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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Resenha Série: Demolidor, temporada 3, episódio 9: Revelations


Atenção! Muitos spoilers abaixo!
Logo após Matt Murdock ter o tapete puxado debaixo de seus pés pela revelação de que a irmã Maggie é sua mãe, ele vai ao encontro do Padre Lantom para confrontá-lo sobre qual seria a razão para pessoas em quem ele confiou durante sua vida inteira, terem lhe sacaneado de maneira tão definitiva a respeito de sua família.
Esse é um raro caso onde a revolta e a mágoa do herói são perfeitamente compreensíveis. Matt ficou sozinho no mundo após a morte de Jack Murdock, e cresceu cheio de raiva e dor. Se ele soubesse que sua mãe estava viva, e a meros nove quarteirões de distância, talvez as coisas pudessem ter sido muito diferentes para ele.
Claro, nós descobrimos, em um flashback, como se deu a coisa toda. Como uma jovem Maggie (Isabella Pisacane) conheceu Jack Murdock (John Patrick Hayden) durante uma luta de boxe antes de fazer seus votos e os dois acabaram se apaixonando, ficando juntos e tendo um filho.
Claro, nós ficamos sabendo que Maggie sofreu uma severa depressão pós-parto, e que sua vida prévia como noviça a fez racionalizar a depressão como uma traição a Deus sendo cobrada pelo todo-poderoso, mas nada disso não altera os fatos de que tanto ela quanto o padre Lantom quanto Jack desgraçaram uma boa parte da vida de Matt com suas promessas de segredo.
Ao menos Maggie reconhece que foi uma tremenda covarde na situação toda, e entende a justificada revolta de Matt.
Nosso herói, no entanto, não é o único que tem revelações.
O agente Nadeem, após ter sido baleado por Poindexter e acreditado que Fisk está manipulando o FBI procura seus superiores para denunciar o esquema apenas para descobrir que a influência do mafioso vai muito, muito além do que ele poderia imaginar.
Conforme Nadeem entra na casa embrulhada em plástico da chefe Hattley (Kate Udall) nós podíamos imaginar que alguma coisa muito ruim estava pra acontecer. Basicamente o agente especial descobre que há um grande contingente do Bureau no bolso de Wilson Fisk, e que as maquinações do vilão vão muito além de sua genuína preocupação com Vanessa ou com a má qualidade do omelete servido na penitenciária. Wilson Fisk vem maquinando sua volta ao topo da cadeia alimentar há muito, muito tempo, e seu alcance é quase infinito.
Esse é Wilson Fisk em sua forma mais perigosa e poderosa. É Wilson Fisk sendo, finalmente, chamado de Rei do Crime porque quer ser chamado de Rei do Crime. Porque seu poder e influência são quase monárquicos. Ele vende um tipo de proteção que ninguém mais pode oferecer, pois é o mafioso que tem os agentes do FBI como capangas e mata outros líderes mafiosos apenas para provar seu ponto.
A influência e a capacidade de planejamento de Fisk são tão terríveis que ele vem paulatinamente destruindo a vida de Nadeem há mais de um ano. Ele foi o responsável pela perda do plano de saúde da cunhada do agente, o fato que desencadeou seus problemas financeiros e o fez se agarrar à chance de ser o responsável pelo acordo com Fisk feito um cachorro faminto.
Quando descobrimos o tipo de posição em que o agente federal foi colocado por Fisk, fica mais fácil simpatizar com ele e nos importarmos com seu destino. Especialmente quando descobrimos o que acontece com quem não colabora. A agente Hattley, por exemplo, tinha um filho e uma filha, até que Fisk matou o menino.
E não são apenas agentes do FBI e mafiosos que têm o rabo preso com o vilão. O açougue dos Nelson também fez operações de contabilidade criativa com o banco Red Lion. E agora, Foggy não pode agir abertamente contra o bandido sem correr o risco de ter seus pais e irmão presos por fraude.
Esqueça Lex Luthor. Wilson Fisk é a Maior Mente Criminosa de nosso tempo.
E, não nos esqueçamos que a última pessoa a realmente emputecer o Rei do Crime foi Karen Page, que sabiamente já havia começado a correr por sua vida planejando deixar Nova York o quanto antes, mas acabou sendo localizada por Fisk quando parou no orfanato da igreja para se despedir de Matt.
Que tal esse cliffhanger antes do episódio 10?
Novamente é necessário reconhecer a consistência de qualidade entre os episódios dessa temporada de Demolidor. É louvável como os roteiristas conseguem equilibrar a história de modo a simplesmente não haver nenhum filler na temporada, nenhum inchaço, nada que nós olhemos e possamos dizer "isso era desnecessário". Mesmo coisas que pareciam ser assim, como a conversa de Hattley a respeito da filha, ou os problemas financeiros de Nadeem ou as reminiscências de Karen a respeito da morte de Wesley, tudo estava amarrado para o andamento da história, e isso é realmente impressionante, especialmente após termos visto outras séries praticamente implorando por menos episódios por temporada, casos de Luke Cage, Jessica Jones e Punho de Ferro (que melhorou exponencialmente ao cortar três capítulos de seu segundo ano). Outra coisa digna de louvas é o carinho dos roteiristas com seus personagens. Não há nenhum personagem mal-escrito ou subaproveitado em Demolidor , que pode se dar ao luxo de passar episódios inteiros sem mostrar o principal antagonista ou o protagonista, sem fazer a audiência enjoar do que está vendo, algo que nem mesmo Justiceiro, a segunda melhor coisa que a Netflix fez em sua parceria com a Marvel, foi capaz de fazer.
Eu mantenho que, até o momento, a terceira temporada de Demolidor não é a minha favorita, mas não se pode negar a violenta qualidade da série em seu terceiro ano. Faltando quatro episódios para o final da temporada, fica a torcida para que esse passo seja mantido até o final.

"Só nos referimos a ele pelo codinome
-Que codinome?.
-Rei do Crime."

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Resenha Série: Demolidor, temporada 3, episódio 8: Upstairs/Downstairs


Atenção! Spoilers abaixo!
Essa terceira temporada de Demolidor pode não ser a mais empolgante do diabo da guarda de Hell's Kitchen, mas certamente é a melhor amarrada e que tomou as melhores decisões em termos de roteiro. Testemunho disso é a consistência de qualidade dos episódios em todos os aspectos, claro, mas especificamente na forma como os eventuais fillers são evitados e a história está sempre se movimentando e os personagens se desenvolvendo.
Upstairs/Downstairs é mais um desses episódios.
Uma série menos competente teria abraçado a ideia de que, após os eventos de The Devil You Know, Poindexter simplesmente iria abraçar seu lado sombrio, abrir mão de sua carreira no FBI e viver seus dias como o o matador psicopata de Fisk com sombra, água fresca e carta branca para matar em nome de seu patrão.
Mas não. Isso não seria honesto para com o que já foi mostrado do personagem. Poindexter não é uma pessoa normal, mas ele sente a necessidade de se ajustar, fez terapia e segue as recomendações de sua médica mesmo após sua morte. Ele quer uma estrela guia para orientar sua bússola moral e tem noções de certo e errado suficientes para saber que Fisk não é a melhor escolha.
Por isso ele volta a procurar Julie.
Quando o mundo desabou e ele sabe que enfiou o pé na jaca, Dex procura a ajuda da pessoa mais caridosa e humana que ele conhece, e isso humaniza Poindexter de uma maneira quase desconfortável quando pensamos em um assassino psicopata, mas ei, ponto para a série pela coragem de oferecer camadas ao personagem.
O problema para Poindexter é que ele fez um pacto com o diabo, e agora que Fisk descobriu o quanto Poindexter pode ser útil, ele não está disposto a abrir mão de quem pode se tornar seu peão mais valioso.
A despeito de quanta suspensão de descrença seja exigida pra acreditar que Fisk tem acesso a todo ao feed de todas as câmeras de Nova York, a performance de D'Onofrio é tão sensacional que ele nos vende tudo o que o personagem faz na série.
Enquanto isso, a aliança entre Matt e Nadeem se fortalece mesmo com os dois tendo claras reservas com relação um ao outro. Matt descobre o nome de seu dublê assassino e combina com Nadeem uma busca ao apartamento de Poindexter para procurar por evidências que o liguem a Fisk e ao ataque ao Boletim, mas eles não são os únicos fazendo planos.
Foggy descobriu nas anotações de Marci evidências que ligam Fisk à lavagem de dinheiro, o que violaria os termos de seu acordo com o FBI e o levaria de volta à prisão. Para isso, porém, o doutor Nelson precisa que Karen publique um artigo a respeito da coisa toda no jornal, algo que, momentaneamente ela não pode fazer já que Ellison meio que a demitiu no episódio passado.
Ainda assim, o plano de Foggy leva Karen a bolar seu próprio rumo de ação independente, e ela resolve entrar na cova do leão sozinha, armada apenas com um senso de justiça kamikaze.
Numa das melhores cenas da temporada, Karen confronta Wilson Fisk. A repórter planeja fazer o vilão perder as estribeiras e atacá-la diante das câmeras do FBI para colocá-lo de volta atrás das grades, nem que para isso, precise admitir que cometeu homicídio.
A sequência toda é um grande duelo psicológico, com os dois personagens fazendo ameaças veladas, comentários pejorativos e admitindo as coisas que sabem um do outro mas a coisa toda termina com Karen em vantagem (ou tão em vantagem quanto se pode estar com um urso polar enfurecido prestes a te matar) embora, em última análise, seu plano falhe, faça o plano de Foggy falhar, e ainda termine com ela tendo contado a Fisk que matou seu antigo arranjador embaixo de seu nariz, algo que o Rei do Crime obviamente não encara bem...
A despeito da tensão dessa cena, ainda somos premiados com uma boa sequência de ação (não me lembro se algum episódio dessa temporada não teve uma cena de ação ou luta...) envolvendo Poindexter pegando Nadeem e o Demolidor fuçando em seu apartamento. Ainda não tivemos o segundo round entre os dois, mas Poindexter mostrou um pouco mais de seu repertório usando cristais de um candelabro como facas de arremesso e ricocheteando balas em uma escada de incêndio para, de sua janela, acertar tiros dentro do apartamento imediatamente acima do seu.
Para fechar o capítulo, tivemos mais uma boa cena entre Matt e a irmã Maggie. Uma que conta com uma revelação que não é novidade para os fãs de quadrinhos, e que parece atingir Matt como uma locomotiva.
Upstairs/Downstairs foi mais um episódio ágil, repleto de informações e que manteve a história em movimento sem inchaço. Todos os mocinhos continuam tentando pegar Fisk separados, e o vilão permanece vários passos à frente de todos eles. Com novas revoravoltas e uma ótima cena de ação com a conversa entre Karen e o Rei como a cereja do bolo Demolidor segue com passo firme em sua terceira temporada.

"Dex... A fúria não pode ficar contida. Ela precisa ir para algum lugar ou se torna um veneno. E te mata por dentro."

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Resenha Série: Demolidor, temporada 3, episódio 7: Aftermath


Atenção! Spoilers abaixo.
Uma das melhores coisas que aconteceram nessa temporada de Demolidor foi esse sétimo episódio.
Em outros tempos, a sequência de uma luta sensacional como a de Matt contra Poindexter e de um massacre violento como o ocorrido no Boletim de Nova York seria um episódio arrastado ao qual a audiência aceitaria, de cara meio amarrada com alguma frase do tipo "esse episódio é bem modorrento, mas depois de The Devil You Know a gente entende porque a série precisou de um tempo pra respirar"...
Não é o que acontece aqui, porém.
Outra série poderia perfeitamente ter o agente Nadeem fincando o pé na culpabilidade do Demolidor, uma ideia com a qual ele chega a flertar por conta do "bom te ver de novo, Karen" que Dex disparou ao encontrar a loira, mas eventualmente ele se toca de que, considerando quem morreu no ataque, e todas as outras evidências que lhe são apresentadas, ele pode, sim, estar sendo manipulado pelo Rei do Crime, e com isso, se torna um aliado para os mocinhos, primeiro confrontando o diretor da prisão a respeito da liberação de Jasper Evans, depois levando suas dúvidas a sua oficial superior, e finalmente confrontando o próprio Wilson Fisk. Nadeem deixa de ser um peão de Fisk e se torna, de fato, um agente da lei tentando descobrir o que há por trás do acordo com o criminoso e, por consequência, reparar as injustiças que, porventura, possa ter habilitado ao aceitar a oferta do inimigo.
Claro, tudo isso me leva a crer que, de fato, Ray Nadeem possa ser o bode expiatório da temporada. O bom sujeito e personagem fundamentado que pagará o preço final por ter desafiado o Rei do Crime, mais ou menos como aconteceu com Ben Urich na primeira temporada.
Falando em jornalistas, as coisas acabam mal para Karen. Ellison (que chegou a me preocupar que tivesse morrido no ataque) não fica nem um pouco satisfeito com a ideia de que Karen conheça a identidade secreta do Demolidor e não esteja disposta a entregar o responsável pelo massacre do jornal às autoridades. Sem emprego e temendo pela própria vida, Karen chega a considerar voltar para a casa de sua família em Vermont, mas aparentemente, a loirona também não é bem-vinda lá.
Aqui cabe outro elogio ao episódio, por mais que as cenas entre Karen e Ellison no hospital e a cena dela falando com o pai ao telefone sejam mais longas do que o ideal, todo esse segmento se move com propósito. Ele coloca Matt em uma posição acuada, onde sua identidade secreta é um empecilho para a vida de seus amigos.
Isso provavelmente justifica, ao menos em parte, a truculência de Matt quando ele vai atrás de Melvin Potter (Matt Gerald).
O simplório alfaiate de trajes blindados que criou o uniforme do Demolidor se viu novamente enredado nas tramas de Matt e Fisk. O reencontro entre os dois acaba sendo tanto testemunho da habilidade do Rei do Crime de antever os movimentos de seu adversário, quanto uma boa cena de pancadaria com Melvin Potter chegando a usar as serras circulares que são sua marca registrada nos gibis no quebra com o Demolidor. Claro, Melvin não é um vilão completo, ele é apenas um sujeito ingênuo que tem apenas a segurança de sua amada Betsy como prioridade, e está disposto a fazer o que quer que seja para protegê-la. Ainda assim, ele é obviamente um sujeito de grande força física, e um tremendo artífice de armas e armaduras, então, talvez, nós o vejamos com o traje do Gladiador em algum momento, especialmente após os eventos desse episódio.
Fisk, por sua vez, entra em modo Rei do Crime total, só faltou o lenço roxo no pescoço. Ele demanda, comanda e escarnece de seus adversários com a autoridade da realeza enquanto mexe as peças do tabuleiro com a tranquilidade de um monge.
As coisas, porém, podem mudar para o lado do bandidão. Se de um lado Foggy Nelson (que lida com o massacre no Boletim de maneira muito mais saudável do que Karen e Matt, transando com sua namorada e pedindo ela em casamento) julga ter encontrado, dentro dos trâmites da lei, a resposta para a pergunta fundamental sobre quais são as maquinações de Fisk, de outro o Demolidor surge na casa de Nadeem e os dois firmam uma frágil aliança na busca pela verdade a respeito da identidade do falso Demolidor.
No geral, Aftermath foi um respiro de ar fresco no tocante ao andamento das séries Marvel/Netflix. Ao seguir um grande evento como o massacre do jornal com uma série de fatos que movimenta e desenvolve a trama de maneira ágil e desinchada Demolidor deixa claro porque segue sendo a melhor série de super-heróis disponível hoje.

"Fisk é problema meu. O problema é que ele sempre está sempre cinco passos à minha frente. Não sei se consigo derrotá-lo. Não sei se consigo derrotar o homem que ele mandou pra me matar."

sábado, 27 de outubro de 2018

Resenha Série: Demolidor, temporada 3, episódio 6: The Devil You Know


Atenção! Spoilers abaixo.
Após pisar forte no freio no quinto episódio, Demolidor voltou à carga com força em seu sexto capítulo da temporada, mas o fez de maneira comedida, construindo a tensão que explodiria nos minutos finais de The Devil You Know.
Começando com a tentativa de reaproximação de Matt, prontamente rechaçada por uma Karen absolutamente puta da vida, e o modo como Dex segue afundando na trama de Fisk, que, cobrando a troca de favores com o FBI transforma sua prisão domiciliar em uma mansão repleta de luxos e assume de vez o visual consagrado com o terno branco deixando bem claro que, ainda que esteja sob a custódia do FBI, é quem está no comando do show, os roteiristas de Demolidor deixam claro que sabem o que estão fazendo com a série.
Isso fica claro pela forma como Foggy e Karen são equilibrados na coisa de serem "amigos preocupados e ultrajados". Claro, Foggy já havia aceitado a vida dupla de Matt ainda em Os Defensores e ficou genuinamente feliz em descobrir Matt vivo, Karen, porém, precisou de uma boa conversa com a irmã Maggie para resolver ajudar Matt a encontrar Jasper Evans, o prisioneiro retirado da prisão após ajudar o Rei do Crime a forjar o atentado contra sua vida.
Enquanto os mocinhos planejam obter o depoimento de Evans para limpar o nome de Matt, e por consequência os de Foggy e Karen, junto ao FBI, Fisk tem um plano de contingência para evitar isso.
Após arrastar Poindexter até a beira do abismo, ele se apresenta, não apenas como um ente simpático ao agente caído em desgraça, mas como um igual. Alguém que compartilha experiências de vida semelhantes e que reconhece o valos das habilidades de alguém excepcional tentando se mesclar à multidão.
Com o discurso certo, no momento exato, Fisk entra na cabeça do perturbado Poindexter oferecendo-lhe propósito e recebendo, em troca, a arma perfeita para sua guerra contra o Demolidor.
Quando Matt se preparava para acompanhar, junto com Foggy, o depoimento de Evans para Karen e Ellison na redação do New York Boletim, o agente Poidexter, vestido com o traje vermelho do Demolidor, invade o jornal e começa um massacre que só pára quando o verdadeiro Demolidor entra em cena.
A luta dos dois é excelente, e palmas para a série que colocou outra icônica cena de ação tão perto da sequência na penitenciária.
Demolidor versus (quase) Mercenário é excelente. A diferença entre os estilos dos dois, com Matt levando vantagem na porradaria mas sendo vítima da habilidade de Poindexter de transformar qualquer coisa em um projétil potencialmente letal, de lápis a grampeadores a monitores de computador e, claro, tesouras. Se Matt tem seus super-sentidos e radar para ajudá-lo, Poindexter equilibra as coisas com seus ricochetes quase sobrenaturais (a bola de beisebol na cara de Matt que o diga...), isso garante um elemento de tensão, e torna o combate diferente de outras lutas entre artistas marciais que vimos na série.
Outro elemento que agrava o combate dos dois é o traje.
Claro que a intenção de Fisk ao ter um assassino fantasiado de Demolidor matando inocentes era manchar a reputação do vigilante, entretanto, tendo Matt decidido abandonar sua vida civil e ser apenas o Demolidor, é como se Fisk tivesse roubado a existência do herói. Ele não quer mais ser Matt Murdock, mas não pode mais ser o Demolidor, se quiser sê-lo, terá que lutar por isso.
Seja como for, o resultado do primeiro round entre os dois é favorável aos bandidos, e com seus planos tendo ido por água abaixo, resta saber o que os mocinhos irão fazer para limpar seus nomes que acabam mais sujos do que haviam começado.
A esperança recai sobre o agente especial Nadeem.
Se eu tinha minhas dúvidas a respeito de seu caráter, depois desse episódio restam apenas dúvidas quanto à sua inteligência. Aparentemente a conversa de Foggy o fez questionar colaboração de Fisk, e se perguntar se o FBI não está, de fato, sendo manipulado pelo vilão.
Demolidor chega (quase) à metade da temporada com uma bela reviravolta, justamente no momento em que começava a se reconectar com seus amigos e com a persona de Matt Murdock, o herói é confrontado com a mais nova e ameaçadora arma de Wilson Fisk. Uma que pode não apenas matá-lo, mas destruir sua vida.

"-Quando uma pessoa em necessidade tenta te afastar, esse é o momento em que você tem que encontrar a força para segurá-la mais firme."

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Resenha Game: Marvel's Spider-Man - The Heist


Marvel's Spider-Man foi como reencontrar a ex-namorada à qual tu nunca teve coragem de chamar de "ex" porque, apesar de vocês não estarem mais juntos, ela ainda era "A guria", e receber um sorriso doce, um abraço apertado, e a garantia reconfortante de que ela ainda pensa em ti com o mesmo carinho de antes.
Foi a maneira que fãs que foram enxovalhados por anos de histórias ruins e filmes que pasteurizaram o personagem para audiências mais amplas e preguiçosas encontraram de se reaproximar de um personagem que ainda era o preferido, mas do qual as escolhas midiáticas haviam nos afastado.
Ao menos foi assim pra mim.
Após um começo onde tudo o que não era o cânone dos quadrinhos ao qual eu estava afeiçoado me incomodava, eu vi que aquele Peter Parker/Homem-Aranha era tão Peter Parker/Homem-Aranha quanto era possível ser. Palmas para a equipe da Insomniac e para o ator/dublador Yuri Lowenthal, que criaram um dos retratos definitivos do personagem.
Marvel's Spider-Man é tão bom que após terminar relativamente rápido a campanha do game eu me coloquei a jogar em busca dos troféus que ainda faltavam para a platina, e após conquistar o troféu de 100% do game me pus a explorar o modo New Game Plus disponibilizado na semana passada.
E, na última terça, fiz algo que havia feito poucas vezes na minha vida:
Reativei minha conta brasileira na PSN apenas para comprar o DLC de história do game, intitulado The City That Never Sleeps, e poder jogar o primeiro dos três capítulos que serão disponibilizados mensalmente.
O primeiro, The Heist, nos leva de volta à Nova York digital do game após os eventos da história principal para ver o Homem-Aranha se envolver com um assalto ao Museu de Arte Contemporânea de Nova York.
Se inicialmente o assalto parece obra de uma das famílias do sindicato criminoso conhecido como a Maggia, não tarda para que o nosso herói descubra que Felicia Hardy, a Gata Negra está na jogada, em uma corrida contra o vilão Cabeça de Martelo para encontrar pen-drives com informações cruciais para as famílias criminosas escondidos em obras de arte por toda a ilha de Manhattan. Imediatamente o Homem-Aranha se vê até o pescoço na coisa toda, lutando para impedir a explosão de uma guerra entre as famílias mafiosas e para ajudar Felícia, mesmo que ela não deseje ajuda.
The Heist abre imediatamente em uma sequência de ação furtiva durante o assalto ao museu.
É basicamente o que nós já havíamos experimentado durante o game, mas fica claro que os inimigos são, desde o início, as versões mais casca-grossa dos antagonistas do game, semelhantes à bandidagem que encontramos nos estágios finais do jogo base. Conforme o estágio avança, o game nos oferece uma novidade na sua jogabilidade básica de decidir entre se manter furtivo ou cair na porrada de modo aberto ao obrigar o jogador a se concentrar em alguns inimigos específicos enquanto luta com a horda de vilões inteira em um segmento que incentiva um uso mais esperto das engenhocas aracnídeas.
O novo conteúdo se divide basicamente em missões stealth e perseguições, além de oferecer uma nova onda de crimes pelos distritos de Manhattan, que incluem a adição de carros-bomba como os pepinos a serem descascados pelo herói, há ainda uma missão secundária curta e fácil mas que tem alguma doçura inerente e está conectada à história do DLC, além de uma nova série de desafios engendrados, não pelo Treinador, mas por Screwball.
Apesar de a personagem ser uma das contribuições mais cretinas de Dan Slott ao legado do Homem-Aranha nos quadrinhos, as missões de desafios do game são interessantes. Os EMP Challenges são variações dos Drone Challenges do Treinador, e os desafios de combate dessa vez oferecem bônus quando inimigos são neutralizados em certas área do mapa. Há ainda um desafio de engenhocas onde devemos neutralizar hordas de adversários utilizando apenas dois aparelhos do arsenal do herói.
Apesar de não serem particularmente inspirados (ou desafiadores) esses desafios dão um respiro ao andamento da trama e oferecem ao jogador que ainda não habilitou todos os trajes do game uma chance de ganhar mais uns emblemas.
Não há grandes novidades no tocante aos antagonistas, exceto um daqueles brutos pesados que carrega uma mini-gun e pode ser um pé no saco quando estamos cercados de inimigos nos níveis de dificuldade mais altos.
No tocante a narrativa, The Heist é obviamente um primeiro capítulo, e como tal fica complicado fazer um juízo definitivo de uma história da qual vimos apenas um terço, seja como for, eu que sou um fã declarado do período em que o Homem-Aranha e a Gata Negra foram um casal, caí novamente de amores pelo game.
A relação dos dois personagens é explorada de maneira brilhantes penas nos diálogos entre os dois personagens. Mais do que isso, a forma como Peter e Felícia tratam o caso de maneiras absolutamente distintas. Ele, todo constrangimento, ela, pura provocação.
A relação entre o Aranha e a Gata Negra, e a forma como essa relação impacta em Mary Jane são testemunho de o quanto a Insomniac conhece o cânone aracnídeo, e como ainda é capaz de personalizar essa história e torná-la atraente para um público que não tem décadas de conhecimento sem afastar os fãs do material-fonte.
O trabalho de dublagem de Lowenthal e de Laura Bailey segue sendo estrelar, e Erica Lindbeck, que já havia deixado seu cartão de visitas nas breves missões secundárias da Gata Negra no game base, não fica devendo em nada aos dois.
A despeito de algumas novas mecânicas de jogo parecerem um pouco truncadas à primeira vista e de o conteúdo ser relativamente curto, com coisa de três horas de história fora missões secundárias, a forma como a Insomniac continua nos oferecendo versões tão sensacionais de personagens que amamos garantem que o retorno a Marvel's Spider-Man seja sempre um deleite.
Que venha novembro e Turf Wars.

"-Precisamos ser silenciosos como um gato...
-Sorrateiros como uma aranha..."

Resenha Série: Demolidor, temporada 3, episódio 5: The Perfect Game


Ateção! Spoilers abaixo.
O episódio anterior de Demolidor terminou com um momento arrancado das páginas de A Queda de Murdock, com o táxi que transportava nosso herói após o furdunço na penitenciária ser jogado no rio com ele dentro.
Claro, nós sabemos que o personagem título da série não morreu, mas o final do último capítulo foi a maneira de a série pisar no freio e colocar seus holofotes em cima de um dos vilões:
Ao mesmo tempo em que o táxi de Matt era pescado vazio, Wilson Fisk obtém de volta diversos confortos para sua prisão domiciliar, e aproveita para citar o advogado Matthew Murdock como um dos seus cúmplices e mandar o FBI no encalço de seu inimigo enquanto se aprofunda na história de vida do agente especial Poindexter.
Nós acompanhamos o Rei enquanto ele vasculha o passado de alguém que, como Matt Murdock, era um órfão talentoso e cheio de raiva, e, como Matt, foi treinado e adquiriu uma incrível série de habilidades ao longo dos anos, mas, que é um psicopata completo que apenas através de tratamento e rotinas sólidas foi capaz de se manter socialmente funcional.
Sem uma "estrela guia" para oferecer apoio e estrutura, ele se torna um perigo para qualquer pessoa ao seu redor.
As cenas que mostram suas sessões de terapia, especificamente a primeira e a última, são especialmente bem sacadas, oferecendo a quantidade exata de simpatia pelo personagem ao mesmo tempo em que deixam claro o quão rápido ele pode se voltar contra uma pessoa que o decepcione. Outro ótimo momento é a cena com Dex no serviço de valorização da vida, quando, ao invés de apenas tentar convencer pessoas a não cometerem suicídio, ele acaba tentando fazer um dos usuários matar outra pessoa.
O episódio deixa claro que Fisk está interessadíssimo em Dex, e mandou segui-lo e juntar informações a seu respeito, e pretende usar a obsessão do agente com a garçonete Julie (Holly Cinnamon) como porta de entrada para se tornar, ele próprio, a nova estrela guia de Poindexter.
Enquanto isso, Nadeem segue o script escrito pelo Rei do Crime, e parte à caça de Matt Murdock, o que o leva a confrontar Foggy, que tenta levar adiante a sua candidatura a promotor, e Karen, que descobre que o novo arranjador de Fisk, Felix Manning (Joe Jones) é um sujeito casca-grossa.
Karen, aliás, está vendo os esqueletos em seu armário começarem a tentar sair.
Nadeem relembra a morte de James Wesley (Toby Leonard Moore), e Manning traz à tona a morte do irmão de Karen. Até agora não temos o quadro completo da vida familiar da senhorita Page, mas é certo que ela, no mínimo, se culpa pela perda de seu irmão e pode ter tido um problema com drogas... É difícil saber como esses eventos irão afetar Karen, mas os leitores de quadrinhos sabem que as coisas não acabam bem para a personagem nos gibis, seja como for, após os eventos de Os Defensores, ficou impraticável para a série adaptar ipsis litteris A Queda de Murdock, mas fica claro que a saga é uma das principais inspirações para esse terceiro ano do programa.
The Perfect Game deu uma boa puxada no freio de mão após uma série de descobertas importantes em Blindsided, colocou o protagonista no banco e centrou fogo nos coadjuvantes e nos vilões. Nadeem segue sendo o ponto fraco da temporada (Assim como Madani havia sido em O Justiceiro. Malditos agentes do FBI, continuem restritos a Mindhunter). O agente definitivamente é um peão de Fisk, seja propositalmente, ou não, e se torna uma pedra no sapato dos mocinhos, resta saber se ele eventualmente vai descobrir que que está sendo usado e tomar tendência embora, nesse momento, ele não pareça particularmente inclinado a dar ouvidos a Karen a respeito do banco Red Lion e da posse de Fisk sobre o hotel onde ele está "encarcerado".
A despeito da quebra de ritmo, ao menos tivemos um vislumbre mais aprofundado de Poindexter e um entendimento melhor de como ele se tornará um dos antagonista da temporada, e pudemos ver Wilson Fisk exercitar sua veia mais manipuladora conforme ele ajusta seus planos para fazer o Demolidor comer o pão que o diabo amassou em seu caminho de volta ao trono do crime de Nova York.

"-A cidade precisa de um novo vilão. E eu acho que o encontrei."

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Resenha Série: Demolidor, temporada 3, episódio 4: Blindsided


Nos episódios passados dessa terceira temporada de Demolidor, nós havíamos visto o lado mais frágil e humano de Wilson Fisk.
Ele foi apunhalado na prisão, esteve prestes a morrer nas mãos dos albaneses, demonstrou ficar realmente abalado pela falta de informações a respeito do paradeiro de Vanessa... Em diversos momentos dos três primeiros capítulos da temporada, nós vimos esses elementos de humanidade e falibilidade que tornam o Rei do Crime de Vincent D'Onofrio tão único.
No quarto capítulo, Blindsided, as coisas mudam de figura.
A partir da cena de abertura, quando Fisk já está de pé e preparado para a revista "surpresa" dos agentes do FBI que o vigiam, passando pelo olhar que ele lança sobre Poindexter do alto da escada, até todas as descobertas que Matt e Karen fazem ao longo do episódio fica claro, há apenas um titereiro nessa história, é Fisk é o homem puxando os cordões.
Fisk está tocando o FBI como se fosse um violinista dando um concerto. Usando empresas de fachada ele se mantém tão rico quanto antes de ser preso, consegue driblar a vigilância sobre si e fazer ligações telefônicas, receber imagens das câmeras de segurança da penitenciária de onde saiu e até tramar assassinatos.
Se o alvo de Fisk na penitenciária era de fato Matt, ou Foggy, cuja identificação nosso herói havia usado para acessar a prisão, não fica claro, o que fica claro é que Blindsided nos presenteia com mais uma das assinatura da série: A sequência sem cortes.
Veja, a espetacular cena do corredor na primeira temporada, seguida pela ainda mais espetacular sequência com os Cães do Inferno na segunda temporada ganhou mais uma companheira.
Durante sua visita à penitenciária para tentar descobrir qual é a jogada de Fisk dedurando os albaneses, Matt se vê como alvo de uma tentativa de assassinato que se torna uma rebelião em massa com direito a bombas de fumaça, detentos esfaqueando guardas e até uma longa conversa entre o protagonista e o chefão da máfia albanesa Vic (James Biberi), tudo em uma única tomada que vai da enfermaria ao pátio durante dez minutos.
Por mais que a cena de luta da primeira temporada ainda seja a minha favorita, é difícil não reconhecer o tamanho da realização técnica dessa tomada por mais que possam haver alguns remendos digitais durante a coisa toda.
Enquanto isso, Foggy revela a Karen que Matt ainda está vivo, mas ela não está disposta a esperar ele cair em si e resolve seguir o dinheiro na tentativa de saber o que Fisk está aprontando, isso a leva a dois nomes, o do banco Red Lion que Fisk está usando para esconder o dinheiro que investiu em empresas de fachada, e de Felix Manning.
Foggy, por sua vez, também parte para a ação, mas o faz, seguindo o conselho de Marci (Amy Rutberg), concorrendo ao cargo de promotor do distrito usando o encarceramento de Fisk como bandeira e o voto de policiais como o detetive Mahoney (Royce Johnson) como porta de entrada no pleito.
Como se tudo isso não fosse suficiente, Fisk segue trabalhando para vencer o desprezo de Poindexter e trazê-lo para seu lado.
Ele testemunha em favor do agente quando o relatório da balística não confere com o relato do atirador, e volta a elogiar a excepcionalidade das habilidades de Pindexter, paulatinamente entrando na mente perturbada do homem da lei.
Falando em homens da lei, Nadeem segue ganhando bastante espaço na trama. Seus segmentos têm uma cara danada de filler, e a insistência com o personagem, até aqui, me leva a duas possibilidades, ou Nadeem é um cúmplice de Fisk, e o facilitador de todas as manobras do vilão, ou ele é realmente honesto e honrado, e será a grande vítima dessa guerra no final da temporada. Confesso que a primeira alternativa me parece meio preguiçosa e a segunda meio covarde, criar um personagem para morrer e garantir a segurança dos coadjuvantes regulares é um expediente bem sacana, mas não vamos julgar ainda, porque, seja como for, Demolidor segue com alta qualidade, e a cada episódio se cimenta como a melhor série Marvel/Netflix, e o melhor seriado de super-herói já feito.

"Para um homem cego, tem ótimos reflexos, senhor Murdock."

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Resenha Série: Demolidor, temporada 3, episódio 3: No Good Deed


Atenção! Spoilers a seguir.
E as coisas começaram a andar.
Após o atentado à sua vida, Wilson Fisk, o Rei do Crime, finalmente chegou à confortável cobertura que se tornará sua prisão domiciliar à custa da vida de cinco agentes do FBI. Enquanto ele digere o fato de quase ter morrido e bate cabeça a respeito da segurança de Vanessa, provável alvo secundário dos albaneses, a notícia de seu acordo e de seu novo encarceramento chegam ao público em geral, especificamente a Karen, Foggy e, claro, Matt.
Enquanto Karen ignora as ordens de Ellison (Geoffrey Cantor) para se manter longe de Fisk e começa a tentar descobrir o que há por trás do acordo do Rei com o FBI, especificamente, com o agente Nadeem, Foggy vai atrás do promotor de justiça para tentar convencê-lo a não aceitar que um notório formador de quadrilha, traficante, terrorista e homicida não seja agradado pelo Estado com um belo duplex para cumprir sua pena.
É bom ver Foggy e Karen fazendo mais do que remoer a mágoa pela morte de Matt. Vê-los em posição mais ativa na luta contra o vilão garante que a trama irá andar com todos os personagens ao mesmo tempo, o que é sempre uma coisa boa, especialmente após Matt se revelar a Foggy.
Claro, é essa versão quase inumana de Matt. Mais Demônio do que gente e incapaz de digerir que, enquanto ele, que quebrou ossos e derramou sangue (seus e de outros) para proteger os inocentes quase morreu e ficou inválido perdendo tudo o que tinha, Fisk, um notório assassino pérfido, é premiado com uma estada bancada pelo governo em um hotel cinco estrelas.
Matt sai no encalço de Fisk para descobrir que ele, de fato, está sob proteção do FBI, o que denota um acordo.
Aqui, cabe dizer que o monólgo interno de Matt com Fisk é algo estranho...
Não me entenda errado, eu adoro qualquer oportunidade de ver Charlie Cox e Vincent D'onofrio interagindo, e o detalhe do Fisk imaginário usar o paletó branco e estar algo desfocado, é tudo muito bacana. Mas é estranho Matt ter um Fisk fantasmagórico soprando em seu ouvido quando o Fisk real está alguns andares acima... É meio fora de lugar. Especialmente após o mesmo expediente ter sido utilizado em Batman Arkham Knight e repetido no melhor episódio da segunda temporada de Jessica Jones.
Seja como for, a conversa entre Matt e o Fisk imaginário deixa claro que, à essa altura do campeonato, o diabo da guarda está em uma posição onde ele não é mais tão rígido no tocante à regra de não matar...
Ele ainda não chegou ao patamar de Frank Castle, mas também não é inimaginável que, sob a quantidade certa de pressão, ele não seja capaz de esmigalhar a cabeça de alguém. Especialmente de Fisk, conforme fica claro na cena onde ele interroga Donovan (o Johnnie Cochran do universo Marvel/Netflix) e arrebenta um pelotão de agentes do FBI de pancadas. Claro, Matt não quer matar ninguém ali, mas a surra que ele dá nos agentes, especialmente no último... Bem, digamos que esse é um Demolidor perigosamente próximo de cruzar a linha, e ainda que a rotina "cuidado para não se tornar um monstro" onde o herói duvida de si e tenta se apartar da humanidade por ser incapaz de garantir a segurança daqueles que o rodeiam esteja muito longe de ser original, Matt Murdock é um personagem que se presta dolorosamente bem ao papel.
E, do lado dos vilões, se no episódio passado nos perguntávamos como o dedicado agente do FBI Ben Poindexter poderia se tornar um capanga do Rei, especialmente ficando claro, nesse episódio, que ele despreza o vilão tanto quanto qualquer outro agente do FBI. A questão é que, nesse episódio, também fica claro que Poindexter é completamente louco.
A despeito de sua sólida carreira no FBI, o agente especial é obviamente desequilibrado, e além de ter um dedo de gatilho nervoso, também mantém uma relação obsessiva e unilateral com uma moça que não parece fazer nem ideia de que é alvo de suas afeições.
Enquanto isso, o agente Nadeem segue ganhando um espaço que, até agora, é injustificado. A série parece querer que nos preocupemos com ele tanto quanto com Matt, Foggy e Karen, mas até aqui ele não fez nada para justificar essa preocupação.
O terceiro episódio da temporada colocou as engrenagens da trama em movimento.
Fisk realmente se preocupa com Vanessa, mas será possível que o que todos os heróis da trama pensam, que Fisk está planejando algo maior, possa estar errado? Com Karen e Foggy dispostos a se mexer, parece que Matt, não importa o quanto deseje, não estará sozinho na guerra contra o Rei, que já inicia seus movimentos para trazer Poindexter para seu lado.

"Isso. Deixe o Demônio sair!"

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Por Via das Dúvidas


Foram trezentos e sessenta e dois dias em que eu não coloquei a mão em um cachorro.
Quase doze meses.
Quase um ano.
O último desses leais animais ao qual eu oferecera um afago, havia sido meu camarada, o Gump, em quem fiz carinho durante os últimos minutos de sua vida na clínica veterinária que se tornara uma prisão de onde ele não sairia vivo. Entrar naquela clínica se tornara mais e mais difícil ao longo dos cerca de dez dias em que ele ficou internado conforme os veterinários me diziam que o quadro era isso, aquilo ou aquele outro, e, fosse qual fosse a moléstia que consumia o meu amigo felpudo, não tinha cura ou remédio.
Apesar da dificuldade, eu seguia rumando diariamente até a zona sul diariamente para passar uma hora com meu cachorro após o trabalho. E todos os dias eu deixava um pedaço da minha alma na clínica quando ele tentava, sem sucesso, se levantar para ir embora comigo quando o horário de visita terminava.
Eventualmente eu fui convencido de que mantê-lo daquela forma era cruel pois seus órgãos estavam parando de funcionar e seu quadro, que já era ruim, estava chegando perigosamente próximo de ser agônico.
Foi após essa conversa com a veterinária, que me informou que os rins dele já estavam comprometidos, que eu assenti em matar o meu melhor amigo para impedir que ele sofresse ainda mais.
Isso foi no último dia 25 de outubro. Quase um ano atrás. E, não.
Eu não superei.
Chega a ser ridículo, considerando tudo o que eu já superei na vida. Mas a verdade é que o que eu disse então, que o espaço que o meu cachorro deixava no meu coração jamais seria preenchido, segue sendo verdade ainda hoje.
Não foi.
Não acho que será.
Se todos os dias enquanto volto da academia pra casa por volta das cinco e meia, seis da tarde, eu já não sou mais acometido pela ideia impensada de chegar em casa e levá-lo para uma caminhada, eu ainda levo um murro emocional no estômago por ser confrontado por dezenas de pessoas que andam com seus cachorros pela rua no horário. E quando vejo um outro cachorro da mesma raça, grande, amarelo e felpudo, isso é multiplicado. Eu não me sinto confortável em admitir que, por vezes, fico com os olhos rasos d'água ao cruzar com um golden retriever nas calçadas do centro de Porto Alegre, mas não posso negar que isso acontece. Perder aquele cachorro foi, sim, uma das experiências mais dolorosas da minha vida, e eu sou o primeiro a reconhecer o absurdo dessa colocação já que perdi membros da família e amigos em períodos próximos. Eu sei que era só um cachorro.
Mas não era. Não pra mim.
Pra mim, era um amigo querido e leal. E um amigo querido e leal que dependia de mim e de quem eu não soube cuidar no final.
Seja como for, desde então eu não encostei minha mão em outro cachorro.
Ainda gosto de cachorros. Muito. Alimentei cães de rua. Doei rações e remédios para abrigos de animais... Eu gosto de cachorros. Só não queria encostar em outro. Só não quero ter outro em minha vida. Já tive um cachorro. Meu cachorro morreu.
E, alguns dias atrás, quando voltava pra casa pela orla remodelada do Guaíba, em um dia onde a ausência do meu amigo peludo não doía tanto, vi um homem sentado na grama com dois cães da mesma raça. Eles pareciam uma fêmea jovem e um macho já maduro.
Eu vi os cães e passei à distância, vendo-os cheirando o capim em volta.
Pensei na felicidade de sentar na grama com meu amigo. E em como deveria ter feito isso mais vezes.
No dia seguinte, os vi novamente. Mais ou menos no mesmo lugar. Enquanto a fêmea jovem se reborcava na grama esfregando as costas no chão, o macho mais velho, estava apenas deitado descansando.
A visão de um cachorro se refestelando na grama é uma das mais gostosas que eu consigo imaginar e vê-los fazendo isso sempre coloca um sorriso na minha carranca. Eu sorri olhando a fêmea brincar e naquele momento o macho se levantou e avançou em minha direção abanando sua cauda de espanador da mesma maneira que meu velho amigo fazia. Ele lambeu minha mão, e ficou de pé nas patas traseiras para me abraçar.
E eu o afaguei, sentindo seu pelo macio na minha mão e o movimento de sua respiração arfada em meus braços.
Eu afaguei sua cabeça, atrás de suas orelhas e suas costelas. E lhe disse que era um bom cachorro. Que era o que eu fazia com o Gump.
Quando ele me largou, e eu tentei seguir meu caminho, ele me seguiu por alguns passos, ainda tentando lamber minha mão, e forçando seu dono a ir até ele e segurá-lo.
Trocamos um sorriso rápido e eu segui pra casa. Chorei o resto do caminho. E continuei chorando no banho. O que foi um pouco demais até para o rematado chorão que eu sou.
Nos dias que se seguiram, eu não voltei a vê-los, o homem e seus cachorros.
O tempo esquentou. Mais umidade. Choveu... Não convém levar cães felpudos para a beira do rio em dias assim, racionalizei.
Racionalizei, também, que os golden retrievers são cães naturalmente amistosos. E o Gump era a exceção com sua rabugice perene com estranhos, então não havia nada de anormal na atitude amistosa do cachorro, e que a única coisa marcante nela era o fato de ter posto fim a quase um ano sem que eu fizesse contato com um cachorro.
Racionalmente eu sei de tudo isso.
Irracionalmente, eu poderia fantasiar que, em algum lugar, meu velho amigo sente tanta saudade de mim quanto eu sinto dele. E deu um jeito de vir receber um afago após quase um ano de ausência... Eu poderia fantasiar que os afagos e o elogio não foram o suficiente e que na próxima vez em que nos encontrarmos, eu preciso abraçá-lo de volta. Talvez deitar na grama com ele. Talvez lhe dar um beijo estalado na testa enquanto coço seu pescoço... Mas óbvio... Isso seria bobagem.
Meu amigo se foi. E o cachorro que eu afaguei à margem do rio alguns dias atrás, era apenas um amistoso cão da mesma raça.
Ainda assim, eu não sou o dono da verdade, e por via das dúvidas, eu seguirei fazendo o mesmo caminho de volta pra casa depois do trabalho.
Ao menos no decorrer do próximo ano

Resenha Série: Demolidor, temporada 3, episódio 2: Please


Atenção! Há spoilers abaixo.
O segundo episódio da temporada de Demolidor manteve-se focado na alma perdida do homem sem medo, mas começou a atirar um pouco de gasolina na fervura para garantir a sequência da série.
Porque por mais interessante e justificável que seja termos Matt se recuperando de seus ferimentos, lutando com os traumas de sua experiência de quase morte, e trocando farpas com a irmã Maggie, não é apenas isso que move Demolidor.
E um dos jogadores centrais da série dá um passo importante no final desse episódio. Após sofrer um atentado na prisão por conta do sucesso de seu acordo com o FBI, Wilson Fisk, o Rei do Crime consegue ser colocado em prisão domiciliar, mas chegar até a sua nova casa se torna particularmente complicado porque a mafia albanesa não está nem um pouco feliz com a música que Fisk tem cantado feito um canário no ouvido dos federais.
O violento ataque engendrado pelos inimigos do Rei (não tinha uma banda com esse nome?) só não custa a vida de Fisk graças à brilhante intervenção do sniper do FBI Ben "Dex" Poindexter (Wilson Bethel).
O agente não é apenas um exímio atirador, ele é um atirador quase sobrenatural, capaz de ricochetear tiros com a habilidade do Pistoleiro Floyd Lawton, da DC, mas, aparentemente, capaz de transformar até mesmo os pentes descarregados de seu fuzil e pistola em armas de arremesso letais.
Os fãs de quadrinhos sabem perfeitamente quem é Poindexter, mas, nesse episódio, ele é apenas o último homem de pé após um massacre que quase custou a vida de Fisk, e, claramente, um homem que, a exemplo do Justiceiro na temporada passada, não acredita em meias-medidas, conforme fica claro quando dois atiradores se rendem após o ataque.
A sequência toda, mostrada do ponto de vista de Fisk em um momento absolutamente indefeso, algemado dentro de um carro capotado sob fogo, é genial, e nos leva a imaginar duas coisas. Primeiro: O quanto o Rei sabia o que estava fazendo ao começar a denunciar os albaneses? Será possível que ele estaria disposto a arriscar sua vida apenas por amor à Vanessa? Não me entenda errado, eu realmente acredito que Wilson a ame, mas Fisk não se tornou o Rei do Crime de Nova York sem uma pesada dose que maquiavelismo. O que mais há na natureza de sua delação além de salvaguardar Vanessa e conseguir trocar sua cela por uma confortável prisão domiciliar na cobertura de um hotel em Manhattan? Após ver o quanto ele esteve perto de pagar com a vida por essa aposta, só podemos supôr que a recompensa deve ser enorme.
O segundo ponto é:
Como será que Wilson Fisk vai conseguir trazer Poindexter, que claramente o despreza, para seu lado? Porque, sejamos francos, quem viu os trailers da temporada já adivinhou quem era o matador fantasiado de Demolidor nas prévias. Mas como Pindexter irá de agente federal com inclinação ao "justiceirismo" a matador fantasiado do Rei do Crime, promete ser uma bela viagem.
Alguns momentos do episódio são um pouco arrastados. Todo o segmento do agente Nadeem e seu desespero para continuar sendo o elo entre Fisk e o FBI e o impacto que isso pode ter em sua carreira e remediar seus problemas financeiros.
Por enquanto o personagem está em um limbo onde não sabemos ao certo se ele será um joguete de Fisk (uma impressão justificada, já que o sujeito parece estar atolado em dívidas e Fisk nada em grana mesmo com os bens congelados...) ou um meio-campo entre o vilão e o Demolidor.
Foggy e Karen também se arrastam um pouco, ele em uma embromada cena com sua família, ela, tentando arrancar um depoimento da filha do homem atacado no primeiro episódio, mas eu não vou me queixar de passar um pouco de tempo com Foggy e Karen, eles estão entre meus coadjuvantes preferidos em todas as séries, junto com Colleen e Micro.
Além da ótima sequência de ação durante a mudança de Fisk, ainda fomos premiados com o Demolidor perseguindo os pretensos sequestradores do capítulo anterior até uma lavanderia onde o pau cantou novamente.
Se mais nada cativar a audiência, sempre podemos esperar ansiosos por Demolidor para ver as melhores cenas de luta da Marvel/Netflix. Qualquer pancadaria envolvendo o diabo da guarda de Hell's Kitchen é garantia de qualidade, até mesmo uma coisa aparentemente simples como três sujeitos trocando sopapos no depósito de uma lavanderia.
O segundo capítulo de Demolidor começou em marcha lenta, mas foi acelerando conforme andava até fechar em alta velocidade com uma ótima sequência de apresentação para um personagem clássico dos quadrinhos que a audiência queria ver já há bastante tempo, além de nos manter conectados a Matt e mostrar mais um pouco da humanidade de Wilson Fisk ao deixá-lo despido de sua superioridade em um momento de extrema tensão.

"-Graças a Deus por você.
-Ele não te ajudou. Eu ajudei."

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Resenha Série: Demolidor, temporada 3, episódio 1: Resurrection


Thanos estalou os dedos e lá se foram metade das séries Marvel/Netflix, por sorte uma das séries que sobrou (ao menos até o momento) foi Demolidor, que é, sem a mais remota sobra de dúvida, a melhor série da parceria com folga (ainda que Justiceiro esteja bem próxima...).
Não víamos o justiceiro cego de Hell's Kitchen desde que o prédio do Tentáculo em Midland Circle desabou em cima dele e de Elektra no final de Os Defensores. Claro, a audiência já sabia que Matt Murdock (Charlie Cox) havia sobrevivido e estava sendo tratado por freiras, mas os minutos iniciais do episódio nos mostram como Matt foi parar lá.
Mais do que isso, esses minutos iniciais do capítulo mostram o tamanho do trauma sofrido por Matt após a batalha e o desmoronamento, e o custo da sobrevivência para seu corpo, mente e espírito.
Matt é auxiliado pelo padre Lanton (Peter McRobbie) que o deixa sob os cuidados da irmã Maggie (Joanne Whalley) no orfanato onde ele foi criado após o assassinato de seu pai.
Maggie está lá cuidando de órfãos desde que Matt era um menino e conhece bem o diabo da guarda de Hell's Kitchen (nos quadrinhos, a ligação dos dois é ainda mais profunda, veremos se é a mesma coisa na série), e parece disposta a tentar qualquer coisa para fazê-lo se recuperar integralmente dos maus bocados pelos quais passou. Maggie é uma adepta do "tough love", e raramente é gentil com Matt a respeito de qualquer coisa, ainda que sua preocupação com o ex-advogado seja visivelmente genuína, suas tiradas secas deixam claro que aquela não é uma mulher particularmente paciente, e está mais do que disposta a deixar que ele coma o pão que o diabo amassou se esse for o caminho para sua recuperação.
As interações entre ambos são um dos pontos altos do episódio chegando a garantir algumas risadas da audiência quando os dois começam a dar cabeçadas. Ainda que ela esteja de fato preocupada com o bem-estar de Matt, e Matt esteja realmente grato à Maggie, esses dois são particularmente teimosos e têm uma história que volta bastante no tempo. Mais do que isso, Resurrection deixa claro que o Matt Murdock que rastejou pra fora dos escombros de Midland Circle não é o mesmo homem que se vestia de demônio para proteger seu bairro. Não foram apenas ossos que se quebraram dentro de Matt Murdock, mas sua fé e sua disposição em enfrentar qualquer coisa. O homem sem medo parece assustado demais para reagir.
Charlie Cox, provavelmente o melhor ator entre todos os Defensores, entrega completamente a alteração de Murdock. Nós acreditamos nele. E ficamos na expectativa de como ele irá se recuperar da dor e da tensão que ficam tão claros em sua voz.
Enquanto Matt tenta se restabelecer, Wilson Fisk (Vincent D'Onofrio) o Rei do Crime, um dos melhores vilões do universo Marvel em todas as mídias, pau a pau com Loki e Thanos, tem seus próprios problemas com que lidar.
Preso desde o final da primeira temporada, o chefão do crime é forçado pelas circunstâncias a tomar uma decisão arriscada em nome da proteção de sua amada Vanessa. Uma decisão que o colocará novamente no centro de uma intrincada teia de crime que se estende por toda Nova York em uma busca, não apenas pela retomada do trono perdido, mas de vingança contra aqueles que ousaram desafiá-lo.
D'onofrio é outro monstro. Tudo o que tornou seu Wilson Fisk um dos personagens fundamentais do panteão da Marvel fora dos quadrinhos está de volta, o tom de voz grave, por vezes rosnado em sua articulação impecável, a postura intensa de um homem no limite do auto-controle, parecendo estar sempre com as articulações crispadas para não esmurrar alguém até a morte ao mesmo tempo em que manipula todos ao seu redor.
Além dos dois personagens centrais da bagaça, ainda tivemos um breve vislumbre de Karen Page (Deborah Ann Woll) e Foggy Nelson (Elden Henson) lidando com o luto cada um à sua maneira, além de um flashback mostrando o que aconteceu após Matt assumir sua identidade secreta para Karen, se nada além disso, ao menos a participação dos dois personagens serve para mostrar a profundidade da relação de Matt com ambos.
E, ainda temos a apresentação do agente Ray Nadeem (Jay Ali), um oficial do FBI atolado em dívidas que tem a maior pinta de que vai se tornar um peão na mão de Fisk... Apesar de seu segmento começar bastante superficial, é importante lembrar que esse foi apenas o primeiro episódio, e aparecer logo de cara entre Matt e Fisk, não é exatamente bom pra nenhum personagem. Veremos como as coisas se desenrolam para Ray daqui por diante.
O começo da terceira temporada de Demolidor foi sólido. Mantendo foco sobre os dois jogadores mais valiosos e sedimentando o caminho para contar sua história.

"Diante desse Deus... Eu prefiro morrer como o Demônio do que viver como Matt Murdock."

Resenha DVD: Han Solo: Uma História Star Wars


Han Solo: Uma História Star Wars é o filme errado na hora errada.
Não havia a menor chance de o desnecessário longa de origem do salafrário mais charmoso daquela galáxia bem, bem distante ser uma unanimidade, nem que ele fosse muito, muito bom.
Ser lançado na esteira do odioso Os Últimos Jedi, quando a base de fãs comprou uma briga visceral contra o impiedoso império da Disney e sua mão de ferro ao redor da garganta de uma das franquias mais amadas de todos os tempos era quase certeza de tragédia do ponto de vista financeiro.
Se o Episódio VIII não tivesse sido um pontapé na cara dos fãs de Star Wars, se o longa de Rian Johnson não tivesse confundido "subverter expectativa" com tratar a audiência de maneira desonesta e desdenhosa, e então, Han Solo: Uma História Star Wars poderia ser algo como uma lua de mel. Aquele momento pós-casamento onde os componentes de um casal acham tudo o que sua cara-metade faz lindo. Tivesse Os Últimos Jedi sido um grande filme e cumprido a promessa de O Despertar da Força (que foi apenas isso, uma promessa, e pior, uma promessa não cumprida) e então a audiência teria ido ao cinema, assistido Han Solo ignorado as falhas do longa e aproveitado suas qualidades mesmo sendo a história de Star Wars que ninguém estava particularmente interessado em ver.
Porque não há nada de inerentemente ruim em Han Solo: Uma História Star Wars, mesmo com toda a baderna por trás das câmeras que, à certa altura, fez parecer que o filme havia sido amaldiçoado pelos fãs ultrajados com o longa anterior.
O longa dirigido meio pelos promissores Chris Miller e Phil Lord e meio pelo ótimo Ron Howard é uma matiné absolutamente inofensiva que até tem um ou outro momento bacana mas que, pecado dos pecados, é absolutamente inofensiva. Ser inofensivo é um crime imperdoável quando se retrata o personagem imortalizado por Harrison Ford (e "mortalizado" pela Disney), o único sujeito que representava algum perigo no lado do bem na trilogia Star Wars original.
O longa começa com o jovem Han (Elden Ehreinrich) vivendo em Corellia, um planeta que é meio que Detroit pra Star Wars, um amontoado de fábricas construindo espaçonaves e sindicatos do crime aplicando golpes.
Han trabalha para Lady Proxima, uma mafiosa local que explora mão de obra escrava, mas o jovem sonha em comprar uma espaçonave e escapulir do planeta levando consigo sua amada Qi'ra (Emilia Clarke, sem muito o que fazer além de ser adorável).
Quando a tentativa do casal de fugir de Corellia juntos dá terrivelmente errado, ele se vê nas fileiras do Império galáctico tentando se tornar um piloto mas relegado à função de bucha de canhão na infantaria imperial lutando guerras sem-sentido por todos os cantos da galáxia.
Han vê uma oportunidade de mudar sua sorte ao conhecer o fora-da-lei Tobias Beckett (Woody Harrelson), que comanda uma gangue de ladrões formada por Val (Thandie Newton) e Rio (voz de Jon Favreau) e que opera nos quatro cantos da galáxia.
Esse engenhoso grupo de bandidos logo se torna a chance de Han para deixar o Império pra trás, se tornar, de fato, um piloto, comprar uma espaçonave e retornar a Corellia para reencontrar Qi'ra, mas antes de fazer tudo isso, o jovem fora-da-lei se verá em uma aventura que irá definir sua vida ao cruzar seu caminho com o de rostos conhecidos dos fãs de Star Wars como Chewbacca (Joonas Suotamo) e Lando Calrissian (Donald Glover), e caras novas como a pirata Enfys Nest (Erin Kellyman), o dróide L3-37 (Phoebe Waller-Bridge) e o chefão criminoso Dryden Vos (Paul Bettany).
Han Solo é um filme regular.
Ele se apóia fortemente no fan service numa clara tentativa de tirar o gosto ruim que grande parte da audiência ainda sente após Os Últimos Jedi. O longa é sempre leve e descompromissado e durante sua metragem de duas horas e quinze minutos brinca de ser filme de soldado, de caubói e de astronauta ao mesmo tempo enquanto mostra todas aquelas coisas obrigatórias de Han Solo que todo mundo já sabia que haviam acontecido, como o encontro com Chewie, a aposta pela Millenium Falcon em uma partida de Sabbac, a volta de Kessel em menos de doze parsec... E outras pras quais ninguém ligava, como a origem do blaster de Han ou de seus dados de retrovisor...
Elden Ehreinreich não é, nem de longe, o horror que pintaram antes do lançamento do filme.
Em nenhum momento sua atuação me pareceu ofensiva, embora fique bem claro que, primeiro, ele não é Harrison Ford, não importa quantos sorrisos tortos ele exiba, e, segundo, ele também não é Ewan McGregor, que conseguiu apanhar um personagem consagrado no imaginário popular de gerações e fazer justiça à sua voz e trejeitos ao mesmo tempo em que tomava o personagem pra si deixando claro para cada fã que aquele não era o Obi-Wan de Alec Guinness, mas que iria se tornar ele.
Ehrenreich é um protagonista OK, puro e gentil demais para nos convencer que dali alguns anos teria se tornado o sujeito calejado que conhecemos em Uma Nova Esperança, mas de forma alguma estraga o filme.
Woody Harrelson não rouba cenas com a galhardia habitual, e na verdade, não vai muito além de emprestar sua cara para Tobias Beckett. Emilia Clarke é uma graça, e eu não consigo não sentir vontade de enchê-la de beijos depois de Como Eu Era Antes de Você, mas a verdade é que sua personagem não é das mais bem escritas, e a atriz é excessivamente doce para nos convencer que seja capaz de fazer algumas das coisas que faz no final do filme. Paul Bettany, coitado, entrou no elenco aos 45 do segundo tempo para substituir o ator que originalmente interpretaria o vilão criado em CGI para o longa, e, levando isso em consideração, podemos perdoar o ator por ter feito o vilão mais sem-graça de Star Wars desde Orson Krennick. O dróide L3-37 de Phoebe Waller-Bridge é meio bobo com seu engajamento pela causa da liberdade dróide, e vai permanecer à sombra de R2-D2, C3-PO e de K-2SO, que seguem sendo os melhores dróides de Star Wars com folgas. Donald Glover, por sua vez, manda bem demais. Tudo o que eu disse que Ewan Mcgregor fez com Obi-Wan Kenobi, ele faz com Lando Calrissian. Os trejeitos, a voz... Esse ainda não é o Lando de Billy Dee Willians, mas nós acreditamos que poderia, facilmente, se tornar ele.
Com um elenco OK, direção meia-bomba de três cineastas diferentes, roteiro OK de Jonathan e Lawrence Kasdan contando uma história OK e bons efeitos visuais, Han Solo: Uma História Star Wars é um filme nota cinco com alguns momentos que se sobressaem (a partida de Sabbac do final do filme é ótima)e outros que nos fazem entortar a cara (Han "falando" Wookie é de amargar), mas no geral é uma experiência satisfatória como um sanduíche de mortadela é uma refeição satisfatória, e isso é uma pena.
Han Solo em particular e Star Wars em geral, sempre foi um banquete. Mesmo quando era indigesto como em A Ameaça Fantasma. É um pouco triste pensar que essa qualidade morna, de não empolgar e nem ofender, talvez seja o equilíbrio da Força do qual Jake Skywalker, o personagem interpretado por Mark Hamill em Os Últimos Jedi tenha falado a respeito.

"-Eu te odeio.
-Eu sei."

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Resenha Série: Better Call Saul, temporada 4, episódio 10: Winner


Atenção! Spoilers do episódio abaixo. Não leia sem ter assistido.
Alguém dê logo um Emmy e um Globo de Ouro para Bob Odenkirk, apenas não esqueça de que ele tenha uma estatueta em cada mão e não possa se defender de um merecido murro na cara.
Num dos raros episódios da temporada de Better Call Saul onde a divisão de tempo entre Jimmy e Mike pareceu pender para a urgência da missão de Ehrmantraut a serviço de Gus Fring, o nosso advogado desonesto favorito conseguiu roubar todos os holofotes no final do capítulo, e o termo "roubar" talvez jamais tenha sido tão bem colocado.
Mas não coloquemos o carro na frente dos bois.
Winner começa com um flashback. Charles McGill é o padrinho de Jimmy quando ele passa no exame da Ordem dos Advogados, e a festa de confraternização subsequente se dá em um karaokê onde Jimmy arrasta o irmão para o palco para fazerem um dueto de The Winner Takes it All, do Abba (onde Michael McKean revive seus momentos de Spinal Tap) para, mais tarde, Chuck colocar um embriagado Jimmy na cama, e ficar a seu lado caso ele precise de alguma coisa durante a madrugada.
É um belo momento partilhado entre os dois. Chuck era, por vezes, escroto. Ele tinha padrões morais quase elevados demais, e, vai saber, talvez tenha empurrado o irmão pelo caminho do trambique ao não apoiá-lo, ao não acreditar nele, ao ser incapaz de vê-lo além de Jimmy Sabonete.
Mas isso não significa que ele não amava o caçula à sua maneira, como o próprio Jimmy reconhece.
Essa cold open é extremamente importante para o episódio por mostrar justamente isso. Jimmy e Chuck tinham seus problemas, a relação de ambos tinha suas falhas, mas eles realmente se amavam.
Daí, nós somos levados pra junto de Mike, que de posse de cartas escritas por Werner começa uma caçada ao engenheiro alemão pelo Novo México. Usando todos os seus truques, Mike tenta remendar a meleca de ter perdido a principal peça no tabuleiro da construção do laboratório secreto, e, pra piorar, precisa fazê-lo com Lalo Salamanca em seu encalço. O sobrinho de Don Hector está mapeando obstinadamente a operação de Gus, e finalmente mostra a que veio, deixando claro que sua aura divertida e amigável não é mais senão fachada para outro psicopata tão perigoso quanto seu tio ou qualquer um dos seus primos.
Enquanto Mike corre contra o tempo e contra Eduardo Salamanca para encontrar Werner, Jimmy leva adiante o plano de Kim, e corre contra o tempo para salvar sua reputação, e ele o faz ligando seu nome ao de Chuck como não tentava fazer desde os primeiros episódios da série.
Jimmy finge se lamentar no túmulo do irmão, o celebra com uma linda sala de leitura, e participa do comitê que escolhe os honrados com a bolsa de estudos Charles L. McGill, tudo para mostrar o tamanho da influência do irmão em sua vida de modo a ter uma chance de recuperar sua licença para advogar.
Conforme nós esperávamos, as coisas tomaram um rumo sinistro para Mike.
Quando ele encontra Werner, esperando por Margherite em um hotel com águas termais em San Ysidro, o engenheiro deixa bastante claro que ainda não havia entendido o quão sérias eram as pessoas para quem ele estava trabalhando.
Werner não conhece Gus Fring, e não sabe o tamanho da cagada que fez ao fugir do trabalho. Mike o havia avisado de maneira gentil, mas firme, de que ele poderia fazer o que quisesse após completar o trabalho. À sua maneira, Mike realmente gostava do engenheiro, mas ele não é uma pessoa para meias medidas, e quando Gus quer que Werner pague pelo que fez, Mike assume para si a tarefa de fazê-lo.
Seja porque a coisa toda havia acontecido sob sua supervisão, seja porque Mike temesse que Gus e seus capangas tivessem mais em mente para o alemão do que um fim rápido e indolor sob um céu estrelado, Mike finalmente se tornou o assassino de Gus Fring ao meter um balaço na nuca de Werner. Resta saber como esse primeiro assassinato vai se transmutar na relação que vimos entre os dois em Breaking Bad, e como Lalo Salamanca se encaixa na equação.
Não dá pra não pensar que o contato de Lalo com Werner tenha sido o elemento a selar o destino do engenheiro que só queria passar o fim de semana com a patroa, e se for esse o caso, seria possível que, a despeito de sua clara indisposição com o que teve que fazer, Mike siga ao lado de Gus inicialmente para poder dar o troco em Salamanca?
Descobriremos mais adiante, porque, por mais pesada que tenha sido a ponta de Mike nesse episódio, foi a audiência de Jimmy junto à Ordem dos Advogados que encerrou a temporada com a chave de ouro do adágio popular.
Havia todo um mise-en-scéne para esse momento. Ele havia passado pelo flashback com Jimmy e Chuck, pela ótima cena onde Jimmy explodiu em lágrimas dentro do carro, e mesmo pela sequência onde Kim tenta treinar Jimmy para a sua declaração e ele parece alheio demais para atentar ao que ela diz.
Quando ele se dirige à comissão que avaliará seu retorno, ou não, à prática do direito, Jimmy planeja ler a carta póstuma de Charles, mas se detém. E faz uma linda declaração a respeito de sua relação com o irmão. Deixando claro que nem sempre era uma relação fácil, que eles tinham suas querelas, mas que realmente se amavam. Que as palavras de Chuck, e seu modo de agir reverberaram nele, e, de uma forma ou outra, serão seu norte na tentativa de ser uma pessoa melhor, seja como advogado, ou não.
É uma linda cena. E eu não me envergonho em dizer que fiquei, de fato, de olhos marejados enquanto Jimmy discursava. Ele havia descoberto o luto. Ele finalmente se permitiu lamentar a perda do irmão, e encontrado, na dor em seu coração, a sinceridade da qual ele carecera em sua audiência na semana passada.
Mas isso era tudo zigue, e tornou o zague subsequente muito mais devastador.
"Você viu aqueles idiotas?"
Jimmy convencera a junta avaliadora com lágrimas de crocodilo, as palavras certas e sua capacidade quase sobre-humana de manipular os outros. Mas pior, Jimmy convenceu Kim. E ainda pior, Jimmy convenceu a maioria de nós (eu diria todos nós, mas sempre haverá um espertão que dirá "eu já sabia"), ainda que o alerta de Jimmy para a jovem Christy Esposito fosse uma pista do que vinha pela frente...
Após quatro anos, esse talvez tenha sido o golpe mais baixo que Jimmy aplicou, e não foi pelo fato de ele ter sido tão amplo que rompeu a quarta parede, mas porque parece ter feito Kim entender, acima de qualquer dúvida, que, ao contrário dela, que é uma advogada que por vezes gosta de ser Giselle St. Clair e aplicar um golpe no sistema, Jimmy é um golpista que por vezes usa uma fachada de advogado para legitimar seus trambiques.
Um golpista chamado Saul Goodman.
É difícil saber que tipo de efeito essa revelação terá na relação do casal. Kim já dera a impressão de que se cansara de Jimmy em outras ocasiões e os dois continuaram juntos. Ela parece ter a necessidade quase patológica tentar salvar casos perdidos, e, sob diversos aspectos, os eventos de Winner tornaram Jimmy o mais perdido de todos os casos.
A quarta temporada de Better Call Saul foi outra obra-prima de Gould e Gilligan levada a cabo por diretores, roteiristas e elenco sensacionais, e Winner foi o derradeiro soco no estômago da audiência.
Eu espero que a linha de tempo estabelecida nessa temporada, situando o programa em 2004, ou quatro anos antes de Breaking Bad, signifique que ainda temos quatro (ou até cinco) temporadas de Better Call Saul pela frente. Eu seguiria vendo Jimmy/Saul, Kim e Mike toda a semana até o fim dos meus dias.
Vai ser uma longa espera até o ano que vem...

"S'all good, man."

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Festa da Democracia II


Eu sempre gostei de eleições. Sempre gostei de ter a oportunidade de assumir a responsabilidade e tentar escolher tanto governantes com boa capacidade administrativa para assumir o timão da respectiva divisão administrativa quanto representantes para defender meus interesses ou melhor, agendas com as quais eu concorde, nas arenas devidas.
É fato, eu juro.
Mesmo tendo sérias restrições quanto à política em geral, e a diversos políticos em particular, eu acho que não existe nada pior do que me abster e deixar a escolha para outrem. Eu acredito na importância de ter uma voz nas decisões, e sabendo que o sufrágio universal é um direito pelo qual muitas pessoas lutaram e pelo qual ainda hoje muitas pessoas anseiam, eu simplesmente não sou capaz de deixar de ir à urna e votar em alguém.
O segundo turno das últimas eleições municipais de Porto Alegre foi a primeira vez em que invalidei um voto. Nenhum dos dois candidatos parecia alguém que fosse representar meus interesses ou que tivesse a capacidade administrativa para melhorar a cidade, de modo que, pela primeira vez na minha vida, eu fui à urna e não votei.
Não recordo se votei branco, ou nulo, mas lembro que tinha ido até a minha seção eleitoral muito tranquilo com a ideia de não votar. As propostas de nenhum dos dois me pareciam boas. Nenhum deles me inspirou confiança. Nenhum deles parecia sequer diferente do outro além de variações do mesmo tema. Nenhum merecia meu voto.
Mas ao sair detrás do biombo, eu me senti, francamente, covarde.
Fiquei com um gosto amargo na boca ao não tomar uma decisão tão importante. E fiquei me remoendo, pensando se não deveria ter pesquisado mais a fundo. Se não deveria ter feito mais do que apenas assistir aos debates e à propaganda eleitoral gratuita.
Me decidi a jamais voltar a anular um voto.
Com a aproximação do pleito desse ano, eu resolvi fazer o que não havia feito nas eleições municipais de Porto Alegre dois anos atrás, e me inteirar o máximo possível de todas as ideias de todos os disputantes. Assisti horas de palestras e entrevistas de todos os candidatos, de seus futuros ministros e de seus vices. Li planos de governo na internet e assisti a mesas redondas sobre política em toda a parte. Me obriguei a consumir conteúdo do mais amplo espectro político e fui da Piauí ao Mamãe Falei, sabendo que, como disse Gandalf, nem os muito sábios conseguem ver todos os lados, mas me esforçando para tentar ao menos conhecê-los.
É difícil, quase impossível abandonar suas convicções, e não nutrir antipatia quase instantânea por um lado ou outro, mas eu me esforcei. Fiz testes em sites que prometiam mostrar quais candidatos tinham as ideias mais próximas das minhas e descobri que, para presidente, por exemplo, os mais parecidos eram Alckmin e Boulos (!) separados por meros dois por cento, o que me levou a perceber que, ou aquele teste e aquele site não fazem nenhum sentido, ou minhas ideias não fazem nenhum sentido.
Pesquisei cada denúncia feita contra os candidatos e cada denúncia feita pelos candidatos. Li pacientemente as conversas no grupo de amigos do Whats-app que discutem política como quem discute futebol me esforçando pra não escarnecer de ninguém e nem passar a nutrir desdém por nenhuma das pessoas com quem convivo de alguma forma desde os treze anos de idade e hoje, faltando dois dias para a eleição, devo dizer que me sentindo melhor informado e municiado de tanto embasamento quanto possível, escolhi candidatos para todas as vagas em jogo. E sabendo que, ao menos na eleição nacional, o candidato que eu escolhi não vai chegar ao segundo turno, e que não, não é (ugh) Boulos nem (ZzZzZ) Alckmin, e nem um dos dois extremos do espectro ideológico que ponteiam as pesquisas o que tornará minha decisão no eventual pleito do dia vinte e um consideravelmente mais árdua.
Eu entendo o ultraje e o asco que os dois principais candidatos da eleição causam. De um lado temos o possível fantoche de um líder de quadrilha presidiário, de outro um tacanho do baixo-clero que a despeito do discurso foi corrupto com o menor quinhão da administração pública federal.
De um lado autoritarismo se passando por laissez-faire, de outro populismo embrulhado em welfare state, ambos potencialmente corruptos e nenhum dos dois com propostas claras de soluções para os problemas do país.
Em três semanas podemos estar entre a cruz e a caldeirinha, a menos que, por um milagre, uma terceira via consiga um improvável lugar no segundo turno. Seja como for, é importante estar preparado para tomar uma decisão que, idealmente, não seja baseada apenas em rejeição. É importante pesquisar propostas, ver quais são factíveis, e jamais esquecer como funciona o sistema presidencialista de coalizão de nosso país, tendo em mente que o nosso legislativo deve permanecer basicamente igual após o pleito de depois de amanhã.
Leve tudo isso em conta. Pese todas essas variáveis, e lembre-se de que a única forma de participar do processo eletivo pior do que invalidar o voto, talvez seja tomando uma decisão baseada mera e unicamente em raiva.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

GOTY Edition



andando no shopping, passou em frente ao quiosque que vendia as camisetas maneiras. Parou pra olhar, cumprimentando com um aperto de mão o vendedor, já conhecido. Viu uma camiseta da Gwen-Aranha.
Pensou nela.
Em como gostava de passear de mãos dadas com ela. Os dois lado a lado, andando a passos rápidos. Perguntou-se se, alguma vez, andara rápido demais com ela. Era consideravelmente mais alto. Quantas vezes teria a feito andar mais rápido do que o recomendável usando salto alto... Mas não conseguia se conter. Quando estavam juntos ele não conseguia se conter. Não sentia que precisava. Podia ser ele mesmo, com todas as chatices e rabugices inerentes, ele se sentia à vontade para não tentar impressionar, não usar nenhuma máscara, nenhum disfarce. Nada além da própria pele.
Pensou que, se estivesse juntos ali, ele tentaria dar a camiseta de presente pra ela.
Gostava da maneira quase infantil com a qual ela recebia presentes.Lembrou-se de esperá-la tomar banho lendo um dos gibis dela, uma vez.
Sentara-se no chão como quando era pequeno e lera uma história dos Vingadores, rindo sozinho na sala da casa dela. Lembrava-se de como ela surgira, enrolada na toalha, para saber do que ele estava rindo. E ele, um idiota completo, comentou a história animadamente, sem dar-se conta de que ela estava ali, molhada e nua, a apenas alguns centímetros de pano do toque de suas mãos e boca. Era um dos males de ser ele mesmo com ela. Quando era ele mesmo inevitavelmente cometeria atos de rematada parvalhice, porque era, afinal de contas, parte de sua natureza.
Mas ela não parecia se importar...
Viu uma estampa da Aliança Rebelde. Lembrou-se dela lhe dando uma camiseta de presente. Era outra coisa adorável. A forma como ela parecia ficar ansiosa quando lhe entregava um embrulho. Como se os minutos entre ele ter o pacote nas mãos e a hora de abrir fossem longos demais para ela se conter sem balançar levemente o corpo, ou mexer os pés em antecipação.
Sorriu pensando nisso, e lembrou-se do sorriso dela.
De como ela movimentava o rosto quase como um desenho animado, fazendo expressões de pidona ou de curiosa ao convidá-lo para algo esperando sua resposta, ou como ela ria uma risada gostosa quando ele dizia uma bobagem, ou quando ela, simplesmente não parecia disposta a dignificar o que ele dissera com a devida seriedade.
Agradeceu e se despediu do vendedor, recolocando os fones de ouvido, exatamente quando começava a tocar You Shook Me All Night Long, do AC/DC.
Pensou nela.
De alguma forma era uma das músicas que sempre o faziam lembrar deles. Ouviu a letra Cause the walls start shaking The earth was quaking My mind was aching And we were making it and you Shook me all night long Yeah you shook me all night long, e lembrou-se da primeira noite que passaram juntos, e que interromperam apenas porque o dia já havia começado a raiar e ela precisava fazer uma prova dali a algumas horas. Já estava irremediavelmente apaixonado àquela altura. Simplesmente estava. Mas ao se despedir dela e voltar pra casa naquela manhã, tinha a certeza inabalável de que era aquilo. Não ficaria melhor. Não tinha pra onde melhorar. Era o pacote completo. Era tudo aquilo que alguém poderia desejar. Ela era a edição Game of the Year de uma namorada.

O Trailer de Demolidor, da Netflix

A Netflix lançou há pouco o trailer final da terceira temporada de Demolidor. A prévia de pouco mais de dois minutos mostra Wilson Fisk fazendo um acordo para sair da prisão, Matt Murdock trocando a vida civil por uma existência totalmente dedicada à sua persona de vigilante mascarado, e... O Mercenário.



Protagonizado por Charlie Cox, Vincent D'Onofrio, Deborah Ann Woll e Elden Hanson a terceira temporada FINALMENTE chega à Netflix em 19 de outubro

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Resenha Série: Better Call Saul, temporada 4, episódio 9: Wiedersehen


Não há, eu repito, maus episódios em Better Call Saul, e Wiedersehen não é exceção à essa regra. A série viu o a urgência diminuir drasticamente nesse capítulo, é verdade, mas parece tê-lo feito para afastar o tumulto de modo a oferecer à audiência um vislumbre mais aprofundado do que está acontecendo internamente com esses personagens.
A abertura do episódio, com Kim e Jimmy usando as técnicas mais rasteiras para burlar o sistema da cidade de Lubbock de forma a aumentar discretamente o tamanho das salas da agência do Mesa Verde na cidade deixou claro que o casal está em profunda sintonia no que tange à utilização de táticas rasteiras na busca por seus objetivos sejam quais forem. Claro, Kim fala a respeito de usar seus "poderes para o bem", mas enganar uma pobre funcionaria pública de Lubbock para aumentar os escritórios de um banco é o "bem"?
Seja como for, Jimmy deixa estar. Ele parece ter percebido que fisgou Kim de volta, e não vê necessidade de começar a recolher a linha, ainda. Ele está prestes a recuperar a sua licença para praticar direito e cheio de planos.
Enquanto isso, Eduardo Salamanca surge nos oferecendo a origem da sineta de don Hector. Eu não imagino que eu fosse o único fã de Breaking Bad que jamais se perguntou de onde aquela sineta tinha vindo, mas, devo admitir, a imagem de Lalo atando o objeto à cadeira de rodas de Hector sob o olhar justificadamente tenso de Nacho foi muito boa.
Nacho, por sinal, está cada vez mais profundamente atolado na lama, e eu começo a me perguntar se ele não devia ter fugido na semana passada. Agora ele é o cicerone de Lalo Salamanca em Albuquerque e se vê entre Lalo e Gus Fring no que promete ser uma queda de braço complicada para o dono dos Pollos Hermanos. Os outros Salamancas que havíamos conhecido eram capangas brutos, traficantes truculentos, ou apenas sujeitos completamente loucos. Eduardo não é assim. Ele é charmoso, paciente e esperto, mas, aparentemente, tão cruel quanto seu tio e primos, o que o torna uma pedra bem grande no sapato de Gus pela expressão em seu rosto na despedida, e um candidato forte ao papel de maior antagonista da série nas temporadas vindouras.
A ponta de Mike na história deu aquele drible estilo la boba na audiência. A gente sabia que vinha, e ainda assim, caímos.
Após Kai ser mostrado como o sujeito-problemático na equipe de Werner, o cara em quem Mike deveria ficar de olho, foi o engenheiro que acabou escorregando no tomate e deixando Mike em um dilema bastante preocupante.
Por mais que a construção do laboratório secreto tenha a maior cara de filler, apenas uma forma de manter Mike ocupado e no elenco do programa, já que é a história de Jimmy que move a série, toda a coisa é um ótimo filler e tem oferecido alguns dos momentos mais tensos da série recentemente.
Toda a sequência de eventos, com Werner indo ao subsolo checar os detonadores da rocha que devia ser explodida, até Mike negando tão gentilmente quanto lhe é possível o pedido do engenheiro para viajar à Alemanha para ver a esposa até a expressão no rosto do ex-policial quando percebeu o que Werner havia feito foi brilhantemente executada, e sim. Agora eu não tenho nenhuma dúvida de que o destino de Werner, seja qual for, será o evento catalisador que transformará o Mike de Better Call Saul no Mike de Breaking Bad, ou, no mínimo, o colocará inexoravelmente nesse caminho.
E, finalmente, Jimmy foi até a Ordem dos Advogados para recuperar sua licença apenas para ver seu pedido... Negado.
Better Call Saul é frequentemente acusada de ser uma série lenta em termos de ritmo. Não é incomum que eu veja comentários em fóruns perguntando "como as pessoas gostam de um programa onde não acontece nada?". Bem, acontece muita coisa em Better Call Saul, e os roteiristas e produtores não se furtam do direito de meticulosamente criar os meios para que a audiência que não está esperando uma explosão (literal ou figurada) em cada episódio seja capaz de acompanhar cada passo dos processos que levam os personagens de A até B, seja procurando soluções para seus problemas, aplicando golpes ou sendo absorvidos pelas partes mais sombrias de sua própria personalidade.
É essa meticulosidade que permite a cada um de nós tanto sentir a fúria de Jimmy quando seu pedido é negado, quanto entender por que a junta julgadora decidiu não devolver sua licença.
Durante todo o processo Jimmy seguiu cada uma das regras. Ele fez tudo o que havia lhe sido pedido e aguardou pacientemente por um ano até ter a chance de recuperar sua profissão. Claro, ele seguiu montando seus esquemas, de moralmente reprováveis até plenamente criminosos, mas manteve um emprego fixo, apresentou-se na condicional e manteve-se informado a respeito do direito, tudo conforme mandava o figurino.
Na hora de dar suas declarações, Jimmy foi eloquente e apaixonado como é do seu feitio, com ótimas respostas a todas as perguntas que ele sabia que lhe seriam feitas, mas na hora em que uma das associadas lhe perguntou o que a lei significava para ele, Jimmy travou. E ele travou porque todos nós sabemos que a lei não significa nada para Jimmy.
Ele dançou, sapateou e improvisou ao redor do tema porque ele é incapaz de dar uma resposta direta para essa pergunta. E isso, mais o fato de ele se manter incapaz de se comprometer emocionalmente com a morte de Chuck, um renomado advogado do Novo México e um pivô da perda de sua licença um ano antes que ele se recusa a sequer mencionar quando lhe perguntam se ele tem um modelo na profissão, é o que faz com que seu pedido seja negado.
Toda a frustração, tristeza e raiva de Jimmy explodem, e, como ele não tem mais ninguém com quem explodir exceto Kim, é ela que se torna o alvo de sua ira exatamente no momento em que aponta o fato de ele não querer lidar com a perda do irmão, e nós seguimos sem saber exatamente por que. É ressentimento, pelo último ato de Chuck em vida ter sido tentar tomar seu emprego? Frustração por jamais ter sido capaz de provar a Chuck que é um baita advogado?Ou por saber que jamais será um advogado tão bom quanto Chuck porque, simplesmente não nutre a mesma reverência pela lei?
Seja como for, Kim se torna o alvo de todos os sentimentos que Jimmy vinha mantendo enterrados desde o início da temporada, e a discussão se torna tão feia quanto deveria ser. Jimmy a acusa de não achá-lo bom o suficiente, e Kim o lembra de que sempre esteve ao seu lado quando ele precisou, arriscando sua reputação e sua carreira.
Olhando em perspectiva, a acalorada discussão dos dois, ao menos é um sinal de vida na relação do casal. Não faz muito tempo, Jimmy e Kim estavam tão apartados que não tinham sequer interesse em gritar um com o outro.
O rescaldo da ótima cena no estacionamento, com Jimmy fazendo as malas no apartamento de Kim, é igualmente genial em uma nota totalmente diferente. Apesar de tudo, ela ainda está ali por ele. E disposta a ajudá-lo.
Resta saber o que eles irão arriscar para conseguir.
Na semana que vem a temporada de Better Call Saul se encerra. Dez episódios passam voando quando uma série tem esse nível de qualidade. Vamos ver o que o season finale nos reserva.

"-Isso, pise no cara quando ele está na pior.
-Você está sempre na pior, Jimmy."

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Resenha Game: FIFA 19


Entra ano, sai ano e FIFA segue superando, por muito, o arqui-rival da Konami, Pro Evolution Soccer. Neste ano eu excepcionalmente não baixei os dois demos dos games assim que foram lançados, e resolvi, sem experimentar nenhum dos dois, que seguiria com FIFA e preferia nem ver o PES porque se fosse bom eu não iria poder comprá-lo. Entre Marvel's Spider-Man, FIFA 19 e Red Dead Redemption 2 eu já estou deixando a Lara Croft de fora das minhas intenções gamísticas por tempo indeterminado, então, era melhor nem pensar em comprar ainda outro game no intervalo de dois meses.
Comprei FIFA na sexta-feira passada e imediatamente tive a impressão que a maioria dos não-iniciados têm:
O jogo tá igual!
A impressão, porém, dura apenas até o apito inicial.
A jogabilidade de FIFA mudou substancialmente da versão passada pra cá. O velho rodízio entre game cadenciado em uma edição para game rápido na seguinte foi finalmente equilibrado após anos da franquia.
Esse seria um FIFA ligeirinho, onde ter homens de meio e frente rápidos seria a fórmula mágica da vitória (já que a edição passada foi uma das cadenciadas e voltadas ao ataque), mas nesse ano a EA resolveu apostar na parte tática da coisa, oferecendo aos jogadores defensivos a chance de estacionar o ônibus na frente da sua meta e tentar suportar a pressão adversária.
Jogar na defensiva, subitamente, pode ser uma forma de ganhar um jogo complicado contra um adversário mais encardido, especialmente se o player souber usar as mecânicas defensivas do game, mas não é a única forma. Ao melhorar o tempo e o nível de resposta dos jogadores em campo, a EA conseguiu tornar o FIFA mais parecido com o jogo real do que jamais fora. Não há fórmula mágica para fazer gols ou para se defender, mais de uma técnica pode funcionar e qualquer uma pode falhar.
Lançamentos longos, cruzamentos, chutes de fora da área ou toques de primeira... Tudo vale.
A dificuldade aumentou, também. A inteligência artificial do game aprende com seus erros, muda suas táticas, aplica pressão e se aproveita dos enganos do player para tentar vencer o jogo. A movimentação dos atletas e a sanha marcadora do computador, por sinal, deu ao single player uma das melhores adições dessa edição: A possibilidade de ver seus dribles realmente funcionarem. Em edições passadas da série era comum usar o drible jogando digamos, o modo carreira, meramente com finalidade plástica. Era bonito aplicar uns dribles de efeito, mas a função prática da coisa era quase inexistente exceto na hora de dar uma pedalada antes de cortar um marcador para abrir espaço para um chute, por exemplo, mas sem ver o marcador humilhado pela improvisação.
A movimentação dos jogadores controlados pela IA em FIFA 19 te dá a satisfação de ver o marcador ficar pelo caminho perdido, ou errar o bote e ficar prostrado enquanto tu chuta, ou faz um cruzamento na medida para o atacante.
Mas é uma faca de dois gumes. O computador também aplica dribles e faz jogadas de efeito, obrigando o player a ficar ligado na marcação.
O sistema de impacto foi refinado, de modo que ter jogadores fortes faz diferença, ainda que um magrelo habilidoso seja capaz de abrir a marcação adversária com um drible, e um ligeirinho ainda pode ser a melhor opção para tentar matar um jogo nos contra-ataques, uma opção mais válida do que nunca já que o computador se atira pra cima quando está perdendo o jogo e saber usar os espaços para o contra-ataque pode transformar uma partida tensa contra o Chelsea em um confortável 3 x 1 com dois gols ao apagar das luzes. Por outro lado, a vontade da IA de vencer o player, ás vezes, torna a coisa toda pouco realista. Mesmo os times mais mequetrefes são capazes de, à certa altura, começar a jogar de primeira de modo a quebrar as linhas defensivas e buscar o resultado... Levar o empate em uma linda jogada pé por pé contra o Manchester City é uma coisa, contra o Huddersfield, é outra bem diferente...
A parte tática ganhou muita atenção.
Agora é possível organizar cinco formações táticas para o time utilizar durante as partidas, cada uma sendo assumida pela equipe de acordo com a postura que o treinador virtual quer adotar, da ultra-defensiva até a todos ao ataque.
Também é possível escolher se os laterais vão avançar ou permanecer fincados, ou quantos jogadores haverá na área na hora de escanteios e faltas próximas da área, mas, bola fora, não se pode escolher quais jogadores irão para o fedor, o que torna perfeitamente possível que o zagueiro de 1,98 m fique plantado na intermediária enquanto o armador de 1,60 m vá pro miolo da área bater cabeça com os marcadores.
O modo História, A Jornada, ganha seu (aparentemente) último capítulo, oferecendo ao player a chance de dividir sua atenção entre Alex Hunter, protagonista das duas últimas edições, mais sua meio-irmã Kim Hunter e seu amigo Danny Williams, permitindo ao player escolher quem quer controlar a qualquer momento do jogo. Alex chegou ao Real Madrid e agora vê sua atenção se dividir entre ser um jogador de futebol e uma estrela esportiva enquanto tem a chance de disputar o maior torneio de clubes do mundo: A UEFA Champions League.
A UCL, por sinal, finalmente licenciada na franquia (junto com a UEFA Europa League) ganhou a merecida atenção, com animações dos sorteios, equipe de transmissão personalizada e animações mostrando todo o badalo da mais importante competição de futebol do mundo, que ganha até modo de jogo próprio no menu inicial.
Infelizmente, não fosse a adição da UEFA Europa League e da UEFA Champions League, e o modo carreira, o mais clássico e genuíno modo single player do game, seria exatamente a mesma coisa do ano passado. É uma pena que a EA não tenha feito absolutamente nada para melhorá-lo. Até mesmo trazer de volta antigas facetas do modo de jogo seria uma mudança bem-vinda, como a possibilidade de contratar um novo staff, como preparadores físicos que influenciassem o crescimento dos jogadores nos treinos, ou a possibilidade de investir no estádio para aumentar os rendimentos do clube, por exemplo, além, claro, de nos dar a chance de personalizar nosso avatar no game. Porque eu preciso usar os modelos pré-definidos? Se é possível criar um avatar para a carreira como jogador, porque é tão difícil fazer o mesmo com o avatar da carreira de técnico?
Se a EA oferecesse ao modo single player um décimo da atenção que dá ao seu FUT e ao sistema de micro-transações, é bem provável que esses pedidos já tivessem sido atendidos e não precisássemos continuar lendo os mesmos "chefe, eu estava pensando se você não poderia experimentar com o time..." entra ano, sai ano.
O FIFA Ultimate Team, por sinal, ganhou um novo modo chamado Division Rivals, que substitui o extinto Online Seasons Mode e serve como qualificatória para o FUT Champions Weekend Event para seguir alimentando esse monstro devorador de dinheiro que quem joga online (não é o meu caso, só single player ou cara-a-cara com amigos dividindo o sofá, pra mim...) usando Champions cards, limited-time packs, objetivos diários/semanais, eventos especiais, torneios e o escambau que segue atraindo players toda a semana e enchendo os cofres da EA.
O modo de jogo rápido, Kick-Off, ganhou mais atenção. Com novos modos de jogo que incluem uma série de regras da casa para tornar a coisa toda mais refrescante. Da possibilidade de desligar impedimentos ou faltas até um modo tipo Battle Royale, onde cada gol marcado resulta no sumiço de um jogador do time que marcou, passando por partidas onde só valem gols marcados de voleio ou de cabeça. Pode parecer bobagem, mas é deveras refrescante na hora de jogar com os amigos.
A ausência de uma liga brasileira, times ou mesmo jogadores brasileiros segue uma lástima e um retrato da forma retrógrada como os clubes brasileiros gerenciam sua imagem, preferindo abocanhar mais uns trocados da maneira porca que for possível a ganhar a visibilidade da maior franquia esportiva do mundo.
A EA afirma ouvir a comunidade de jogadores de seus produtos, o que, considerando o tanto de jogo porcaria que a empresa tem feito, parece uma deslavada mentira (sério? Os caras têm a franquia Star Wars há três anos e só lançaram os horrorosos Battlefield? Enterraram Need for Speed Underground pra fazer essas melecas que a franquia virou? Loot boxes e micro transações em tudo quanto é jogo e absolutamente nada voltado à narrativa single player???), mas é inegável que as mecânicas do game dentro de campo foram melhoradas, a empresa segue embalando seus filhos mais lucrativos para mantê-los lucrativos, e seu descaso com o Pro Clubs e especialmente a Carreira é um sonoro foda-se aos jogadores solitários que encheram a Naughty Dog e a Sony de dinheiro por receber seu quinhão de atenção.
O modo Jornada é uma bela tentativa de agradar a esse público, mas não pode, de forma alguma, ser a única.
Seja como for, FIFA segue sendo o melhor jogo de futebol do mercado, e, pelo menos durante o próximo ano, eu seguirei jogando.

"Você tem talento, mas ninguém é insubstituível."