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quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Resenha Série: The Witcher, Temporada 1, Episódio 1: O Início do Fim


Não é difícil entender porque tantas redes de TV e serviços de streaming estão interessadíssimas em séries de fantasia.
Game of Thrones foi possivelmente o maior fenômeno televisivo dos últimos anos, e a despeito de seu final inexplicavelmente apressado e amplamente insatisfatório, gerou tanto dinheiro para a HBO que a empresa já havia encomendado quatro spin-offs antes mesmo da exibição da temporada final.
Esse sucesso todo não passou despercebido ao mundo do entretenimento. Um sem-número de obras de fantasia estão sendo disputadas a tapa por produtores, e a Amazon de Jeff Bezos pagou uma soma pornográfica de dinheiro pela possibilidade de levar o mundo d'O Senhor dos Anéis à telinha de seu Prime Video.
A Netflix não ficou de fora, mas foi atrás de uma outra fonte de monstros, magos e cavaleiros, a série de livros do escritor polonês Andrzej Sapkowski que rendera adaptações européias que quase ninguém assistiu e um dos melhores games da atual geração de consoles no mundo: The Witcher.
Na última sexta-feira, dia 20 de dezembro, a Netflix disponibilizou a primeira temporada da série em seu serviço de streaming e eu precisei de apenas dois dias para devorá-la.
O primeiro episódio, esse O Início do Fim, abre com Geralt de Rívia (Henry Cavill) em um pântano enfrentando um monstro chamado kikimora. Após uma feroz batalha contra a criatura, Geralt chega à cidade de Blaviken para pegar sua recompensa.
Geralt é um witcher (erroneamente traduzido como "bruxo"), membro de uma guilda de caçadores de monstros que são recolhidos ainda na infância e passam por um árduo treinamento e por um extenso rol de mutações alquímicas para se tornarem capazes de enfrentar as mais medonhas criaturas que assolam o Continente.
Os Witcher são mais fortes, rápidos, resistentes e longevos do que pessoas comuns, são capazes de usar elixires que lhes dão habilidades ampliadas por um curto espaço de tempo, e usar magias simples chamadas de Sinais. A despeito de propiciarem um serviço importante (o continente é assolado por monstros), os Witcher são mal vistos pela população em geral, e constantemente humilhados ou discriminados por sua natureza mutante.
Isso fica claro pela maneira como Geralt é tratado em Blaviken onde pouquíssimas pessoas sequer concordam em lhe dirigir a palavra.
Entre as poucas pessoas que o fazem está Estregobor (Lars Mikkelsen), um mago que deseja contratar Geralt para matar uma mulher que, segundo ele, foi acometida por uma maldição e está fadada a destruir o mundo.
A despeito da insistência de Estregobor, porém, Geral recusa o serviço e resolve seguir seu caminho que, eventualmente, se cruza com o de Renfri (Emma Appleton), uma jovem fugitiva que, casualmente, é a mulher que o mago queria morta. A vida de Renfri na mira de Estregobor não foi fácil. Outrora uma princesa ela foi roubada e violentada por homens a mando do mago, e hoje, deseja se vingar dele e, para isso, ela pede a ajuda de Geralt, que se vê em uma encruzilhada moral na qual não há bom caminho.
Na outra linha narrativa da série, conhecemos o reino de Cintra e sua comandante, a rainha Calanthe (Jodhi May), seu marido Eist (Björn Hlynur Haraldsson) e sua neta Cirilla (Freya Allan).
Cirilla está sendo preparada por sua avó para, um dia, assumir o trono de Cintra, e para isso ela é confrontada com todos os pormenores mais modorrentos da vida na corte, como dançar com jovens nobres empolados. O aborrecimento de Ciri termina de maneira abrupta quando notícias da invasão de um reino inimigo chamado Nilfgaard chegam ao palácio e Calanthe e Eist saem para confrontar os inimigos, mas as coisas não saem como planejado. Eventualmente Calanthe retorna ao palácio e ordena a seu mago Mousesasck (Adam Levy) que prepare Ciri para partir, e que a jovem encontre Geralt de Rívia...
O começo de The Witcher é sólido.
O episódio inicial escapa de ser excessivamente expositivo confiando em seus personagens e na atmosfera para prender a audiência. Não há sessões excessivas de explicações, não há cartões mostrando em que ano estamos ou que lugar é esse que estamos vendo. O roteiro de Lauren Schmidt Hissrich foca em Geralt na esperança de que isso seja o suficiente para manter a audiência com a série, e ainda que haja um ou outro momento para nos deixar algo perdidos, a verdade é que a decisão de centrar fogo no herói-título sem tirar o olho do espectro mais amplo, funciona muito bem.
Reduzir o primeiro episódio ao essencial é muito esperto porque nos dá um aperitivo. Nós vemos monstros, rainhas, cavaleiros, magos e (espetaculares) lutas de espada, e ao final do capítulo todos têm um entendimento sólido sobre quem é Geralt, quais suas motivações e qual deve ser sua jornada ao longo da temporada (quiçá da série...). Ele está destinado a encontrar Cirilla o ancora à linha narrativa secundária e mostra qual será sua jornada em termos de narrativa e desenvolvimento pessoal.
Sem ser necessariamente um arrasa-quarteirão, O Início do Fim é extremamente competente em sua proposta, e um ótimo primeiro passo rumo ao mundo de Geralt de Rívia.

"-Se eu devo escolher entre um mal ou outro, então eu prefiro não escolher..."

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