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segunda-feira, 14 de março de 2011

E se...?


Quem nunca sentiu dor? Todos sentimos alguma. Sentimos antes, podemos estar sentindo agora, e inevitavelmente sentiremos no futuro.
Dor é vida, alguém já disse. É possível. Explicaria o índice de suicídios... Ninguém gosta de sentir dor. As pessoas fazem tudo pra não sentir dor. Elas se exercitam, fazem check-ups periódicos, se viciam em analgésicos... É perfeitamente natural. Ninguém gosta de dor, ninguém quer sentí-la. Que já chutou uma bola com o dedo da unha encravada sabe, quem já deu à luz sabe. Quem já prendeu o dedo mínimo na gaveta, ou recebeu a chibatada de um elástico que arrebenta no lábio sabe. Dor é ruim.
E existe um tipo de dor que dói mais do que qualquer outra. Uma dor silente e constante, que não quer acabar nunca. É uma dor silenciosa pra todos, menos pra aqueles que a sentem. Pra esses coitados, ela berra como Amazing Graces ao som de gaita de foles. Não é feio, mas angustia, machuca, dá a sensação do que se perdeu. Ela paira como uma nuvem, pulsa como um sapo, e está sempre presente. Às vezes nos esquecemos dela, sorrimos, encontramos distração em uma atividade de todo dia, mas, quando menos se espera, ela ressurge. Estava ali o tempo todo, sentada em uma cadeira, vestida de preto como uma viúva má e agourenta que perdeu a razão de sua alegria e agora se dedica a infernizar quem ainda vive.
Provavelmente essa dor é assim. Uma velha de rosto encovado, de rugas profundas, de olhos escuros onde se vê o que é, e se imagina com pesar o que poderia ter sido.
Pena e comiseração é o que merecem aqueles que sentem essa dor. A dor da oportunidade que se foi, da palavra que não foi dita, do amor não consumado, do olhar jamais trocado. Pena e comiseração, pois feridos, assustados, ou decepcionados, desistiram. Pena e comiseração pois abandonaram a luta. Pena e comiseração pois, por mais que encontrem paz e conforto, por mais que encontrem amor e até felicidade, ainda verão, eventualmente, sentada em um canto, aquela velha funesta, e poderão ver em seus olhos quando ela perguntar:
-E se...?

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