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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Resenha DVD: Águas Rasas


Vou confessar que, maldosamente, aluguei Águas Rasas pensando na minha lista de piores filmes de 2016 no final do ano (que por sinal, na última contagem tinha dezesseis filmes "brigando" por dez vagas).
Vi o trailer do longa diversas vezes em idas ao cinema no meio do ano, e não achava, francamente, que um filme estrelado por Blake Lively e um tubarão pudesse ser grande coisa, por mais divertido que ver a loirinha de biquíni durante um filme inteiro pudesse ser.
Ainda assim, sem muitas alternativas, eu catei o filme na locadora no sábado e ontem à noite resolvi encarar o longa.
Em Águas Rasas, dirigido por Jaume Collet-Serra, o mesmo de Desconhecido, Sem Escalas e do ótimo Noite sem Fim, conhecemos Nancy Adams (Lively), uma jovem que abandona a faculdade de medicina e viaja com uma amiga porra-louca para o México.
Nancy deixa tudo pra trás à revelia da vontade de seu pai (Brett Cullen) para surfar numa praia escondida que era o lugar favorito de sua mãe, recentemente morta após uma longa luta contra o câncer.
Na paradisíaca enseada, Nancy pega ondas durante um dia agradável na praia quase totalmente deserta até que, sozinha ao entardecer, é arrastada pela corrente até próximo de uma carcaça de baleia onde um grande tubarão branco a ataca.
Durante o ataque do enorme peixe carnívoro, Nancy sofre uma profunda lesão na perna, perde sua prancha e fica ilhada em uma pedra que forma uma ilhota durante a maré baixa, e, a apenas cento e oitenta metros da praia, fica em uma situação de vida e morte conforme nadar até a costa sem ser devorada é simplesmente impossível.
Conforme as horas se passam, Nancy se vê ferida e presa em um ambiente hostil por todos os lados, tendo para sobreviver apenas seus conhecimentos de medicina, sua engenhosidade e resiliência, e a companhia da gaivota "Fernão Campelo", enquanto faz as pazes com seu passado e decide se vale a pena continuar lutando.
E não tem muito mais do que isso no roteiro de Anthony Jaswinski.
O filme é enxuto em trama e em duração, com apenas oitenta e seis minutos.
É até engraçado pensar que, por estranho que pareça, as partes que mais funcionam de Águas Rasas são justamente aquelas onde há menos exposição e diálogo tentando engrossar a trama.
Quando Nancy surfa, ou luta para alcançar um capacete com uma câmera Go-Pro, ou apenas protege o rosto do sol com um pedaço de prancha, e o longa é embalada pela ação, pela trilha sonora (ótimo trabalho de Marco Beltrami) e pelos ruídos ambientais, o longa flui de maneira muito mais honesta do que quando ela relembra seu passado em fotos no seu I-Phone, tem diálogos com o pai e a irmã mais nova, ou narra o que está fazendo para si própria (e para a audiência).
Não fossem esses escorregões e Águas Rasas poderia ser um pequeno grande filme sobre sobrevivência, um memorável Mulher x Natureza.
Collet-Serra obviamente sabe como construir uma atmosfera de tensão, e a bela praia de Águas Rasas é um cenário caótico abaixo da superfície, cheio de coisas que podem ferir e matar do principal antagonista, o tubarão, até um bêbado mal-intencionado na beira da praia, passando por corais e águas-vivas.
O diretor coloca Blake Lively sob o holofote o tempo todo, e ela manda bem, praguejando correndo, pulando e nadando com seu corpo esguio dentro de um biquíni cor-de-laranja reluzente nos convencendo de cada prodígio atlético realizado na tela, enquanto seu algoz submarino come a maior parte do elenco de apoio conforme é espertamente revelado pouco a pouco.
Se o terceiro ato do filme não tivesse dado ao imenso tubarão uma série que qualidades que beiram super-poderes (ele salta, serpenteia e morde ferro pra tentar pegar sua presa fora d'água), e nem se estendido além do necessário num anti-climático final, Águas Rasas poderia ser ótimo, mas da maneira que está, ainda é um programa divertido para amantes de filmes tensos, feras devoradoras de gente, e loiras incrivelmente atraentes na praia.
E quem não é?
Certamente vale a locação.

"-Saia da água! Tubarão!"

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