-Eu não quero fazer isso. -Disse Romero, cheio de nervosismo na voz. -Não quero. É errado. É crime. E, pior de tudo, vai dar merda. - Completou.
-De onde tu tirou que isso é crime? - Perguntou Rozineide, impaciente.
-É crime. É crime. Se não é devia ser. - Replicou Romero.
-Que devia o quê... - Falou Rozineide, desdenhosa. -O que tem de criminoso nisso?
-O que... O que que tem? O que tem é que o teu marido deve estar trabalhando, suando a camisa pra pagar o aluguel, pra botar comida na mesa, pra comprar uns pisantes novos pros teus guris, e eu tô aqui. Deitado sem roupa na cama dele, no quarto dele, na casa dele, com a mulher dele. Tu queres saber, Rozineide. Isso fala muito do meu caráter. Fala muito e fala mal. Mas fala ainda pior do teu.
-Quê?
-É isso aí mesmo. Eu tô no meu papel de homem. Eu sou biologicamente programado pra espalhar a semente. É só aparecer uma brecha que a memória genética gravada no meu DNA se ativa e meu cérebro só pensa em preservação da minha linhagem.
-Do que tu tá falando, negão?
-É isso aí, Rozineide, eu passei perto da tua casa, eu te vi na rua, tu tem quadris largos, pernas fortes, seios fartos, tá na cara que tu é uma mulher perfeita pra procriação-
-Ah, que isso... Imagina... - Interrompeu Rozineide, com um sorriso envergonhado.
-Mas é mesmo. Eu te olhei e o meu instinto te apontou como a mulher ideal pra manutenção do meu código genético, o instinto, a memória genética, eu só quero garantir a existência de meus descendentes, tu é a escolha ideal, a mulher mais gostosuda das redondezas.
-E a Santinha? A filha da dona Brenildes? - Inquiriu Rozineide.
-A Santinha não tem peito, além disso é burra que dá pena. Se eu fosse precisar me ausentar pra uma caçada por uma estação inteira aquela tança ia deixar meus herdeiros morrerem de fome, de peste, ou atropelados pelo fuca do japonês da quitanda. Tu, não, tu é uma mulher mais esperta, sabe das coisas, cria bem os teus filhos. Por isso que eu fiquei tão ligado em ti. Tu é a fêmea alfa das redondezas. Eu tinha que tentar, biologicamente eu precisava tentar, mas como é que eu ia saber que tu ia aceitar o meu caô? Tipo, tu é mulher do Jorjão, o cara é um bom provedor, tá sempre na labuta, tem queixo quadrado, peito largo, forte feito um cavalo, todos os indícios biológicos de um homem competente pra vida competitiva. Como eu podia fazer a mais remota ideia de que tu fosse aceitar o meu xalalá? Meu? Um cara magrelo, barrigudinho, pouco queixo, instalador de TV á cabo... Pô, Rozineide, tu também, né? Não tem vergonha na cara. Olha pra mim. Eu sou o quadro da dor sem moldura e tu me bota pra dentro de casa. O que o Darwin diria de ti? Francamente... - Completou cheio de desapontamento.
-Aquele teu gato da NET tá rendendo, hein, Romero? Só assiste Discovery Channel, né?
-Pô, Rozineide, não enche. Agora eu fiquei fragilizado. Além disso, pra que eu ia querer espalhar a minha linhagem? Não, pensa comigo. Com que propósito eu iria gerar descendentes? Uma turba de pequenos Romeros, todos magros-pançudos, com ombros estreitos e pouco queixo? Uma renca de piás ranhentos sem nenhuma missão na terra exceto falhar na manutenção da sua linhagem? Não. Não quero. Não vou fazer isso. É injusto com á espécie humana. É injusto com o mundo. Uma linhagem descendendo de um cara que não sabe tomar um banho rápido, não lembra de separar o lixo. De um cara que está matando os ursos polares, por que é isso que eu tô fazendo, matando ursos polares. E focas. E os kiwis. Não. Não quero perpetuar a minha linhagem, Rozineide, e tu, que vergonha, não devia querer também.
-Não vai ter linhagem nenhuma, Romero. A gente vai usar proteção, pombas. -Decretou Rozineide num suspiro.
-Ah, bom. -Respondeu Romero, animado. -Se é por esporte é diferente.
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