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segunda-feira, 5 de agosto de 2019
Resenha Filme: Missão no Mar Vermelho
Existe algo de particularmente atraente em embasar um filme em fatos reais.
É a oportunidade de, a partir dos feitos reais, de pessoas reais, transformadas por força das circunstâncias em heróis (e vilões) reais construir uma narrativa que honre e homenageie os personagens de dita narrativa e, ao mesmo tempo, faça a audiência experimentar momentos de tensão, dor e triunfo na cadeira do cinema, ou no conforto do sofá de sua sala.
Há dúzias de filmes que floreiam e enfeitam atos verdadeiros de bravura e heroísmo, e, nas melhores investidas de Hollywood sobre tais inspiradoras histórias reais, podemos ter obras-primas como A Lista de Schindler, ou grande filmes como Argo, ambos longas com os quais Missão no Mar Vermelho guarda semelhanças temáticas.
Infelizmente, as semelhanças do longa escrito e dirigido pelo israelense Gideon Raff, egresso de séries de TV como Heroes Reborn, Homeland e Quantico param por aí.
No longa conhecemos Ari Levinson (Chris Evans) e Sammy Navon (Alessandro Nívola), dois operativos do Mossad que trabalham junto com Kabede Nimro (Michael Kenneth Williams) para retirar judeus etíopes da áfrica e levá-los para Israel da maneira que for possível no início da década de 1980.
Ari não é um grande planejador. Ele improvisa conforme as coisas acontecem na esperança de que as coisas deem certo enquanto dança conforme a música arrastando dúzias de etíopes famintos atrás de si através das paisagens áridas entre a Etiópia e o Sudão.
Aos trancos e barrancos ele vai tendo modesto sucesso em suas tentativas de levar os irmãos africanos para a segurança de Jerusalém, mas após ser capturado pelas autoridades sudanesas em sua última operação, é informado por seu superior, Ethan Levin (Ben Kingsley) que o Mossad está acabando com a sua operação, e, para Sammy, que ao contrário de Ari é metódicos e organizado, já não era sem tempo.
Mas Ari não vai desistir tão facilmente, não sabendo que há milhares de judeus etíopes necessitando de resgate do outro lado do Mar Vermelho.
Enquanto é ignorado por sua filha pequena, que nem o considera parte da família já que ele passa mais tempo na áfrica do que em casa, o agente encontra a solução para os problemas de seus irmãos na Etiópia:
Convencer o Mossad a arrendar um hotel abandonado no litoral sudanês, o Resort de Mergulho do Mar Vermelho do título original, e usá-lo como fachada para que uma equipe de assassinos israelenses altamente treinados contrabandear etíopes que cruzam a fronteira com o Sudão para Israel em uma fragata militar disfarçada de petroleiro.
Obviamente os superiores militares de Ari acham a ideia estapafúrdia, eles obviamente gritam enquanto recitam cada uma das etapas do plano e o quão absurdo ele é, e eles obviamente aquiescem ao plano de Ari lhe dando o dinheiro necessário para o aluguel anual do hotel, e a oportunidade de escolher a equipe de acordo com suas necessidades.
Ari, então, parte atrás da bela e letal Rachel Reiter (Haley Bennett, de A Garota no Trem), o experiente mergulhador Jake Wolf (Michiel Huisman, o segundo Daario Naharis de Game of Thrones), o matador Max Rose (Alex Hessel, o Translúcido de The Boys), e o pobre Sammy, que acaba aceitando o plano de Ari e voltando ao continente africano para mais uma missão.
Chegando ao Sudão, após subornar as corruptas autoridades locais, os nossos heróis começam a preparar o terreno para o início de sua missão quando são surpreendidos pela presença de uma força de trabalho inclusa no arrendamento do hotel, e a chegada de turistas aparentemente enviados pelo ministério do turismo sudanês, e, após perceberem que a presença de turistas de verdade pode beneficiar a operação, começam de fato a administrar um hotel de verdade com direito, eu juro, à uma montagem estilo Curso de Verão dos agentes cabulosos ensinando os hóspedes a mergulhar, praticando yoga e até tomando parte em um luau ao som de Hungry Like a Wolf do Duran-Duran, apenas para, na cena seguinte, sermos confrontados com o vilão do filme executando refugiados etíopes com balaços na nuca.
Pense em uma mudança de tom truncada.
E, por incrível que possa parecer, a mão pesada de Gideon Raff é tão desastrada que esse momento talvez seja o único do filme que seja minimamente memorável, ainda que pelas razões erradas.
Ele desperdiça o talento e o carisma de um elenco que tem as duas coisas em abundância tornando-os veículos vazios de traços heroicos de personagens de filmes oitentistas.
Sugere-se que Jake Wolf é mulherengo, sugere-se que Max Rose é bom de mira, sugere-se que Rachel é durona, que Sammy é organizado, e todo mundo diz, o tempo todo, que Ari é descuidado e fora de controle, mas ninguém tem nenhuma substância além de músculos sarados e bronzeados e falas a respeito de o quanto a missão é difícil, importante e de quão os agentes são afortunados em fazer parte dela...
Tão claro quanto o apreço que Raff nutre por essa história (e ela parece, de fato, uma belíssima história) é sua absoluta incompetência para contá-la.
Por duas horas e nove minutos somos bombardeados com informações inúteis e sequências de ação requentadas que tentam gerar uma tensão que nunca vem, e que jamais honra ou homenageia os verdadeiros heróis que administraram o Resort de Mergulho do Mar Vermelho salvando dezenas de milhares de refugiados judeus etíopes, além de, no meu caso, desperdiçar um bom pedaço de uma tarde de domingo.
Se não tiver uma carteirinha de membro do fã-clube do Chris Evans, evite, e vá ler uns artigos sobre a missão verdadeira, muito mais interessante.
"-Você é maluco.
-Não deixamos ninguém pra trás."
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