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segunda-feira, 21 de março de 2011
O messager
Ela estava esperando por ele em uma lanchonete onde iam desde que se conheceram. Ela nem era particularmente fã da tal da lanchonete, mas, à todas essas, já havia se acostumado com ela, de modo que era quase automático marcar os encontros dos dois lá. Ela olhou pro relógio do telefone celular. Ele estava atrasado. Estranho. Ele nunca se atrasava. Já tinha dez minutos de atraso. Ela alimentou aquelas minhocas de sempre, tinha razões pra tal, passado, e tudo mais. Enfim, ele apareceu. Chegou com uma expressão estranha no rosto, o cabelo repartido pro lado, uma boina na mão, e sentou na frente dela.
-Olá, chére.
Ela lançou-lhe uma expressão divertida e algo surpresa, e sorriu de volta:
-Olá.
Ele ficou olhando em volta como se estivesse conhecendo o lugar pela primeira vez. Ela perguntou se ele ia querer tomar uma Fanta, ou dividir uma Coca com ela.
-No, no - Ele responeu. -Eu vou tomar... Ah, no. Non posso tomar álcool, n'est pas? Tudo bem, enton, uma Coca-Colá.
Ela riu. Ele, de vez em quando, fazia dessas coisas. Brincadeiras que ela não entendia. Aquele sotaque francês fajuto se encaixava no tipo de humor dele.
-Tá bem, então, "François". Já vai pensando no que tu vai querer comer, pois eu acho que não vai ter nenhum lanche que inclua salada niçoise. - Ela disse enquanto agarrava o cardápio. Ele olhava pra ela, com um meio sorriso nos lábios. Ela ergueu uma sombrancelha, olhou pra ele, e estendeu-lhe um cardápio:
-Menu, monsieur?
Ele sorriu e segurou a mão dela.
-Eu consigo entender por quê ele te ama, mas non me entrra na cabeça a razón parra alguém como vous amá-lo.
Ela puxou a mão de volta.
-Tá, chegou dessa brincadeira sem graça, tá me assustando, Erasmo.
-Non, non, ma chére... O Errasmo non pôde comparrecer, non hoje, pelo menos.
-Chega, Erasmo...
-Ele querria. Ele não gosta de perder oportunidade de partilhar do teu tempo...
-Pára, Erasmo.
-Não sou o Errasmo, mon amour. Eu sou o Pierre.
-Tá bem, "Pierre", então chama o Erasmo, fa'çoavor?
-Non posso, chére. Ele non está disponível, agorra.
-Se tu não parar de palhaçada eu vou embora.
-Ele non pôde vir, pois o Errasmo non consegue dizer as coisas, savoir? Ele gostarria, ele querria, mesmo, mas é mais forte que ele. O Errasmo non é má pessoa, tem lá seus defeitos, mas quem não têm, n'est pas?
-Parou, Erasmo. Tá me assustando.
-Non prrecisa ter medo, chére. Ele tá segurro. Tá bem. E vai voltar em brreve. Mas antes...
-Antes o quê?
-Antes o vieux Pierre, aqui, terrá que fazer o serviço que o Errasmo non consegue, oui? Enton, vamos fazer rápido, parra o bobón poder voltar logo.
-Tá...?
- Entón... La vérité, é que o Errasmo non sabe falar o que sente, savoir? Ele non consegue exprressar os sentimentos dele, entón, têm muitas coisas que ele deixa passar, non? Ele tem tendência a se distanciar, se afastar, parrece que non está joyex, hãn? Parrece que está... Como é a palavrra...? Parrece entediado, acabrrunhado, oui?
Era verdade, ela pensou. O Erasmo tinha isso. Ele se distanciava, se emburrava, criava uma barreira entre eles. Ela nunca tinha certeza do que estava se passando pela cabeça dele, e por consequência, ela não sabia o que pensar.
-Ele nunca diz como é bom estar contigo, ele nunca diz como gosta de toutes les choses que tu faz, como te admirra, como gosta das afinidades que vocês partilham, ele non consegue dizer que te acha linda, que adorra le votre sourire, votre cheveux, votre sourcils, oui? Errasmo adorra tudo isso, entendre? Errasmo adorra tudo isso, ama tudo isso de passion, mas non sabe dizer. Je suis juste an messager, um mensageiro, oui? Prra te dizer que o Errasmo, mesmo sem saber como dizer, mesmo sendo un fou, mesmo com le distance, vous aime. Te ama.
Ela ouviu tudo com atenção. Ficou parada enquanto o Erasmo se levantava e dizia "au revoir, chére", e andava em direção ao banheiro. Ficou ali sentada, olhando pro cardápio sem de fato exergá-lo. Ergueu os olhos quando Erasmo voltou sorrindo, com o cabelo penteado como sempre, e sentou se desculpando pelo atraso.
-E então, vamos dividir uma pizza? - Ele perguntou.
-Oui. - ela respondeu sorrindo. -Uma pizza, o sol, as estrelas, la vie...
Estariam tré bien.
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