Pesquisar este blog

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Resenha Cinema: O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio


Imagine uma vaca moribunda.
Um pobre e exausto animal minguado e infeliz que olha ao redor com olhos vazios apenas esperando pelo doce alívio da morte.
Agora imagine que o dono da vaca, alheio ao fato de que ela já deu todo o leite que tinha para dar, continua ordenhando a pobre criatura alheio ao sofrimento que causa ao miserável animal e à ojeriza que cria em todos os que veem esse espetáculo melancólico de ganância e falta de noção.
Isso é a série O Exterminador do Futuro, que nesse ano de 2019 chegou à sua sétima encarnação, contando com seis filmes e uma série de TV e contabilizando quatro filmes e uma série de TV além do que deveríamos ter visto.
Alheios aos fracassos de A Rebelião das Máquinas, A Salvação e Gênesis, a Paramount e a Fox seguem ordenhando essa vaca moribunda e Destino Sombrio é, com alguma sorte, a última gota de leite que a produtora vai extrair da franquia dado seu retumbante fracasso de bilheteria e crítica. Fracasso surgido à revelia do fato de terem feito um tremendo malabarismo com a série, trazendo Linda Hamilton e James Cameron de volta para a franquia para fazer uma sequência direta a O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, último filme relevante da série, e não de Genesis, último filme de fato (e bomba que só teve de positivo a presença da gracinha Emilia Clarke).
No longa, Sarah e John Connor tentam levar uma vida normal após terem impedido a ascensão da Skynet e o dia do julgamento. Vivendo tranquilamente na praia, os dois são atacados por um modelo de exterminador T-800 que mata John e foge.
Passam-se quase trinta anos, e na Cidade do México, uma bolha de plasma e ozônio se forma no meio da rodovia fazendo surgir uma mulher nua (a gatinha Mackenzie Davis, caracterizada pra parecer um moleque feio).
Ela cai de uma grande altura e é amparada por um casal de jovens, mas assim que a polícia chega, ela arrebenta todos os tiras de pancada e rouba as roupas do guri que a ajudou, fugindo em seguida.
Em outra parte da cidade, outra bolha de plasma e ozônio faz surgir outro viajante do tempo (Gabriel Luna) que faz mais ou menos a mesma coisa...
Enquanto isso, a jovem Dani Ramos (Natalia Reyes) leva uma vida simples com o pai e o irmão. Ela trabalha numa fábrica de automóveis e está fula porque seu irmão acaba de ser substituído por um robô na linha de montagem. Ela está tendo uma conversa com seu chefe deixando claro que não gosta dos rumos que as coisas estão tomando quando seu pai aparece na fábrica querendo falar com ela.
Surpresa, porém, não é seu pai, mas o segundo viajante do tempo. Um exterminador modelo REV-9, um organismo cibernético composto por um endo-esqueleto coberto com metal líquido (igual à T-X), e cuja missão é matar Dani.
O que o robô assassino não esperava é que a primeira viajante do tempo, Grace, tivesse sido enviada do futuro para protegê-la! Os dois saem na porrada, e Grace consegue escapar com Dani, porém o REV-9 está no encalço das duas e nada parece capaz de impedir o avanço do exterminador, até que surge Sarah Connor!
Sarah salva Grace e Dani, e após alguns desencontros, elas acabam se entendendo. Dani será fundamental para a resistência humana no futuro, pois em 1992 Sarah e John não impediram o Dia do Julgamento, apenas o atrasaram (igual ao que tinha acontecido em A Rebelião das Máquinas).
Sarah aceita bem que sua missão de vida e a morte de seu filho único foram totalmente em vão, e logo conta que descobriu a localização de Grace e do REV-9 graças a um misterioso informante que lhe passa as coordenadas de onde surgirão novos exterminadores.
Com a ajuda de Grace ela descobre a origem desse informante no Texas, e juntas as três partem para encontrá-lo na esperança de que ele possa ajudá-las a deter o REV-9 de uma vez por todas, alheias ao fato de que Sarah e seu misterioso informante têm um terrível passado em comum, um passado que terão que deixar para trás na esperança de dar uma chance ao futuro.
Ah, Arnold Schwarzenegger aparece no filme, também...
Eu nem tenho por onde começar a dizer o quanto o longa dirigido por Tim Miller é ruim, ou o quanto é desonesto.
O longa que alardeou com todas as fanfarras possíveis o fato de que ignoraria todos os filmes após O Julgamento Final é dolorosamente parecido com A Rebelião das Máquinas. De seu vilão sendo um robô 2 em 1 que mistura o endo-esqueleto do T800 com o metal líquido do T1000, à mudança de foco onde John não é o McGuffin da trama, passando pela inevitabilidade do apocalipse atômico detonado por uma inteligência artificial, Destino Sombrio é infinitamente mais parecido com T3 do que quer admitir.
Pra piorar, o roteiro escrito por James Cameron, Steven S. Goyer, Billy Ray, Justin Rodhes, Charles H. Eglee e Justin Friedman não acrescenta nada de bom ao longa de Jonathan Mostow, muito antes pelo contrário.
Rouba do filme seus poucos prós. Nominalmente a conexão que se formava entre John Connor e a veterinária interpretada por Claire Danes.
Em Destino Sombrio isso não existe. Os personagens se conhecem, se xingam brevemente, e então se tornam aliados. Não existe conexão verdadeira entre eles.
Os novos personagens, Dani e Grace, são muito ruins.
Grace, ao menos é um personagem com uma dinâmica interessante para seu funcionamento super-humano. Ela é uma humana aumentada que após breves arroubos de fodelança fica imprestável a menos que se entupa de remédios (o que nós leva a questionar se não teria sido mais aconselhável enviar um exterminador reprogramado ao invés de alguém que é basicamente uma viciada em drogas para a missão...), ainda assim, é uma personagem que consegue ter menos espectro emocional do que o T800 de 1992.
Dani Reyes, por sua vez, é uma típica adolescente pra qual a audiência não poderia ligar menos.
Pra piorar, o tempo todos ela é apresentada como engajada, moralmente superior e protetora, tornando a personagem uma dessas miseráveis tendências do cinema atual, a personagem feminina que, para ser mostrada como "forte", é desprovida de uma jornada de amadurecimento. Se era impossível imaginar aquele delinquente do John Connor como o líder da futura resistência humana, Dani é desde que é apresentada, uma Virgem Maria...
O REV-9 de Gabriel Luna é outro desgraçado. O robô de última geração que é uma cópia descarada da T-X de Kristanna Loken é um vilão que não ameaça. Está muito mais pra coelho da Duracell do que pro aterrorizante T-1000 de Robert Patrick.
O robô de metal líquido de 92 era um perseguidor implacável que podia ser o chão embaixo dos teus pés, ele parecia máquina mesmo em forma humana, ele era curioso com os limiares de dor que o corpo humano podia enfrentar. Era um psicopata mecânico embrulhado em uma farda.
O REV-9 pode se tornar dois robôs separados e meio que é isso.
Não bastasse todos esses problemas, Destino Sombrio ainda é sem sentido a partir de sua própria premissa.
A Snynet enviou, de um futuro que não existia, vários exterminadores para matar John Connor em 92.
Mas apenas um T1000? Os outros todos eram T800? E esses robôs todos que operam exatamente da mesma forma jamais se encontraram? Jamais se esbarraram enquanto perseguiam John e Sarah?
E Sarah passou anos matando exterminadores?
Como?
Matar um único T800 é um esforço hercúleo. Matar vários, então...
E eu tenho certeza de que, conforme o filme for sendo submetido a mais escrutínio, mais furos irão surgir, e pior ele vai parecer.
Pra não dizer que não há nada de bom no longa, eu gostei de ver Linda Hamilton voltando a dar vida à uma das personagens mais fodonas do cinema, entretanto Sarah merecia um filme melhor. E mais cedo.
Destino Sombrio, a exemplo de X-Men: Fênix Negra, foi um canto do cisne amargo para uma série da qual eu já gostei muito, mas que paulatinamente foi se aproveitando dos meus sentimentos para me prender em uma relação abusiva, lançando um filme pior do que o anterior que eu assisti porque já tinha gostado demais da franquia e tinha sempre a esperança de uma volta às origens.
Eu espero que o prejuízo causado por Destino Sombrio seja o suficiente para que deixem essa vaca finalmente morrer, e nós possamos apenas celebrar sua memória.
Um dos piores filmes do ano.
Passe longe.

"Eu voltarei."

Nenhum comentário:

Postar um comentário