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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Quando Reinaldo Se Apaixonou Pela Gari


O Reinaldo acordou ao som estridente de seu despertador, levantou-se gemendo, e andou, trôpego enquanto esfregava os olhos em direção ao banheiro, onde atendeu ao chamado da natureza, lavou o rosto, escovou os dentes, e trocou o calção e a camiseta surrados do pijama improvisado com que dormia por calças jeans e uma camisa. Vestiu as meias e os sapatos, e apanhou a gravata que estava sobre a cadeira. Ligou a TV e abriu a janela enquanto enrolava a peça em torno do pescoço.
Era cedo, cerca de seis e meia da manhã. A rua estava deserta e tingida por uma coloração entre o rosa e o dourado de um sol que despertara a pouco e ainda se levantava do horizonte. Ali, solitária na rua, o Reinaldo viu uma mulher.
Ela era alta e esguia, e envergava com surpreendente graça o uniforme cor de laranja dos garis da cidade. Arrastava um carrinho sobre o qual se equilibrava um latão de lixo amarelo, uma vassoura e uma pá, e dois cavaletes listrados.
Os cabelos dela eram encaracolados e dourados. Ela tinha um rosto bonito. Não bonita como uma atriz de novela, nem nada do tipo, mas era bonita, de uma maneira simples, crua e direta. Quase como se fosse um esboço feito às pressas por um artista talentoso.
Reinaldo quis cumprimentá-la de longe. Acenar para ela de sua janela até lá embaixo, junto ao meio fio que ela se punha a varrer com esmero.
Pensou em acenar pra ela todo o dia. E após alguns dias, oferecer a ela um copo de suco, junto à porta do prédio. Até cativá-la e encontrar um caminho até o coração simples dela, pois havia de ser simples o coração de uma moça que, mesmo bonita, não tinha vergonha de envergar o macacão da companhia de limpeza pública e encarar as mazelas da vida munida de uma vassoura.
ele a ajudaria a estudar, melhorar, conseguir outro emprego, um emprego melhor, e ela lhe seria grata e ele e ela se casariam, pois ele a amava e ela a ele, e construiriam uma vida juntos, surdos aos comentários maldosos daqueles que soubessem que ela fora uma reles gari. E eles envelheceriam juntos, e se orgulhariam da vida que haviam edificado e da qual o primeiro tijolo fora ele tê-la observado da janela de sua casa enquanto ela, banhada na luz dourada da aurora, fazia seu trabalho reles, ainda que digno, nas ruas da cidade.
Reinaldo a olhou enquanto ela varria, então olhou pra TV, e todo o amor que imaginara se desvaneceu.
Concluiu que era melhor assim. Que dali por diante suas paixões fossem todas assim. Platônicas. Fugazes, e livres de consequências.

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