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terça-feira, 20 de agosto de 2019

Resenha Série: Mindhunter, Temporada 2, episódio 2


Após a estreia da segunda temporada de Mindhunter deixar claro pra onde a série quer andar nesse novo ano, é hora de colocar o pé na estrada.
À essa altura já ficou claro que o personagem que temos acompanhado incidentalmente nas cold openings dos episódios é Dennis Rader, o assassino BTK, e sua história começa a se ligar à dos nossos protagonistas quando passamos a primeira metade do episódio acompanhando Bill enquanto ele viaja a Wichita, Kansas, para oferecer algum insight ao detetive Drowatzky, que investiga os crimes do assassino em série que já começam a esfriar.
Ele visita a casa das primeiras vitimas do infame matador, a família Otero, um crime absolutamente fora do perfil usual de assassinos em série, que ocorreu com a casa ocupada por duas crianças, pai, mãe e cachorro...
Bill visita a residência dos Otero para obter um contexto tridimensional às fotos da cena, e se David Fincher não cria em Mindhunter um mundo estilizado como o de Sev7n, ele certamente manja o suficiente de seu ofício para transformar uma casa vazia ameaçadora em plena luz do dia apenas com dicas visuais sutis como a grama alta ao redor da casa, a comparação dos espaços vazios com as fotos que Bill carrega consigo, e a narrativa de como cada uma daquelas pessoas foi amarrada, torturada e assassinada.
E esse ainda não é o melhor momento de Fincher na condução da missão solo do agente especial Tench no Kansas. Isso fica para um pouco mais adiante, quando Bill entrevista Kevin, sobrevivente de um ataque do BTK que ceifou a vida de sua irmã.
Kevin foi baleado na cabeça três vezes, mal conseguiu sobreviver ao incidente, e além de ter que conviver com todas as lesões físicas do ataque do assassino serial, precisa suportar a culpa de não ter sido capaz de proteger a irmã e o pânico de que o assassino eventualmente volte atrás dele.
A despeito do pavor que o faz aceitar a conversa apenas em um local isolado, em um carro civil, sem que os detetives olhem para seu rosto, o jovem oferece um relato bastante rico dos acontecimentos que levaram à morte de sua irmã, com Bill mostrando-se bastante aclimatado aos parâmetros comportamentais que se tornaram um dos fundamentos da UCC.
O relato do rapaz é pesado, e Bill apenas a ouve com breves apartes ou perguntas. A narrativa de Kevin é a parte importante da cena, mas David Fincher também adiciona à tensão aqui. A câmera jamais foca o rosto de Kevin. A trilha sobe e desce durante o relato. Os olhos de Bill ficam marejados. O ruído do trem pode ser ouvido ao fundo...
Quando Bill volta pra casa, ele testa as portas de sua casa, e acorda Nancy para saber se ela havia deixado a porta dos fundos aberta.
Fincher entende demais do riscado.
A segunda metade do capítulo não diminui o ritmo em termos de poderio narrativo.
Após um breve interlúdio em Quantico, com Holden e Bill formulando um perfil (quase certeiro) para BTK e concluírem que ele está estudando e imitando outros assassinos em série famosos, eles resolvem mudar sua programação e entrevistar uma das fontes de inspiração do matador de Kansas, David Berkowitz, o Filho de Sam.
Antes disso, há tempo para uma pequena rusga de natureza profissional na UCC.
A doutora Carr não gosta da ideia de que metodologia científica que ela tenta estabelecer no programa seja colocada de lado em nome da aplicação prática das descobertas da equipe em casos em andamento. Ao priorizarem a entrevista com Berkowitz, Bill e Holden deixam ao menos outras duas entrevistas de lado, e Wendy não está nada satisfeita, o que pode render desdobramentos no futuro...
Antes disso, porém, há tempo para ela e Bill tomarem um drinque e confirmarem que estão ambos cientes do colapso nervoso de Ford, e combinarem que devem ficar de olho no agente para garantir a sobrevida do programa, e para Wendy flertar novamente com a bela bartender do bar dos fuzileiros (Lauren Glazier).
E então, mais um grande momento do capítulo quando temos a primeira entrevista da dupla titular com um assassino celebridade nessa temporada. David Berkowitz (Oliver Cooper, de Californication, caracterizado à perfeição), encarcerado em Attica.
A sequência da entrevista é ótima, mas antes mesmo de os agentes chegarem à prisão, Holden já havia começado a dissecar o comportamento do criminoso ao entender que mesmo seus assassinatos tidos como espontâneos, não eram livres de planejamento.
As entrevistas anteriores de Ford e Tench os deixaram relaxados e calejados para para dissecar o comportamento do interlocutor sem nenhum resquício de intimidação ou hesitação, e eles não demoram a enxergar os fatos através da mitologia que Berkowitz criou para si próprio.
Uma das grandes contribuições do autoproclamado Filho de Sam, porém, é a confirmação de que ele retornava à cena de seus crimes, um comportamento que, provavelmente, é partilhado por seus pares.
E, fechando o capítulo na mesma nota sombria com que havia iniciado, descobrimos que, como Ford havia feito na temporada passada, Bill Tench está começando a trazer seu trabalho pra casa...
Outra tremenda aula de direção de David Fincher, após amarrar as pontas soltas da temporada passada, o segundo episódio coloca a série nos trilhos para as linhas narrativas de deseja seguir com grande competência, a segunda temporada da série de fato começa aqui, e que belo começo.

“Ás vezes eu rolava na terra onde elas haviam morrido, só para sentir.”

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