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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
Resenha Cinema: No Coração do Mar
Ron Howard é um diretor que merecia mais reconhecimento, mas que é como o baixo da banda, se não estiver lá, faz falta. Normalmente, na hora de fazer aquela lista de diretores favoritos, nós nunca lembramos dele, mas ao pensar em grandes filmes, é bem provável que um trabalho do pai de Bryce Dallas Howard apareça na lista.
Ele é, afinal de contas, o sujeito por trás de Frost/Nixon, Apollo 13, Uma Mente Brilhante e Rush... Não é um cartel para se desprezar.
Foi com isso em mente que corri para ver No Coração do Mar na estréia. O longa que adapta o verdadeiro caso do naufrágio do Essex de Nantucket, é o tipo de filme com potencial demais para ser ignorado. Afinal de contas, essa história verídica, "apenas" inspirou Herman Melville a escrever Moby Dick, o mais importante romance da literatura norte-americana.
No longa, por sinal, acompanhamos Melville (Ben Whishaw), quando ele chega à pousada de Thomas Nickerson (Brendan Gleeson) em busca de uma história.
A história que Melville procura, é a verdade por trás do naufrágio do baleeiro, que em 1820 foi destruído pelo que o inquérito oficial apurou como sendo um encalhe.
Último tripulante ainda vivo do Essex, Nickerson vive com sua esposa (Michelle Fairley, a Catelin Stark de Game of Thrones) em uma pequena pousada onde bebe até cair sem jamais tocar no assunto.
É apenas por insistência dela, e seduzido pelo dinheiro de Melville, um escritor de relativo sucesso comercial disposto a arriscar todas as suas economias em nome do que acredita ser "A" história, que Nickerson resolve romper seu silêncio de anos, e narrar ao novelista os fatos por trás da versão oficial.
A narrativa nos leva alguns anos de volta ao passado, quando Nickerson tinha apenas 14 anos de idade (vivido então por Tom Holland, o novo Homem-Aranha), e fez sua primeira viagem como baleeiro no fatídico Essex.
Lá, ele conheceu Owen Chase (Chris Hemsworth), um experiente baleeiro de inúmeras viagens que se prepara para sua próxima empreitada quando poderá capitanear seu próprio navio.
Ou ao menos era no que ele acreditava.
Chase, de origens humildes, filho de um lavrador e nascido fora da ilha de Nantucket, é relegado à posição de Primeiro-Imediato de um oficial de alto nascimento, o Capitão George Pollard (Benjamin Walker, de Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros), filho de um dos donos da companhia baleeira.
Chase imediatamente nega a oferta, mas é seduzido pela promessa, por escrito, de quê, após auxiliar o novato capitão em sua primeira viagem, ele receberá o comando de seu próprio baleeiro.
A despeito das eventuais desavenças entre os dois, a viagem transcorre com tranquilidade. Talvez tranquilidade demais. Poucas baleias são encontradas pela tripulação do Essex em sua rota habitual.
Após meses no mar, depois de virar o Cabo Horn do Atlântico para o Pacífico, ainda com os porões vazios, os marujos ouvem a história de um capitão espanhol a respeito de imensos cardumes de baleias nadando tranquilos pelo oceano em zonas afastadas mais de duas mil milhas da costa.
Desesperados por encher os porões com o óleo de baleia, precioso combustível que ilumina as cidades da América, Pollard e Chase partem para a caçada.
E quando eles julgavam que finalmente cumpririam seu objetivo, a natureza se rebelou na forma de um abissal cachalote branco de força titânica e desejo de vingança quase humano.
O poderoso animal se volta contra o Essex e sua tripulação, destruindo o navio e deixando os sobreviventes à deriva em meio à imensidão do oceano, sem água potável, sem comida e sem esperança, forçando-os à uma luta que poderá levá-los a cometer atrocidades em nome da sobrevivência.
O filme de Ron Howard é bom.
Muito bom.
Tem momentos verdadeiramente tocantes, outros tensos de deixar a audiência na ponta da cadeira. Os efeitos visuais são ótimos e o elenco está todo muito bem. Hemsworth é um tipo heroico bastante crível, Holland manda bem no papel de moleque de olhos esbugalhados que experimenta uma provação ímpar. Benjamin Walker cria um personagem que se opõe à Chase sem necessariamente se tornar um vilão, enquanto Gleeson e Whishaw brilham nas cenas em que travam diálogo. Ainda há espaço para Cillian Murphy, Charlotte Riley e Frank Dilane darem seu recado.
Infelizmente, o roteiro do longa, escrito por Charles Leavitt (comparticipação de Rick Jaffa e Amanda Silver a partir do livro No Coração do Mar: A Tragédia do Baleeiro Essex, de Nathaniel Philbrick) por vezes abraça mais do que pode carregar.
Enquanto Herman Melville apanhou a história do Essex e se concentrou na baleia branca para contar uma das maiores histórias da literatura, Leavitt fala da baleia, da indústria baleeira, conflito de classes, irmandade entre marujos, a vida no mar, privações, canibalismo, a tentativa do homem de domar a natureza e seus resultados... Simplesmente tópicos demais para desenvolver a contento em duas horas de projeção. Com isso, por vezes os dramas e conflitos se resolvem rápido demais, alguns personagens são pouco explorados, e fica-se com a sensação que se viu uma versão resumida da história que queria ser contada, resultando em uma infeliz sensação de potencial desperdiçado.
Por sorte, Howard, elenco e equipe técnica seguram o rojão, e conseguem transformar No Coração do Mar em um bom filme, que certamente vale a ida ao cinema.
"-Somos feitos à semelhança de deus, reis terrenos para reger toda a criação.
-Olhe para nós. Nós parecemos reis de alguma coisa?"
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Fiquei fascinado com a história. Em suma, "In the heart of the sea" é um espetáculo visual muito interessante que recebe cenas específicas com força suficiente. Além disso, o filme também adiciona duas reflexões interessantes: em primeiro lugar, com Melville como eixo sobre o ato de escrever, sobre o medo de nossa própria incapacidade ea luta interna entre revelando e inventar, entre a transmissão da verdade e da captura da essência; ea segunda, sobre os interesses comerciais eternas e a tirania do dinheiro.
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