É realmente impressionante o que um grande trabalho é capaz de fazer na vida de um roteirista de Hollywood. Se não acredita em mim, tome por exemplo David Ayer.
O sujeito tinha escrito coisas como U-571: A Batalha do Atlântico e Velozes & Furioso, nada de particularmente memorável, e então ele acertou a mão com o script do excelente Dia de Treinamento através do qual pôde começar a meter o pé na direção de longas metragens.
De 2005 pra cá, Ayer dirigiu, além de videoclipes e episódios de séries de TV, oito filmes, incluindo o elogiado Marcados Para Morrer (que eu não assisti) e o seu grande sucesso de bilheteria Esquadrão Suicida.
Ayer é um diretor que consegue colocar níveis nada desprezíveis de talento em seus elencos. Não é pouca coisa. Christian Bale, Jake Gyllenhaal, Forest Whitaker, Viola Davis, Terrence Howard, são apenas alguns dos atores de calibre que apareceram em filmes do homem, sem contar o pessoal que, mesmo sem o nível de talento dramático destes, carregam consigo o peso de serem astros, casos de Will Smith, Brad Pitt, Keanu Reeves e Arnold Schwarzenegger.
É olhando para esses nomes e a frequência com que os estúdios financiam os longas do cineasta que eu chego à conclusão de que Ayer deve ter uma tremenda lábia na hora de vender seus projetos, porque o sujeito sempre faz o mesmo filme.
Independente de se passar no DCUE, na Alemanha nazista ou em uma Los Angeles que se mesclou com a Terra Média, todas as histórias contadas por Ayer envolvem grupos de pessoas que estão envolvidas com o crime de alguma maneira. Sejam policiais que atuam na área cinzenta do espectro legal ou abertamente corruptos, sejam criminosos com coração de ouro ou sem coração algum, eles certamente se verão do lado errado de uma disputa territorial e de uma arma e poderão contar apenas com seus próprios talentos e com aqueles que cativaram para se livrar da roubada...
Esse The Tax Collector, que surgiu nos serviços de aluguel digital nesse final de semana é mais um filme de David Ayer exatamente com a mesma toada.
No longa conhecemos David (Bobby Soto). David nos é apresentado como um homem de família, marido e pai dedicado à esposa Alexis (Cínthya Carmona) e aos dois filhos. David cuida de sua casa, faz troça com a cunhada enxerida e puxa a oração antes das refeições. Mas esse é apenas um lado de David, seu lado pessoal.
Nos negócios, David opera para seu tio Louis (George Lopez, quase um Paul Sorvino mexicano) em nome do chefão do crime conhecido como "El Mago", que de dentro da prisão comanda um império criminoso que envolve tudo de tráfico de entorpecentes e roubos até contrabando.
Ao lado de seu amigo e parceiro Creeper (Shia LaBeouf), David garante, a qualquer custo, que não haja negócio ilegal operado por latinos no sul de Los Angeles que não pague o quinhão do Mago. Em troca do dinheiro, essas peças recebem a oportunidade de realizar seus negócios sem serem importunados por gangues rivais ou a polícia, pois estão sob o cobertor do Mago, e ninguém quer problemas com esse misterioso chefão invisível.
Ou ao menos é isso que eles pensam.
As coisas mudam totalmente de figura para David e sua facção quando entra em cena Conejo (Jose Conejo Martin), que chega a Los Angeles após um período desaparecido trazendo consigo o poderio do cartel de Jalisco e a decisão de tomar o império do Mago não importa quanto sangue seja necessário derramar para isso.
Bem, David Ayer dirigiu Sabotagem, Os Reis da Rua, Esquadrão Suicida e Bright, então fazer filmes que vão de algo frustrantes a absolutamente horríveis não é exatamente uma novidade pra ele. E The Tax Collector se enquadra na segunda categoria.
O longa é uma das piores realizações da carreira de Ayer e surpreende porque não há absolutamente nada que funcione aqui. Mesmo outros filmes ruins do cineasta tinham uma qualidade fundamental, as boas atuações de alguns membros do elenco, ou o senso de camaradagem que ele era capaz de transmitir entre seus protagonistas. Aqui, o texto é tão horrível, que fica difícil acreditar na amizade entre LaBeouf e Soto. O roteiro é tão vazio e mal escrito que é difícil para os atores venderem seu peixe enquanto tentam dar vida a cascas ocas de estereótipo racial sem nenhum tipo de profundidade.
Some-se a isso a edição canhestra, a trama corrida e sem sentido, a ausência prática de trilha sonora e a atuação constrangedora do vilão e nós temos o retrato mais feio da filmografia de Ayer na moldura da mediocridade.
Passe longe.
"Todas as gangues de Los Angeles têm que pagar seus impostos. Se estiver faltando, roube um banco! Roube da sua mãe. Não há desculpas. Não coloque isso à prova."
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