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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Nosso



Que a vida é toda ela incerteza as pessoas acabam aprendendo cedo ou tarde, de uma forma ou outra. Como foi o caso do Reginaldo.
O Reginaldo tinha uma única certeza nessa vida e era a de que não existem certezas nessa vida, exceto a morte. O Reginaldo era um sujeito pessimista que não acreditava em nada e que estava sempre avisando que não era pra ninguém se desesperar pois as coisas ainda podiam piorar muito. Ele sabia que, em momentos de crise, essa sua faceta era bastante útil, e que por ele conseguir manter a cabeça no lugar quando tudo ia pro inferno, nas horas de crise sempre o queriam por perto. Sabia, também que era particularmente azedo, e que, nos momentos de calmaria, não era a melhor das companhias, pois enquanto todo mundo curtia o momento, ele ia avisando pra não acostumarem pois não ia longe.
O Reginaldo tinha um kit do juízo final dentro da mochila que sempre carregava consigo, que tinha mariolas, sabonete, escova e pasta de dente, cuecas limpas, um isqueiro, um abridor de latas, uma faca e um life straw, aqueles aparelhos em forma de canudos pra filtrar água salobra. Esse era o nível de pessimismo do Reginaldo.
Uma vez, um amigo do Reginaldo ia se casar, e escolheu o Reginaldo como padrinho. Antes da cerimônia, perguntou se o amigo tinha um último conselho para dar a ele, ao que o Reginaldo respondeu "Anote tudo o que tu comprar depois do casamento, assim, quando vocês se separarem, tu vais ter um registro do que é só teu, o que vai facilitar na hora de separar os bens". O amigo riu, o Reginaldo não soube se por pensar que era uma piada, por estar com o coração leve demais pra reclamar, ou apenas por condescendência. O que o Reginaldo sabia é que, na época da separação do casal, dois anos depois, aquele registro teria sido muito útil.
Era o "lance" do Reginaldo, o pessimismo. Ele era assim, o sujeito que estava pronto pra quando tudo desse errado. Ao menos espiritualmente.
Aconteceu, porém, de o Reginaldo se apaixonar, ora imagine.
Se apaixonar, mesmo. De corpo, alma e coração. O Reginaldo encontrou em alguém o acalento, o calor, a alegria de partilhar. E o Reginaldo que não, não se tornou "uma nova pessoa", nem nada do tipo, teve, de fato, pequenas epifânias
E uma coisa nova surgiu pro Reginaldo... Não otimismo... Mas uma certeza da vida além da inevitável morte. A certeza de que ela e ele estariam para sempre juntos.
Uma certeza tão grande, que o Reginaldo não se incomodava de dar suas coisas pra ela. Pois ele sabia, em seu íntimo, que as coisas que eram "dele", e que eram "dela", estavam irremediavelmente fadadas a ser "nossas", um dia.

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