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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Resenha cinema: Além da Vida


É estranho ver o nome de Clint Eastwood em cima do título de um filme a respeito de um tema tão água com açúcar como vida após a morte. Há quem possa imaginar que o velho Clint esteja amolecendo, ou, que a idade provecta (Adoro esse termo, "idade provecta") do cineasta octogenário o tenha feito pensar um pouco sobre o fim. Bazófia. Primeiro, por que Clint Eastwood jamais irá amolecer. Segundo, por que Clint Eastwood não tem medo da morte, embora seja melhor a morte pensar duas vezes antes de cruzar a mira de sua Magnum 44, e, terceiro, por que Além da Vida não chega a ser um filme sobre vida após a morte na acepção do tema.
Na trama conhecemos três histórias que se entrelaçam durante a projeção:
Primeiro a da jornalista Marie LeLay (Cécile de France), que após uma experiência de quase morte durante um tsunami na Tailândia tem sua realidade alterada e se torna obcecada com o além-vida; A de George Lonegan (Matt Damon), um médium que encara seu dom de se comunicar com os mortos como uma maldição, e tenta levar uma vida normal como operário, á despeito dos apelos do irmão Billy (Jay Mohr) para que retome a lucrativa atividade; e a de Marcus (George e Frankie McLaren), menino que perde o irmão Jason (George e Frankie McLaren, também) ao mesmo tempo em que sua mãe precisa deixá-lo para se livrar do vício em drogas, e busca desesperadamente por respostas.
Não é um filme ágil, as duas horas e nove minutos do longa ás vezes se arrastam pela tela enquanto as relações dos personagens centrais vão se esfacelando por conta de suas respectivas obssessões com a morte. Matt Damon está excelente como o médium relutante George, quando ele interage com a gracinha Bryce Dallas-Howard nós conseguimos sentir, de fato, a aflição do sujeito que sabe pra onde aquilo vai andar.
Cécile de France não compromete, e é a dona de uma das grandes sequências do filme, o tsunami que varre a Tailândia e quase a mata, enquanto que os gêmeos Frankie e George são boas supresas nos papéis de Marcus e Jason.
Clint Eastwood usa o tema da espiritualidade com parcimônia, impedindo que seu filme se torne uma porcaria panfletária como Chico Xavier, Amor Além da Vida ou Nosso Lar, ele não consegue, no entanto, escapulir de alguns clichês, tanto no texto, quanto visuais, que sempre acabam recorrendo nos longas do tema, o que resulta em um filme que, se não é ruim (e não é), certamente empalidece quando comparado aos trabalhos recentes do diretor de Sobre Meninos e Lobos, Gran Torino, e Cartas de Iwo Jima.
Enfim, Clint Eastwood não precisa ter medo da morte (Nem de nada!), ele só deve se acautelar com roteiros mornos.

"Se você está com medo de ficar por conta própria, não se preocupe: Você não está."

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