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quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Tudo


Ela, com as pernas no colo dele, que tinha a mão direita no joelho esquerdo dela, e a mão esquerda na coxa direita dela, os dois aninhados um no outro no sofá da sala escura, iluminada apenas pela tela da TV, ligada em um noticiário noturno qualquer. Ele estava em silêncio. Um meio sorriso estampado na cara barbada. Olhava o televisor sem absorver nada do que os âncoras, repórteres e comentaristas falavam. Estava inebriado pelo cheiro que se desprendia dela. O cheiro doce que aprendera a amar.
Foi ela quem quebrou o silêncio:
-Como vão ser as coisas, agora? - Perguntou erguendo os olhos, que, pareceu-lhe quando a encarou, estavam fechados há algum tempo.
Ele olhou pra ela com um sorriso de quem não entendeu exatamente, mas estava feliz demais pra perguntar "o quê?".
Ela sorriu e disse:
-As coisa tudo... Que tu tá acostumado. As tuas coisas... A gente vai ter que dividir. Tu tá preparado pra dividir tudo?
-Contigo? - Ele perguntou numa bravata. -Tu realmente tem alguma dúvida?
Ela sorriu e encostou o queixo no peito dele para encará-lo, envolvendo-lhe as costelas com os braços tanto quanto conseguia.
-A preferência pra jogar com o controle vermelho...?
Antes que ele pudesse responder ela completou, rápida:
-Com as mãos limpas!
-É tua. - Ele respondeu, sorrindo.
-A última lata de Coca-Cola de baunilha da geladeira...? - Ela desafiou.
-É tua. - Ele respondeu, fazendo uma careta de sofrimento, mas sorrindo em seguida.
-O último salgado de presunto com palmito do Armelin na bandeja...? - Ela quis saber, chegando a se inclinar pra frente.
-É teu. - Ele respondeu, sem pestanejar.
-O último Alpino da caixa de especialidades Nestlé...? - Ela inquiriu.
-É teu. - Ele retorquiu, beijando-a na ponta do nariz.
Ela pareceu satisfeita, aninhou-se nele de novo.
Mentalmente, ele continuou:
Minha cama... Minha casa... Meus sorriso... Meus pensamentos... Meu tesão... Meu presente... Meu futuro... Minha vida... Meu amor... Minha saudade... Minhas catarses e minhas epifanias...
Tudo teu.



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