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quarta-feira, 28 de agosto de 2019
Resenha Série: Mindhunter, Temporada 2, episódio 8
O oitavo episódio da temporada de Mindhunter finalmente retoma o melhor ritmo da série.
Temos, novamente a cena com o assassino BTK (que nos créditos é chamado de funcionário da ADT) antes dos créditos de abertura e Holden fazendo ostensivamente aquilo que faz melhor, ou, pelo menos tentando.
A jornada de Holden Ford por Atlanta tem sido um exercício de frustração. As autoridades municipais e estaduais não queriam a interferência federal ordenada pelo Departamento de Estado, de modo que o agente tem sido constantemente empurrado de uma pista aparentemente inútil para a próxima, seus insights como o plano das cruzes ou dos folhetos esbarram em burocracia que ele não consegue entender, e desvio de recursos que só fazem irritá-lo. Para piorar, os problemas de Bill na Virgínia tornaram o veterano um parceiro inconsistente que nunca está presente para ajudá-lo a defender suas ideias junto às pessoas que tomam as decisões no caso do estrangulador, o que, por sinal, leva à uma boa cena onde os dois federais colocam os pingos nos is, e parecem chegar à alguma espécie de entendimento. Seja como for, no penúltimo capítulo da temporada, as autoridades locais parecem ter chegado a um ponto de desespero grande o suficiente para prestar mais atenção no que Holden diz.
Ainda há muita resistência à aplicação da ciência comportamental no caso, tanta que Bill precisa trabalhar com um grupo de investigação local vigiando uma seção da KKK sem nenhum efeito. Mas quando vaza a notícia da presença de fibras nos cadáveres, e o assassino muda sua tática para se livrar dos corpos, jogando-os o nos rios da região, Bill, Barney e Holden apresentam a ideia de vigílias do pôr ao nascer do sol nas pontes da cidade na esperança de flagrar o assassino no ato da desova de uma vítima.
É um empreendimento tremendamente caro, à moda antiga, sem vínculos com a parte teórico científica da montagem de perfis, o que é um benefício político à essa altura, e que, após cinco semanas de mosquitos e privação de sono e com o número de vítimas chegando a vinte e oito, finalmente pode ter rendido frutos.
Mas, se a primeira temporada de Mindhunter foi toda a respeito de Holden, que com sua visão e iniciativa deu início ao que se tornaria a UCC, e com sua volatilidade emocional era o foco do drama da série, e os assassinos seriais que eles entrevistavam, e o sucesso que essa abordagem rendeu na resolução de um homicídio, nesse ano as coisas mudaram.
Bill e Wendy foram nomeados suas babás tanto pelo diretor-assistente Gunn quanto entre si, de comum acordo após seus colapso nervoso, mas apesar da ameaça de que ele pudesse ter uma nova crise a qualquer momento, a temporada chega a seu oitavo episódio sem que Holden tenha estadado sequer perto de ter outra crise, fazendo seu trabalho de maneira contrita e, sem uma vida pessoal no momento, deixando o drama para Bill e Wendy.
Essa decisão tornou a série consideravelmente mais democrática, enquanto a crise familiar dos Tench transformou Bill num equilibrista tentando agradar aos chefões do FBI, às autoridades locais de Atlanta, Nancy, Holden e ainda resolver casos, Wendy tornou-se uma parte mais integral da Unidade de Ciência Comportamental e da série como um todo, mostrando-se como uma lésbica no armário tentando encontrar realização profissional e pessoal em uma época onde homossexualidade ainda era considerado uma espécie de desvio de conduta.
Isso também ajuda o programa a manter-se longe daquela fórmula CSI, porque ao invés de o drama do programa vir da investigação pintando a UCC como os heróis que resolveram o caso, ele vem das vidas pessoais de Bill e Wendy.
Um dos momentos mais surpreendentes do episódio vem quando Bill chega em casa para encontrar a pia da cozinha cheia de louça suja e Nancy fumando no quintal dos fundos, admitindo verbalmente que desistiu de Brian. Ela deixa Bill responsável pelo guri durante o resto do dia após ter aventado a possibilidade de uma mudança inicialmente rechaçada por ele.
A cena onde Bill e Brian vão comer sorvete juntos é de cortar o coração, e quando o moleque reage à história de seu pai, nos leva a pensar por onde anda a cabeça dele desde a morte do bebê, e se Bill tem razão em seus temores a respeito da natureza do filho. A propósito, Brian já tinha falado na série?
Wendy, por sua vez (além de sim, continuar laranja, meu amor) está ainda mais distante de Atlanta, e o diretor Gunn parece querer fazer todo o possível para manter as coisas assim. É difícil saber se essa ideia se baseia de fato em usar os talentos dela de maneira mais científica possível organizando e gerenciando as descobertas do projeto, ou se ele apenas é machista demais para ter uma mulher entrando em presídios e entrevistando assassinos em série nos anos 70. Seja como for, esse isolamento é incongruente com o momento que ela vive com Kay, que parece querer fazê-la se tornar mais aberta a respeito da própria identidade, ao menos até descobrir que Kay também compartimentaliza partes de sua vida, e não gostar nem um pouco.
Da mesma maneira que Holden vem fazendo em Atlanta desde o início do caso do estrangulador, Wendy resolveu defender seus princípios, e conforme nós vimos em Atlanta, defender seus princípios muitas vezes pode cobrar um alto preço.
Faltando um episódio para o fim da temporada, Mindhunter parece ter reencontrado seu ritmo e se encaminha para o encerramento do ano de maneira auspiciosa, vamos torcer para que não haja nenhum escorregão no último ato da trama que, até aqui, tem um placar amplamente positivo.
"-Acho que a teoira faz sentido, mas se virmos um corpo sendo jogado de uma ponte, o perfil não importa.
-... Importa pra mim."
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