como quem pretende dormir, tocou o telefone de novo.
Descobriu-se, levantou, andou até a sala. Atendeu:
-Pronto?
Breves segundos de silêncio. Tu-tu-tu-tu.
Desligou. Andava de volta pro quarto, o telefone toca de novo.
-Sim? - Atendeu exasperado. -Alô?
Silêncio, e sinal de desligado.
Flertava com a ideia de desligar o fio do telefone do aparelho quando tocou novamente. Atendeu, mas sem dizer nada. Apenas ouviu. Do outro lado da linha, uma respiração.
-Olha... - Disse com a voz calma. -Me desculpa, tá? Eu lamento ter sido um atraso na tua vida tantas vezes. Lamento mesmo. O papel que eu menos quis ter na nossa história, era o de tua âncora. Me desculpa se foi o único ao qual eu me prestei. Tudo o que eu te disse, tudo, sem exceção, foi verdade. Cada sentimento, cada toque, cada beijo e cada lágrima, de minha parte, tudo aquilo foi verdade. Foi o mais verdadeiro que uma coisa pode ser. Me desculpa não ter dado certo. Não ter sido como eu queria. Eu espero que, um dia, tu olhe pra trás, e me veja como uma boa lembrança, e não como um atraso... Eu realmente te amo, e fico muito, muito feliz por tu ter encontrado alguém que goste e cuide de ti do jeito que tu merece.
O silêncio do outro lado da linha permaneceu. Ele pousou o telefone no gancho, deu as costas ao aparelho, e saiu andando em direção ao quarto.
O telefone tocou novamente. Ele sentiu o coração acelerado enquanto andava de volta até o aparelho.
-Alô?
Alguns momentos da respiração pausada do outro lado da linha e então:
-Quem é que tá falando? Cadê a Heloísa? - Uma voz de homem.
-Quê?
-A Heloísa, tô ligando toda a hora. Porque é que ela não atende? - Perguntou o sujeito do outro lado, cheio de razão.
-Ela não pode atender, já tá no banho. Eu tô entrando, também, quer mandar algum recado?
Um instante de hesitação do outro lado da linha.
-Tu vai entrar no banho com ela?
-Sim. Quer que eu diga alguma coisa pra ela?
-Não... Não tenho nada pra dizer pra ela...
Desligou.
Enquanto voltava pra cama ele ainda pensou em que tipo de problemas poderia ter causado à tal da Heloísa, mas pra ser bem franco, queria mais é que se explodisse. A Heloísa e aquele jaguara que não sabia nem discar um número de telefone.
Abrira o coração a troco de nada, parecia-lhe justo destruir um possível casal como forma de represália.

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