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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Rapidinhas do Capita


O Roberval estava decidido:
Daquele dia, não passava. Ou era agora, ou não era mais. Chegara seu momento, era hora de ter olho de tigre, de assumir a responsabilidade, de tomar uma providência, de fazer acontecer, de ser o melhor "ele" possível. Ele tinha que chegar junto na Clotilde e dizer à ela como se sentia. Entre todas as suas resoluções de ano-novo, essa era, sem dúvida, a que ele mais ansiava em cumprir. As outras, beber menos, , ler um livro por mês, parar de pedir coisas emprestadas e não devolver, estudar mais, se dedicar mais ao trabalho... Bom, essas ele não estava, assim, tão interessado em cumprir. Mas dizer à Clotilde como se sentia, ah, isso ele queria. Queria muito. Até por quê, achava que a Clotide se sentia da mesma forma, embora o flerte entre os dois fosse algo bipolar, ás vezes indo muito bem, em outras sendo algo fiasquento. Ainda assim, davam-se bem, tinham interesses semelhantes, ele a achava muito atraente, tanto fisicamemnte quanto sua personalidade, parecia-lhe justo que, naquele começo de 2011, ele dissesse à Clô, como se sentia, e colhesse os frutos, doces, ele esperava, daquela resolução.
Planejou tudo, a encontraria "casualmente" na saída do trabalho, conversariam um pouco, ele perguntaria se ela tinha compromisso, ela diria que não. Ele quase podia ouvir a conversa:
-Clô! Oi, tudo bem?
-Tudo, Roberval, e tu?
-Tudo ótimo. Que tu anda fazendo, guria?
-Tava trabalhando.
-Ah, é... Tu trabalha aqui, né?
-É. E tu? Que anda fazendo pra esses lados?
-Ah, saí pra dar uma volta. Desopilar um pouco... Vem cá, tu tem compromisso agora?
-Não.
E ele a convidaria para jantar, ou dar uma volta, ou ir ao cinema, qualquer coisa, enfim. Então, a entreteria com boa conversa, eles dariam boas risadas, talvez ela tocasse de leve o seu braço quando ele dissesse algo engraçado a respeito de alguma coisa, e então, aquele toque seria elétrico, e ela perceberia que gostava dele, talvez mais do que apenas como um amigo casual, e ele diria, com todas as letras, como se sentia, e voilá. Estariam juntos.
Rá. Não tinha erro.
Naquela segunda-feira dia três, depois do trabalho, tomou um longo banho, aparou as unhas, fez a barba, borrifou refrescante bucal, passou perfume, vestiu-se com esmero, penteou os cabelos, e saiu confiante.
Chegou ao prédio onde Clotilde trabalhava, e imediatamente a viu saindo. Observou sorrateiro enquanto ela se despedia de duas colegas, e então se aproximou, casual, e a viu, fingindo surpresa quando ela o percebeu, também.
-Clô! Oi, tudo bem?
-Tudo, Roberval, e tu?
-Tudo ótimo. Que tu anda fazendo, guria?
-Tava trabalhando.
-Ah, é... Tu trabalha aqui, né?
-É. E tu? Que anda fazendo pra esses lados?
-Ah, saí pra dar uma volta. Desopilar um pouco... Vem cá, tu tem compromisso agora?
-Tenho.
-Ah, bom.
-Por quê?
-Nah... Nada não. Bom, nos vemos por aí. Tchau.
Roberval saiu andando, virou-se brevemente, e viu que Clotilde ainda o olhava. Acenou, ainda casualmente, e com um sorriso quase grande demais no rosto, destoando do coração partido dentro de seu peito.
Enfim... Ano que vem ele tentava de novo.

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Ele acordou com sono, amaldiçoando o ruído do despertador do telefone celular. Seu quadril doía, suas costas, também. Chegou ao banheiro, e foi surpreendido com um presente de grego deixado por seu cachorro. Limpou o banheiro. Lavou o rosto, e, ao abrir o armário, percebeu que acabara a pasta de dente. Lutou com fúria contra o tubo para arrancar um volume mínimo de creme dental e fazer sua escovação. Apanhou seu anti-séptico, e começou o bochecho. Resolveu aproveitar aquele minuto e ver a previsão do tempo. Saiu do banheiro e foi abalrroado pelo seu cachorro, um animal do tamanho de um leopardo e que sente saudades suas enquanto ele dorme. O choque com o cachorrão o engasgou, e ele engoliu o anti-séptico. Tossiu, acalmou o cachorro. Lavou a boca com água. Foi até a janela apanhar seu tênis, que ficara ali pra arejar. Derrubou o tênis na casa da vizinha de baixo, que já saíra para o trabalho. Começava a chover. Não era um bom indicativo pro futuro imediato do seu tênis. Paciência. Apanhou outro tênis, se vestiu. Foi pegar o guarda-chuva. Percebeu que esquecera o guarda-chuva no trabalho. Pensou se tinha como um dia começar pior. Achou que sim, mas demandaria alguma tragédia grega, ou um desastre natural.
Sorriu.
Não que ele acreditasse nessas bobagens, mas, depois de ontem, o karma estava livre pra fazer o que quisesse com a sua manhã.

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TRADUÇÕES:

Ele disse:
-Ih, aquilo é a maior vagabunda, Deus me livre, quero mais é distância daquela mulher, credo...
Mas, na verdade, ele quis dizer:
-Ih, aquilo é a maior vagabunda, Deus me livre, nunca mais chego perto daquela mulher, credo...

Ele disse:
-A Lurdinha? Não, nunca reparei... Quer dizer, ela é bonita, e tudo, mas... Sei lá, acho que não consigo ver ela assim, desse jeito, amor. Ela é nossa amiga, então eu acho que, naturalmente, já vejo ela de outra forma...
Mas, na verdade, ele quis dizer:
-A Lurdinha? Maior gostosa de todas... Tipo, não tem como olhar pra Lurdinha e não pensar em sacanagem, eu até pensei em te propôr um ménagecom ela, mas sei que tu não ia querer, e, sabe? Eu entendo o teu lado...

Ele disse:
-Olha, meu anjo, se tu tem dúvidas a respeito da nossa relação, então a gente deve sentar e conversar sobre isso, e, se for o caso, e eu espero que não seja, a gente tem que lidar com isso da forma mais adulta possível.
Mas, na verdade, ele quis dizer:
-Vai, mala. Me dá um motivo pra te enfiar o pé na bunda e ir pra noite.

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