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sábado, 18 de abril de 2015

Resenha Série: Demolidor (parte 2 de 2)


Concluindo o guia comentado de episódios da primeira temporada de Demolidor, da Netflix:

Episódio 7: Stick


Quase um stand alone na primeira temporada, se não fosse a participação de Nobu (Peter Shinkoda), chefão da máfia japonesa (Yakuza ou algo mais...?), o episódio introduz um dos personagens mais importantes do passado de Matt Murdock, o mentor Stick (Um feroz e divertido Scott Glenn).
O guerreiro cego de nascença, mestre das artes marciais, que não teve seus sentidos amplificados por um acidente químico e desdenha das "vantagens" de seu aprendiz, surge em um ótimo flashback, mostrando como os dois se conheceram após a morte de Jack Murdock.
Stick ensinou Matt a não temer o mundo, e esquecer o que não tinha, sua visão, e abraçar aquilo que lhe fora dado, o dom de seus outros sentidos, isso até abandonar Matt, por perceber que, se ele precisava de um soldado, o menino queria um pai.
Stick volta à vida de Murdock 20 anos após abandoná-lo, bem a tempo de ver o herói ser enrolado por Leland Owlsley (Bob Gunton), contador do sindicato do crime de Fisk, e pedir ajuda do vigilante para interceptar uma poderosa arma chegando a Nova York.
Algo chamado Céu Negro, que acaba não sendo exatamente o que Matt (e nem a audiência) esperava.
Além de iluminar o passado de Matt e introduzir um personagem interessantíssimo, o episódio rompeu brevemente a sequência pé no chão da série até então, acenando com um arco algo sobrenatural (O que é, de fato, o Céu Negro?), dando um breve vislumbre de um personagem que poderia ser Rocha, o poderoso pupilo de Stick, e ampliando o escopo da conspiração (Os japoneses são mais do que Yakuza? Seriam Tentáculo?) com uma série de questões intrigantes.

Episódio 8: Shadows in the Glass


A missão de Murdock, Foggy e Karen se torna mais clara. Enquanto isso, o plano de Fisk para controlar Hell's Kitchen escapa ao seu controle.
A exemplo do episódio anterior, Stick, esse Shadows in the Glass também é um episódio pensado para lançar luz sobre o passado de um personagem, no caso, o passado de Wilson Fisk.
Episódio com um ritmo consideravelmente mais lento do que havíamos nos habituado na série, focado muito mais em diálogos e maquinações do que na ação. Ainda assim, enquanto Matt resolve seguir a lei para levar seu inimigo a justiça, evitando que sua guerra pessoal cause mal à Karen e Foggy, nós somos levados em um passeio pelo passado, quando Wilson Fisk crescia em Hell's Kitchen nos anos setenta, e era apenas um moleque gordinho que ganhava uma fatia de bolo de sua mãe e suportava os desvarios de seu pai. Um beberrão falastrão com delírios de grandeza, mão errada para negócios e mão pesada para surrar a esposa, em quem descontava sua frustração enquanto obrigava o jovem Willie Fisk a encarar uma parede branca da sala de casa (castigo brilhantemente reproduzido quando o Wilson Fisk do presente acorda de seus pesadelos e encara a tela que comprou de Vanessa ao lado de sua cama).
O episódio ainda conta com conversas cara a cara de Wilson com seus associados, e conclui com uma alteração significativa na rotina do Rei do Crime, e um golpe de mestre do bandidão, saindo das sombras direto pra debaixo dos holofotes.

Episódio 9: Speak of the Devil


Fisk toma o controle da situação, tornando a tarefa de expô-lo ainda mais complicada. Ao mesmo tempo, Matt precisa enfrentar seus próprios demônios.
Toda a série vinha sendo excelente até aqui. Se alguns episódios como Condemned e Cut Man se sobressaíam, até mesmo as passagens mais paradonas funcionavam perfeitamente em sua tarefa de erguer a tensão e preparar o cenário, mas foi com o episódio 9 (e com o episódio a seguir) que eu descobri que, Demolidor, era o melhor retrato de um super-herói em uma mídia que não os quadrinhos.
Tudo aquilo que um leitor do gibi do herói cego queria ver na sua vida, está em Speak of the Devil.
Um episódio que, de início, nós sabemos como vai terminar, e que ainda assim, nos faz roer as unhas de antecipação esperando estar errado.
Da violentíssima luta com Nabu (usando um traje de ninja escarlate bastante familiar aos conhecedores da mitologia do herói), do curso de ação escolhido por Foggy e Karen para a senhora Cardenas sendo uma óbvia péssima ideia, ao encontro de Matt e Vanessa na galeria (que culmina com um incrível encontro de Matt e Fisk na galeria), até a surpreendente reviravolta final, quando há um confronto entre o Rei e o Demolidor, além da identidade de Matt sendo exposta à última pessoa que ele gostaria de colocar em perigo.
Se até aqui a série merecia uma nota média de 9, 95 em cada episódio, Speak of the Devil, merecia doze.

Episódio 10: Nelson v. Murdock


A amizade de Foggy e Matt é testada enquanto um novo inimigo surge para Fisk.
Depois da montanha-russo que havia sido o episódio anterior, era até natural que a série baixasse um pouco a bola e reduzisse o ritmo antes que alguém morresse do coração assistindo.
Um bom gancho para isso foi a descoberta da identidade dupla de Matt por Foggy, momento final do episódio anterior.
Em uma série de flashbacks nós vemos como foi que Matt e Franklin se conheceram.
Pode parecer inútil, (mais) um dos grandes acertos de Demolidor foi a química excelente entre Charlie Cox e Elden Henson, que, desde o primeiro momento em cena, convenciam como melhores amigos.
Entretanto, ao mostrar como os dois se conheceram, estudaram, estagiaram e resolveram trabalhar juntos, ao mostrar como essa amizade foi edificada tijolo a tijolo, a série conseguiu justificar a revolta de Foggy ao descobrir a verdadeira natureza dos segredos e escapadas de Matt.
Tendo estabelecido que Foggy tem um senso de certo e errado profundamente entranhado e norteado pela lei e pela ordem, fica mais fácil entender o lado do melhor amigo quando descobre que Matt, em suma, tem mentido pra ele desde que se conheceram, numa traição que pode pôr fim à parceria e à amizade dos dois "abacates".
Ao mesmo tempo, Karen leva Ben em um passeio que culmina com uma nova luz sobre o passado do Rei do Crime, ele próprio, alvo de uma conspiração.

Episódio 11: The Path of the Righteous


Fisk e Murdock devem lidar com as escolhas que fizeram conforme Karen e Ben chegam perigosamente perto do passado do Rei.
Com Matt tentando se recuperar da surra física que levou de Nobu e de Fisk (E que o levam a encomendar um traje reforçado com Melvin Potter, o Gladiador), e da surra psicológica que levou de Foggy, coisas que o levaram a questionar seu Modus Operandi e suas motivações, e até a se despedir de Claire, que parecia alguém de quem ele poderia se aproximar, com Foggy tentando absorver a vida dupla de Matt, e com Wilson incapaz de sair do hospital, sobrou para Karen a tarefa de fazer o episódio andar, e, rapaz, ela o fez.
Assim que descobrimos que o consigliere do Rei ficou sabendo da visita de Karen e Ben ao asilo da mãe de Wilson, ficou claro que algum dos dois iria pagar o pato.
Com a jovem capturada por Wesley, sob a mira de sua arma, estabelecia-se um cenário bastante familiar aos fãs de super-heróis, o da donzela em perigo (expediente re-re-repetido na trilogia do Homem-Aranha de Sam Raimi, e usado além do aceitável em O Homem de Aço, por exemplo...), mas Demolidor não é uma história convencional de super-herói, nem no sentido de matar a mocinha, como Gerry Conway e O Espetacular Homem-Aranha 2 fizeram com Gwen ou como Chris Nolan fez com Rachel Dawes em O Cavaleiro das Trevas, isso porque, como todos os fãs de Demolidor sabem, Karen Page não é uma mocinha tradicional.
Mais um excelente episódio da série, dando o primeiro passo rumo ao encerramento da excelente temporada.

Episódio 12: The Ones We Leave Behind


Wilson busca vingança enquanto Karen é assombrada por eventos recentes e surpreendentes informações financeiras de Fisk são reveladas.
Sendo cem por cento honesto, eu confesso que fiquei um pouco desapontado/chocado com o rumo que as coisas tomaram nesse penúltimo episódio da temporada. Vou falar a respeito, então, se quiser ficar livre de spoilers, não leia mais.
Matt e Foggy seguiam sem nem sequer dirigir a palavra um para o outro, enquanto o traumático encontro de Karen com Wesley no episódio anterior a deixou em péssimo estado, entregando-se ao álcool e totalmente perdida em seus próximos passos.
Essa fragilidade da moça poderia, muito bem, ter sido o estopim para Foggy e Matt acertarem os ponteiros, mas isso não ocorreu.
O encontro de Matt com a Madame Gao (Wai Ching Ho), também não foi o que se esperava (embora tenha colocado outra pulga atrás da orelha da audiência e, talvez, cimentado o caminho para a série do Punho de Ferro?), e o fato de ela e Leland Owlsley estarem por trás do atentado à Vanessa não chegou a ser exatamente uma surpresa.
O grande momento do episódio, foi um encontro cara a cara entre Ben Urich e Wilson Fisk.
Ao chegar em casa, recém demitido do New York Bulletin, mas encorajado por Dóris (Adriane Lenox) a começar algo "naquela coisa chamada internet, que um bocado de gente vê", o repórter veterano é confrontado por um enlutado Wilson Fisk, que reconhece sua admiração pela integridade de Urich, mas taxa sua cruzada de fútil.
Num dolorosamente verdadeiro comentário, o Rei do Crime explica que as pessoas só se interessam por Kardashians e vídeos de gatos, antes de concluir a conversa dizendo que visitar sua mãe, era inaceitável, e estrangular o jornalista até a morte, num momento que, realmente foi inesperado (eu esperei até o último instante que Ben sobrevivesse), mas me desapontou como fã de Ben Urich, sacrificado para que o episódio tivesse um ponto alto.

Episódio 13: Daredevil


Um Fisk encurralado e os desesperados Matt, Foggy e Karen devem jogar suas cartadas derradeiras no episódio final da temporada.
O assassinato de Ben fez com que Matthew, Franklin e Karen acertassem os ponteiros. Ainda que a morte de Wesley continue a incomodar Karen (cujo passado obscuro sugerido por Ben talvez inclua até outros homicídios), e Foggy ainda não esteja totalmente convencido da legitimidade das ações vigilantes de Matt, eles resolvem colocar as diferenças de lado e trabalhar juntos para que o Rei do Crime de Nova York seja levado à justiça.
Primeiro, dentro da lei, descobrindo que o tira corrupto detetive Hoffman está vivo e mantido em Nova York por homens leais a Owlsley, e em seguida à margem, quando, na última aparição do traje preto de ninja de Matt, ele consegue garantir que o policial chegue vivo e bem ao 15° distrito do sargento Mahoney.
Daí pra frente, em um belo clipe ao som de Pavarotti, toda a bandidagem de Hells Kitchen é presa, de Tucão ao senador Cherryh, até, ele em pessoa, Wilson Fisk.
Mas não é tão fácil assim se livrar do Rei, especialmente se nada importa pra ele exceto Vanessa, e estar com Vanessa.
Após uma arrojada e sangrenta operação de fuga, Wilson está pronto para retornar à sua amada e fugir dos EUA, a menos que o Demolidor possa evitar.
Sim, o nome do episódio é Daredevil, e finalmente vemos, de fato, o Demolidor, com seu traje escarlate, seus bastões e até mesmo seus chifres.
Como não poderia deixar de ser, o antagonismo erguido ao longo de doze episódios explode em uma violenta luta travada em um beco, onde o violento psicopata interior do massivo Fisk descarrega sua ira sobre o atlético e hábil Demolidor num combate de inimigos jurados que parece arrancado de Demolidor - A Queda do Rei.

Com um episódio final muito bom (Ainda que abaixo dos pontos mais altos da série, Cut Man, Condemned e Speak of the Devil), fechando a sequência de mortes, traições e percalços dos mocinhos com uma bem orquestrada sequência de triunfos, a série do Demolidor se encerra por cima, deixando a audiência mais do que satisfeita com a primeira temporada, ansiosa pela segunda, e curiosa com as possibilidades de A.K.A. Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e Os Defensores.
Que a (enorme) qualidade seja mantida nas séries vindouras.

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