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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Algo errado


Ela estava esperando ele na saída do trabalho. Assim que o viu, saindo com dois colegas, abriu um sorriso. Ele se despediu dos companheiros, e foi em sua direção. Estava sério. Deu-lhe um beijo meio sem graça nos lábios, enquanto colocou a mão na sua cintura.
-Tudo bem?
-Tudo, tudo...
Ela sabia que havia algo errado. Não se conheciam a tanto tempo assim, mas não era necessário consultar um manual pra ver que a expressão em seu rosto não era das melhores, mas, se ele não queria conversar a respeito, o negócio era esperar. Saíram andando, ela segurou a mão dele, ele retribuiu meio chocho.
-Quer ir comer alguma coisa?
-Não... Não tô com fome, obrigado. Tu quer?
-Não, não... Só perguntei.
-Tá bem.
Ela precisava saber. Não queria forçar a barra, não queria ser dessas mulheres que perguntam e perguntam e perguntam até estourar a cabeça do sujeito, mas precisava saber:
-Tem alguma coisa errada?
Ele olhou pra ela com alguma ternura cansada no rosto:
-Não... Não tem, não...
Continuaram andando, ela tentou puxar algumas conversas, ele respondeu a tudo sem muita empolgação. Parecia distraído, absorto. "Ai, meu Deus... Ele tem outra?" ela pensou. Começou a ficar preocupada. Não conhecia ele a tanto tempo. Ele podia ser um cafajeste completo. Podia ser um cínico, vil e depravado, desprovido de qualquer moral ou decência, o tipo de sujeito que namora várias meninas ao mesmo tempo e que vai esfriando suas relações até que a menina exploda e dê-lhe um pé na bunda poupando-o do trabalho. Tudo isso passou rapidamente pela cabeça dela. Tudo isso girou em seu estômago como uma revoada de pardais assassinos à la Hitchcock, mas ela lutou pra se conter. Pra não perguntar a ele qual era o problema. Lutou com força sobre-humana e com tenacidade de samurai.
Foi apenas estavam chegando perto da casa dela, que toda a sua firmeza de propósito foi vencida pela curiosidade e, por que não, pela preocupação. Antes de subirem as escadas que levavam à porta do prédio, ela o segurou pelas mãos e perguntou:
-Eu tô vendo que não tá tudo bem. Fala pra mim. Qual é o problema?
Ele tentou negar. Maneou a cabeça com uma expressão de quem procura uma saída, parecia arredio:
-Não é nada, amor. Nada, mesmo.
Mas ela insistiu, e ele acabou confessando:
-Tá bem... Olha, eu não quero que tu fique brava, muito menos triste comigo. Eu... Olha, eu não sei como te dizer isso, mas... Ah... Tá. Lá vai: Eu odeio o Big Brother, e se eu tiver que ver outro episódio inteiro dessa porcaria, meu cérebro vai derreter!

Viram Como Funciona O Universo, no Discovery. Estão bem.

Um comentário:

  1. ah eu já pedia o divórcio, ser obrigada a ver isso dai não dá não !

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