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quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Quase Idílico


Seria calmo e tranquilo.
Sossegado. Quase idílico.
Sobressaltos, só quando eu te assustasse pulando pra fora de uma porta quando tu estivesse distraída, ou quando tu fizesse a mesma coisa.
Graves dilemas só quando tivéssemos que decidir se tiramos a HBO do pacote da TV a cabo ou se paramos de comprar um jogo de videogame por mês.
Cara feia (além da minha), só assistindo a filmes com Jennifer Lawrence ou Michael Fassbender e percebendo um suspiro discreto do outro.
Grandes impasses apenas quando meus livros do Dawkins e do Hitchens ficassem, estrategicamente, em cima da tua bíblia.
Rubor, só quando tu inadvertidamente me mostrasse tua calcinha jogando Supertrunfo.
Discussões, apenas quando tu tentasse defender os Star Wars da Disney.
Briga, só quando estivéssemos jogando Injustice: Gods Among Us.
Raiva, só da Kathleen Kennedy, do Dan Slott e do Bob Iger.
Lágrimas, unicamente de tanto rir de uma piada ruim.
Dor, só quando eu me queimasse te fritando um ovo.
Saudade, só até o final do expediente.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Resenha Série: Better Call Saul, temporada 4, episódio 8: Coushatta


Não há, eu não tenho nenhum medo de afirmar, episódios ruins em Better Call Saul. Quando avalio a série no IMDB, jamais dei uma nota abaixo de 8 a um episódio, e ainda assim, há píncaros de qualidade que nos fazem ficar de queijo caído. Na temporada passada, Chicanery foi esse ápice, um episódio nota 11, conseguindo se sobressair em meio ao mar de qualidade de Better Call Saul, e ontem fomos presenteados com Coushatta, não por acaso, escrito pelo mesmo roteirista, Gordon Smith, que conseguiu ser um ponto de virada na série sem nenhum tipo de evento bombástico, mas apenas driblando a audiência em uma aula de como é que se brinca com a subversão de expectativa do público sem ser desonesto (sim, isso foi pra ti, Últimos Jedi).
Foi bom voltar a ver Nacho.
Michael Mando escavou seu espaço até o coração da audiência ao viver o personagem mais Jesse Pinkman de Better Call Saul. Assim como o personagem de Aaron Paul em Breaking Bad, Nacho Varga percebeu que está se aprofundando em um jogo para o qual simplesmente não está equipado, e que eventualmente cobrará mais do que ele é capaz de pagar.
A forma como ele age friamente em seu trabalho recebendo os pagamentos dos traficantes da região na lanchonete, arrancando brincos e dando sermões é o completo oposto de sua expressão quando olha as identidades falsas que preparou para si e para seu pai pensando em fugir de Albuquerque.
Nacho, porém, ainda nem sabe o que são problemas, já que uma nova peça surge no tabuleiro. O aparentemente afável Lalo Salamanca (o Sr. Ávila, Tony Dalton).
Pra quem não lembra, quando conhecemos Saul Goodman, sendo arrastado para o deserto por Walter e Jesse, ele perguntou se eles haviam sido enviados por Lalo. E ao saber que não era o caso, ficou muito tranquilo com toda a situação, de modo que, nós sabemos, Lalo Salamanca é a nova pedra no caminho de Nacho Varga em sua tentativa de escapar da vida criminosa (e, no futuro, possivelmente de Jimmy/Saul).
Enquanto Nacho remói a presença de mais um Salamanca em sua vida, nós tivemos a primeira subversão de expectativa na ponta narrativa de Mike.
Com os trabalhadores do laboratório de Gus Fring prestes a explodir por conta dos atrasos nas obras e do isolamento, Mike os leva para um strip club para liberar um pouco de tensão e ter algum contato humano fora do armazém. Conforme se esperava, Kai é o sujeito que resolve apalpar um dançarina sendo expulso do bar, entretanto, é Werner que, embriagado, entra em uma animada conversa a respeito de arquitetura com dois desconhecidos. Eu acho que não sou o único que estava preparado para ver Mike dar um sumiço em Kai a qualquer momento, e não devo ser o único a não estar preparado para ver Mike dar um sumiço em Werner, entretanto, conhecendo Vince Gilligan e Peter Gould, devemos estar preparados para perder sempre o personagem de quem mais gostamos, e não aquele que estamos preparados para ver morrer. Seja como for, a conversa de Mike e Werner a respeito da esposa do alemão e de como esse é o maior período que ele já passou longe dela são indicativos de que, talvez, Werner jamais volte a vê-la.
E, se esse for o caso, muito mais do que, eventualmente se livrar de Kai, matar Werner pode ser o ponto de virada na vida de Mike, e seu definitivo mergulho no mundo de Fring.
Mas, ainda que tudo isso tenha sido muito, muito bom, o ponto alto de Coushatta foi mesmo o plano de Jimmy e Kim para livrar Huell da prisão.
As canetas coloridas, papéis de carta e envelopes do episódio passado eram parte da estratégia criado pelo casal para pintar o batedor de carteiras como um pilar da sociedade da pequena cidade de Coushatta, na Louisiana.
Da forma como Jimmy viaja de ônibus até Coushatta para enviar as cartas, contando com a ajuda de todos os passageiros do ônibus escrevendo pedidos por Huell, até o esquema dos telefones passando pela forma como Kim usa a equipe da firma onde trabalha para fingir estar tentando pressionar a promotora, tudo é realizado à perfeição, e durante todo o tempo, nós temos a impressão de que é isso:
Esse é o último favor que Kim vai fazer a Jimmy antes de mandá-lo seguir seu caminho.
A montagem dos oito meses na semana passada mostrou um casal afastando-se mais e mais a cada dia, tanto que mesmo quando Jimmy agiu feito um idiota na festa da Schweikart e Cokely, Kim não parecia estar interessada em repreendê-lo. Ela estava apenas cansada de tudo.
Nós tivemos essa impressão. Jimmy teve essa impressão. Até mesmo a senhora Nguyen (Eileen Fogarty) teve essa impressão.
Mas após o desfecho do multifacetado plano dos dois, Kim se atirou nos braços de Jimmy.
Mais do que isso, de volta ao escritório, ela parecia não term a mínima paciência para leis de zoneamento e novos prédios do banco Mesa Verde. Kim se sentiu viva ao trabalhar com Jimmy, ao vê-lo usar a totalidade de seus poderes e dar um vai-cavalo no sistema jurídico sem sequer pestanejar.
Sim, seus motivos continuam sendo puros, ela quer ajudar pessoas, mas é a confrontação que a motiva. Nós vimos isso em episódios anteriores onde Kim lutava feito uma fera para ajudar pessoas que precisavam de auxílio legal, e se encontrava satisfação em ajudar pessoas dentro do sistema, ajudá-las usando os métodos de Jimmy, sua esperteza e inventividade, mesmo às margens da lei, é ainda mais satisfatório.
Os meios de Jimmy Sabonete são a injeção de adrenalina de que Kim precisava para extravasar. Ela quer ser Giselle de vez em quando. Ela quer aplicar um golpe. Ela quer ser má.
E, sim, nós sabemos, tendo visto Breaking Bad, que a coisa toda não vai acabar bem. Nos sabemos que vai nos deixar arrasados e que provavelmente será trágico porque nós gostamos desses personagens, mas, ao mesmo tempo, ao menos oferece a Kim a chance de ser responsável pela própria tragédia, e não uma vítima dos esquemas de Jimmy.
Faltam apenas dois episódios para o fim da temporada. Vamos ver se a chama de Wexler e McGill continua acesa até lá.

"Vamos fazer de novo."

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Resenha DVD: Oito Mulheres e um Segredo


Acho que pra um sujeito dizer que não existe machismo no mundo de hoje, ele precisa, ou morar sozinho em uma caixa fechada onde não há contato com ninguém, ou viver em negação... De qualquer forma existe, sim, machismo no mundo. É sabido, já diriam os dothraki. E é apenas um dos muitos preconceitos que a humanidade, esse danoso câncer na superfície da Terra, pratica. Mas enfim, estou me desviando do assunto...
Existe machismo no mundo em geral, em Hollywood em particular.
Há menos, muito menos, papéis de destaque para mulheres no cinema, porque é que quando perguntamos o nome de grandes atores somos capazes de ouvir o interlocutor disparar uma metralhadora de nomes que vão de atores da velha guarda, quase octogenários em atividade desde a década de 1970 até novas promessas que surgiram em algum filme indy que vimos no começo do ano, mas quando pedem que façamos o mesmo com atrizes ouvimos os nomes de Meryyl Streep, Cate Blanchett, talvez Viola Davis e então começam a ter que puxar pela memória?
Certamente não é porque mulheres têm menos talento dramático, mas porque há menos grandes papéis disponíveis para atrizes, e esses papéis inevitavelmente ficam com atrizes com nomes e talento já reconhecidos e que, de preferência, ainda não tenham chegado à uma certa idade.
Posto isso, eu seria inteiramente favorável a franquias estreladas por elencos totalmente femininos. Não tenho nenhum problema em ver um desfile de mulheres talentosas e bonitas na tela do cinema ou da TV em nenhum dia da minha vida. Tenho, porém, minhas reservas com remakes femininos de filmes já feitos.
Tome Caça-Fantasmas, por exemplo.
É um produto no imaginário de toda uma geração. Casualmente da minha geração.
Eu não fiquei ofendido por Caça-Fantasmas ser composto por um elenco feminino. Fiquei ofendido porque os Caça-Fantasmas não eram Venkman, Stantz, Spengler e Zeddmore. Poderia ficar ofendido porque todos os homens naquele filmes são burros, malvados ou covardes, mas enfim, também não fiquei. O ponto foi que o fracasso de público e crítica de Caça-Fantasmas deveria ter mostrado que remakes femininos de filmes talvez não sejam o caminho a seguir. Ainda assim, a Warner resolveu lançar, esse ano, Oito Mulheres e um Segredo.
O longa dirigido por Gary Ross, mesmo diretor de Seabiscuit, Jogos Vorazes e Um Estado de Liberdade, entre outros, não é, sejamos justos, um remake, mas um derivado.
No longa, Debbie Ocean (Sandra Bullock), irmã de Danny (George Clooney, visto em uma foto), acaba de sair da prisão em um vestido de gala após cumprir pouco mais de cinco anos de pena.
Debbie passou todo esse tempo planejando um golpe que deixaria Danny orgulhoso.
Seu plano é aproveitar a ocasião do baile anual do Metropolitan Museum of Art de Nova York para roubar o Touissaint, monstruoso colar criado pela Cartier com quase três quilos de diamantes e avaliado em 150 milhões de dólares.
Para colocar seu plano em prática, Debbie precisa da ajuda de sua antiga parceira, Lou (Cate Blanchett), e de uma equipe de mais cinco mulheres com talentos específicos, que vão da estilista Rose Weil (Helena Bonham Carter), a designer de jóias Amita (Mindy Kaling), a hacker Bola Nove (Rihanna,), a batedora de carteiras Constance (Awkwafina) e a golpista convertida em dona-de-casa Tammy (Sarah Paulson), juntas elas pretendem tirar o Touissaint do pescoço de Daphne Kluger (Anne Hathaway), atriz enjoadinha que é uma das estrelas do baile em um intrincado esquema de roubo que pode, além de tornar as sete mulheres muito ricas, ajudar Debbie a se vingar do responsável por sua prisão, o merchant de arte Claude Becker (o Thorin Escudo-de-Carvalho, Richard Armitage), ou, se a execução for qualquer coisa menos que perfeita, colocá-las na cadeia por um bom tempo.
A verdade nua e crua é que Oito Mulheres e um Segredo, é um filme OK.
Os ágeis 110 minutos de filme são divididos entre a formação da equipe, a preparação do golpe e o golpe em si, tudo conforme manda a cartilha dos filmes de assalto. Não há pontas soltas e praticamente nenhuma fala é supérflua e o ritmo é ágil, quase corrido. O problema disso é que faz com que, Cate Blanchett, por exemplo, tenha muito pouco a fazer ou dizer em cena, e isso já é uma falha mortal. Sandra Bullock é outra que não é nem remotamente desafiada, assim como Paulson. Mindy Kaling, Awkwafina e Rihanna fazem quase figuração, enquanto Helena Bonham Carter e Anne Hathaway são, fácil, as melhores coisas do filme.
Carter tem pouco espaço, mas ela realmente parece estar interpretando uma personagem, e não apenas desfilando na tela, enquanto Hathaway rouba todas as cenas em que aparece, indo de Bambi a Scar com um mero semi-cerrar de olhos.
E, eu sei, provavelmente haverá quem me lembre que a trilogia Onze, Doze e Treze Homens também não era, exatamente, um show de interpretações de ponta à ponta, e eu concordo.
Entretanto aqueles filmes emanavam um senso de camaradagem que era a verdadeira estrela dos longas. Nós realmente acreditávamos que aqueles sujeitos eram amigos de longuíssima data e eles estavam claramente se divertindo fazendo aqueles filmes.
Talvez tenha faltado a mão de Steven Soderbergh, talvez o roteiro de Ross e Milch careça de um pouco de gordura, alguns momentos para aquecer as relações entre as protagonistas como havia no longa escrito por Ted Griffin em 2001, um exemplo disso é a breve passagem que mostra a personagem de Awkwafina ensinando a de Mindy Kaling a usar um aplicativo de namoro do celular. É divertido e refrescante e o longa poderia usar mais disso.
Seja como for, não há nada de intrinsecamente ruim em Oito Mulheres e um Segredo, e ao mesmo tempo, não há nada de memorável, o que, considerando a quantidade de talento do elenco é, por si só, um pecado.
Um elenco nota dez em um filme nota cinco é sempre um pecado.
Meramente pelos nomes no poster, vale a locação. Num domingo de tarde é certamente melhor que ver o Faustão.

"Se você tem um problema com roubar, então não vai gostar do resto dessa conversa."

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Resenha Game: Marvel's Spider-Man


É interessante como o tempo nos traz perspectiva.
Em mais de uma ocasião a pressa em publicar um review criaria uma crítica abaixo da grandeza do produto revisado.
Minhas resenhas de The Last of Us e Horizon: Zero Dawn, publicadas antes de ter terminado o jogo são testemunho disso. São dois jogos infinitamente melhores do que os meus reviews fizeram parecer, e eu me peguei pensando nisso ao reler as postagens após ter terminado os games. De modo que, nos últimos jogos dignos de resenha que joguei, resolvi, se não terminar, ao menos dar mais tempo de jogo antes de escrever a respeito.
Marvel's Spider-Man se enquadra nessa categoria.
Se eu tivesse escrito essa resenha no dia 8 de setembro, apenas um dia após ter comprado Marvel's Spider-Man, é bem possível que ela tivesse sido neutra, ou até negativa. Isso porque, no começo de minha aventura aracnídea com o Homem-Aranha exclusivo do PS4, eu me encontrei bastante frustrado, e essa frustração só foi passar após dedicar algum tempo ao jogo, dominar suas mecânicas e abrir minha mente para a sua história pela qual, devo admitir, nutria alguma antipatia antes de me engajar.
Nessa história, Peter já é o Homem-Aranha há oito anos. Ele está com 23, já deixou a faculdade para trás, o emprego no Clarim, também, e hoje ele é assistente de pesquisa nas Indústrias Octavius, que não é nenhum conglomerado científico, mas apenas um grande laboratório onde Peter e seu chefe, doutor Otto Ocatvius, trabalham.
Ele segue dividindo seu tempo entre o trabalho e suas atividades do dia-a-dia, como ajudar a tia May em seu trabalho voluntário na Fundação F.E.S.T.A., iniciativa filantrópica de Martin Li, e o trabalho como o vigilante mascarado que é metade de sua vida desde os quinze anos.
Logo de cara já saltamos fora do acanhado apartamento que Peter mantém em Manhattan para uma caçada humana. A polícia finalmente juntou evidências suficientes para prender Wilson Fisk, o Rei do Crime, e Peter está há quase uma década esperando por esse momento.
Juntando-se à força-tarefa encabeçada pela capitã Yuriko Watanabe, ele finalmente derruba o Rei, a questão é que, na esteira da derrocada do maior chefão criminoso de Nova York, o vácuo de poder deixado faz com que novos poderes emerjam das sobras, jogando a cidade em um turbilhão de crimes cometidos pela gangue dos Demônios, chefiada pelo misterioso Senhor Negativo.
Enquanto tenta descobrir mais sobre esse novo inimigo, Peter ainda precisa lidar com a ameaça do corte de verbas da pesquisa na qual trabalha com Octavius, com sua relação conturbada com sua ex-namorada, a repórter do Clarim Diário Mary Jane Watson, e com seus problemas financeiros.
Eu sou o primeiro a admitir que as mudanças na mitologia de Marvel's Spider-Man me incomodaram uma barbaridade.
Peter trabalhando para Octavius, Mary Jane trabalhando no Clarim, J. Jonah Jameson sendo o apresentador de um programa de rádio ao melhor estilo Alex Jones, Norman Osborn, prefeito de Nova York, fora outras alterações chave que vemos no desenrolar da história... Tudo isso realmente dava um pouco nos nervos de um cabeça-de-teia velha guarda igual a mim.
O alarde que a Insomniac Games, produtora do jogo deu a fatos como não ser uma história de origem e o sistema de balanço em teias ser baseado numa física real, com a necessidade de pontos de ancoragem e a possibilidade de acrobacias pessoais, também não ajudou. Eram coisas que eu já tinha visto antes. Ultimate Spider-Man era o melhor game do Homem-Aranha, pra mim, e não era uma história de origem. As adaptações gamísticas dos filmes O Espetacular Homem-Aranha já contavam com o balanço de teia respeitando leis da física e a necessidade de pontos de ancoragem, de modo que eu não estava vendo grandes vantagens no game da Insomniac exceto o tamanho do orçamento e a liberdade para criar uma história independente de filmes.
E ao começar a jogar, a dificuldade de lidar com um sistema de combate semelhante ao da série Batman Arkham, mas ao mesmo tempo com diferenças cruciais, fizeram com que eu estivesse a um passo de odiar Marvel's Spider-Man.
Mas, estranhamente, apenas até eu me dedicar a um dos pontos mais criticados do game até aqui.
Os colecionáveis.
Eu fico facilmente obcecado por colecionáveis quando estou jogando. E Marvel's Spider-Man não foi diferente. Enquanto me balançava por Nova York procurando antenas de comunicação da polícia e mochilas perdidas de Peter dos tempos de colegial ,repletas de memórias de sua aurora como Homem-Aranha, comecei a me afeiçoar ao game e à sua proposta.
O Homem-Aranha do PS4 é, grosso modo, a mais interativa adaptação cinematográfica que o Homem-Aranha já teve.
O game muda elementos da mitologia de lugar para se encaixar na história que deseja contar da mesma forma que Sam Raimi, Mark Webb e John Watts fizeram, e o produto decorrente disso é, devo admitir, mais fiel do que qualquer um dos outros mencionados.
A história do game é muito boa, repleta de grandes momentos e o protagonista criado pela equipe da Insomniac é simplesmente perfeito tanto com a máscara quanto sem ela.
E esse, talvez, seja o maior diferencial de Marvel's Spider-Man. Entender que, para contar uma história do Homem-Aranha, Peter Parker é tão fundamental quanto o Homem-Aranha.
Quando somos cativados por esse Peter Parker meio John Krazinski, meio Andrew Garfield, começamos a subir de nível e entender como funciona o combate do game, a coisa toda se torna menos frustrante.
Não há sistema de contra-ataque como na série Arkham, mas de esquiva. Enquanto o Batman pode ficar parado e vencer um exército de agressores apenas com o toque de um botão, o Homem-Aranha precisa desviar de golpes e então atacar. Estar em constante movimento é a chave para o sucesso em qualquer luta. O que segue relativamente frustrante a qualquer momento do game é que Peter é forte o bastante para erguer um carro, mas precisa aplicar torrentes de golpes para derrubar qualquer bandido de rua, e pode ser nocauteado por golpes de pé de cabra apesar de conseguir trocar murros com o Rino, de toda a sorte, uma fez que aprendemos a nos manter em movimento e balancear socos e chutes com ataques de teia e outras engenhocas que Peter vai construindo conforme o jogo avança, as lutas se tornam mais recompensadoras e divertidas.
O sistema de balanço em teia é realmente viciante, após uma breve curva de aprendizado, a coisa toda se torna intuitiva o suficiente para que o jogador se torne capaz de emular as mais belas sequências de voo aracnídeo dos filmes, intercalando o balanço, a corrida pelas paredes, o web zipping e a escalada tradicional com efeitos belíssimos em animações que mostram o herói deslizando por dentro de canos suspensos por guindastes e pelo meio os gradis de caixas d'água entre uma teia e a próxima.
Sim, há missões algo repetitivas, os crimes aleatórios, especialmente no terceiro ato do game, se tornam quase uma dor de cabeça. As bases inimigas são mais interessantes, por oferecer a chance de equilibrar stealth e combate puro, e é quase viciante tentar descobrir por quanto tempo conseguimos acabar com a bandidagem das sombras antes de sermos descobertos e cair na porradaria franca. Entre as missões secundárias, algumas são muito boas, como os desafios do Treinador (que realmente são desafiadores e pros quais eu fiquei inevitavelmente retornando para conseguir a graduação máxima), enquanto outras, como as estações de pesquisa de Harry Osborn, são algo aborrecidas e demandam que o jogador salte por dentro de nuvens de fumaça, conserte o Wi-Fi de Manhattan, cace pombos ou dê um antídoto para os peixes envenenados do rio Hudson... Somos impelidos a cumprir todas essas tarefas, porém, tanto porque elas permitem que o jogo se alongue em mais de vinte horas, quanto porque elas oferecem como recompensa emblemas que podem ser usados para aumentar as habilidades do Homem-Aranha em três árvores de desenvolvimento, criar novas engenhocas como teias de impacto, drones ou armadilhas de teia, e, claro, para se obter novos trajes.
Há 28 uniformes no game, cada um deles com uma habilidade especial que, ainda bem, não é restrita ao traje que estamos utilizando. E, eu preciso dizer que o traje avançado do jogo, com a aranha branca no peito, é simplesmente medonho.
Eu o utilizei apenas na animação em que ele aparece logo após ser confeccionado, e tenho me dividido entre o uniforme clássico e o traje de Homem-Aranha: De Volta ao Lar.
Há um modo de fotografia que é simplesmente viciante, a possibilidade de andar a pé no nível da rua interagindo com os pedestres e até um sistema de viagem rápida usando o metrô que vale a pena apenas porque é engraçado ver o Homem-Aranha entre os passageiros.
A atenção aos detalhes é de encher os olhos, da animação dos personagens centrais, como a Mary Jane com carinha de Elisabeth Moss, o doutor Octavius e a tia May, à forma como o vento incide no traje do Homem-Aranha quando ele está em queda livre, passando pela genial recriação digital de Nova York, certamente a melhor em um game desde GTA IV.
A dublagem em inglês é ótima, a brasileira, embora esteja tecnicamente boa, é composta por um elenco de vozes ruins, e a trilha sonora é excepcional.
Não fosse o excesso de repetição na hora de povoar esse mundo aberto de atividades, e a pouca inspiração na hora de criar os embates entre o herói e sua sensacional galeria de vilões, é possível que Marvel's Spider-Man fosse um game perfeito, como está, ele é o melhor game do Homem-Aranha, sem dúvida, mas ainda está levemente abaixo do pináculo das adaptações de super-heróis para games, que segue sendo a série Batman Arkham. Ainda assim, com suas mecânicas de movimentação sensacionais, combate sólido, uma história emocionalmente pujante de uma maneira inesperada e coadjuvantes e especialmente protagonista cheio de coração, Marvel's Spider-Man acerta muito mais do que erra, e entrega uma apaixonada declaração de amor ao mais popular herói da Marvel.
Marvel's Spider-Man não é perfeito, mas está no caminho certo.
Quem sabe na inevitável sequência?

"-Talvez não seja tão ruim quanto parece.
-Adorei o otimismo, mas pela minha experiência, quando parece ruim, geralmente é pior."

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Ainda...


Tarde da noite. Jogando videogame na sala. No escuro.
Som baixo. Cinco... O volume vai até cem. Ele nunca coloca acima de dez.
Regata e cueca boxer preta. Um edredom em cima de uma das pernas. A que fica na mira do ventilador. Perenemente ligado em cima do videogame.
Pausa o jogo. Vai à cozinha. Volta com uma caneca de guaraná com um pingo de suco de laranja.
Frescura, ele sabe.
Mas fica bom.
Apanha o controle. Olha pra porta do quarto.
Quase pode vê-la saindo. Pijama composto de short e blusa de alcinha. Pés descalços no parquet. Ela se detém entre a sala e o banheiro e olha pra ele.
Ele pergunta:
-Tá muito alto, meu anjo?
Ela sorri esfregando os olhos. Maneia a cabeça que não.
-Tu não vai vir pra cama?
Ele responde que Nova York não vai se salvar sozinha. E mostra a foto que tirou do jogo, do Homem-Aranha na frente do escritório de Nelson e Murdock. Ela pergunta onde fica. Ele diz que é perto do bar da Josie. Tira o game da pausa. Ela faz cara de pânico, desvia os olhos da TV e reclama que eles está muito na frente dela.
Vai ao banheiro. Depois à cozinha. Na volta se inclina perto dele e o beija.
Ele sente o cheiro nela... Biscoito...? Sorvete...? Baunilha. Definitivamente baunilha. Isso e o cheiro dela. Da pele dela.
Por melhores que sejam os perfumes, shampoos e cremes, o cheiro da pele dela foi o que ele aprendeu a amar mais rápido.
Ela recomenda:
-Não deita muito tarde. Amanhã não é feriado.
E volta pro quarto.
Ele a observa andando. Os cabelos cobrindo as costas feito a capa do Superman da era de ouro. Sorri.
Termina em menos de cinco minutos. Desliga o videogame e vai atrás dela. Pensando em como é bom passar a noite agarrado a ela. Os corpos colados. A pele dela na sua...
Entra no quarto e a cama está vazia.
O quarto está vazio.
"Ah, é", pensa. "Ainda não.".
"Ainda..."

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Resenha Série: Better Call Saul, temporada 4, episódio 7: Something Stupid


É engraçado estar falando isso praticamente desde o primeiro capítulo da temporada, mas Saul Goodman está entre nós. Não houve nenhum momento de clareza onde Jimmy McGill aparecesse escolhendo seu pseudônimo, seus trajes nem nada do gênero. Ele apenas confeccionou uma caixa de cartões de visitas com o slogan "melhor ligar pro Saul" oferecendo seus celulares pré-pagos. Diariamente ele fecha a loja onde trabalha, estaciona uma van na beira da estrada em um lugar ermo e apenas espera que os clientes cheguem para faturar.
Mas não é assim que o episódio dessa semana da série, começa. Uma montagem mostra o decorrer de alguns meses onde Kim e Jimmy ao mesmo tempo vivem juntos e se apartam inexoravelmente a cada dia. Ao som de Something Stupid de Nancy Sinatra nós vemos a rotina e a falta de honestidade e comunicação demolirem paulatinamente a relação dos dois conforme Kim se divide entre seu bem-sucedido emprego na Schweikart and Cokely e seu amor pela defensoria pública, Jimmy segue sua estratégia de vender os celulares para ter dinheiro para seu novo escritório, o que, à essa altura, não sabemos se é para impressionar Kim e tentar trazê-la de volta ao seu lado para o escritório Wexler & McGill, ou apenas para provar, de novo, que pode se tornar um sucesso operando embaixo dos narizes daqueles que não acreditam nele. De toda a sorte, não há nenhuma grande explosão que destrua a relação que, nós, fãs de Breaking Bad sabemos, não sobreviveu, apenas pistas de como tudo terminou, ou, no caso, irá terminar.
Uma das razões é possivelmente a situação que obriga Jimmy a pedir socorro profissional a Kim, fica claro na conversa dos dois que ela está tão puta quanto desapontada, tanto que ela mal consegue responder quando ele fala com ela.
A única coisa que deixa Kim mais furiosa dos que as tramoias de Jimmy, é quando alguém o ataca por suas tramoias. É nesses momentos que a advogada entra em modo berserker e parece disposta, até mesmo, a comprometer seus parâmetros morais.
E talvez esse seja o ponto de virada. Quando o capítulo termina, nós não sabemos qual é o modo que Kim encontrou para honrar a promessa de "nenhum tempo de prisão" feita por Jimmy a Huell, mas parece bem óbvio que não é uma maneira legal, ou ao menos, que não é uma maneira convencional de fazê-lo e ela vai levar isso adiante porque, à essa altura, coisas assim são sua única conexão real com Jimmy. É possível que vejamos os dois se afastarem apenas porque ele desperta o Saul Goodman que há nela.
De qualquer forma, estou ansioso para ver o que ela pretende fazer com todas aquelas canetinhas e lápis de cor.
Enquanto Kim e Jimmy veem sua relação erodir sob o peso da desonestidade, Mike continua supervisionando a construção do laboratório secreto de Gus.
Os oito meses prometidos por Werner (Rainer Bock) obviamente não serão o suficiente para finalizar a obra e os trabalhadores já estão começando a se digladiar entre si.
O encrenqueiro do último episódio, Kai (Ben Bela Böhm), aparentemente não fez nada de desastroso nos últimos meses, mas segue sendo um pé-no-saco de Mike que antevê a possibilidade de despachar o sujeito de volta pra Alemanha mas é convencido por Werner não apenas a mantê-lo por perto, já que é um especialista em demolição, mas também a oferecer algum repouso e relaxamento aos rapazes. De alguma forma, eu tenho a impressão de que Kai não chegará ao final desse trabalho. Mike obviamente não gosta do sujeito. Ele está tentando fazer o seu melhor para que a obra ande sem solavancos, mas agora que ele pôde se despir da fachada de pai enlutado, abandonar o grupo de apoio e que Stacey e Kaylee estão começando a andar com as próprias pernas é bem possível que vejamos Mike mergulhar um pouco mais fundo no lado mais sombrio de seu serviço a Gus Fring.
Gus, aliás, apareceu de novo, e junto com ele, Hector Salamanca de uma forma mais familiar a todos nós.
A sequência com o copo d'água no hospital, sendo percebida por Gus no vídeo mostrado pela doutora Bruckner (Poorna Jagannathan) como a confirmação de que Hector está de completa posse de suas faculdades mentais, e, portanto, é um prisioneiro dentro de um corpo alquebrado é muito bacana, e a forma como Gus suspende o tratamento por desejar que Hector seja mantido assim é o lastro do discurso do vilão a respeito de paciência e crueldade na semana passada.
Por mais que seja um divertido polimento para um personagem de já conhecemos e amamos odiar, seria legal se saísse alguma coisa nova desse segmento partilhado por Gus e Hector em Better Call Saul além da origem da sineta.
Something Stupid manteve a boa média da série, mas, ainda melhor, acenou com a possibilidade de vermos um arco maior para Jimmy e Kim no futuro próximo.

"-Eu não preciso ser um advogado. Eu sou um mágico."

terça-feira, 18 de setembro de 2018

O Teaser de Capitã Marvel


E a Marvel divulgou hoje o teaser de Capitã Marvel, filme que apresentará Carol Danvers no cinemas. A prévia de pouco menos de dois minutos mostra a personagem já com super-poderes caindo na Terra onde encontra os jovens Nick Fury e Phil Coulson que se envolvem na guerra Kree/Skrull enquanto ela procura por suas origens.
Confira:



Dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck, Capitã Marvel é estrelado por Brie Larson, Jude Law, Ben Mendelsohn, Anette Benning e outros e promete apresentar a personagem mais poderosa do universo Marvel nos cinemas. O filme estréia em 7 de março de 2019.

Resenha Série: Punho de Ferro, Temporada 2, Episódio 10: A Duel of Iron


Atenção! Spoilers a seguir!
E, rapaz, não é que a Netflix conseguiu?
Após uma primeira temporada desastrada com a maior cara de novelão que fez chiar do pessoal do politicamente correto até os fãs de quadrinhos, a segunda temporada de Punho de Ferro está ali, juntinho com Justiceiro, empatada em segundo lugar logo atrás de Demolidor (eu lamento. Ninguém acerta na mosca a essência de um dos meus personagens favoritos e sai impune. Andrew Garfield e Christian Bale são testemunhas.).
O encerramento da segunda temporada de Punho de Ferro começa de onde War Without End havia terminado. No meio do ritual de transferência do coração do dragão, Davos despertou, interrompendo o processo, isso deixou ele e Colleen, cada um com metade do coração, capazes de invocar o poder do punho, mas sendo consumidos por ele.
Usando seus poderes e experiência superior, Davos escapa, voltando a seu covil onde é esperado por Walker, tentando eliminá-lo conforme combinara com Joy. Daí pra frente, começa um festival de pancadaria brutal, com punhos de ferro, tiros e facadas pra tudo quanto é lado, envolvendo Danny, Davos, Colleen, Misty e Walker.
Além de uma ótima sequência de luta com alguns momentos muito maneiros (o soco de davos na parede de tijolos, é particularmente empolgante), o capítulo final estabeleceu um novo status quo para esses personagens que eu não posso evitar senão ficar ansioso para revisitar.
Colleen assumiu sua posição como a detentora do Punho de Ferro. Mais do que isso, ela descobriu ser descendente da primeira mulher a derrotar o dragão. Ela não é, por direito, detentora do título, mas é, assim como Davos, uma filha da linhagem de K'un-Lun, disposta a usar o punho de ferro para defender os necessitados.
Ainda houve mais uma sugestão das Filhas do Dragão, com Misty tanto dizendo que gosta de como Knight e Wing soa (é o nome da agência de investigações das duas nos quadrinhos), mas também aludindo ao final da temporada de Luke Cage, que colocou o protetor do Harlem em uma posição de poder facilmente corrompível.
Joy, coitada, foi de vilã à vítima muito rápido nesses dez episódios. Ainda assim, foi bom ver que ela eventualmente fez as pazes com Ward, de algum modo, e, conhecendo Danny, ele obviamente é capaz de perdoá-la também. Infelizmente, Walker transformou ela em "melhor amiga", o que a coloca numa desconfortável posição de, não apenas ser joguete da mercenária, mas também na mira do terceiro alter ego de Mary, (a Bloody Mary, alter mais violento da Mary Tyfoid), que, eu tenho certeza, voltaremos a ver.
E é preciso dizer que o arco de Ward foi, fácil um dos mais satisfatórios e redondos da temporada.
Eu cheguei e imaginar que a gravidez de Bethany fosse colocá-lo em uma posição de abandonar o vício para ser o pai de seu filho e viver feliz pra sempre. Era um arco com o qual eu estava confortável porque gosto do personagem, mas o caminho que a série escolheu pra ele foi muito mais honesto e interessante.
Bethany gosta dele, e tem fé em sua recuperação, mas não quer se responsabilizar por ele tendo que cuidar do próprio filho. Ward admitiu que não sabe quem é, e agora tem a chance de descobrir pois partiu com Danny para a ásia. Ward agora tem a chance de viver além de ser um miserável administrador de empresas no limiar de voltar ao vício, e permanece perto da parte de sua família que ainda o deseja por perto:
Danny.
Danny, realmente realmente abriu mão do poder do Punho de Ferro, mas não inteiramente.
Ele se despiu das obrigações do coração do dragão e resolveu seguir seu caminho atrás de seu verdadeiro propósito, tentando descobrir se ele é digno do poder. Isso o lançou em uma jornada de auto-descoberta tentando encontrar, aparentemente, paralelos para seu lugar na linhagem de defensores de K'un-Lun.
Quando o reencontramos meses após sua partida ele está feliz e satisfeito no encalço de Orson Randall. Mais do que isso, de posse das pistolas de Randall (o efeito especial é meia-boca, concordo, mas ainda assim, é Punho de Ferro abraçando desavergonhadamente a mitologia dos quadrinhos...) com Ward a seu lado.
Punho de Ferro apanhou da crítica na primeira temporada. Nem todas as críticas ao programa foram justas, mas algumas foram. A segunda temporada é provavelmente a melhor resposta que a crítica e os fãs poderiam receber. Tudo o que a primeira temporada deveria ter sido, e mais.
Eu mal posso esperar pela terceira temporada.

"Nada termina sem um novo começo. Assim como qualquer começo, caminha para o fim."

Resenha Série: Punho de Ferro, Temporada 2, Episódio 9: War Without End


Atenção! Spoilers a seguir!
Após recuperar-se fisicamente da surra que Davos lhe deu, Danny experimenta um momento de profunda clareza e está mais do que disposto a abrir mão do Punho de Ferro. Sua escolhida para sucedê-lo, porém, não está tão certa disso. Colleen não quer o poder pelo qual Danny, Davos e todos os lutadores de K'un-Lun suaram e sangraram.
Enquanto isso BB (Giullian Gioiello) está no centro comunitário com a tigela ritual, vendo os Carrascos e os Tigres Dourados se prepararem para a guerra, sem saber que a guerra se prepara para encontrá-los. Davos sabe onde BB e a tigela estão, e, mais importante, sabe quem ajudou BB a fugir com o artefato, o que coloca Joy em uma posição muito, muito delicada. Uma da qual ela pode não escapar com vida.
Enquanto os dois lados se preparam para o conflito, Colleen tem a oportunidade de finalmente encontrar Frank Choi, o sujeito que estava de posse da caixa de sua família. Sem entrar em terreno de (ainda mais) spoilers, o lance da rainha pirata da baía de Pinghai é bem ancorado em uma das mais recentes fases do Punho de Ferro dos quadrinhos, e certamente pode ter profundas consequências no futuro da série.
De qualquer forma, o encontro com Choi não é bom para Colleen, pra ser bem franco, nos últimos episódios nada tem sido bom pra Colleen, que, apesar de ser minha personagem preferida na série, está bem ranheta recentemente.
Ward e Walker, por sua vez, estão trabalhando juntos.
A ex-militar negocia seu passado (os registros de sua baixa) pelo resgate de Joy, o que leva a dupla a um encontro com nosso bandido preferido. Turk (Rob Morgan) aparentemente deixou o negócio de maconha após a visita de Luke Cage e resolveu voltar a vender armas, dessa vez em uma van, perto do rio (quem não conhece o motivador Matt Folley e seu bordão, "living in a van, down by the river", inclusive referida por Ward mais adiante no episódio, eu recomendo que pesquise no Youtube). Ele é o responsável por armar os dois para a operação de resgate que, talvez, possa estar um pouco atrasada.
No centro comunitário temos o duelo entre Davos e seus asseclas e Danny e Collen, em mais uma ótima cena de luta da temporada. Se por um lado eu já me acostumei com o fato de que Jessica Henwick protagoniza as melhores pancadarias, é importante dizer o quanto é satisfatório ver Danny e Davos saírem no braço de novo. Danny tranquilo e sereno, Davos cheio de fúria e santimonialidade. Não seria a mesma coisa se Colleen o enfrentasse, mas ela manda muito bem lutando contra os múltiplos delinquentes juvenis de Davos, embora, após os últimos encontros entre ela e essa gangue, nós meio que já saibamos como a coisa toda vai terminar.
De qualquer forma, um evento trágico durante a luta faz com que Colleen reveja sua posição com relação a ser a nova Punho de Ferro, enquanto o resgate de Joy por Misty, Ward e Walker termina de maneira inesperada.
Eu não me canso de repetir o quanto Punho de Ferro está ótima. Eu assisti a quatro episódios em sequência durante e depois do almoço no domingo sem sequer me levantar pra lavar o prato até tudo terminar.
Pode não parecer impressionante, mas as pessoas não sabem o quanto um prato sujo me incomoda... De qualquer forma, eu não assistia a uma temporada tão empolgante de uma série de super-herói desde a segunda temporada de Demolidor. No momento, eu prefiro Punho de Ferro a Justiceiro, que é ótima, mas carece do climão de quadrinhos que Demolidor e essa temporada de Punho de Ferro transmitem com tanto sucesso.
Falta apenas um capítulo para o final da temporada de Punho de Ferro, e se a série mantiver a média, vai pro pódio dos melhores frutos da parceria Marvel/Netflix.

"-Não é um fardo. Em K'un-Lun o punho de ferro era a maior honra que podia ser alcançada."

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Resenha Série: Punho de Ferro, Temporada 2, Episódio 8: Citadel on the Edge of Vengeance


Atenção! Spoilers abaixo!
Danny segue com seu treinamento para enfrentar Davos e recuperar o punho de Ferro. Mais do que restabelecer sua condição física para o eventual duelo contra seu irmão de criação, Danny precisa reencontrar seu equilíbrio emocional e é justamente onde ele e Colleen trabalham quando os reencontramos.
Mas além de estarem prontos para o duelo contra a Serpente de Aço (infelizmente não, ninguém disse esse nome...) o casal prestes a se desfazer ainda precisa fazer o meio-campo entre as tríades remanescentes para evitar que a guerra das organizações contra Davos comece a causar dano colateral entre os inocentes de Chinatown.
Enquanto isso, Joy está praticando um jogo duplo perigoso no covil do inimigo, e mesmo ela parece ter dúvidas de por quanto tempo será capaz de enganar Davos. Tanto que, a despeito de sua raiva e de seus "adeus pra sempre" ela resolve contatar Ward para pedir que ele toque adiante seus projetos com energia renovável já que ela não tem certeza de que conseguirá sair com vida dessa empreitada. Isso faz com que Ward tenha que adiar seus planos de se lamuriar por algum tempo.
Falando em lamúrias, após receber dicas de como vender a imagem do novo Punho de Ferro imortal, e se cooptar crianças para se tornarem seu exército pessoal já não era ruim o bastante, o mal-entendido com o senhor Yip (Chill Kong) tem consequências trágicas que, finalmente, colocam Davos no caminho sombrio que, sejamos francos, todos sabíamos que ele eventualmente iria trilhar.
E, deixe-me abrir um parêntese pra dizer que eu acharia potencialmente mais interessante se Davos se mantivesse ao largo dessa vilania mais tradicional. O antagonista ser um assassino de inocentes não estragou a série pra mim, de forma alguma, mas eu acharia uma decisão mais corajosa se ele continuasse sendo, sob diversos aspectos, um Punho de Ferro melhor do que Danny, e sua moral fosse questionável e não totalmente torta, ainda assim, toda a cena onde alguém ganha um buraco em forma de punho de ferro no estômago é uma boa cena.
Ao mesmo tempo, Walker acorda em casa após algum tempo sob o comando de Mary (não fica claro, mas eu gostei da ideia de haver uma passagem de tempo de, no mínimo, alguns dias para justificar que Danny tenha treinado e sua perna se curado ao menos o bastante para ele ser capaz de andar por aí e praticar sessões de sparring com Colleen), e recebe uma notícia que a deixa intrigada.
Aparentemente Mary e Walker não são as únicas personalidades morando naquele corpo. Pois uma terceira entidade foi a responsável por salvar as duas na Sokovia (que bom que há ao menos uma tentativa de estabelecer ligações entre as séries e os filmes, mas eu ainda gostaria que metade do povo desse universo desaparecesse em algum momento...), o que a leva a um psiquiatra (Murray Bartlett, o doutor Edmonds egresso da primeira temporada) que aventa a ideia da qual, diga-se de passagem, a moça não gosta nem um pouco.
De qualquer forma, em um episódio repleto de reviravoltas, a maior de todas surge no final.
Danny, após provar-se totalmente curado de suas lesões, ou ao menos curado o suficiente para vencer Colleen em uma luta, percebe pelo que tem lutado desde sempre.
Não é para proteger a cidade. Nem para proteger K'un-Lun, destruir o Tentáculo ou mesmo pela própria vida. Danny assume que tem lutado apenas pelo poder do punho de ferro. Que se tornou, de fato, um viciado nesse poder.
E ele está disposto a realizar o gesto de desprendimento definitivo e abrir mão desse poder.
Para Colleen.
Será que a filha do dragão está disposta a aceitar essa dádiva e a responsabilidade nela contida?
Outro ótimo episódio de Punho de Ferro deixando claro o quanto a série amadureceu após uma primeira temporada ruim e um Os Defensores claudicante. O programa não apenas abraçou os quadrinhos como aproveita cada oportunidade de referir acontecimentos da temporada anterior e colocá-los sob perspectiva. Quase como se dissesse à audiência "Veja, a gente lembra disso tudo. Sabemos que há problemas, mas olha como melhoramos.". É louvável que mesmo quando a série não tem nenhuma sequência de luta mais elaborada (as cenas entre Colleen e Danny realmente não têm senso de urgência) o roteiro ainda seja capaz de aumentar o tamanho dos riscos que esses personagens estão correndo de maneira satisfatória em esferas além do perigo de morrer ou levar uma surra.
A possibilidade de Colleen se tornar a Punho de Ferro é sensacional. A personagem vinha sendo um dos pilares da série ao longo das duas temporadas (e foi a melhor representante de Punho de Ferro em Os Defensores), ainda assim, eu tenho minhas dúvidas de que a série vá ter coragem de tornar Colleen a Punho de Ferro de maneira definitiva, mas mesmo que seja temporário, seria um passo e tanto. Já que a personagem vem tentando se afastar dos problemas super-heroicos de qualquer maneira apenas para ser arrastada de volta, nada mais justo do que equipá-la com as ferramentas para fazê-lo. De qualquer modo, eu ainda gostaria de ver Danny e Davos se enfrentando cada um com seu respectivo punho de ferro.
O programa entra em sua reta final com tudo no lugar.

"-Fisicamente eu estou pronto para o Davos. Podemos detê-lo. Mas quando fizermos a cerimônia, não posso pegar o poder de volta."

Resenha Série: Punho de Ferro, Temporada 2, Episódio 7: Morning of the Mindstorm


Atenção! Pode haver spoilers:
As coisas não terminaram bem para Danny no último episódio. Derrotado ele viu seu plano de capturar Davos ir por água abaixo após a funcional Walker ser substituída pela doce Mary em um momento decisivo e o saldo do duelo foi uma perna esmagada e nenhuma recompensa.
Enquanto Danny se prepara para encarar a reabilitação, Davos continua com seus planos para se tornar o Punho de Ferro 2.0. E esse plano inclui cooptar os moleques da gangue de Ryhno e BB para se tornarem seus aprendizes.
Com isso, Davos deixa de ser apenas a antítese de Danny, e também se torna, não apenas uma espécie de antítese de Colleen, que também tirava a gurizada da rua para ensinar cidadania através das artes marciais, mas também um dublê de Bakuto, que construiu um exército de guerreiros para o Tentáculo usando a mesma tática.
Esse é provavelmente o primeiro passo de Davos em direção à vilania pura e simples, e justifica todo o tempo que a audiência teve para entender suas motivações e background, resta saber se Davos perceberá o caminho que está trilhando e cairá em si, ou simplesmente irá abraçar o fato de que a sua versão da pureza de K'un-Lun é tenebrosamente similar à coisa que ele jurou combater até a morte, e a despeito de toda a sua superioridade tática sobre Danny, a verdade é que Davos caminha para se tornar o fanático opressor que Danny jamais sequer considerou ser. O ponto é que, de uma forma ou outra, Danny, Colleen e Misty não parecem capazes de detê-lo, não com Danny todo arrebentado.
Ou podem?
Misty seguiu a pista da tigela K'un-Luniana (essa palavra está certa?) de Joy e acabou se deparando com um manual de como roubar o coração do dragão de um Punho de Ferro (maneiro, por sinal, que os artefatos de K'un-Lun sejam parte da coleção de Ernst Erskine, sidekick do Punho de Ferro da Primeira Guerra Orson Randall), o ponto é que conhecer o ritual e contar com o apoio das irmãs Garça é apenas uma parte do processo. O único lutador capaz de enfrentar Davos é Danny (e provavelmente o Demolidor, mas eu não vou entrar nesse mérito porque Punho de Ferro está muito boa.), mas em recuperação de uma facada e de uma perna quebrada, como ele pode ser páreo para seu parceiro de treinos?
Bem, por sorte ele mora com uma sensei.
O ponto é que Colleen não tem certeza se é capaz de ser namorada e professora de Danny, e ele levar adiante a ideia de transformar a casa dos dois em um dojo à revelia da vontade da moça é, sejamos francos, meio escroto de sua parte, ainda que eu não esteja inteiramente certo de por que Colleen seja incapaz de ensinar Danny sem destruir a relação dos dois. Vá ser ruim assim em compartimentalizar lá longe...
Não é apenas o núcleo heroico que toma providências com relação a Davos.
Joy resolve fazer uma aposta arriscada na própria sobrevivência após descobrir que Walker está momentaneamente indisponível após Mary tomar conta, e procura um lugar ao lado de Davos para s"se tornar uma pessoa melhor". É difícil saber se Joy está apenas tentando se proteger ou sabotar a incipiente organização de Davos de dentro pra fora, de qualquer forma, ao menos deu à moça algo o que fazer além de parecer chique e magoada.
Falando em ter o que fazer, Ward resolveu encher a cara e afogar as mágoas.
Por mais cliché que possa parecer o sujeito caindo na birita porque as coisas deram errado, eu gosto do fato de Ward manter seus comportamentos auto-destrutivos sob uma temática diferente.
Antes ele se drogava porque odiava seu pai, Danny e sua vida, agora ele embebeda porque sua irmã não quer falar com ele e porque Danny quase morreu e ele não pôde fazer nada para evitar... O comportamento de viciado é consistente, mesmo com o prisma emocional de Ward tendo sido alterado. A sua "cena de luta" bêbada também foi interessante, e, mais interessante, foi descobrir a respeito do que está acontecendo com Bethany, por mais melodramaticamente folhetinesco que a revelação tenha sido. De toda a sorte, vemos esperar e ver como essa revelação afetará Ward no futuro, e que seja mais do que apenas uma desculpa para ele levar seus problemas a sério.
Sim, Morning of the Mindstorm foi um episódio menos acelerado do que os dois últimos capítulos, mas preparou o terreno para a reta final da temporada mantendo-se interessante.

"-Eu não fechei o dojo por ter medo. Fechei o dojo porque não podia ser responsável por mais alguém morrer."

Resenha Série: Punho de Ferro, Temporada 2, Episódio 6: The Dragon Dies at Dawn


Após quatro episódios que estiveram à altura dos melhores momentos de Jessica Jones e de Luke Cage, Punho de Ferro meteu o pé no acelerador em seu quinto capítulo e no sexto não parece estar disposto a afrouxar.
The Dragon Dies at Dawn segue de onde o quinto capítulo terminou. Danny está se recuperando do ritual que roubou o punho de ferro para Davos enquanto Misty interroga Joy e Mary para descobrir que as irmãs Graça são parte fundamental da transferência do coração do dragão. Com Danny convalescendo, cabe a Colleen e Misty encontrar as tatuadoras taburi e tentar descobrir os detalhes do ritual.
Enquanto isso, Danny aceita uma oferta de uma especialista em capturar Punhos de Ferro, Mary Walker, o que dá a Ward e Joy tempo para finalmente conversarem a respeito do que aconteceu entre eles e Howard.
Ao mesmo tempo Davos leva adiante seu plano de livrar Nova York de todo e qualquer crime, usando o punho de ferro como a derradeira ferramenta de purificação da cidade.
Novamente cabe dizer que, por mais que saibamos que Davos é o vilão aqui, até o momento sua sanha vigilante não é das mais nocivas. Óbvio que seus métodos são questionáveis, mas ele realmente está fazendo o que prometeu, caçando criminosos e defendendo os fracos e oprimidos. É quase uma aposta certa que, em algum momento, Davos vai acabar explodindo alguém que não devolveu o livro na biblioteca, mas até lá, Davos é um Punho de Ferro mais competente do que Danny, sendo, inclusive, capaz de concentrar seu chi em ambos os punhos ao mesmo tempo, o que é muito maneiro.
A melhor parte do episódio, no entanto, foi a missão conjunta de Colleen e Misty.
A amizade das duas parece um pouco artificial, é verdade, mas esse episódio é quase um piloto não-oficial para as filhas do dragão, com a policial elogiando os instintos justiceiros de Colleen e tentando convencê-la a se juntar à polícia.
Pra coroar o segmento, ainda tivemos uma excelente cena de luta da dupla contra as irmãs Garça. Claro, Colleen faz quase toda a coreografia de luta, e não há, de fato, nenhuma razão para as três tatuadoras, de repente, serem lutadoras de kung-fu, mas que se dane, Punho de Ferro abraçou os quadrinhos com vontade e isso inclui um pouco de absurdo, se a qualidade da série se mantiver nesse nível eu não vou me queixar se cada garçom de restaurante em Chinatown for um Bruce Lee em potencial.
Ward e Joy seguem sendo um dos pontos fracos da série, e não porque haja algo de errado na relação dos dois ou as interpretações de Pelphrey e Stroup, considerando tudo a relação deles é tão verossímil quanto as circunstâncias do programa permitem, mas ao mesmo tempo ela é um constante lembrete do rocambole folhetinesco que quase afundou a primeira temporada da série.
Mesmo com a elogiável humanização dos dois personagens, a verdade é que Joy era mais interessante quando era amiga de Danny, e Ward é mais interessante agora que é amigo de Danny... Será que é pedir demais que eles todos façam logo as pazes?
E, falando em más lembranças da primeira temporada, a tentativa de Danny de argumentar com Davos é um pouco irritante. Por mais que nós estejamos cientes de que Danny o vê como um irmão essa impulsividade e ingenuidade cegas são parte do que tornava o personagem irritante na primeira temporada, mas ei, que bom, após os eventos que encerram o capítulo parece justo dizer que isso não deve se repetir no futuro.
The Dragon Dies at Dawn segue firme no caminho de tornar Punho de Ferro uma das minhas séries Marvel Netflix favoritas junto com Justiceiro e Demolidor. Faltando quatro capítulos para o fim da temporada acertadamente mais curta resta torcer para que o programa não sofra a vertiginosa queda de qualidade que ocorreu na primeira temporada.


"-Eu não como carne. Matar animais para se sustentar é uma desgraça.
-Claro que não come. É só um vegetariano que mata gente..."

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Resenha Série: Punho de Ferro, Temporada 2, Episódio 5: Heart of the Dragon


Pode parecer surpreendente, mas a segunda temporada de Punho de Ferro está dando uma surra de pau mole na cara de todas as outras séries à exceção de Demolidor e Justiceiro. Pra ser cem por cento honesto, estava igual às outras (nominalmente Jesica Jones e Luke Cage), mas com lutas melhores, o quinto episódio da temporada, no entanto, deu o proverbial salto de qualidade e foi, fácil, os melhores 55 minutos de TV que eu assisto em um programa da Marvel/Netflix em muito tempo.
Há um novo Punho de Ferro em Nova York. Um Punho de Ferro com firmeza de propósito e visão muito diferentes de Danny Rand.
Davos tomou o que considerava ser seu direito de nascimento, e está pronto para mostrar ao mundo que não há o que lamentar. De posse do poder do imortal Punho de Ferro ele resolve acabar com a guerra das Tríades simplesmente eliminando os dois lados do conflito. Mais do que isso, Davos não pretende parar nas tríades. Ele está pronto para eliminar todo o crime de Nova York. Talvez mais do que isso.
Aqui cabe ressaltar que o programa está fazendo maravilhas por Davos.
Os flashbacks de seu passado, dando tanto um vislumbre de sua relação com Danny quando eles eram crianças quanto os motivos de sua obstinação por se tornar o campeão de K'un-Lun o humanizam de uma forma quase trágica.
Claro, torná-lo um tipo de édipo light arrasado pela desaprovação da mãe não chega a ser uma novidade, mas oferece ao personagem uma profundidade muito bem-vinda.
Mais do que isso, a falta de uma palavra de Pryia (Gita Reddy), coloca Davos ainda mais como um oposto de Danny, que se lembra, em sua conversa com Ward, das últimas palavras que ouviu de sua mãe. Exatamente o "eu te amo" que Davos ansiava por escutar.
Falando em Danny, ele realmente levou uma coça. O resultado de sua luta com Mary e Davos e do ritual é que o herdeiro da Rand Empreendimentos está um caco e acaba sendo capturado pela gangue do Ryhno (Jason Lai) e só escapa de ser negociado com os Tigres Dourados porque Davos acabou com a gangue e porque Colleen e Misty encontraram seu cativeiro a tempo.
Ferido e incapaz de concentrar seu chi, Danny precisa ficar encostado sob a supervisão de Ward enquanto Misty e Colleen vão atrás de Mary Walker.
Resta saber como Danny, esculhambado e incapaz de conjurar seus poderes poderá impedir Davos de levar seus planos adiante. Mais do que isso, será que nós queremos que Davos seja impedido?
No final do ano passado todos nós estávamos torcendo por Frank Castle que literalmente só não matou Billy Russo em sua guerra pessoal contra os bandidos que tramaram a morte de sua família. É impossível torcer por Davos se ele mantiver seu código de conduta e proteger os inocentes matando apenas os criminosos?
Claro, eu sei que, muito mais do que a moralidade do vigilantismo fatal, há aqui a certeza de que o fanatismo de Davos e sua dedicação cega à missão que se auto-impôs o levará a trilhar um caminho sombrio fazendo coisas ainda mais reprováveis, mas eu gosto da ideia de que, ao menos em um primeiro momento, Davos surja como um Punho de Ferro melhor ou mais eficiente do que Danny.
Danny passou esse episódio inteiro apanhando ou sendo suturado, mas a cena que ele partilhou com Ward foi muito boa para os dois personagens. Ward realmente parece ter se tornado um bom sujeito, e eu gosto disso especialmente porque sua arrogância e má atitude ainda estão ali, mas melhor direcionadas. Vê-lo tendo conversas relativamente normais com Danny, a coisa mais próxima de família que lhe sobrou após ele e Joy se apartarem é refrescante, e o modo como ele reconheceu a obsessão de Danny com o Punho de Ferro como um vício foi um belo toque.
Quanto a Misty e Colleen, eu não estava particularmente ansioso por um spin-off estrelado pelas Filhas do Dragão, mas eu estou gostando da participação de Misty na série. Os primeiros episódios da temporada de Punho de Ferro, mesmo com suas qualidades, vinha tornando Colleen meio chorona e resmungona, talvez num esforço para que ela não continuasse eclipsando o protagonista. Sua parceria com Misty, porém, a colocou em uma posição mais ativa, e, em Heart of the Dragon, ela tem a melhor cena de luta do episódio. Além do mais, por mais que eu tenha tirado sarro do fato de Misty ser a única policial de Nova York, tê-la aqui dá às séries um senso de unidade. Essas pessoas moram na mesma cidade. Elas conhecem umas às outras. E isso é bacana.
Além do mais, se não fosse Misty jamais saberíamos que o código da polícia para pessoas com super-poderes é 616. O quão maneiro isso é?
Enfim, a segunda temporada de Punho de Ferro chega à sua metade deixando claro que aprendeu com os erros do passado e se estabelece com folgas como a melhor série Marvel/Netflix exibida em 2018.
Por favor, mantenham o ritmo!

"-Isso não é uma arma para ser segurada. É para ser usada."

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Resenha Série: Punho de Ferro, Temporada 2, Episódio 4: Target: Iron Fist


Atenção! Spoiler a seguir.
Se Punho de Ferro vinha dando amostras claras de melhora com relação à sua primeira temporada (algo que, sendo justo, todas as séries conseguiram fazer em algum grau), nesse quarto episódio da temporada o programa deu um passo além. Finalmente tivemos um grande passo no desenvolvimento da trama em um episódio que, inclusive, deu-se ao luxo de começar na metade e voltar no tempo para mostrar o caminho de Danny até o pepino em que o encontramos no início do capítulo.
Danny está se remoendo por ter colocado a conferência de paz da tríade em cheque com sua desconfiança. Ele sabe o que viu do lado de fora do armazém, mas suas suspeitas não se confirmaram e ele transformou a trégua em pancadaria tentando tirar a senhora Yeng (Christine Toy Johnson) do local em segurança.
Falando na senhora Yang, descobrimos que seu marido não morreu, mas foi colocado entre a vida e a morte pela Garra do Diabo, a milenar técnica de pontos de pressão de K'un-Lun que denuncia o envolvimento de Davos na coisa toda.
Enquanto Danny e Colleen fazem a avaliação de danos e planejam uma forma de remediar a bagunça, Davos e Joy confrontam Mary Walker.
A jovem é a encarregada de espionar Danny para os dois vilões, mas seu transtorno de personalidade dissociativa se colocou no caminho. Enquanto a ex-militar está perfeitamente confortável em manter Rand sob vigilância, sua porção gentil e artística parece dispostas a ao menos tentar ajudar Danny a se preparar para o inevitável ataque.
Além de tríades, Davos e Joy, e a desconfiança com sua própria percepção, Danny ainda precisa lidar com Misty Knight (Simone Missick), que aparentemente é, ou a única policial de Nova York, ou então tem a maior jurisdição do mundo, já que policia Chinatown, Hell's Kitchen e o Harlem simultaneamente. Onde foi parar o sargento Mahoney?
De qualquer forma, Misty acaba com o mistério sobre quem eram as figuras misteriosas do lado de fora do armazém, e, como sempre, pede para que o vigilante com super-poderes da vez se afaste do caso para que a polícia possa trabalhar, e, como sempre, é ignorada já que Danny teve a confirmação de que Davos atacou o senhor Yeng (Henry Yuk) e a sua possível localização.
Falando em confirmar coisas, fica confirmado que Davos realmente está tentando roubar os poderes de Danny usando antigos rituais que envolvem até os restos mumificados de um antigo Punho de Ferro.
O ingrediente decisivo, porém, é o próprio Danny, e a encarregada de conseguir esse ingrediente é Mary. A ruiva dá uma boa demonstração tanto de estratégia quanto de habilidade de luta, e, conforme o início do episódio deixa claro, consegue o que foi buscar.
Target: Iron Fist foi provavelmente o melhor episódio da série até aqui, o único ponto baixo, de fato, foi a interação entre os Meachum. Ward e Joy são particularmente melodramáticos quando interagem sozinhos um com o outro, e as tentativas dele de fazer as pazes com ela são muito mal pensadas (ainda que pareçam sinceras.) e a impressão que fica, mesmo com tanta choradeira, é que os dois só não farão as pazes eventualmente se um dos dois morrer.
Excetuando-se isso, palmas para M. Raven Metzner por ter feito o seriado abraçar o absurdo da mitologia dos quadrinhos orgulhosamente. Fez maravilhas pela série. Isso e a decisão de encurtar a temporada de treze para dez episódios (algo que também deveria ocorrer com Luke Cage e Jessica Jones, por sinal). Punho de Ferro está longe de ser perfeita, mas eu francamente duvido que até o mais rançoso dos resmungões online não veja que a série agora está, no mínimo, no mesmo nível das co-irmãs.

"-Agora você vai me dar o que sempre foi meu por direito, irmão."

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Resenha Série: Better Call Saul, temporada 4, episódio 6: Piñata


Atenção! Há spoilers abaixo.
Piñata, episódio dessa semana de Better Call Saul abre com um flashback que deixa muito claro quem é Jimmy McGill. A cena, passada em 1993 baseado nas apostas do Oscar que incluem Retorno a Howard's End e Perfume de Mulher, quando Jimmy trabalhava na correspondência da Hamlin, Hamlin e McGill mostrou o jovem (aceitaremos a palavra dos envolvidos. Todo mundo parece igual na cena, exceto Michael McKean que usa uma peruca) fingindo completa ignorância no tocante aos trâmites legais dos processos encarados pela firma diante de Kim e Chuck, mas, em segredo, se enfiando na biblioteca do escritório para estudar escondido de todos.
Jimmy já era, então, um falsário que almejava ser um advogado de sucesso bem embaixo do nariz de todo mundo que o considerava um fracasso, e seu objetivo final permanece o mesmo. Seu discurso da semana passada ainda ressoa. Ele quer abrir um escritório de advocacia e ser um baita advogado junto com sua parceira.
O ponto, aqui, é que Kim, talvez, tenha anseios diferentes. Vem ficando mais claro a cada semana que a loira odeia o direito bancário e que seu trabalho junto ao banco Mesa Verde não é, nem de longe, o seu emprego dos sonhos. Em Piñata ela resolve agir em nome daquilo que realmente ama, o trabalho de defensora pública. Para conseguir gerenciar seu tempo de modo a ter o melhor de dois mundos, ela está se juntando ao escritório de Schweikart e Cokely, onde entrará como sócia e encabeçará a divisão bancária.
Jimmy claramente sente o golpe, mas seus objetivos são claros e ele não vai deixar nenhuma pedra ficar em seu caminho.
Na verdade, Jimmy parece mais obstinado após saber dos planos de Kim. Como se a ameaça do fracasso o tornasse mais focado e decidido em sua missão auto-imposta de surpreender Kim com um grande escritório de direito com direito a letreiro luminoso ao estilo Las Vegas.
Para isso, Jimmy usa o que tem à mão, o dinheiro da herança de Chuck, e seus celulares pré-pagos não-rastreáveis, mas, para suceder em sua empreitada, Jimmy precisa ter certeza de que será capaz de vender seu produto sem a ameaça de voltar a ser achacado por delinquentes como os três trombadinhas que o roubaram no último episódio, o que nos leva a uma brilhante sequência envolvendo o advogado, os três marginais e um armazém cheio de piñatas.
O plano de Jimmy e a forma como ele parece ser sempre capaz de antever o que as pessoas têm de pior são brilhantes.
Enquanto Jimmy pensa no futuro, Mike ficou a cargo de garantir que a construção do laboratório subterrâneo de Gus Fring seja executada com sucesso. Após ser excluído do grupo de luto, Mike está livre para montar as instalações e monitorar os trabalhadores alemães que têm a hercúlea tarefa de ficar apartados de contato com o mundo exterior por seis a dez meses morando em um galpão de onde não poderão sair durante o trabalho de escavação.
Eu mantenho que não estava particularmente curioso em como o laboratório foi construído. Na verdade, jamais imaginei que a tarefa fosse ser tão trabalhosa porque nunca me interessou, então seria maneiro se a coisa toda resultasse em algum desenvolvimento decisivo para Mike.
Com ele afastado de Stacey e Anita (Tamara Tunie) e já antevendo problemas com um funcionário metido a rebelde não parece impossível que Mike acabe fazendo alguma coisa sinistra que o coloque no caminho em que ele estava quando o conhecemos em Breaking Bad.
Além de tudo isso, ainda tivemos uma boa cena com Gus e Hector no hospital.
Claro, a cena em questão não nos contou nada que já não soubéssemos a respeito de Gustavo Fring. Ele é extremamente meticuloso, dedicado, paciente e cruel. De uma forma ou de outra, a cena foi muito boa. Um momento cabuloso para o vilão dar seu recado.
Piñata foi mais um bom episódio da série. Se em Quite a Ride parecia que Jimmy havia dado o seu passo mais decisivo em direção a Saul Goodman, aqui ele parece ter feito seu derradeiro movimento na tentativa de ser um advogado respeitável junto com Kim. E o fato de todos nós sabermos que Jimmy e Kim não acabaram juntos dá à coisa toda um viés algo trágico.
É difícil saber porque o casal acaba se apartando, mas uma pista pode ser a reação de Kim ao saber que Jimmy não vai à terapia. Pessoas normais não são capazes de compartimentalizar sua vida e suas emoções como McGill faz (como o arrasado Howard Hamlin, que tem uma boa cena com Jimmy.). Seus planos com Kim eram sua forma de lidar com o luto, talvez por isso ele pareça mais abalado pela rejeição dela ao seu sonho profissional conjunto do que pareceu com a morte do irmão, de uma forma ou outra, a Saul Goodmanização de Jimmy parece estar espreitando para se completar assim que seu futuro com Kim seja arruinado de vez.

"-Esquemas pra enriquecer rápido nunca dão certo.
-Então fica olhando."

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Resenha Série: Punho de Ferro, Temporada 2, Episódio 3: This Deadly Secret


Atenção! Spoilers do episódio abaixo!
Se vai se confirmar, ou não, ainda não dá pra afirmar com certeza, mas até aqui, Punho de Ferro parece realmente ter dado um salto de qualidade em seu segundo ano.
A cena onde Danny, tentando à moda kung-fu fazer as pazes com seus inimigos (que ele pensa que são seus amigos, ou sua família), em um jantar com Colleen, Davos e Joy tem todas as características de uma dramédia européia sobre famílias apartadas tentando agir normalmente.
Sim. A cena é extremamente constrangida, até desconfortável, e sim, eu creio que essa era a ideia.
Joy deixou claro que é uma víbora manipuladora de marca maior, enquanto Coleen segue tendo os maiores colhões da série, mas o que ficou claro nessa longa sequência que transformou um jantar embaraçoso em família em uma tensa dança social de vida e morte é que a relação entre Davos e Danny merece mais espaço.
Os dois realmente agem como irmãos. Nota-se que há alguma espécie de afeto entre os dois, mas que esse afeto está soterrado sobre toneladas de ressentimento. A ingenuidade de Danny Rand deixa de ser um problema para se tornar uma das virtudes do personagem. Ele é desencanado. Ele vai em frente, e se sente melhor assim. Deixando o passado pra trás, e espera, francamente, que as pessoas que ele ama façam o mesmo.
Tivemos um vislumbre desse Danny no episódio de Luke Cage em que os dois formaram brevemente a parceria dos quadrinhos, e eu falei que gostaria de ver mais daquela abordagem, e, apesar de a série solo se esforçar para manter o cenho de Danny franzido de preocupação com mais frequência, provavelmente para oferecer um pouco mais de conflito, ela pode ser vista aqui.
Outro personagem se beneficiando horrores da nova abordagem é Ward.
Se na temporada passada ele mal e mal parecia humano, agora o sujeito é tremendamente crível em sua vida de viciado em recuperação. Sua tentativa desesperada de atrair a irmã a um encontro que ela não queria ter deixa claro que os velhos hábitos de quando ele era o títere de Howard não morreram, e, ainda assim, quando tinha a chance de confrontar Joy, ele amarelou.
Ward é um viciado em recuperação que ainda não sabe lidar com o fato de estar limpo. Ele não é mais um vilão ou um antagonista, mas um amigo problemático e sua cena com Danny mostrou que, ao menos aparentemente, ele é um bom amigo.
Mas nem só de drama familiar se fez This Deadly Secret.
Danny e Colleen se viram outra vez em volta de uma mesa, mas dessa vez para mediar a trégua entre os Carrascos e os Tigres Dourados. As coisas pareciam bem ao menos até Danny ver movimentos suspeitos do lado de fora do local da reunião e mandar tudo pro inferno numa ótima sequência de luta.
Por mais que a audiência possa não gostar da abordagem da série para o drama familiar (e isso é questão de foro inteiramente pessoal) não dá mais pra se queixar das pancadarias. Punho de Ferro está entregando ótimas cenas de luta especialmente se comparar com os arremessos estilo Power Rangers de Jessica Jones ou as taponas na orelha distribuídas por Luke Cage.
Pra encerrar, o episódio revelou que Walker, o espião contratado por Joy e Davos para seguir Danny, é ninguém menos do que Mary, a moça com quem Danny andava esbarrando em Chinatown.
Como ficara óbvio para quem estava assistindo a série, Mary Walker obviamente sobre de dupla personalidade, para quem acompanha os quadrinhos, ela é Mary Tifoide, uma mercenária mutante que sofre de múltiplas personalidades e, durante muitos anos, foi uma das principais assassinas na folha de pagamento do Rei do Crime, e uma pedra no sapato do Demolidor.
Não sei se os fãs de gibis chegarão a ver Mary Tifoide com o rosto pintado e usando seus poderes na série, mas ao menos pudemos ver suas facas quando ela deixou claro para Davos e Joy que é tão perigosa quanto os faixas-pretas de plantão.
Enfim, mais um bom capítulo de Punho de Ferro deixando claro que a equipe de produção ouviu as lamúrias dos fãs e tratou de remexer seus pontos fracos para oferecer uma experiência mais satisfatória para a audiência.
Que continue assim.

"-Talvez seja apenas um jantar.
-Um Jantar nunca é apenas um jantar."

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Resenha Série: Punho de Ferro, Temporada 2, Episódio 2: The City's not for Burning


Após um primeiro episódio promissor, o segundo capítulo da temporada de Punho de Ferro seguiu mostrando seus pontos fortes.
O programa segue focando em seus personagens, oferecendo a todos eles motivações críveis, desenvolvimento e interações que não parecem saídas de uma novela mexicana.
Punho de Ferro teve sua cota de problemas em seu primeiro ano, em grande parte devido à estranheza da família Meachum, um ponto decisivo da trama, e da insistência de Danny Rand em tratar todo mundo como uma plateia à qual ele devia se apresentar. Isso parece ter sido superado. Ward e Joy parecem, finalmente, pessoas de verdade, e mesmo quando estão tramando, não o fazem como se fossem revirar os bigodes e soltar gargalhadas.
Novamente, é importante notar que a coreografia de lutas mudou muito desde a primeira temporada. A ideia de que Danny lutava um kung fu diferente de todos os outros personagens (era a minha interpretação, apenas) ficou no passado, e agora ele luta mais ou menos da mesma forma que Colleen, Davos e cia. Aparentemente, agradando todo mundo que não curtia o quase kata da temporada passada.
A guerra entre as facções da tríade em Chinatown segue escalando.
Com pessoas começando a morrer na cidade, Danny precisa decidir seus próximos passos, e resolve conversar com o líder dos Carrascos para intermediar uma trégua antes que as facções incendeiem Nova York pelo vácuo de poder deixado pelo Tentáculo.
Enquanto isso, Coleen é novamente confrontada pela gangue mais incompetente de Nova York enquanto tenta descobrir de onde veio a caixa misteriosa com o emblema de sua família.
Ward procura por sua irmã tentando fazer emendas, mas Joy tem outras intenções.
A moça está mais do que decidida em sua missão conjunta com Davos, e o alvo da dupla dessa vez é uma antiga tigela prestes a ser leiloada. O artefato é obviamente de K'un Lun, e é uma peça fundamental dos planos de Davos e Joy, mas para obtê-la o monge casto precisará agir de maneiras que aparentemente ferem profundamente seu código de conduta pessoal.
Todo o capítulo, na verdade, é muito de Davos.
Além de o vermos lutando contra as suas próprias noções comportamentais e a forma como ele lida com a ideia aparentemente abjeta de usar sexo para vencer uma luta ao invés de sair na porrada também temos um belo flashback do confronto entre Davos e Danny pelo privilégio de ser surrado por um dragão.
Aqui, cabem duas observações: Primeiro, foi bom ver mais de K'un Lun do que apenas uma encosta montanhosa nevada. Segundo, a sequência de luta entre os dois foi, fácil uma das melhores envolvendo Danny desde sua briga com o mestre bêbado na primeira temporada ou seu quebra com Matt em Os Defensores.
A sequência também deu lastro tanto às convicções de Davos quanto as de Danny.
Se por um lado ficou claro que Davos é o melhor lutador da dupla e que ele não se rendeu e nem morreu lutando, o que corrobora a sua ideia de que, não fosse pela intervenção de seu pai, ele não teria sido derrotado.
Por outro, Danny também não se rendeu. E mesmo levando uma coça, mostrou-se um lutador comprometido e, também, um guerreiro mais engenhoso e esperto. Os dois têm argumentos, e os dois poderiam ser o Punho de Ferro. A questão é que esse flashback tornou Davos mais simpático à audiência, e nós, mais e mais, conseguimos vê-lo como uma pessoa.
Outro personagem que mostrou valor foi Mary.
A sequência com a ruiva no banheiro, deu mais pistas sobre a sua verdadeira natureza, e quem conhece a personagem dos quadrinhos deve ter pego a dica com seu rosto parcialmente obscurecido diante do espelho.
Por hora, a linha narrativa de Coleen está menos interessante do que a de Danny (um alento após ela ter sido o ponto alto da primeira temporada), e os Meachum, embora tenham melhorado consideravelmente, seguem sendo um acessório, mas o mais importante é que o programa, ao menos nessa amostragem inicial, parece ter encontrado seu compasso.
Vamos torcer para que continue assim.

"-Nossa luta para ver quem enfrentaria Shou-Lao? Parece que nunca acabou.
-É... Mas você venceu."

Resenha Série: Punho de Ferro, Temporada 2, Episódio 1: The Fury of Iron Fist


Punho de Ferro, eu mantenho, foi uma série Marvel/Netflix injustiçada.
E não. Não quero dizer que achei boa.
Apenas que primeira leva de aventuras de Danny Rand não foi pior do que a primeira temporada de Jessica Jones, por exemplo, e ficou pouco abaixo da primeira temporada de Luke Cage. O grande problema de Punho de Ferro foi não ter a qualidade de Justiceiro ou Demolidor, e nem as muletas de inclusão de Luke e Jessica.
E com isso, eu não quero dizer que seja contra inclusão. De forma alguma. Inclusive gostei bastante da primeira temporada de Luke Cage (uma série que, em diversas ocasiões foi carregada nas costas por uma coadjuvante, a exemplo de Punho de Ferro), e achei a segunda temporada de Jessica Jones muito superior à primeira (que só era assistível pelo elenco de apoio e especialmente por seu vilão, Kilgrave ótima criação de David Tennant).
O ponto é que, sendo protagonizada por uma bilionário norte-americano loiro de olhos azuis que viajou ao extremo oriente e executou o derradeiro ato de apropriação cultural ao ficar com o poder do Punho de Ferro em detrimento dos nativos de Kun'Lun e depois voltar pra Nova York descalço falando "namastê" pra todo mundo, o seriado começava antipático, e não era ajudado pela trama rocambolesca com cara de novelão entrecortada por decisões questionáveis em termos de coreografia de luta (um ponto central para uma série de kung-fu). Mas eu mantenho que se, a mesmíssima trama, exatamente com o mesmo desenvolvimento e execução, fosse a série do Shang Shi, protagonizada por um ator asiático, o malho da crítica não teria descido tão forte sobre a série.
De toda a sorte, eu estava mais do que disposto a dar uma chance à segunda temporada de Punho de Ferro. A exemplo do que aconteceu com Jessica Jones, eu sabia que era impossível piorar, então, ontem, dei um tempo no Homem-Aranha do PS4, e assisti aos quatro primeiros episódios da temporada.
Danny Rand (Finn Jones) e Colleen Wing (a adorável Jessica Henwick) estão vivendo juntos no antigo dojo da jovem em Chinatown.
Ela abandonou a vida de sensei e agora trabalha voluntariamente em um centro comunitário.
Danny ainda detém 51% das ações da Rand, mas fica fora da empresa, que permanece sob os cuidados de Ward Meachum (Tom Pelphrey), que frequenta os narcóticos anônimos onde mantém uma relação sorrateira com sua madrinha Bethany (Natalie Smith, tornando Punho de Ferro a série Marvel com a maior quantidade de mulheres bonitas da Netflix).
O jovem herdeiro tem um emprego em uma empresa de transportes, aprendendo o valor de um dia de trabalho comum, e à noite, mantém sua promessa a Matt Murdock, de proteger Nova York contra as ameaças rasteiras abaixo do radar de gente como Os Vingadores.
Sua tentativa de equilibrar uma vida comum com o vigilantismo parece estar funcionando, ao menos até uma rixa entre duas facções da tríade, os Tigres Dourados e os Carrascos, ameaçar escalar para uma guerra aberta.
Como se a ameaça de um conflito entre gangues em Chinatown não fosse o suficiente, duas figuras do passado de Danny ressurgem simultaneamente. Joy Meechum (a gatona Jessica Stroup) e Davos (Sacha Dhawan) retornam à cena com agendas em conluio, deixando claro que o futuro do Imortal Punho de Ferro não será tranquilo.
Há, nesse primeiro episódio, um claro esforço do showrunner M. Raven Metzner em tornar Danny mais relacionável ao grande público. Sai o herdeiro arrogante pela fortuna e pelo sucesso no duelo com Shou-Lao, entra um homem humilde que está tentando encontrar um lugar no mundo fazendo o bem. Torná-lo menos ingênuo (ou menos burro, se considerarmos a monumental coleção de idiotices do personagem na primeira temporada e em Os Defensores) ajuda, e transformar sua má atitude em determinação, também.
Isso fica claro em sua conversa com Davos. Ambos têm suas razões. Danny acredita que, em última análise, ir para Nova York o colocou no caminho do Tentáculo e culminou na destruição da organização. O Punho de Ferro cumpriu seu papel. Davos advoga que o Punho de Ferro é o defensor de K'un Lun, e falhou em seu propósito pois a cidade foi devastada ao se ver despida de seu defensor.
Por mais primária que essa argumentação possa parecer, ela é um tremendo avanço comparada ao que tivemos no ano um, e ver que há, ao menos um esforço para dar voz e propósito mesmo aos antagonistas, é um puta alento, assim como tornar os Meachum menos folhetinescos.
No tocante à tramas paralelas, Coleen se envolve em uma missão pessoal após receber um artefato que pode estar ligado à sua família, e ainda há a presença de Alice Eve (outra bonitona) como a gentil Mary Walker, que obviamente tem alguns esqueletos no armário.
A breve amostragem de The Fury of Iron Fist acenas com uma bem-vinda melhora ao programa, esperemos que ela se mantenha nos capítulos vindouros.

"-O dinheiro, o negócio, nada disso me importa agora. Toda a minha atenção está voltada em proteger essa cidade.
-E onde você estava quando nossa cidade precisava ser protegida?"

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Resenha Série: Better Call Saul, Temporada 4, Episódio 5: Quite a Ride


Atenção! Spoilers abaixo!
No episódio dessa semana de Better Call Saul nós fomos brindados, ao mesmo tempo, com o fim de Saul Goodman, e com o que pareceu o maior e mais definitivo passo de Jimmy em sua direção.
Os primeiros cinco minutos do episódio mostraram uma das últimas aparições de Saul em Breaking Bad, quando o advogado, correndo contra o tempo, liquidou seu escritório, juntou todo o seu dinheiro, picou todos os seus registros e fez a derradeira ligação para Robert Foster vir consertar seu aspirador de pó antes de entregar um cartão para Francesca (Tina Parker) com votos de "Diga 'Jimmy me mandou'.".
Foi um começo poderoso de episódio mesmo se o desenrolar de Quite a Ride não tivesse sido tão magistral quanto foi. Ver Jimmy desistir de assistir Doutor Jivago sossegado em casa enquanto Kim trabalhava para fazer uma incursão noturna à vida criminosa de Albuquerque foi simplesmente sensacional.
Ele nem mesmo precisou aplicar um golpe em ninguém para demonstrar o quão profundamente Saul Goodman já está enraizado em si. Ele comprou os telefones de sua loja e os revendeu com uma pequena margem de lucro nas ruas com a promessa de privacidade aos elementos mais rasteiros do submundo usando nada além de sua lábia e destemor.
A perfeição da sequência vai da expressão no rosto de Jimmy quando ele fica aborrecido no sofá de casa até a genuína euforia que ele demonstra enquanto conversa com cada figura estranha no pátio da lanchonete, passando pela forma como ele hesita antes de entrar na nuvem de motoqueiros que faz todo o público do lugar debandar rapidamente.
É um show de Bob Odenkirk, que abraça essa sequência com tudo o que ela demanda, da determinação do empreendedor auto-confiante ao desespero do vigarista em busca de uma dose da sua droga pessoal, o sucesso a qualquer custo.
O desfecho da empreitada não é tão positivo, porém, e literalmente esmurra Jimmy na cara com uma violenta dose de realidade. E o show de Odenkirk continua conforme ele conversa com Kim, dizendo que, nos velhos tempos, ele jamais teria sido assaltado por trombadinhas, que teriam visto nele um sujeito com quem não mexer.
Jimmy sente falta de ser um vigarista. Ele sente falta de ser um sujeito a quem outros criminosos reconhecessem e respeitassem.
E seu discurso a respeito de seus planos para o futuro diante do agente da condicional, é outro grande momento. Onde Jimmy, ao verbalizar sua vontade de voltar a advogar e ser um ótimo advogado ao lado de sua parceira, não parecia estar tentando convencer o oficinal do outro lado da escrivaninha, mas a si próprio.
McGill estava tentando vender a respeitabilidade de seu trabalho a si mesmo. E estava falhando. Agora, parece questão de tempo até Jimmy resolver que quer o melhor dos dois mundos: Ser um advogado e um vigarista ao mesmo tempo.
E apesar do tour de force de Odenkirk, Quite a Ride ainda teve mais.
Kim Wexler parece ter entendido que não pode salvar o seu Jimmy, então tem feito trabalho pro-bono no tribunal defendendo pequenos delinquentes. Ela quer fazer a diferença e parece tão determinada a isso que chega a arriscar seu futuro com o banco Mesa Verde.
Aqui cabe mais um elogio a série. Em um mundo repleto de cartéis de drogas, tiroteios e assassinatos, o emprego de Kim Wexler no banco parece uma tremenda bobagem, ainda assim, a confrontação entre Kim e Paige (Cara Pifko) foi um dos momentos que me deixou mais tenso no episódio. Conseguir fazer isso é um tremendo mérito dos roteiristas, que mantém Kim relevante mesmo que ela não se envolva com a parte mais criminosa da série em nenhum momento (até agora...).
Aliás, Kim está se tornando motivo, tanto de preocupação, quanto de intriga.
Ela realmente está comprando as bobagens que Jimmy lhe diz?
Será que ela acreditou que ele trabalhou das nove da noite até altas horas da madrugada e foi assaltado beeeeem longe da loja? Ou ela acha que ele está lidando com o luto por Chuck à sua maneira e lhe dando espaço pra isso?
É difícil ter certeza.
Quem não está lidando nada bem com a morte de Chuck, por sinal, é Howard. Quando o encontramos no fórum ele parece um mendigo usando um terno caro, e Jimmy sequer se abala ao ver o resultado do que é, em grande arte, sua responsabilidade. Foi ele, afinal, quem deixou Howard se culpar pelo suicídio de Chuck.
E, como cereja do bolo, tivemos Mike.
No final das contas Gus não queria que ele apagasse Nacho no final do último episódio, mas sim que fizesse um trabalho de cicerone sinistro para engenheiros estruturais.
Não acho que eu fosse o único sem nenhuma curiosidade de saber como foi o processo de construção do laboratório subterrâneo de Gus Fring embaixo da lavanderia, mas, mesmo assim, foi um belo easter egg, e deu a Mike algo que fazer no capítulo. Ao mesmo tempo, a cada passo que Better Call Saul dá em direção a Breaking Bad, eu me divido entre alegria e melancolia, pois parece óbvio que, quando as duas séries se encontrarem, eu vou ficar órfão do que é uma das melhores séries da TV, e, ao contrário de vários comentários que vejo nos IMDB da vida, eu passaria anos assistindo as desventuras de Jimmy McGill e postergando o final de Better Call Saul enquanto fosse humanamente possível.

"-Nos velhos tempos eu teria avistado aqueles trombadinhas de longe. E eles saberiam que não deviam mexer comigo.
-É? Como?
-Não sei... Acho que porque... Nos velhos tempos eu era um deles."

Influência


O Luís chegou à academia como fazia todos os dias úteis de sua vida.
Largou a mochila no armário, passou o cadeado, apanhou a toalha que, de tanto usar já estava se esfarrapando, e foi para o aparelho de supino.
Sua rotina de exercícios auto-imposta era bem simples: Num dia peito, ombros e bíceps. No outro, costas, tríceps e abdominais.
Após cerca de uma hora e meia de musculação, ele saía da academia e, ao invés de virar à direita e andar quatro quarteirões até em casa, ele virava à esquerda e percorria algo em torno de três quilômetros pela orla do Guaíba até em casa.
Era uma rotina que ele não mantinha com prazer. Apenas havia conseguido transformar em hábito, o que já considerava uma vitória.
Perdera as contas de quantas vezes no escritório pensara "Hoje eu não vou à academia.", para minutos mais tarde estar de regata e bermuda suando feito um condenado à forca.
Conseguia, descobrira, transformar qualquer coisa em hábito. Por pior que fosse.
Deitou-se no aparelho de supino e fez seus exercícios. Seguiu a ordem de sua série com a tradicional calma e aplicação. Tinha pra si de que se não suava feito um porco e não terminava dolorido, os exercícios não tinham sido bem feitos.
Quando terminou a última sequência de levantamentos, sentia os braços queimando, suor lhe escorria da testa, e sua respiração estava acelerada.
Viu o espelho e, após certificar-se de que ninguém estava olhando, flexionou ligeiramente o braço, forçando o músculo do bíceps e vendo, satisfeito uma veia saltar.
Após cerca de três anos de verdadeira dedicação (mas não obsessão com) à academia, não se tornara uma grande massa de fibras musculares, mas colhera frutos.
Emagrecera treze quilos e trocara o físico do Homer Simpson pelo de Stan Smith, do American Dad. Lhe parecia uma boa troca.
Muitos dos colegas de academia lhe perguntavam dos hábitos alimentares quando as inevitáveis conversas sobre os treinos surgiam no vestiário.
Ele era rápido em assumir que não. Não passava nem perto de fazer dieta. Sequer cuidava da alimentação. Seguia bebendo refrigerante, comendo lanches, pizzas e toda a sorte de bobagens. De modo geral, em grandes quantidades.
Curiosamente, a mesma coisa que o fazia ir à academia puxar ferro até achar que os braços derreteriam o mantinha um glutão.
As palavras de uma guria.
Não qualquer guria. A guria. Assim mesmo, com A maiúsculo.
A guria de sua vida.
Ela lhe dissera em mais de uma ocasião que achava seus braços bonitos mesmo quando ele parecia um boneco da Hora de Aventura com bracinhos de macarrão. Ele ia a academia diariamente pensando que, na próxima vez em que a abraçasse seria legal que fosse com braços que, se não poderiam partir a espinha do Batman, ao menos criassem essa impressão.
Ao mesmo tempo, ele se recusava a comer frango com salada três vezes ao dia porque essa mesma guria, A guria, lhe dissera, e ele lembrava muito bem dela dizendo em um meio sorriso com um hambúrguer na mão, que se havia uma coisa que um homem devia ser, era "bom de garfo".
As palavras dela o mantinham, ao mesmo tempo, saudável e comilão.
Esse era o tamanho da influência dela em sua vida.
Por tanto amor, até mesmo as pequenas incoerências pareciam fazer sentido.