-Eu sempre soube - Disse o Éverton -Como seria quando eu encontrasse o amor da minha vida.
-Mesmo?
-Sim. Tinha tudo esquematizado na minha mente. Todos os detalhes. Seria perfeito. Nós ficaríamos amigos primeiro, ela e eu. Bons amigos, melhores amigos. Conversaríamos por horas à fio, ás vezes, quando déssemos por conta, já teriam se passado várias horas, e nós nem teríamos reparado, pois nosso papo seria tão divertido... Ela e eu teríamos muitos gostos em comum, senão, não teríamos como ser amigos de verdade, entende? Teríamos todas essas afinidades, mas também teríamos algumas coisas em que seríamos completos opostos, pra podermos implicar amavelmente um com o outro, e assim faríamos, especialmente depois que a nossa amizade já estivesse mais entranhada. Quando ela e eu nos conhecêssemos, estaríamos namorando outras pessoas. Assim, poderíamos fazer queixas e trocar confidências, e nos consolaríamos quando alguma coisa desse errado, e quando o namoro de um dos dois acabasse, o outro seria o ombro onde iríamos afogar as mágoas. Conforme o tempo fosse passando, nossa amizade iria empalidecer um pouco. Nos afastaríamos por algum tempo, mas nos reencontraríamos, e seria como voltar pra casa. O engraçado, é que a sugestão de flerte que pra todos já seria óbvia àquela altura, só iria começar a aparecer pra gente em um momento bem bobinho, alguma coisa besta e inocente, tipo, a minha mão na nuca dela ao atravessarmos a rua...
-Na nuca?
-É, eu adoro nuca de mulher, adoro. Sei lá... Enfim, só nesse momento a sugestão de flerte ficaria evidente pra mim, pra ela iria demorar mais, talvez precisasse de outro gatilho, quem sabe, uma amiga dela perguntasse de mim, sabe? "Quem é aquele teu amigos?", e ela iria falar com alguma reticência, e se pegaria com ciúmes. E então, por alguma razão, ela, maravilhosa como ela só, veria alguma qualidade minha? Eu devo ter alguma, não é?
-Tu é bom na queda de braço, e não tem medo de abrir o açougue quando joga futebol, pra mim são grandes qualidades...
-É... Bom, talvez ela visse alguma outra coisa, sei lá. E gostasse de mim, também. E eu já amaria ela como amiga, e então, ela me olharia de um jeito diferente depois de a gente correr no Gasômetro, e o sol estaria se pondo, e jogaria uma luminosidade púrpura no rosto e no cabelo dela, e ela sorriria pra mim, e eu ia ouvir, claro como o dia, em todas as notas...
-O quê?
-...Across The Stars.
-Que porra é essa?
-É o tema de amor que toca pra Padmé Amidála e pro Anakin Skywalker em Star Wars Apisódio II - O Ataque dos Clones.
-Porra, aqueles três primeiros filmes são uma bosta.
-Não... Não são, não. Eles carecem, mesmo, da magia dos filmes da década de setenta e oitenta, mas não são ruins. Tem o Qui-Gon Jinn, tem o Darth Maul-
-Tem o Jar-Jar Binks.
-É, mas nos filmes dos anos setenta tinham os Ewoks, então, quase empata a fatura. Eu gosto dos filmes novos, os duelos de sabre de luz são sensacionais, e sempre haverá a música de John Williams.
-É, tá, não dá pra discutir isso contigo, mesmo. Mas e aí? Tocou a música? Across the Stars?
-Não... Ainda não. Mas eu tô ouvindo ela direto no meu MP3.
Procurei a música no youtube e ela é linda! Adorei o texto, e adorei o blog, parabéns, Rodrigo!
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