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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Inevitável


Daqui algum tempo eu vou escrever. Eu sei que vou. É inevitável. A pergunta é "o quê?", O quê eu vou escrever naquele e-mail?
"Oi, tudo bem? Espero que tu não tenha te casado...". Alguma coisa assim? Talvez eu abra com um soneto... Tudo escrito, não em vermelho, como de hábito, mas com verde, que é a cor da esperança... Na esperança de que ainda haja tempo de reparar o que provavelmente foi o maior erro da minha vida? Seria piegas e apelativo, muito certamente. Mas me parece que, pra pessoas apaixonadas... Pra pessoas que amam, o piegas, o apelativo, ao menos em determinados sentidos, é perdoável... Até necessário.
Eu provavelmente vou dizer a verdade... Talvez de maneira florida... Mas a verdade. Vou dizer, em outras palavras, que meu rancor é mais difícil de suplantar que aquele que tinha embaixo do palácio de Jabba... Que somou-se a isso a minha certeza inabalável de que tu teria pretendentes melhores. Que não fossem desagradar a tua família, que não te fizessem passar por apupos, apuros e nem perrengues. Que tivessem mais a oferecer do que retórica razoável, má aparência, passeios a pé, cinema na sexta e McDonald's durante a semana.
Vou dizer o quanto quis te encontrar ao acaso em cada passeio que fiz com o meu cachorro perto de onde tu mora e de onde eu acho que tu trabalha. Em como estive na frente do teu prédio com ele no final da tarde do dia em que tu me mandou aquele último e-mail, antes mesmo de lê-lo. E especular como teria sido se eu tivesse te encontrado chegando em casa como torci para que acontecesse tantas vezes.
Eu vou dizer que me lembro de tudo. Que nada sai da minha cabeça. Os maus momentos pelos quais te fiz passar, claro, mas também os bons. Que passamos juntos. As madrugadas em claro, que varamos conversando cada um na sua casa, cada um na sua cidade. A primeira vez que te vi, de salto altíssimo naquela calçada da Duque de Caxias. A primeira vez que andamos juntos, conversando. O primeiro beijo. A primeira vez que andamos de mãos dadas. A primeira vez que sentamos lado a lado no cinema. A primeira vez que dormimos abraçados, que também foi a primeira vez que eu quase morri de hipotermia... A primeira vez que jantamos juntos e, depois de beber todo o teu refrigerante, tu bebeu o meu. A primeira vez em que tu sussurrou meu nome em um gemido. A primeira vez em que eu entrei na tua casa, e que também foi a primeira vez em que eu quebrei uma lâmpada tua. A primeira vez em que eu te encontrei ao acaso de propósito no shopping, pois precisava de um abraço. A primeira vez em que eu soube que te amava, e que tu era o amor da minha vida, que foi a primeira vez em que um de nós pensou em desistir do outro...
Provavelmente será sobre isso que eu vou escrever no e-mail... De um jeito mais transado... Mais maneiro. Usando figuras de linguagem mais estilosas... Melhor trabalhadas... Vou dizer que lamento pelo tempo que perdemos. Que espero ser capaz de recuperá-lo contigo. Que tenho a esperança, talvez infundada, vá lá, de que tu ainda tenha um espaço no teu coração onde possa me receber... E vou terminar com um clichê... Alguma coisa pegajosa... Boba, até... Mas verdadeira. Algo como "Se tu pular, eu pulo.".
E todos os dias, mesmo sabendo a resposta, eu vou me perguntar se devo enviar esse e-mail, ou não...

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