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terça-feira, 19 de setembro de 2017

Resenha DVD: Alien: Covenant


A série Alien parece uma dessas coisas fadadas a jamais ter descanso, não importa o que aconteça.
A última tentativa de revitalização da franquia havia sido Prometheus, de 2012, um longa que, por ter a grife de Ridley Scott, diretor do primeiro longa da série em 1979, fora esperado ansiosamente por muitos fãs da franquia ao acenar com a solução do mistério do jóquei espacial.
Acabou que as promessas não foram cumpridas. Prometheus, longe de ser um filme horrível, era cheio de falhas e não agradou a todo o público, ganhando um lugar naquela estante de filmes que a gente recomenda por não querer fazer a cabeça dos outros, do tipo "Ah, olha lá e vê o que tu acha...".
Prometheus era uma sessão razoável de DVD, mas não valia um ingresso de cinema, e foi por isso, principalmente, que eu acabei não indo ver Alien: Covenant.
Isso e a minha insatisfação com a obsessão por cópias dubladas do público atual, e seus celulares e necessidade perene de conversar durante os filmes.
Acho que estou me tornando um velho chato de maneira precoce, mas enfim...
Eu não fui assistir Alien: Covenant no cinema, mas abri um sorriso ao ver o filme na estante da locadora no sábado, e levei ele pra casa para conferir a nova aventura dos xenomorfos mais temidos do universo.
O longa, novamente dirigido por Ridley Scott, se passa dez anos após os eventos de Prometheus.
A nave estelar Covenant está no trecho final de sua viagem rumo ao planeta Origae-6, levando consigo mais de dois mil colonos em sono criogênico para uma nova chance de habitar um planeta nos confins do cosmos.
A nave vaga pelo espaço sideral controlada pelo computador de bordo Mãe e pelo androide Walter (Michael Fassbender), quando seu sistema de recarga de energia solar é atingido pela erupção de uma estrela próxima, causando uma avaria no sistema de animação suspensa da nave e forçando o despertar de todos os membros da tripulação.
A falha catastrófica do sistema custa a vida do capitão Jacob Bronson (uma ponta de James Franco), que morre em seu casulo de suporte vital, deixando o comando a cargo do segundo-oficial Christopher Orem (Billy Crudup).
Ao consertar o sistema de carregamento energético, a tripulação da Covenant recebe um sinal vindo de um planeta contíguo, e, estudando a origem da mensagem, encontram um planeta não-cartografado na faixa habitável de um sistema solar bastante próximo.
Tendo sofrido perdas e avarias, e sob o comando de um líder claudicante, a tripulação se pergunta se não seria uma ideia interessante averiguar o tal planeta, que conta com oceanos líquidos, temperaturas suportáveis e atmosfera livre de toxicidades, em suma, um habitat perfeito para humanos, requerendo quase nada de terraformação, ao invés de arriscar um retorno aos casulos de hibernação e uma nova chance de morrer dormindo após um acidente.
A despeito dos votos em contrário da viúva de Jacob, Daniels (Katherine Waterston), o restante da equipe decide dar um salto de fé e se arriscar no planeta desconhecido.
Ao chegarem ao novo mundo, um terreno repleto de árvores, grama e água que aparentemente já viu colonização humana antes, a equipe de terra não tarda a se ver presa em um planeta cujas tempestades violentas podem durar meses, e onde a própria vegetação parece hostil, liberando esporos que após um breve período de incubação, geram criaturas que logo estão tentando se alimentar dos astronautas.
Resgatados por David (também Fassbender), único remanescente da Prometheus, desaparecida mais de uma década antes, os colonos são levados a uma imensa ruína repleta de cadáveres (da raça dos "Engenheiros" do filme anterior), e lá, encontram abrigo.
Entretanto, quanto mais tempo passam sob a tutela do androide, mais fica claro que a preocupação de David não é com o bem-estar dos terráqueos, e que, em seu tempo livre, ele trabalhou ardorosamente em coisas que podem custar a vida de toda a tripulação da Covenant.
Alien é uma série que, à essa altura, já tem uma estrutura narrativa que, com pequenas alterações, se repete a cada filme.
É uma fórmula igual a dos filmes de James Bond ou da Marvel.
A audiência sabe que as pessoas sozinhas em locais escuros serão comidas. Que quem coloca a cara no ovo que acaba de se abrir terá uma aranha/escorpião/polvo enrolada na própria cara e um tempo depois terá seu peito explodido por um pequeno xenomorfo. Que a mulher de cabelos curtos vai sobreviver e que o final verdadeiro de um Alien nunca é o primeiro final que vemos na tela.
A estrutura é sempre a mesma e o grande barato é ver como ela será trabalhada pelo roteirista e pelo diretor do filme para tentar refrescar o que a audiência quer (e sabe que vai) ver.
O roteiro de Covenant, de Jack Paglen, Michael Green, John Logan e Dante Harper não chega a refrescar muita coisa no tocante à "fórmula Alien". A grande função do filme, afinal de contas, parece ser preencher a lacuna entre Prometheus e Alien: O Oitavo Passageiro de maneira satisfatória, a grande sacada, aqui, é que os roteiristas colocam o holofote, não sobre os humanos, mas sobre os robôs.
Os androides de Alien sempre foram alguns dos meus personagens favoritos na série. Desde a época dos Bishop de Lance Henriksen, com seu sangue branco ralo eu curtia os "sintéticos", e David havia dado um passo adiante ao ser um odioso vilão em Prometheus com sua amoralidade psicopata que, em Covenant, é elevada à terceira potência desde o flashback que o mostra ao lado de Peter Weyland (Guy Pearce) no prólogo do longa.
David é uma criatura lutando para se tornar o criador por causa de problemas com o pai. Ele despreza a humanidade de Weyland, mas admira-o por ter sido capaz de criar algo melhor do que ele próprio, e agora tenta superar o pai ao fazer o mesmo.
Suas cenas, contracenando consigo mesmo enquanto expõe seus delírios divinos a Walter são muito divertidas, e Michael Fassbender parece abocanhar com gosto a oportunidade de seduzir a si mesmo.
A sequência em que David ensina Walter a tocar flauta é ótima, carregada de homoerotismo e sarcasmo. É quase brega, e sabe disso, oferecendo sequências de humor seco a um filme que, sem isso, cairia na mesmice.
Outra bola dentro da produção é a ambientação.
A necrópole onde David abriga/aprisiona a tripulação de terra da Covenant é uma das melhores ambientações de horror do cinema recente, pegando parelho com a mansão de A Colina Escarlate, de Guillermo Del Toro.
Os corredores escavados a laser em rochas vulcânicas negras são o tipo de espaço onde, de qualquer sombra, um xenomorfo pode saltar. E, obviamente, a audiência está sempre à espera do ataque de um dos alienígenas cabeçudos não importa onde.
Essa ambientação de pesadelo serve para justificar a inaceitável burrice dos personagens, que fazem todas aquelas coisas que cada um de nós sabe que não se faz. Andar sozinho por corredores sombrios, se separar dos colegas para ter privacidade, olhar pra dentro do ovo... Em uma situação normal, ninguém jamais faria nenhuma dessas coisas, mas os filmes da série não poderiam estar mais distantes de uma situação normal, então, na realidade assombrada do longa, tudo se justifica.
Apesar de seus grandes acertos, Covenant também tem seus erros.
Praticamente toda a tripulação humana da Covenant (que conta com nomes como Demián Bichir e Danny McBryde) é bucha-de-canhão. Nós sabemos que cada um daqueles humanos é só comida de Alien e não nos importamos com isso.
Outro problema é que após acenar com uma alegoria religiosa para o filme em seu início, algo que faria sentido nas pegadas de Prometheus, o longa deixa isso de lado lá pela metade, preferindo centrar fogo na atmosfera de tensão e era isso.
Mesmo assim, Alien: Covenant se segura.
Ridley Scott domina a construção de filmes de ficção científica como poucos em seu ofício, se o roteiro se segurar, o cineasta inglês consegue abordá-lo de maneira visceral como poucos são capazes (que o diga as sequências na grama e a da fuga do planeta). E é, em grande parte, graças a ele e a Fassbender, que Alien: Covenant seja possivelmente o terceiro melhor Alien da franquia, atrás apenas dos dois primeiros.
Para fãs de ficção científica, é altamente recomendado.
E para fãs de terror, também.
Vale demais a locação.

"-Ninguém compreende a solitária perfeição de meus sonhos."

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