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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Quites



De modo geral, uma e meia da madrugada era sua hora de dormir entre segunda e quinta. Era um horário de se recolher que o deixava com cerca de sete horas de sono, o que ele considerava mais que o suficiente. De modo geral, era capaz de funcionar com seis horas de sono diárias. Eventualmente até menos. Mas sete... Sete era a margem de segurança ideal.
Como fazia todos os dias, jogou um pouco de videogame e quando viu que era uma e vinte, foi ao banheiro, escovou os dentes, foi à cozinha, bebeu um montão de água com gás no gargalo da garrafa (na esperança de acordar de madrugada pra ir ao banheiro, um de seus maiores prazeres simples era acordar por volta de quatro, cinco da manhã para ir ao banheiro sabendo que poderia voltar pra cama e dormir mais um bom tempo). Foi ao quarto e tirou a camiseta regata preta que vestia. Estava calor e ele resolveu não dormir com o pijama improvisado, composto de uma regata preta e cuecas boxer de algodão da mesma cor.
Só usando cuecas, voltou à sala. Posicionou o ventilador de frente pro próprio rosto, e ligou a TV no canal de notícias, ajustando o timer, não para desligar, mas para caçar noticiários durante toda a madrugada.
Deitou-se no sofá (ainda não dormira em sua cama desde a mudança), e preparou-se para o último passo de seu ritual pré-sono:
Apanhou o celular e pesquisou o nome dela no Google.
Ao ver os resultados se materializarem na tela branca de sete polegadas, e cutucou o primeiro da lista com o dedo indicador.
Duas novas postagens.
Sorriu. Sempre sentia um calor no peito ao saber dela.
Viu a primeira postagem rindo. Sentindo-se ao mesmo tempo acalentado e melancólico. Devia ser a música...
Estava com o coração tranquilo quando visitou a segunda postagem...
Pôde vê-la falando.
Ouvir a voz dela.
Escutá-la.
Viu o vídeo três vezes. Depois mais uma. O tempo todo, o coração ribombava dentro do peito. Lembrou-se de uma coisa que sempre amara quando a abraçava...
O coração dela. Audível quando os corpos se colavam. Feito um tambor.
Às duas e meia da manhã ainda não havia conseguido pegar no sono. E sentia os próprios batimentos cardíacos. Sorriu olhando pro teto enquanto amaciava o travesseiro:
"Estamos quites, meu amoR."

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