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quinta-feira, 24 de novembro de 2016
Resenha Cinema: Um Estado de Liberdade
Sou fã de dramas históricos de qualquer espécie, de qualquer parte do mundo. Mas quando assisto a um drama histórico, preciso ter em mente que, normalmente, o diretor e os roteiristas do filme estão mais preocupados em contar uma boa estória do que em mostrar um retrato verdadeiro da História.
A arte de temperar fatos com ficção no cinema é quase tão antiga quanto o próprio cinema, e os resultados vão de obras como o Gladiador de Ridley Scott e o Cartas de Iwo Jima de Clint Eastwood até o Auschwitz de Uwe Boll e o Pearl Harbor de Michael Bay...
Ontem fui assistir a um exemplar recente dessa linhagem, Um Estado de Liberdade, cujo lançamento no Brasil se deu quase cinco meses após a abertura nos EUA.
No longa do diretor Gary Ross (de A Vida em Preto e Branco, Seabiscuit e Jogos Vorazes) nós acompanhamos a dramatização de um dos mais notáveis episódios da Guerra Civil Americana, quando um grupo de renegados, desertores e escravos libertos do sul dos EUA passou a lutar contra o exército confederado e declarou uma porção do estado do Mississippi independente e leal à União.
Esse grupo era liderado por Newton Knight (Matthew McConaughey).
Knight era um fazendeiro do Mississippi da linhagem conhecida como Yeomen, brancos pobres sem escravos que possuíam pequenas porções de terra onde praticavam agricultura de subsistência.
Como a imensa maioria dos adultos do sul dos EUA durante a Guerra de Secessão, Knight estava no fronte de batalha onde era enfermeiro, assistindo na primeira fila o espetáculo de morte e mutilação que, ao longo de quatro anos, tiraria mais de 600 mil vidas.
Knight não estava interessado em lutar uma guerra de patrões brigando por algodão, especialmente desgostoso após uma nova lei surgir dizendo que os ricos senhores que possuíssem mais de vinte escravos estariam eximidos de lutar.
As coisas pioram quando seu sobrinho é convocado e levado para o fronte, onde é baleado e morto.
Newt, então, deserta de sua tropa, e volta para casa para providenciar o funeral do menino junto com sua irmã, e sua esposa, Serena (Keri Russell).
Não tarda para que Newt perceba que os horrores do fronte de batalha não são nem de longe os únicos na região, conforme as fazendas locais são assaltadas por coletores de impostos que surgem para levar bens, mantimentos e animais para alimentar as tropas.
Após se envolver em uma altercação com um desses coletores, Newton é obrigado a fugir para os pântanos da região, onde, com a ajuda da escrava Rachel (Gugu Mbatha-Raw) se esconde junto com um grupo de escravos fugidos liderados por Moses (Mahershala Ali).
Conforme a guerra avança, e os confederados são sistematicamente derrotados, mais e mais pessoas se juntam ao grupo de fugitivos do pântano, tantos desertores brancos quanto escravos fugidos, e não tarda para que um grupo de rastreadores confederados adentre o pântano para encontrar o grupo cada vez maior de renegados escondido lá.
Mas com números maiores e mais armas, o grupo agora liderado por Newton está pronto ara resistir.
E mais do que isso, contra-atacar.
Eles passam a impedir o confisco de seus bens, colher plantações de fazendeiros leais à confederação, e até mesmo a organizar ataques (como o da ótima sequência no funeral) e tomar cidades e condados onde hasteiam a bandeira unionista, fundando o Estado Livre de Jones, um pedaço de União encravado no meio do território confederado, praticamente sem nenhum suporte do exército regular.
Com o fim da guerra, em 1865, era de se esperar que Newton e companhia fossem finalmente gozar da liberdade que lutaram para conquistar, mas não é o que acontece.
Os esforços de reconstrução se provam tão desafiadores quanto fora a guerra, quiçá mais. E Newt, agora casado com Rachel, se vê em um cenário calamitoso conforme os antigos inimigos juram fidelidade à União e retomam o poder, arrastando os negros de volta à novas formas de servidão enquanto lhes negam, de todas as formas, os direitos adquiridos no pós-guerra.
Um Estado de Liberdade é um bom filme com um péssimo ritmo.
A primeira hora do longa co-escrito pelo diretor Gary Ross e Leonard Hartman se arrasta como a voz de McConaughey, e ainda que estabelecer personagens e atmosfera seja bom para o desenvolvimento de qualquer trama, um pouco de objetividade não faria mal ao filme, que anda devagar e ainda divide seu foco, uma vez que, volta e meia, temos inserções de uma trama paralela passada durante a década de 1920, quando um descendente de Newton e Rachel é processado por ser 1/8 negro, e ter-se casado com uma mulher branca, algo proibido pela lei do Mississippi.
Ainda assim, o elenco do filme está ótimo. Mahershala Ali, Gugu Mbatha-Raw, Keri Russel e Thomas Francis Murphy (que interpreta o comandante confederado Elias Hood) fazem trabalhos acima da média, com nuances e força, e Matthew McConaughey... Quem poderia imaginar que em 2016 nós poderíamos comprar um ingresso de cinema apenas para ver o talento do astro de Caça ao Tesouro e Como Perder Um Homem em Dez Dias, e ele ser o ponto alto do filme?
Seu trabalho retratando Knight é excelente, mostrando um homem com uma visão de mundo muito particular, regida por uma retidão moral inabalável em diversos aspectos, e frouxa em outros, sanguíneo e reflexivo...
O trabalho do elenco em geral, de McConaughey em particular, talvez merecesse um filme melhor. Um Estado de Liberdade não é ruim, de forma alguma, mas nas mãos de um diretor mais dinâmico, talvez se tornasse a obra prima que o verdadeiro Estado Livre de Jones merecia.
"Parece que nós não temos um país em nenhum dos lados. Tudo bem. Eu acho que nós somos nosso próprio país. Isso mesmo. E se nós formos honestos a respeito, não temos sido nosso próprio país há um bom tempo?"
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Boa resenha, obrigado o elenco é maravilhoso. Matthew McConaughey esta impecável no filme A Torre Negra. Ele sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Adoro porque sua atuação não é forçada em absoluto. Suas expressões faciais, movimentos, a maneira como chora, ri, ama, tudo parece puramente genuíno.Ancho que é umo dos melhores filme Matthew McConaughey, porque tem muitos fãs que como eu se sentem atraídos por cada estréia cinematográfica que tem o seu nome exibição. Além, acho que a sua participação neste filme.
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