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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Resenha Série: Mindhunter, Temporada 2, episódio 4


Pela primeira vez sem sem uma alusão ao assassino BTK em seu início, o quarto episódio de Mindhunter não deixa de ter uma cold opening arrepiante, o alívio quando descobrimos que (spoiler?) tudo não passava de um experimento prático de Holden para confirmar seu perfil de que o matador de Atlanta é um homem negro (e, por tabela, comprovar que Gregg não leva o menor jeito para sequestrador).
Após ter prometido às mães de Atlanta que iria se empenhar na resolução dos homicídios, Holden tenta vender a ideia de que há um assassino em série na capital da Georgia a seus colegas da UCC, ainda que não haja base de informação para ir além de "homem negro, entre vinte e cinco e trinta anos", Ted Gunn está disposto a ouvir os apelas do rapaz e enviá-lo para a Georgia assim que um pedido de resgate surge, transformando a coisa toda em um caso federal sob jurisdição do FBI.
Mas, a despeito de alguns interessantes revelações sobre a periferia do caso de Atlanta, esse episódio não é de Holden, ou mesmo Bill, mas de Wendy.
A doutora Carr é uma acadêmica de quatro costados, que, desde o momento em que se juntou à UCC se concentrou no estudo por trás da missão. Wendy quer compilar entrevistas e colher dados que possam ilustrar as similaridades comportamentais desses indivíduos com personalidades extremas da maneira mais científica e publicável possível, donde a constante tensão entre o empirismo pelo qual ela anseia, com as entrevistas sendo conduzidas de maneira tão metódica quanto possível, e os instintos de Holden, capaz de começar a conversar com os assassinos em termos chulos como "as putinhas que estavam pedindo" por ser mais comprometido com a ideia de resolver os casos que porventura o intrigam, do que com a disciplina do estudo.
Por mais que Wendy queira, nas palavras de Ted Gunn, "fazer a diferença", ela ainda deseja fazê-lo no campo das ideias, através de dados coletados com parcimônia de maneira coesa, transformar Quantico na meca dos crimes ativos ao invés dos arquivados, para ela, não é ponto de honra.
Mas, nesse capítulo, após ficar novamente frustrada com a maneira como o estudo é deixado em segundo planos conforme novos casos surgem ou os interesses da Unidade de Ciência Comportamental parecem mudar de acordo com os interesses de Holden, a doutora Carr tem a oportunidade de estar do outro lado do balcão, e perceber que o pensamento acadêmico só leva uma pessoa até certo ponto quando aplicado na prática.
Com Bill e Holden em Atlanta, Gregg e Wendy tomam para si a tarefa de viajar até Huntsville e entrevistar Elmer Wayne Henley Jr. (Robert Aramayo, o Ned Stark jovem de Game of Thrones), o rapaz que ajudou Dean "homem do doce" Corll a sequestrar vinte e oito jovens e adolescentes que seriam violentados, torturados e assassinados entre 1970 e 1973 em Houston, no Texas.
A onda de crimes de Corll chegou ao fim apenas quando Elmer o matou a tiros após anos o auxiliando.
Quando Wendy e Gregg chegam à penitenciária de Huntsville a cientista deixa que o agente do FBI conduza a entrevista, mas as maneira mecânica como o desajeitado federal vomita as perguntas do questionário não impressionam Henley nem um pouco.
E cabe a Wendy usar, não método e parcimônia para salvar a entrevista, mas seus instintos.
Ela não demora a entender como funcionou a associação entre Henley e Corll, com o adolescente vendo o assassino serial como uma figura de autoridade de cuja a aprovação ele passou a precisar a ponto de tornar-se capaz de se dissociar totalmente dos medonhos crimes que ajudava o sujeito a cometer.
E Wendy é capaz de perceber como essa distorcida noção de parceria funcionava pois, como ela conta durante seu encontro com Kay no boliche, ela própria já havia estado em uma relação onde a aprovação de uma pessoa mais velha era a coisa pela qual ela mais almejava.
A exemplo de Holden, Wendy encontra um ponto de identificação com o criminoso de forma a fazê-lo se abrir, e se a doutora Carr que faz umas caras muito sérias de trás de sua escrivaninha em Quantico provavelmente iria repudiar esse comportamento, a Wendy que joga boliche de pés descalços com a nova namorada parece ter encontrado uma nova fonte de desafio e satisfação para si.
E essa conexão que prendeu Wendy a um relacionamento abusivo com uma mulher a quem ela admirava, e que prendeu Elmer a um estuprador assassino sádico continua a reverberar pelo episódio quando descobrimos um fato terrível sobre Brian, o filho de Bill no final do episódio.
Primeiro episódio da temporada que não é dirigido por David Fincher, esse quarto capítulo não fica devendo em termos de direção (Palmas para Andrew Dominik), segurando a peteca. Há alguns elementos discutíveis na linha narrativa de Bill, eu admito, mas isso é com os roteiristas. De resto, a natureza sombria da série, com algumas ótimas cenas e trilha sonora agourenta segue funcionando muito bem, obrigado.

"Ás vezes é reconfortante saber que já fez a pior coisa que poderia fazer na vida."

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