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quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Resenha Série: The Witcher, Temporada 1, Episódio 2: Quatro Marcos


Após um começo sólido e a introdução de dois protagonistas da série em O Início do Fim, o segundo capítulo de The Witcher deu sequência aos eventos do episódio anterior, se aprofundou na mitologia da série e trouxe à baila a última peça do tripé de personagens centrais da trama.
Após seu último trabalho ter acabado mal, Geralt voltou à estrada em busca de serviço e acabou cruzando com um bardo (Joey Batey) sendo escorraçado em uma taverna. Quando o witcher é contratado para dar cabo de um demônio que tem roubado sementes dos fazendeiros locais, o bardo chamado Jaskier (nos jogos ele se chama Dandelion) resolve acompanhá-lo para obter inspiração para novas baladas.
Não tarda para que a dupla se encontre diante de um sílvano e de um grupo de elfos liderados pelo rei do belo povo em pessoa, Filavandrel (Tom Canton).
É basicamente uma pequena aventura fechada em si mesma e estrelada por Geralt e seu irritante novo amigo Jaskier, um personagem que realmente agrega cor e humor ao protagonista, excessivamente soturno e mal-humorado. Mais do que isso, essa história serve também para contextualizar um pouco da situação dos elfos no Continente, aumentando o escopo do universo da série e casando o protagonista com um completo oposto.
O negócio é que a linha narrativa de Geralt é a secundária em Quatro Marcos.
A história principal desse episódio pertence à Yennefer (Anya Chalotra), uma jovem corcunda que é humilhada e agredida por seu pai, um criador de porcos que a obriga a trabalhar no chiqueiro enquanto é alvo de chacota dos demais adolescentes até que, em um momento particularmente desesperador, algo desperta em Yennefer, e ela se teleporta até uma caverna onde conversa com um rapaz chamado Istredd (Royce Pierreson), que a ajuda a voltar para casa apenas para se tornar alvo da feiticeira chamada Tissaia de Vries (MyAnna Buring).
Após sentir o poder cru de Yennefer, Tissaia surge na porta da fazenda e compra a jovem de seu pai pelos quatro marcos do título.
Nós passamos, então, a acompanhar Yennefer conforme ela tenta se ajustar à vida na academia mágica de Aretuza, de sua tentativa de suicídio ao chegar, até a maneira como ela lentamente se torna mais curiosa a respeito dos limites de suas habilidades mágicas inatas ao lado de pessoas com quem, pela primeira vez, é capaz de se conectar.
À duras penas Yennefer tenta levitar pedras, ler mentes e apanhar relâmpagos em garrafas enquanto encontra no jovem Istredd uma companhia masculina com a qual sempre sonhou, ainda que, eventualmente, nós descubramos que a verdadeira natureza do relacionamento dos dois não é exatamente o que parecia...
Conforme tenta transformar o caos em mágica, Yennefer vai descobrindo mais a respeito de si própria, inclusive até onde está disposta a chegar para realizar seus sonhos.
Há, ainda, tempo para acompanharmos Ciri conforme ela segue fugindo de Cintra em busca de Geralt. Se essa linha narrativa é a que menos movimenta a história ou mesmo sua personagem, por outro lado ela também oferece à audiência um pouco mais de contexto para as complexidades do mundo de The Witcher e o sangue derramado para que ele chegasse onde está.
Aparentemente os súditos de Calanthe não eram lá muito afeitos à soberana, e não estão particularmente dispostos a lamentar sua morte. Pode parecer um detalhe sem importância, mas aos poucos vai dando estofo ao Continente e mostrando que o mundo da série é bastante cinzento no que tange a bem e mal.
Em um segundo episódio muito mais expositivo do que seu antecessor The Witcher experimentou uma grande variação de tom. As três linhas narrativas paralelas têm atmosferas totalmente distintas, enquanto Yennefer estava quase que vivendo uma história de origem de super-herói, Geralt estava em um buddy cop medieval com Jaskier e Ciri tentando ser um pouco mais do que o McGuffin da série. Se novamente Henry Cavill conseguiu transmitir a contento muito da personalidade do protagonista tanto na maneira como ele trata Jaskier quanto com seu conselho aos elfos para que fossem embora e recomeçassem em outro lugar (a mesma coisa que ele disse Renfri na premiére, deixando claro que Geralt é um nômade incapaz de entender o apego das pessoas aos seus lares), Quatro Marcos pertence a Annya Chalotra.
A atriz consegue manter sua atuação relevante mesmo sob toda a pesada maquiagem utilizada para criar o visual de sua Yennefer com seu rosto e corpo deformados, peruca e lentes de contato. Uma intérprete menor permitiria que a caracterização fizesse o trabalho, mas Chalotra está sempre atuando, e bem, em cada cena onde dá o ar da graça. O que faltou em termos de movimento de trama ao episódio, sobrou em desenvolvimento de personagens.

"Ás vezes a melhor coisa que uma flor pode fazer por nós é morrer."

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