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domingo, 19 de abril de 2015

Resenha Cinema: CHAPPiE


Lembra do filme The Wonders, dirigido por Tom Hanks?
Era um filme a respeito de uma banda de um sucesso só, que se tornam reféns de um único hit para o resto de sua vida.
Bem, após um muito promissor início de carreira com Distrito 9, o realizador sul-africano Neil Blomkamp deu uma escorregada com Elysium, que se não era horrível, desapontava bastante na comparação com o trabalho de estréia do diretor, e agora, antes de debutar na franquia Alien, tentou voltar aos bons tempos com esse CHAPPiE.
A tentativa de retomar o caminho de Distrito 9, talvez nem seja proposital, mas que o filme dá toda a pinta de ser uma tentativa de voltar a terreno conhecido, ah, dá.
Estão lá todos os expedientes que nós havíamos visto em Distrito 9, do início, com documentários e entrevistas dando o panorama geral do universo do filme, às minorias marginalizadas, ao herói improvável ao vilão milico e filho da puta, às sequências filmadas por câmeras de vigilância... Tudo bastante familiar para quem viu o filme debute de Blomkamp.
Até mesmo o cerne da história é o mesmo:
A metamorfose.
A grande diferença é que, aqui, temos, não um sujeito escroto se transformando em uma criatura que desprezava, mas uma coisa se tornando um ser vivo.
CHAPPiE abre na África do Sul de 2016. Com uma altíssima taxa de criminalidade batendo nos 300 homicídios diários, Johanesburgo se volta a empresa TETRAVAAL, um complexo bélico de capital aberto capitaneado pela executiva durona Michelle Bradley (Sigourney Weaver). É a TETRAVAAL quem fornece à polícia de "Joburg" os robôs policiais autônomos que, mesmo sem serem armamentos indestrutíveis, são eficientes o bastante para derrubar de maneira significativa a criminalidade na metrópole.
Entretanto, o criador dos robôs "Scout", Deon Wilson (Dev Patel), não está satisfeito com o sucesso da empreitada. Ele deseja mais. "Mais", no caso, seria imbuir suas criações com verdadeira inteligência artificial, tornando máquinas capazes de criar, aprender e sentir como criaturas vivas de fato.
Obviamente essa ideia é rechaçada de imediato por Bradley, mas quando o azarado robô scout 22 é parcialmente destruído em uma batida policial, Devon percebe a oportunidade de testar sua criação à revelia da vontade da chefe.
Devon rouba o robô defeituoso, e o leva consigo, atraindo a atenção do desenvolvedor rival Vincent (Hugh Jackman, vestido como um idiota e com um corte de cabelo de retardado), que teve seu projeto ALCE rejeitado pela TETRAVAAL devido ao sucesso dos scouts de Devon (E talvez porque o ALCE pareça demais com ED-209 de RoboCop...).
Saindo da TETRAVAAL para promover seu experimento estilo Frankenstein e criar vida, Devon é sequestrado pelos traficantes de drogas Ninja, Yo-Landi (vividos pelos punk-rappers Ninja e Yo-Landi Vi$$er. Acredite, é tão ruim quanto parece) e Amerika (Jose Pablo Cantillo), que o levam a seu esconderijo na esperança de que o criador dos robôs possa desligá-los(?).
Quando são convencidos por Devon de que seu brilhante plano é irrealizável, os traficantes estão prestes a matá-lo quando descobrem o robô policial parcialmente destruído em sua van, e obrigam o cientista a ligar a máquina com seu projeto de inteligência artificial ativado, o que lhes dará a oportunidade de usá-lo para seus propósitos (no caso cometer um bom assalto e roubar vinte milhões de rands para pagar um chefão do crime).
O experimento, porém, não ocorre como os marginais imaginavam já que o robô, batizado Chappie (interpretado pelo ator-fetiche de Blomkamp, Sharlto Copley), ganha consciência como se fosse um enorme bebê metálico.
A inesperada condição de Chappie desperta insuspeitos instintos maternais em Yo-Landi, que passa a tratar o robô como a um filho.
Enquanto Deon e Yo-Landi tentam imbuir o "recém-nascido" com noções de certo e errado, amor e criatividade, Ninja e Amerika se põe a colocar Chappie em situações de risco mortal de modo a forçá-lo a participar de seu grande assalto.
Ao mesmo tempo, Vincent percebe que a nova criação de seu rival pode ser sua chance de acabar com os tiras robôs e tornar sua criação o salvador da pátria, um plano que tem pela frente um único obstáculo:
O ingênuo Chappie.
Então... A premissa não chega a ser particularmente inspirada, mas poderia, se bem executada, resultar em um filme ligeirinho, divertido e, quem sabe até, com alguns momentos emocionantes, daqueles de deixar os olhos marejados no cinema e depois fazer a gente ficar com vergonha de quase ter chorado.
Infelizmente a execução de CHAPPiE não é boa.
Ainda que o robô título seja simpático e até divertido em sua interpretação infantil do mundo, ele não é nenhum Baymax, ou a Samantha de Ela, talvez seu eco mais similar seja o Johnny-5 de Um Robô em Curto Circuito. Não demora para que suas aspirações sejam derrubadas pelo andamento do filme, tocado meio na porradaria por Blomkamp, sem deixar que os personagens se desenvolvam.
Devon, por exemplo, é interpretado do jeito que dá por Dev Patel, mas simplesmente não tem estofo para atrair a atenção.
Os bandidos Ninja e Yo-Landi, que tinham potencial já que são personagens teoricamente mais profundos e multidimensionais morrem em um par de "intérpretes" absolutamente sofríveis. Weaver mal e mal aparece e Hugh Jackman é relegado à uma caricatura de vilão tão impossivelmente besta que chega a dar pena do nosso eterno Wolverine.
Ainda que cheio de boas ideias, flertando com uma crítica ao consumismo excessivo de uma geração de idiotas retratada de maneira não muito sutil pelo adesivo de "rejeitado" na testa de Chappie, e embasando-se em questões pungentes como o que nos torna humanos, CHAPPiE não decola, nem empolga, sendo, quando muito, um bom programa para um solitário sábado à noite.
Melhor sorte em Alien, Blomkamp.

"Eu só quero viver!"

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