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segunda-feira, 28 de março de 2011

Barulho na sala fria


Nelson - Sussurrou Virgínia, baixinho enquanto cutucava seu marido com as mãos delicadas e frias sob as pesadas cobertas de inverno. -Acorda, Nelson!
-Hrhhhmgh...
-Acorda, Nelson, pelo amor de Deus, homem!
-Guiéguifóin, Virxinhanhmm...? - Resmungou Nelson enquanto tentava escapar das mãozinhas da esposa, que o apunhalavam como pequenas pás de gelo, virando as costas pra ela.
-Nelson, tem alguém na casa! - Exclamou Virgínia em um sussurro.
-Nhaum tem ningfum na casa... - Replicou Nelson, ainda parcialmente adormecido.
-Eu tô ouvindo gente caminhando na sala, Nelson!
-É o gachurrum...
-A gente não tem cachorro, criatura!
Nelson acordou.
-Tá, tá... Peraí... - Aquiesceu levantando-se com dificuldade, sentindo na boca o gosto rançoso da saliva do sono. Sentou-se na cama o melhor que pôde sem sair debaixo das cobertas e inclinou a cabeça em direção à porta do quarto.
-Ah, Virgínia... Não tem ninguém na sala, é só a janela aberta, são os carros passando lá embaixo...
-Não, Nelson, eu juro! Era gente caminhando! Eu ia lá deixar a janela aberta com essa friagem?
-Não, meu amor, tu tava meio dormindo, e pensou que fossem passos, mas não eram, era apenas o som dos carros que enganou o teu subconsciente, vamo dormir, tá, por favor? Que eu tenho que acordar cedo amanhã e tá frio demais?
-Ai, Nelsoooooooooooon, dá uma olhada que seja, pelo amor de Deus, não vou conseguir dormir se tu não for até a sala pra ver se não tem, mesmo alguém, lá!
Nelson levantou com resmungos de protesto enquanto tentava fazer os dentes pararem de bater, pôs-se de pé segurando os braços junto ao peito e calçou as pantufas com pressa. Caminhou com passos apertados em direção à porta do quarto e a abriu, amaldiçoando o mundo enquanto o ar frio que vinha dos demais cômodos o atingiam como se fossem um tornado. Andou arrastando os pés pela casa por breves minutos, então voltou à porta do quarto onde encontrou Virgínia coberta até o nariz com o edredon.
-Não tem ninguém aqui, e a maldita da janela tava aberta, mesmo, a sala parecia a porra do Pólo Norte.
-Ai, amor, brigada, que susto...
-Tudo bem, vamo dormir, então?
-Tá. Ah! Amor, antes de tu deitar, pega o meu remédio pra cólica no banheiro e um copo d'água na cozinha?
-Pego. - Assentiu um confuso e rabugento Nelson enquanto andava em direção à cozinha novamente, ainda batendo dentes de frio e com os braços encolhidos. Virgínia sorriu enquanto o marido lhe entregava o remédio e a água, e, se tinha alguma dor na consciência pela farsa, ela sumiu quando teve que tirar os braços delicados de sob as cobertas quentinhas pra apanhar o copo.

Um comentário:

  1. Ainda bem que não gosto de mulher, elas são terríveis!!!
    Terríveis como só uma mulher pode ser!

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