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segunda-feira, 9 de dezembro de 2019
Resenha Série: Watchmen, Temporada 1, episódio 8: A God Walks Into Abar
Eu francamente não posso afirmar que o penúltimo capítulo de Watchmen foi o melhor episódio da série até aqui. O quarto capítulo, She Was Killed By Space Junk foi ótimo e Little Fear of Lightning, também foi excepcional, enquanto é inegável que o peso das revelações torna This Extraordinary Being um candidato a grande episódio da série, então, deixe-me afirmar que A God Walks Into Abar é meu episódio favorito de Watchmen.
E é possível que não seja apenas pelo roteiro que acerta na pinta ao brincar com as habilidades únicas do personagem central desse capítulo, tampouco pela ao mesmo tempo singela e complexa história de amor que ele narra, ou mesmo por ele finalmente dar algumas explicações pelas quais eu estava esperando já há algum tempo sem necessariamente apelar para a exposição descarada do capítulo anterior, mas talvez porque tivemos, finalmente, dois personagens originais de Watchmen dividindo a mesma sala e eu seja um purista.
Após o bombástico final do capítulo passado, quando foi revelado que Cal Abar é, na verdade, o o super-herói quase divino capaz de vencer guerras inteiras sozinho disfarçado em forma humana para levar uma vida comum ao lado de Angela, o oitavo episódio de Watchmen começa com o Doutor Manhattan em prótons, elétrons e nêutrons azuis entrando em um bar em Saigon no feriado do dia da vitória norte-americana de 2009. Ele veste uma máscara de Dr. Manhattan sobre o rosto e senta junto com Angela, então uma policial de uniforme da polícia local, que bebe sozinha lembrando a morte de seus pais.
Ao longo da próxima hora, a audiência acompanha toda a história de como Jon Osterman e Angela se apaixonaram, como surgiu a ideia de disfarçá-lo como um homem comum, as idas e vindas do relacionamento de dez anos dos dois, além de revelações sobre o idílio/prisão de Adrian Veidt, e como Will Reeves chegou a Judd Crawford tantos anos após sua aposentadoria enquanto Angela tenta convencer Cal/Jon a se preparar para o ataque da Sétima Kavalaria, que planeja sequestrá-lo e destruí-lo, passando seus poderes para o senador Keene.
O grande barato de A God Walks Into a Bar é a maneira como o roteiro de Damon Lindelof e Jeff Jensen brinca com a maneira única como o Doutor Manhattan vivencia o tempo. Para Jon não existe antes e nem depois. Ele está preso em um constante agora em que passado, presente e futuro ocorrem simultaneamente para ele, então, ao mesmo tempo ele é o pequeno Jon Osterman fugindo da Alemanha nazista com seu pai relojoeiro rumo à América, ele é o ente divino capaz de criar vida à imagem e semelhança dos dois gentis nobres britânicos que lhe explicaram a respeito de amor quando ele, inadvertidamente os viu fazendo sexo. Ele é ao mesmo tempo o Dr. Manhattan conversando com Angela no bar em Saigon e entrando nu em Karnak para conversar com Ozymandias após brigar com sua amada. Ele está conversando com Will Reeves em Nova York dez anos atrás enquanto anda sobre a água na piscina da casa onde mora com a detetive Abar em Tulsa hoje...
Usar a singela conversa do casal no bar em Saigon para emoldurar o episódio oferece ao mesmo tempo a doçura de uma história de amor nas sequências no bar, quando Regina King exercita uma leveza que ainda não tínhamos visto na série, e a gravidade de um final de temporada que se avizinha sob a efígie da tragédia prometida por Jon quando os dois se conheceram dez anos antes.
É admirável que Lindelof e Jensen tenham conseguido inserir o Dr. Manhattan na história sem escantear totalmente a protagonista da série. Angela consegue se manter relevante mesmo que divida a maior parte de suas cenas com um dos personagens fundamentais do quadrinho (que é ligeiramente remexido pelo script, mas nada de grave ou ofensivo), e aqui, palmas para Yahya Abdul-Mateen II, que consegue capturar a essência do Dr. Manhattan, aquele misto de enfaro e curiosidade, soberba e ingenuidade quase à perfeição.
Falando em perfeição, Jeremy Irons tem sido soberbo ao longo de toda a série, mesmo quando o roteiro que lhe é dado não é, mas quando vemos Adrian Veidt desiludido em 2009, quando a sua utopia claudicava, e na primeira cena pós-créditos da série, em mais uma inserção de seu período de exílio, quando ele finalmente explica porque, para ele, o paraíso não é o suficiente, é quase Ozymandias à perfeição...
Enfim, eu preciso admitir que, ainda que minha relação com Watchmen seja conflituosa, e que eu não confie em Damon Lindelof para amarrar todas as pontas que permanecem soltas na série no episódio que ainda resta, finalmente o programa alcançou um ponto onde ele parece menos com uma história qualquer ambientada na mundo dos quadrinhos, e mais com uma sequência daqueles quadrinhos.
Na semana que vem descobriremos se é uma história boa, ou não.
"-Derretimento de reator... Eu dei todas as oportunidades a eles. Vento solar, transmissão de energia wireless. Por que, porque eles continuam fazendo essas malditas bombas?
-Isso pode parecer paradoxal, mas as bombas os fazem sentir seguros."
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