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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Resenha DVD: Como Eu Era Antes de Você


Eu sou fã de Game of Thrones.
Acompanho a série avidamente desde a primeira temporada, li os livros, jogo o RPG, a coisa toda.
Adoro o lance da fantasia medieval temperada com sexo e violência, curto os personagens, os atores que os interpretam na série, curto, mesmo...
Mas vou confessar que, ao contrário da maioria, não era particularmente encantado com a Daenerys Targarien.
Nos livros e na série, sempre vi a Daenerys meio como se ela fosse o Frodo de Game of Thrones.
Sua linha narrativa é central, ela é um dos mais importantes personagens da saga e suas ações reverberam por todo o seu mundo, mas ainda assim, tirando arroubos de dragonice, sua parte na história é chata uma barbaridade desde que seu romance com Khal Drogo terminou embaixo de uma almofada.
Talvez por isso eu não achasse Emilia Clarke a última bolacha do pacote.
Ainda que tenha achado ela uma delicinha em O Exterminador do Futuro: Gênesis, nunca olhei para a atriz britânica e pensei "uau"...
Isso mudou ontem, quando me apaixonei perdidamente por ela assistindo a esse Como Eu Era Antes de Você, drama romântico baseado no best seller de mesmo título escrito por Jojo Moyes (que também assina o roteiro da adaptação).
No longa Emilia vive Louisa Clark.
Louisa é uma jovem avoada, criativa e adorável que vive em um vilarejo britânico com os pais, o avô, a irmã e o sobrinho.
Os Clark são uma família de operários que passam por um mau momento financeiro. O pai, Bernard (Brendan Coyle) está desempregado e encontra sérias dificuldades para retornar ao mercado de trabalho, de modo que a responsabilidade pelo sustento da casa recai sobre Louisa e sua irmã mais velha, Katrina (Jena Coleman, de Doctor Who).
Quando Louisa é demitida da cafeteria onde trabalha como garçonete, ela logo começa a procurar por um novo emprego pois sua família precisa desesperadamente do dinheiro.
Recebendo conselhos de seu namorado, o insosso personal trainer Patrick (Matthew Lewis, de Harry Potter), ela pula de emprego em emprego até encontrar um anúncio que oferece a posição de cuidadora para um deficiente, uma função com um ótimo salário e para a qual não é requerida nenhuma experiência.
Não tarda para que Louisa esteja na residência dos Traynor, abastada família aristocrática cuja linhagem possui até mesmo um castelo que domina a paisagem do vilarejo, descobrindo que sua função será tomar conta de William (Sam Claflin, de Jogos Vorazes).
William era um jovem e ativo corretor da bolsa de valores que, após ser atropelado por uma motocicleta, se tornou tetraplégico.
Ele vive em um anexo na residência dos pais Camila e Stephen Traynor (Janet McTeer e Charles Dance), onde Louisa desempenhará funções mundanas, como servir café e chá, apanhar coisas, ajeitar travesseiros e administrar as medicações do jovem paralisado, que conta com um experiente enfermeiro para tratar da higiene pessoal e das questões mais técnicas da sua condição que inclui, além da paralisia, dores crônicas, problemas de pressão arterial e a óbvia depressão de alguém que deixou de ser quem era para virar o que restou de si.
Inicialmente desagradável, ressentido e amargo, William faz Louisa comer o pão que o diabo amassou exibindo um vasto repertório de grosserias, amargura e pequenas maldades, mas em um dia chuvoso, Will resolve assistir a um DVD, o filme escolhido por ele é o drama francês Homens e Deuses, e o fato de Lou dizer que não gosta de filmes legendados leva Will a obrigá-la a assistir ao longa...
Que ela adora.
Daí pra frente, a relação entre os dois vai se estreitando, e conforme Louisa, com seu sorriso doce, incapacidade de odiar, tolice inerente e guarda-roupa coloridíssimo, vai vencendo o muro de indiferença de Will, ela passa a vê-lo de maneira mais humana, e a se dedicar não a deixá-lo confortável, mas a deixá-lo feliz.
Louisa abre seu coração para Will, e escava seu caminho até o dele, e conforme os dois passam mais tempo juntos, eles logo se percebem apaixonados, e mudando um ao outro de maneiras que pareciam impensáveis.
Pela premissa, Como Eu Era Antes de Você parece uma mistura de A Bela & A Fera com Intocáveis e Se Eu Ficar, ou um daqueles longas patrocinados pela Kleenex feitos exclusivamente pensando em arrancar lágrimas da audiência, mas a verdade é que o filme da estreante Thea Sharrock consegue escapar da armadilha de ser um "weep porn" como Um Amor Para Recordar ou A Culpa é das Estrelas porque, numa de suas melhores decisões, não se leva excessivamente a sério.
A despeito de ser um drama, o longa não é um dramalhão, pois a personagem de Emilia Clarke é simplesmente doce e avoada demais para que as coisas escapem de uma abordagem mas leve, e o filme, como sua protagonista, simplesmente se recusa a sonegar um sorriso.
Com suas sobrancelhas que parecem taturanas que tomaram metanfetamina, a atriz londrina opera de um modo completamente diferente de Game of Thrones, é um raio de sol em cada frame e eu não sei se é fisicamente possível assistir ao filme e não se apaixonar desesperadamente por ela.
Sam Claflin, por sua vez, vai bem no papel de Will, intercalando uma atitude superior e esnobe terrivelmente britânica com momentos de ternura e fragilidade, como a sequência no carro após o concerto.
Com dois bons protagonistas recebendo o merecido holofote de direção e roteiro e cercados por um competente elenco de apoio, Como Eu Era Antes de Você é uma ótima alternativa a outros dramas românticos que só querem ver as pessoas caírem no choro.
Apesar de haver lágrimas no longa (dramas românticos são dramas românticos, afinal de contas), nós não nos sentimos enganados ou manipulados (em excesso) para derramá-las, e como essas lágrimas fugidias são intercaladas por sorrisos sinceros e conduzidas por uma atriz que poderia estampar o verbete "Doçura" em uma enciclopédia, o longa certamente vale a locação.
Assista, nem que seja para se apaixonar, ou reforçar o amor por Emilia Clarke.
Vale a pena.

"-Vamos ficar aqui mais um pouco. Eu quero ser apenas um homem que foi a um concerto com uma garota de vestido vermelho."

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