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sexta-feira, 10 de abril de 2015
Resenha DVD: De Volta ao Jogo
Como a professora de Peter Parker disse à classe no final do injustiçado O Espetacular Homem-Aranha, há apenas um mote em toda a literatura (e por conseguinte, à toda a forma de narrativa que conte histórias):
Quem sou eu?
No surpreendente De Volta ao Jogo, temos Keanu Reeves no papel do anti-herói John Wick, que, a despeito de seus esforços e negativas, sabe muito bem quem é, e acaba gritando isso na cara do submundo.
De Volta ao Jogo começa logo após a morte de Helen (Bridget Moynahan), esposa de John, vítima, supõe-se, de câncer. Após o funeral, ele recebe uma surpreendente encomenda, um filhote de cão, entregue de maneira póstuma por sua esposa, aconselhando-o a reaprender a amar, e sugerindo que ele comece com o animal, já que seu carro, um glorioso Mustang 1969, não conta.
Não tarda nem um par de dias para que John receba uma indesejada visita em sua casa no meio da madrugada, de um grupo de bandidos russos liderados por um jovem chamado Iosef (Alfie Allen, o Theon Greyjoy de Game of Thrones), obcecado pelo carango de Wick após cruzar com ele em um posto de gasolina.
Durante o assalto, os meliantes vandalizam a casa, e matam a cachorra Daisy.
Não demora nem dois segundos após Wick despertar do nocaute após ser atacado pelos bandidos para ele enterrar seu cão e a audiência descobrir através do dono de desmanche Aurélio (John Leguizamo), que John Wick não é alguém com quem as pessoas devam se meter, e, ao mesmo tempo, aprender que o estabanado Iosef, é filho de Viggo Tarasov (um ótimo Michael Nyqvist), chefão da máfia russa, e ex-associado de John em sua época de matador de aluguel.
Com a premissa devidamente estabelecida, começa uma sucessão de enfrentamentos de Reeves contra os matadores enviados por Tarasov, que coloca a cabeça do protagonista a prêmio em uma tentativa desesperada de salvar a vida de seu rebento, numa fita de vingança que, apesar de não parecer lá muito animadora em sua premissa bastante desgastada, funciona que é uma beleza na prática.
Os diretores Chad Stahelski e David Leitch são ambos dublês veteranos, Stahelski inclusive é o dublê de Reeves em Matrix, e, com esse background, as cenas de ação não podiam estar em melhores mãos. Todos os tiroteios são perfeitamente coreografados, garantindo que os stunts vão além da mera pancadaria, e oferecendo um atrativo estético que foge do atual manual da câmera-tremida-enfiada-no-meio-da-ação que parece ter virado regra em Hollywood após Jason Bourne e Batman terem abusado do expediente. Com uma fotografia esperta de Jonathan Sela, que começa o filme quase sem cor, e aos poucos vai acrescentando brilho conforme Wick se afunda no submundo e na vingança e no sangue dos inimigos cujos cadáveres se empilham à sua passagem.
Outro trunfo é o elenco. Michael Nyqvist está ótimo no papel de Viggo Tarasov, conseguindo transparecer sofisticação e brutalidade sem se perder no caminho, Willem Dafoe, no papel do veterano assassino Marcus também empresta cartel ao longa, caso partilhado por Ian McShane, vivendo Winston, o proprietário do Hotel Continental, campo neutro onde matadores convivem em trégua forçada pela gerência, a eles se junta a teteia Adrianne Palicki como a assassina Perkins, um papel sem grandes desafios, mas quem surpreende, mesmo é Reeves.
O ator inexpressivo que erigiu uma grande carreira sobre os alicerces da boniteza e do fato de exalar uma aura cool praticamente sem paralelo em Hollywood (exceto pro Christopher Walken. Christopher Walken é tão cool quanto Reeves, mas tem muito mais talento) dá mostras de que alcançar os cinquenta anos lhe fez muito bem, obrigado.
Mais seguro, maduro, e parecendo não ter envelhecido nem um dia nos últimos 15 anos, Reeves dá demonstrações até hoje não vistas de aplicação e vontade de melhorar. Junte-se a isso sua tremenda facilidade pra cair na porrada com muito estilo, e um personagem extremamente interessante, magnético em sua obstinação e crueza, e temos o que talvez seja o grande momento de Reeves nos últimos anos.
Em suma?
Ótimo programa. Vale demais a locação, e que venham mais trabalhos assim para o eterno Neo. Ele e a audiência merecem.
"Você pode se afastar e me entregar seu filho, ou morrer gritando ao lado dele."
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