Bem vindos a casa do Capita. O pequeno lar virtual de um nerd à moda antiga onde se fala de cinema, de quadrinhos, literatura, videogames, RPG (E não me refiro a reeducação postural geral.) e até de coisas que não importam nem um pouco. Aproveite o passeio.
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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Rapidinhas do Capita
Era estranho. Era muito estranho. O Epitácio sabia que queria, sabia que gostava, mas estava sempre com dois pés atrás. Ele simplesmente não podia acreditar que dava pra ser feliz. Quer dizer, ele até acreditava. Já tinha sido feliz, antes, tinha mesmo. Fora feliz quando era criança a maior parte do tempo, com seus brinquedos e jogos e coleguinhas. Também fora feliz na adolescência, com o esporte, as namoradas e os gibis, e já havia sido feliz depois de adulto, conquistando suas coisas através de muito suor, e sabendo quem era.
Já fora feliz, o Epitácio. Sabia como era. Á despeito de todas as mazelas, decepções e pequenas e grandes tragédias de sua vida, á despeito das tristezas e dos desapontamentos, ele ainda acreditava em felicidade.
Não acreditava era em felicidade eterna.
E, infelizmente, chegara a uma fase da vida em que achava que as coisas tinham muito mais significado, importância e peso do que antes. Em que as coisas tendiam a ser muito mais definitivas.
Então, ali estava ele, olhando, sabendo que queria, sabendo que podia, e que seria bom.
Mas por quanto tempo? Quanto tempo até ele não querer mais? Até ele não poder mais? Até deixar de ser bom?
Ele não sabia. Era um sujeito algo enxovalhado pela vida, extremamente desconfiado, e haviam coisas... Tantas coisas ao seu redor que simplesmente lhe diziam sem parar "Não vai que vai dar errado!", "Não faz isso que tu vai te arrepender.", "Óóóóóóóóóóóóóó...", e ele ficava assim: Nem lá, nem cá. Sem saber o que fazer, como proceder...
O que o Epitácio não percebia era que, com aquele comportamento, ele era como aquele proverbial peru. Sempre morrendo de véspera.
Que bobo que era o Epitácio.
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Ela, linda, linda, linda. Cabelão preto até o meio das costas, lindas pernas reveladas sob uma saia jeans, olhos vagamente amendoados de um castanho bem claro, sentou do lado dele na cafeteria:
-Oi, tudo bem?
Ele, de fone de ouvido, distraído, nem percebeu. Ela ficou esperando resposta, então percebeu os fones. Passou a mão espalmada na frente dos olhos dele como quem quer ver se a outra pessoa está em transe. Ele viu e olhou pra ela, parecia incomodado. Tirou o fone:
-Quié?
Ela, doce, olhou pra ele sorrindo um sorriso grande, franco e bonito:
-Eu disse "Oi, tudo bem?".
Ele a encarou por um segundo, como se a estivesse avaliando. Mãos bonitas, braços bonitos, pescoço, rosto, cabelo, barriga, cintura, diabos, tudo naquela guria era bonito.
-Tá... Tá tudo tri... - Ele respondeu sem lá muita convicção. Parecia desconfiado, agora.
-Meu nome é Juliane.
-Arram...
Ela sorriu olhando pra cima, algo impaciente. Não resistiu e continuou:
-E o teu?
-Jairo.
-Jairo?
-É. Algum problema?
-Não... Não, é que... Tinham me dito que era Luciano.
-Se tu sabia por que perguntou?
Ela não soube o que responder. Sorriu sem-graça. Ele começou a colocar os fones de volta nos ouvidos, mas ela o conteve com um gesto.
-Olha... Luciano, Jairo, sei lá. Hã... Tu... Tu quer fazer o trabalho de História comigo? Eu sou ruim em História, e tuas notas são sempre foda...
-Não. Eu não vou fazer esse trabalho.
-Não? Mas e a nota?
-Eu garanto na prova. Nunca faço trabalho.
-Ai, que massa.
-Hm.
-Bom, então se tu não vai fazer o trabalho tu não quer, sei lá, sair pra fazer alguma coisa? Ir no cinema ou, sei lá...?
-Não. Não posso. Tenho que trabalhar.
-Ah, tu trabalha?
-Arram.
-Ai, que fera.
-Não, é chato pra cara... Pra caramba.
-E no final de semana, tu não-
-Não. Não posso. Foi mal. Boa sorte com o trabalho de História.
Ele colocou os fones de volta e continuou olhando pra frente. Ela se levantou constrangida e saiu andando. Foi pra junto das amigas dela.
Ele observou interessado de sob o a aba do boné gasto, admirando o rebolado insinuante do corpo dela, a dança particular que os cabelos faziam independentes do corpo, os pés delicados dentro de uma rasteirinha de plástico amarelo translúcido tocando o cimento do pátio do colégio. Era linda, ela. Por isso mesmo ele a dispensou. Uma guria linda que nem ela, querendo ficar com um cara bagunçado que nem ele? Rá! Muito suspeito. Alguma coisa errada devia existir por trás disso. Ah, devia.
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TRADUÇÕES:
Ele disse:
-Eu te amo.
Mas na verdade ele quis dizer:
-Faça sexo comigo.
Ou:
-Diz que me ama.
Ele disse:
-Qual teu signo?
Mas na verdade, a menos que ele seja astrólogo, ele quis dizer:
-Faça sexo comigo.
Ele disse:
-São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Mas na verdade, a menos que ele seja professor de literatura e esteja em aula, ele quis dizer:
-Faça sexo comigo.
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