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segunda-feira, 15 de abril de 2013

O Quê Eles Querem...



-Eles só querem te comer. - Foi o que disse o Agenor, muito sério, por cima do copo de cerveja sobre a mesa olhando pra Elaine do outro lado da mesa.
Ela fez cara de pouco caso enquanto mexia o pé dentro de um fino sapato de salto alto suspenso no ar pela perna cruzada.
-Isso mesmo. - Ele reforçou em desafio. -Só querem te comer.
Ela continuou não olhando pra ele, que bebeu um gole da cerveja, e se ajeitou na cadeira, espichando as pernas sob a mesa.
Ficaram assim, ele olhando pra ela sem expressão, ela olhando pro outro lado. Quando finalmente olhou de volta pra ele, ela perguntou:
-E como é que tu tem tanta certeza?
Ele olhou pra ela com um sorriso nos olhos, embora tivesse o resto do rosto sério.
-Como é que eu sei... Eu sei. Eu sou homem. Sei como é que os homens pensam.
-Então além de toda a lista de predicados fictícios que eu já conhecia tu agora também é telepata?
Ele riu um riso artificial. Quase um rosnado.
-Não precisa ser telepata pra ver, criança.
-Eu não sou criança. - Ela respondeu furiosa.
-Ah, mas tu é. Tu é criança. Só isso explica tu não ver o óbvio.
-Talvez seja óbvio só pra ti, que é um doente. - Ela retrucou, quase que instantaneamente se arrependendo das palavras duras, doce que era. Mas ele pareceu não sentir a ofensa que, pra ela, parecera excessiva. Continuou:
-Eu não sou doente. Tu é que é inocente. Inocente demais. Eles olham pra ti e o que eles veem é um ato. Uma representação. Uma perva com gostos de moleque. Eles veem pernas de fora, saias microscópicas, blusas de ombro de fora, cabelos esvoaçantes e maquiagem pesada ao redor dos olhos e pensam em uma tremenda gostosa que ainda calha de ser divertida. E eles querem te comer. Alguns vão querer mais... Vão querer te comer sempre. Vão querer ser os únicos a te comer... Mas os teus gostos, as tuas idiossincrasias, pra eles, vai ser um lance folclórico que tu usa pra atrair ainda mais a atenção do macharedo, já que, embora tu seja linda, tu nunca vai ser a única menina linda em uma festa.
-Não é isso que eu faço. - Ela disse, desgostosa.
-Eu não tô dizendo que é o que tu faz. Tô dizendo que é o que eles veem.
-como é que tu pode ter tanta certeza?
-Porque eu pensei assim por algum tempo, também. Tive muito medo que fosse tudo. Tive muito medo que fosse só isso. E fiquei, francamente aliviado quando percebi que não... Que não era uma fachada. Que era tu, de verdade...
Ela se enterneceu, mas ele continuou:
-Mas antes, o que eu queria mesmo era te comer.
Ela se levantou, exasperada, e saiu.
Ele ficou lá sentado. Olhando ela partir, sob a sua própria fachada de quem não ligava. Mas a verdade é que, embora ele tivesse, de fato, sentido medo que ela fosse um ato, jamais quis apenas sexo casual com ela. Ele a quis em sua cama, claro. Mas também em sua vida. Em sua casa. Na poltrona ao lado da dele no cinema. Queria ela como dona de sua casa. Mãe dos seus filhos. Avó de seus netos. E alívio de suas dores.
Mas a vida era complicada, e ele a tornava mais complicada sempre que tinha a chance.

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