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quarta-feira, 1 de abril de 2015
Incompatibilidades
O Miguel e a Eliane se conheceram e de imediato perceberam que tinham muito em comum.
Os dois eram pessoas práticas, antenadas, ligadas ao mundo, que gostavam de redes sociais, de gadgets e de vida social fervilhante.
Miguel trabalhava como instrutor numa academia de treinamento funcional, era alto, forte, boa pinta, expansivo. A Eliane era uma exterminadora do futuro, mulher forte, trabalhava na área de marketing de uma grande empresa especializada em software. Trabalhava até doze horas por dia em época de começar novas campanhas de divulgação, e mesmo nesses dias encontrava tempo e disposição pra malhar feito uma alucinada no TRX.
Foi justamente onde conheceu o Miguel. Na academia.
Ele, expansivo que só, logo se pôs a conversar com Eliane. Eliane, afeita à comunicação, deu-lhe trela. Logo eram amigos no Facebook, seguiam-se no Twitter e conversavam por Whats-app.
Ela, mulher forte que era, tomou a iniciativa e o chamou para sair.
Achou nele qualidades que considerava importantes em um homem: Era seguro, gostava de gente, se comunicava muito e com poucos erros de português, tinha planos de abrir sua própria academia, e, claro, com seu peitoral achatado e seu abdominal definido, deixava ela com tesão.
Pareciam feitos um para o outro, ambos bem vestidos em trajes da moda, aparecendo juntos em festas e eventos do trabalho de um e de outro. Se usando mutuamente para construir uma "networking" que os favorecesse no futuro.
Os amigos de ambos e seus seguidores nas redes sociais julgavam-os feitos um para o outro. Nenhuma outra mulher teria paciência para o Miguel, nenhum outro homem teria pique para a Eliane.
Passaram juntos quase dois meses, e subitamente terminaram. Ninguém soube porquê, exceto algumas amigas próximas de Eliane em um grupo do Whats-App:
Fora Miguel quem terminara com Eliane.
Ela julgava-se culpada. O pressionara bastante por conta de sexo. Ela tinha urgências e queria demonstrar seu afeto de maneira física. Miguel não parava de postergar a transa. Quando Eliane perguntou-lhe de maneira direta qual era o motivo, Miguel desconversou e disse que era melhor pararem de se ver.
Eliane aceitou, tendo a certeza silenciosa de que a culpa era sua, por cobrar em demasia, ser excessivamente eficiente e forte, por ter permitido que sua ânsia de vencer em um mundo essencialmente masculino a tivesse mudado, tornando-a uma pessoa, talvez, inacessível e direta demais para os melindres e amenidades da sociedade moderna.
Miguel, por sua vez, jamais comentou com ninguém porque as coisas com Eliane não haviam dado certo. Limitava-se a dizer que era melhor daquela forma.
Miguel gostava de Eliane, e tinha o maior tesão nela. A razão para jamais ter chegado às vias de fato com a moça, era vergonha:
Miguel, desde garoto quando era um fedelho magrelo apelidado de Sadol pelos outros guris da rua, gritava "Uh-lagalaga-laga-rú" quando gozava. Então sentia-se meio inseguro para transar com uma mulher pela primeira vez, e achou que uma perfeccionista como Eliane não encararia bem aquele tique.
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