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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Rapidinhas do Capita


Vi um cachorro manco um dia desses. Fiquei arrasado, deprimido, me sentindo um crápula por ser, sei lá, crápula demais, calculista demais, prático demais pra fazer alguma coisa, qualquer coisa pra aliviar a vida daquele cachorro. Ele não parecia estar sofrendo. Estava andando, mas havia alguma coisa naquele bicho com a pata atrofiada, que revirou meu estômago, não no sentido de nojo, por que eu não tenho essas frescuras, como pizza de estrogonofe assistindo O Homem-Elefante, não o filme sobre John Merrick, mas o documentário sobre o doente asiático com tumores gigantes no rosto. Deve servir pra dar uma ideia de como eu não sou nojento. Enfim, aquele cachorrinho me revirou o estômago. Amaldiçoei a minha própria mente lógica, que diz que servir um pote de água e de ração pra aquele cãozinho mutilado não significaria absolutamente nada no balanço do universo, até por que, o universo não fecha pra balanço, e nem tem balanço algum baseado nas coisas que a gente vê por aí.
O cachorrinho seguiu mancando pela rua, e eu o observava.
Foi quando vi, atrás do cachorro, um papeleiro, desses que puxam carrinho. Ele parou com o carrinho para recolher caixas de papelão e o cão parou junto com ele. Me aproximei, e perguntei se o cachorro era dele. Ele assentiu. Disse que o cachorro era dele, e mais que isso, era seu melhor amigo. Pulei no mercado e comprei-lhe um pacote de ração dos médios. Uma água com gás, pois anda quente pra danar em Porto Alegre. Ele era colorado. Dei-lhe, também, uma das minhas trocentas mil camisas do Inter. Ele agradeceu dizendo emocionado, que era sua primeira camisa oficial do Inter.
Eu o vi ir embora, e colocar o cachorro dentro do carrinho de papelão.
De algum modo, o fato de saber que aquele cachorro não estava só, me fez sentir menos culpado por não me sentir tão só ultimamente.

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Sabe aqueles dias em que tu acorda de mal com o mundo? Aqueles em que não aconteceu nada de particularmente errado, mas aquele inescapável espírito de porco te pegou? Aí tu sai de casa olhando torto pra todo mundo, responde ao "bom dia" musical da moça da banca de jornal com um "oi" grunhido entre dentes cerrados e torce pro teu chefe não estar no escritório por que se estiver tu é capaz de mandar ele longe?
Aqueles dias em que tu leva uma maçã verde pro trabalho, daquelas verde-escuras mais cítricas, quase azedas que tu adora, mas quando olha pra fruta ela não te apetece? Em que tu não participa de nenhuma conversa por que sabe que pode acabar sendo grosseiro em uma discussão e não quer que isso aconteça? Em que o teu cachorro só consegue te arrancar um esboço de sorriso fazendo as suas bobagens e quando a tua mãe te telefona tu conta até dez e só atende por obrigação filial?
Tem dias que são assim. Amanhecem trazendo consigo a certeza de que nada vai dar certo. Mas aí... Aí tu recebe notícias de alguém especial, e pensa se não estava sendo duro demais com aquele dia miserento.

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TRADUÇÃO:

Ela disse:
-Não
Mas na verdade ela quis dizer:
-Sim.

Ela disse:
-Sim.
Mas na verdade ela quis dizer:
-Não.

Ela disse:
-Não tem nada me incomodando.
Mas na verdade ela quis dizer:
-Tu tá me incomodando.

Um comentário:

  1. Adorei a pizza com o Homem Elefante e adorei a tua gentileza e compaixão com o papeleiro. Concordo que uma simples notícia de quem gostamos melhora o que não estava bom. E adorei as traduções dessa vez femininas que são muiiito mais faceís de entender do que as masculinas !

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