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segunda-feira, 28 de março de 2011

Salto de fé


Tudo ia bem, pro Valdeir. Bom, "bem" também, é um exagero, as coisas iam bem pro padrão do Valdeir, que não era um patamar dos mais elevados, vamos combinar. Ele tinha um emprego decente, estava com a faculdade ali no colo, sua família gozava de boa saúde, tudo na santa paz, e, claro, havia Pamela. Pamela era a única coisa na vida de Valdeir que superava, e superava de longe, o status vigente das suas coisas. As coisas com Valdeir iam bem. Iam boazinhas. Iam na paz, tudo médio, tudo naquele largo patamar que chamamos de "funcional". Sabe? Como aquela mesa da cozinha. Não está estragada, não é nova, não é bonita, mas funciona. Sabe como?
A vida de Valdeir era assim em todos os âmbitos, à exceção de Pamela. Pamela era um glorioso, radiante e coruscante píncaro de glória iluminada na vida meia-boca de Valdeir. Valdeir não tinha, literalmente, palavras pra dizer pra ela o quanto ela significava na vida dele. Ele era incapaz de articular em sons inteligíveis ou símbolos legíveis, o tanto de cor, o tanto de calor, o tanto de vida que Pamela colocava em seus dias mais cinzentos e frios.
Valdeir supunha que Pamela sabia como ele se sentia, Mas, após uma daquelas conversas em que ela o deixava sem nenhuma reação exceto o seu sorriso mais bobo, Valdeir resolveu que precisava verbalizar seus sentimentos. Ou externá-los de alguma forma. O Valdeir resolveu que ia segurar na mão de Deus e dar um salto de fé. Mas lembrou que não acreditava em Deus, e nem tinha fé.
-Vida desgraçada, essa - pensou Valdeir enquanto se recolhia novamente à própria insignificância. - Dessas pessoas que nem eu, que precisam de provas e de certeza de tudo.

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