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terça-feira, 27 de agosto de 2019
Resenha Série: Mindhunter, Temporada 2, episódio 7
Conforme Holden imaginava o encanador branco preso no final do sexto episódio não era culpado de coisa alguma além de carregar muita fita adesiva em sua picape e ter se masturbado casualmente na mesma floresta onde o verdadeiro estrangulador de Atlanta deixara algumas de suas vítimas.
A confissão envergonhada de que ele levou revistas de mulher pelada pro mato para se aliviar porque sua esposa está grávida e ele não tem visto muita ação em casa vem após Bill e Holden interrogá-lo como se ele fosse o próprio diabo, e após os dois, e Barney terem movido céus e terras para obter mandatos de busca com um promotor que não estava muito impressionado com as evidências que lhe foram apresentadas, e falharem em manter a imprensa longe do caso enquanto interrogavam um inocente por mais de cinco horas. Não fosse isso o suficiente, mais uma criança é encontrada morta no dia seguinte ao fiasco.
Holden está frustrado porque seu perfil, para ele, é escritura.
Ele quer encontrar um homem negro entre vinte e trinta anos capaz de se aproximar dessas crianças em plena luz do dia sem levantar suspeitas e para ele, qualquer linha de investigação que vá em outra direção é um desperdício de tempo.
Bill, por sua vez, é um investigador veterano que está disposto a verificar qualquer pista, nem que seja apenas para excluí-la, e ele nem é o maior problema para a aplicação das descobertas da UCC. Há uma comunidade enfurecida e que tem a mais absoluta e inabalável certeza de que os responsáveis pelos crimes são membros da Ku Klux Klan, uma suspeita justificável já que a organização racista ataca a população negra da Georgia há anos e que, com a presença de um prefeito negro, pode ter alcançado novos píncaros de ódio, de modo que, por mais que Holden deseje se ater à aplicação científica das descobertas da Unidade de Ciência Comportamental livre de política, burocracia e pistas falsas, ele não vai conseguir.
Ele espera virar a maré usando a tendência dos matadores seriais de retornar ao local de seus crimes, para isso, ele quer usar a marcha da associação das mães das vítimas de Atlanta, a PARE, mas descobrirá que esse está longe de ser seu único problema...
Enquanto Holden esbarra na resistência à suas teorias, e Barney resolve bater um pouco mais de perna para ouvir as mães das crianças desaparecidas estabelecendo relações óbvias demais para terem passado despercebidas pela polícia local, Bill volta para Williamsburg para dividir com Nancy os problemas de Brian.
À essa altura parece claro que Bill prefere estar na estrada, entrevistando assassinos e investigando casos medonhos como o de Atlanta a estar em casa. Ele se lamenta à Wendy, sua única confidente, a respeito da regressão de Brian, e de como suas expectativas de paternidade foram subvertidas pelo filho adotivo. Pior do que não ter com quem jogar beisebol ou futebol, ele começa a se torturar pensando se a situação do moleque é sua responsabilidade, ou apenas o curso da natureza.
Bill e Nancy não sabem que tipo de vida Brian levou antes de ser adotado aos três anos de idade, o que aconteceu a ele, ao que ele foi exposto. Ele pode ser apenas uma criança que não tem afinidades com o pai e a mãe, mas também pode ser um sociopata mirim, e Bill não sabe qual dos dois.
E, no que talvez seja a cena mais perturbadora do episódio, quando Nancy é visitada pela mãe do bebê morto, temos a impressão de que ela também não sabe.
A mulher devastada está convencida da versão alardeada por Nancy, de que Brian crucificou o bebê na esperança de ressuscitá-lo como jesus, e quer conhecê-lo e perdoá-lo, mas Nancy não permite. Talvez por perceber que Brian está simplesmente esquisito demais para causar qualquer tipo de boa impressão à uma mulher de luto, ou porque ela já não acredita na versão dos fatos que tem repetido como um mantra.
Restrita a uma participação pequena no episódio, Wendy (que, por culpa do comentário de uma morena muito linda a respeito de sua maquiagem agora praticamente está pintada de cor de laranja aos meus olhos) vê Ted Gunn discretamente repreendê-la pelo encontro mal-sucedido com Bateson, e veladamente a proibir de conduzir novas entrevistas.
Além desse percalço profissional, ela ainda precisa lidar com seus problemas no âmbito pessoal.
Wendy realmente dá pinta de querer levar sua relação com Kay a um novo patamar, mas ela parece querer dosar a intimidade advinda disso em seus próprios termos. Sua proposta para a namorada é mais uma demonstração da falta de jeito de Wendy para se comunicar em termos casuais (embora o lance dos "filhos de mães promíscuas" ainda fique com o troféu na comparação). Ela quer Kay em sua vida, mas aparentemente em doses pré estabelecidas que lhe sejam convenientes.
Esse sétimo episódio da temporada é superior ao anterior, mas ainda não recolocou a série em seus melhores momentos. Malefícios de estabelecer uma barra demasiado alta, eu suponho.
Um elemento interessante é a maneira como Mindhunter (eu não consigo chamar a série de Caçadores de Mentes, mesmo sendo a tradução literal...) evita um problema que sempre me pareceu estar à espreita do programa, transformar a série em um buffet de assassinos seriais oferecendo ideias que imediatamente levariam os três protagonistas à resolução de casos reais, quer os verdadeiros agentes da UCC que inspiraram a série tivessem tomado parte na coisa toda, ou não.
Não é difícil ver uma equipe de produção menos competente transformando essa série em um CSI da vida, e teria sido leviano colocar Holden e Bill no caso do estrangulador de Atlanta chegando à Georgia e resolvendo tudo rapidamente como se fossem messias da investigação criminal. Por sorte Mindhunter mantém os pés no chão, e coloca a Unidade de Ciência Comportamental em um papel de párias, e não de heroicos cavaleiros. Eles estão atrasados para as cenas de crimes, não recebem o apoio integral das autoridades locais, não conhecem a dinâmica social de uma cidade onde não vivem, eles cometem erros frequentes e são confrontados com a frustração resultante desses erros.
Essa humanidade dos protagonistas mantém o programa honesto, e mesmo nos momentos menos brilhantes da série, garantem que a audiência se sinta impelida a voltar para mais episódios. Faltam dois capítulos para o fim da temporada, e Holden e Bill precisam de resultados.
"-Acho que ninguém sabe lidar com isso. Não tem uma receita.
-Deveríamos criar a receita. Somos os especialistas. Como faremos isso se tudo precisa ser em três vias?"
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