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segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Resenha DVD: Elvis & Nixon


Elvis Presley, o rei do rock, segue, quase quarenta anos após sua morte em 1977, sendo realeza, objeto de culto, e um dos artistas mais rentáveis da indústria do entretenimento.
Prova do magnetismo inatacável do carisma do rei do rock é que dificilmente passamos um ano sem ver Elvis dar as caras em alguma obra de entretenimento seja no cinema, na TV, ou apenas nos concursos de imitadores de Elvis que acontecem ao redor do globo.
Um dos longas mais recentes a nos trazer o rei do rock de volta à vida é esse Elvis & Nixon, filme surgido de um fato curioso:
A foto que o cantor tirou ao lado do ex-presidente Richard Nixon em dezembro de 1970 é o documento de imagem mais requisitado da história do Arquivo Nacional norte-americano.
O artista mais famoso da história dos EUA, em uma reunião com o presidente mais infame da história do país parece a matéria da qual sãos feitos os sonhos de contadores de histórias já que não há registros oficiais sobre o que foi discutido entre os dois durante o período em que estiveram juntos.
A diretora Liza Johnson e os roteiristas Joey e Hanala Sagal e Cary Elwes (o Westley de A Princesa Prometida) são os responsáveis por imaginar as circunstâncias desse surreal encontro de personalidades que, por si só, já mereceria uma espiada.
O longa só ganha em peso quando os personagens título são vividos, respectivamente por Michael Shannon e Kevin Spacey, dois dos maiores atores em atividade no cinemão norte-americano contemporâneo.
O longa abre com Nixon recebendo de seus assessores Egil Krogh e Dwight Chaplin (Colin Hanks e Evan Peters) uma carta de Elvis Presley, onde o músico se diz preocupado com os rumos da América e se oferece para assumir o posto de agente federal à paisana.
Daí, nós voltamos brevemente no tempo, da noite em que Elvis tem sua epifania em uma madrugada insone diante da TV até o momento em que, com a ajuda de seu amigo Jerry Schilling (Alex Pettufer) ele chega ao portão noroeste da Casa Branca e entrega sua carta de intenções para Nixon e se põe a aguardar uma resposta.
Infelizmente os roteiristas desperdiçam o que poderia ser um brilhante diálogo sobre homens poderosos e solitários, construtos midiáticos engolindo pessoas reais e choque entre personalidades fortes.
Elviz e Nixon são os protagonistas, seus nomes estão no título e seus intérpretes são dois atores tão fodas que superam com larga vantagem o texto que lhes é fornecido, então é um tanto quanto brochante assistir ao filme e ver que a reunião entre os dois, de fato, ocupa apenas uma pequena parte parte dos modestos oitenta e sete minutos de filme.
O longa se ocupa muito mais de Elvis tentando entrar na Casa Branca sem marcar uma reunião formal com a ajuda de seus amigos Jerry e Sonny (Johnny Knoxville), e de Krogh e Chaplin tentado convencer Nixon da utilidade em receber Elvis no Salão Oval.
Por divertido que seja, e o filme se esforça para tornar a coisa toda muito leve, a verdade é que ninguém liga para os assessores de Nixon, e menos ainda para os amigos de Elvis.
Quem é que quer saber do acidente de moto ou do conflito com a namorada de Jerry?
O que funciona em Elvis & Nixon são... Bem... Elvis e Nixon.
Mais o primeiro, tanto porque tem mais tempo de cena, quanto pela qualidade do personagem e cuidado do roteiro.
O texto não chega a ser um primor, mas Michael Shannon faz uma construção tão sensacional para seu Elvis que chega a dar um certo dó de o filme não ir mais além.
Misturando um tom de voz que nada tem a ver com as imitações clássicas de Elvis, mantendo o discurso do personagem quase infantil, com um gestual que flutua entre bençãos e golpes de caratê o intérprete mostra um Elvis Presley que vau muito além da peruca preta, das costeletas e dos trajes escandalosos.
Seu monólogo a respeito do irmão gêmeo natimorto e sua conversa com Jerry sobre como é difícil ser Elvis Aaron Presley quando se é Elvis Presley são dois momentos de atuação muito acima da média, e muito além do que o filme como um todo consegue aspirar.
Spacey, um mestre das imitações (procure no Youtube suas entrevistas, Spacey vai de Al Pacino a Katharine Hepburn passando por Jack Lemmon, Clint Eastwood e Marlon Brando) faz um trabalho competente emulando Richard Nixon, mas a verdade é que o script não está de fato preocupado com quem era essa pessoa, apenas com uma faceta sua que pudesse se opôr ao rei do rock.
Ainda assim, Spacey tem estofo e presença (e familiaridade com salões ovais cenográficos) para, da mesma forma que Shannon, ir além do texto.
Quando os dois finalmente se encontram nós finalmente temos um vislumbre do que o longa poderia ter sido, com Nixon se sentindo desarmado pelo elogio do rei do rock à sua aparência, Elvis se servindo descaradamente das guloseimas que, ele fora avisado, eram apenas para o presidente, ou Nixon, veladamente fazendo troça da caligrafia quase infantil do músico.
Com uma abordagem equivocada de diretora e roteirista, chega a ser estranho que eu recomende o filme, mas é exatamente o que vou fazer:
Assista.
É uma pena que os protagonistas do longa sejam negligenciados pelo roteiro, ainda assim, o Nixon de Spacey e especialmente o Elvis de Shannon, valem a locação.
Ver mestres de seu ofício em ação é uma oportunidade que não se deve desperdiçar.

"-Essa é uma pedra lunar. Ela me foi dada por um grande americano, Buzz Aldrin. Você pode remover o vidro e pegá-la se quiser.
-Não, tudo legal, cara. Buzz me deu uma, também."

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