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sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Resenha Série: The Witcher, Temporada 1, Episódio 5: Apetites Engarrafados


Em seus primeiros quatro episódios The Witcher fez uma discreta construção de mundo enquanto nos tornava íntimos dos protagonistas (mais de uns do que de outros) que viviam suas próprias aventuras em três linhas narrativas distintas acontecendo em momentos cronológicos separados sem jamais cruzarem caminhos. Se é verdade que isso não chegou a ferir a diversão proporcionada pela série, não é menos verdade que a primeira temporada tem apenas oito capítulos e, eventualmente, seria interessante se os protagonistas se encontrassem e a narrativa fosse unida em uma única história.
Apetites Engarrafados aparentemente começa a fazer isso ao juntar dois de nossos protagonistas (até aqui os dois mais divertidos de acompanhar) pela primeira vez.
Quando o episódio começa, encontramos Geralt pescando em um lago quando Jaskier surge. Ao contrário do que o menestrel supunha, Geralt não está tentando capturar seu próximo jantar, mas sim um gênio engarrafado no fundo do corpo d'água. A criatura mística conhecida por garantir três desejos é o objetivo do witcher que deseja usar os préstimos mágicos do gênio para curar uma recém adquirida insônia.
Mais surpreendente do que a forma escolhida por Geralt para tratar sua moléstia é o fato de que ele realmente consegue tirar um gênio engarrafado do leito do lago usando uma rede, mas, como sempre, as coisas não transcorrem como deveriam.
Após Geralt ofender os dotes musicais de Jaskier, os dois acabam brigando pela garrafa que se quebra, libertando o gênio.
A criatura incorpórea, em sua fuga, ataca o bardo que acaba necessitando de atendimento mágico de urgência, forçando Geralt a carregar seu amigo em busca de ajuda. Primeiro eles tentam o elfo Chireadan (Lucas Englander), um curandeiro local, mas o ferimento de Jaskier, eles descobrem, demanda a intervenção de um conjurador mais poderoso, como a maga recentemente presa que aguarda julgamento na mansão do prefeito.
Quando Geralt chega à casa do administrador com o pobre Jaskier a tiracolo ele encontra o prefeito em pessoa, nu em pelo, resmungando a respeito de sua senhora necessitar de suco de maçã.
compreensivelmente confusos Geralt e Jaskier vagam pela mansão até alcançarem o salão principal onde se deparam com uma elaborada orgia ocorrendo. O libidinoso ato é fruto dos poderes da tal senhora, ninguém menos que Yennefer de Vengerberg, que é muito menos prisioneira do que Chireadan supunha, e está mantendo a burguesia local sob seu comando mental para o próprio divertimento.
Eventualmente Geralt, que é imune ao encantamento em ação, explica sua situação a Yennefer, que concorda em ajudar Jaskier. Tudo, claro, não passa de um joguete da maga que deseja usar Jaskier para obter os desejos aos quais o bardo teria direito.
As coisas, porém, não são exatamente como Yennefer imaginava, e sua tentativa de sequestrar os pedidos do bardo podem não terminar bem especialmente após ela dar um jeito de tirar Geralt de seu caminho...
Enquanto isso a linha narrativa de Ciri continua bastante aborrecida. Mas finalmente pode ganhar alguma tensão já que o cavaleiro negro (Eamon Ferren) contratou um doppler (um transmorfo maléfico capaz de assumir a aparência e as memórias das pessoas) para se passar por Mousesack e ir até Brokilon "resgatar" a leoazinha de Cintra. Vamos torcer para que esse desdobramento ofereça algum dinamismo ao segmento mais aborrecido da série até aqui.
Apetites Engarrafados dá um breque na sequência de episódios um melhor que o outro que The Witcher vinha tendo até o quarto capítulo. Não que o quinto episódio seja ruim, longe disso. Mas ele não é melhor que o anterior.
Ainda há muito para se gostar aqui, porém. Uma das melhores facetas do episódio está justamente no encontro entre Geralt e Yennefer. Nós já acompanhamos esses personagens por três ou quatro horas, de modo que os conhecemos o suficiente para que vê-los interagindo seja interessante, especialmente porque os dois personagens não carregam consigo o conhecimento que nós temos. Dessa forma, quando Geralt fica nervoso e intrigado na presença da maga que se diverte organizando orgias, e quando Yennefer fica perturbada e fascinada pelo taciturno caçador de monstros imune aos seus encantamentos, é particularmente mais divertido para nós que conhecemos suas jornadas.
O restante do episódio é relativamente raso em termos de trama, e, ás vezes, pesa em demasia a mão em sua tentativa de gerar tensão sexual. Há uma grande quantidade de tons se sobrepondo ao longo de Apetites Engarrafados e eles nem sempre conversam bem entre si. Há a óbvia vontade de garantir que a audiência perceba a atração entre Geralt e Yennefer, uma tentativa de dar uma pinta de horror a um segmento do terceiro ato que não necessariamente funciona, e até mesmo as tentativas de usar Jaskier como alívio cômico (que já haviam sido tão bem sucedidas em Quatro Marcos e De Banquetes, Bastardos e Enterros) ficam esquisitas, fazendo parecer que o texto dele foi retirado de uma sitcom meia-boca e não em uma fantasia capa e espada, ainda assim, eu gostei do episódio. Possivelmente teria gostado mesmo se ele fosse ruim apenas por ter ouvido, pela primeira vez, Geralt reconhecer o cheiro de lilás e groselha de Yennefer porque eu sei como é se apaixonar pelo cheiro de uma morena, mas vamos torcer para que o embalo que a série havia demonstrado do primeiro ao quarto episódios seja retomado a partir do próximo capítulo.

"-Eu ouvi contos a respeito de sua espécia, witcher. Você é um mutante. Criado por mágica. Perambulando pelo Continente. Caçando monstros... Por um preço. Eu esperava que você tivesse presas, ou chifres ou algo assim.
-Eu mandei lixá-los."

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