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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Resenha Série: Mindhunter, Temporada 2, episódio 6


BTK está de volta na cold opening desse episódio, e suas cópias xerox deixam claro que enterrar sua persona fetichista não resolveu seus problemas.
Falando em problemas, após o quinto episódio ser o melhor da temporada até aqui, esse sexto é possivelmente o pior.
A despeito de finalmente mover a trama para Atlanta e mostrar um interessante desdobramento para a linha narrativa de Wendy, o capítulo dirigido por Carl Franklin, que será o timoneiro da série até o final, é bastante moroso, e, após o show do capítulo anterior, é difícil não ficar com a impressão de que nada está acontecendo ao longo desses cinquenta e oito minutos, especialmente porque parece que as linhas narrativas principais se tornam mais paralelas do que nunca.
Se no capítulo anterior havia a presença de um sub-texto que ligava todos os personagens em cena na questão da identidade, aqui nós simplesmente os seguimos enquanto eles se envolvem em dramas que não se encontram ou se afetam. Não é ruim, e continua prendendo a atenção, mas após uma primeira metade de temporada tão coesa, não deixa de ser algo desapontador ver a série enveredar por um caminho que parece ter como único objetivo empurrar a trama pra frente.
O Departamento de Justiça resolve enviar o FBI para Atlanta á despeito da resistência da cidade em atrair atenção negativa da mídia, isso coloca Holden e Bill na estrada em um péssimo momento para Wendy, interessadíssima em manter o cronograma de entrevistas, e especialmente para o agente Tench, cuja falta é profundamente sentida por Nancy em casa já que ela e Brian estão sob intenso escrutínio do Estado, e enquanto Holden fica embasado na capital da Georgia e Bill fica entre Atlanta e a Virgínia cabe a Wendy e Gregg continuar o trabalho de campo á despeito de sua inexperiência.
Sob diversos aspectos a personagem de Anna Torv era meio que a ponta politicamente correta e inclusiva de Mindhunter.
Da mesma maneira que no final dos anos 90 a Globo volta e meia fazia novelas onde o único núcleo familiar funcional era uma família negra ou um casal gay, Wendy Carr, a cientista lésbica, era a pessoa de cabeça fria, competente e sábia que mantinha a estabilidade do UCC sendo o contraponto da incredulidade veterana de Bill e do comportamento por vezes excessivamente empolgado de Holden. Isso tornava a personagem um tanto quanto unidimensional e por vezes aborrecida de se acompanhar. Nos últimos episódios Wendy tem ganhado a oportunidade de ser aprofundada, ganhar uma personalidade mais humana, com falhas de caráter que podem torná-la uma personagem mais interessante.
Ela parece ter dificuldades em se relacionar, conforme sua conversa com Kai após o sexo no episódio anterior atesta (ela fala casualmente que entende a posição da bartender de não apresentá-la a seu filho por "estudar o comportamento dos filhos de mães promíscuas".) e genuinamente não liga para frivolidades como o teste de revista que a namorada tenta lhe aplicar enquanto está perdida em seus estudos. A exemplo de Holden e Bill, Wendy também pode desapontar a mulher em sua vida por causa do trabalho.
Mas não é apenas no campo pessoal que Wendy escorrega.
Após sentir a tensão do sucesso em sua entrevista com Henley, ela se atrapalha tentando estabelecer uma conexão com Paul Bateson (o técnico radiológico preso por matar um jornalista e suspeito não-condenado por uma série de assassinatos de homens homossexuais em Nova York). A despeito dos esforços de Wendy e Gregg, Bateson jamais se abre totalmente, e quando o detento encerra a entrevista unilateralmente, Wendy se flagra a questionar seus próprios métodos de abordagem.
Em Atlanta Holden não questiona sua abordagem nenhuma vez, e continua cometendo os mesmos erros que causaram sua expulsão da cidade pouco antes. Ele chega cheio de respostas e perfis às autoridades locais. Para sua sorte, dessa vez todos parecem estar com a corda suficientemente apertada no pescoço para dar algum crédito às suas ideias, em especial ao insight extraído de Kemper e Berkowitz a respeito de os assassinos voltarem à cena de seus crimes, o que leva à descoberta de três novos cadáveres, e a um suspeito em potencial que não se encaixa nem remotamente no perfil traçado por Holden e pode significar mais um percalço para a investigação.
E, claro, ninguém passa por mais percalços do que Bill.
O sujeito está se desdobrando o que pode e o que não pode entre suas tarefas de vender a UCC aos superiores do FBI junto com Ted Gunn, supervisionar as crises de estrelismo de Holden, investigar o caso junto com Barney e ajudar Nancy (que está paulatinamente se transformando na Skyler White dessa série) e não dá pra não pensar que, eventualmente, ele irá pagar um preço por essa tentativa de estar em vários lugares ao mesmo tempo.
Apesar dos tropeços narrativos do episódio, a perspectiva de ver a equipe (ou parte dela) trabalhando em um caso de verdade ao invés de ouvir reminiscências de assassinos encarcerados é bastante animadora. Com um suspeito no qual ninguém leva fé detido para interrogatório no próximo capítulo, as coisas se encaminham para o que pode ser uma bela sequência final de episódios que, esperamos, façam justiça à escrita consistente da primeira metade da temporada.

"O diretor quer ter certeza de que o FBI cause uma boa impressão."

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